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Dimensões estruturais das organizações baseadas no conhecimento

2 Fundamentação teórica

2.2 Estrutura organizacional

2.2.3 Dimensões estruturais das organizações baseadas no conhecimento

descrever os desafios estruturais na era do conhecimento.

2.2.3 Dimensões estruturais das organizações baseadas no

conhecimento

No mundo dinâmico é importante que as organizações criem e renovem suas capacidades centrais – aquelas difíceis de imitar, valiosas e fundamentais para a organização (WANG; AHRNED, 2003).

Em sua dinâmica com vários ambientes, as organizações tentam atingir objetivos e executar atividades em variados graus de complexidade. À medida que a interação com um dado ambiente em mutação as pressionam, surgem adaptações internas (SCHEIN, 1982, p. 176). Conforme o autor, as adaptações ocorrem tendo-se em vista que as organizações são sistemas complexos.

Segundo Mariotti (1999, p. 19), sistema complexo “quer dizer diversidade, convivência com o aleatório, com mudanças constantes e com a conflituosidade, e ter de lidar com tudo isso mobilizando potenciais criadores e transformadores.”

Na nova economia, de acordo com o que foi apresentado na introdução desta dissertação, a construção das capacidades centrais da instituição requer fluxo constante de conhecimento dentro e fora dela, desenvolvendo novas formas de estruturas organizacionais. Para uma gestão efetiva do conhecimento, Wang e Ahrned (2003, p. 57-58) propõem:

a) remoção de fronteira – construindo uma estrutura ligada por identidade e confiança organizacionais, a instituição pode expandir o seu conhecimento para além das fronteiras espaciais sem impedimento da estrutura de controle formal;

b) fluidez – desenvolvendo formas organizacionais para facilitar o fluxo do conhecimento e permitir que ocorra um impacto maior no desempenho da instituição, pois a gestão do conhecimento demanda fluxo de conhecimento, ao invés de estoques; c) interatividade – promovendo as relações informais para aumentar as interações e,

conseqüentemente, o conhecimento implícito, que é um aspecto relevante para a gestão do conhecimento. Assim, a instituição possibilita o aumento do conhecimento organizacional e pode tornar as tarefas dos indivíduos mais eficientes;

d) flexibilidade – criando uma estrutura flexível, ao invés de rígida, permitindo re- estruturação apropriada, no momento adequado, tanto do conhecimento como dos grupos de pessoas, para satisfazer as necessidades da organização, esta pode produzir resultados baseados no conhecimento

Para fazer funcionar organizações baseadas no conhecimento, então, a sua estruturação precisa incorporar dimensões em um nível superior, baseadas em processos dinâmicos (WANG; AHRNED, 2003). Para os autores, tal nível é caracterizado por relações: apoiadas na confiança, orientadas e interativas externamente, além de emocionalmente inclusivas.

Essas características são consideradas pelos autores como significativas na passagem das estruturas orgânicas às baseadas no conhecimento, mesmo que persistam traços institucionalizados das estruturas tradicionais nessa transição de uma à outra, como representado na figura 3 (2).

Figura 3 (2) – Estrutura das organizações baseadas no conhecimento Fonte: Adaptado de Wang e Ahrned (2003, p. 60)

Quanto aos traços existentes nas estruturas tradicionais, observa-se pela figura 3 (2), que nas organizações baseadas no conhecimento, a distribuição das atividades está em menor intensidade ligada à clássica separação departamental, tendo equipes multifuncionais, conforme sinalizado na dimensão funcional. Na dimensão hierárquica, verifica-se a existência de menos camadas do que nas de estruturas mecânicas. Assim como nas orgânicas, há nas organizações baseadas no conhecimento um maior nível de descentralização do poder e do controle.

Contudo, a relação informal apresenta-se mais acentuada nas organizações baseadas no conhecimento do que nas com estrutura orgânica. Wang e Ahrned (2003) sugerem que haja

Dimensão hierárquica Relação de controle (centralização) Relação informal Dimensão funcional Relação baseada na confiança Relação externamente

orientada Relação emocionalmente

inclusiva

▬ Estrutura mecânica

▬ Estrutura orgânica

▬ Estrutura baseada no

nas organizações baseadas no conhecimento, mais liberdade, maior fluxo na comunicação, mais autonomia e maior encorajamento das interações.

A relação informal foi incorporada por Wang e Ahrned (2003) como uma quarta dimensão utilizada para descrever a evolução de uma estrutura a um nível superior. Para eles, as relações informais desempenham um papel importante para romper fronteiras, promovem a proliferação de redes internas e externas, facilitando o fluxo do conhecimento, bem como favorecem a interatividade e a formação de estruturas flexíveis.

Com efeito, a relação informal alimenta-se da interação interorganizacional, multifuncional e interpessoal, não explicitada nos organogramas das empresas. Portanto, o grau e a forma pela qual a estrutura informal é desenvolvida refletem os componentes da percepção e julgamento dos funcionários sobre a visão dos sistemas organizacionais (WANG; AHRNED, 2003).

Quanto às demais dimensões, observa-se que a relação apoiada na confiança permite a comunicação eficiente e sem barreiras, propiciando a compreensão clara da visão e estratégia organizacionais em diversos níveis (WANG; AHRNED, 2003). Em função da necessidade de se compartilhar o conhecimento, as estruturas baseadas no conhecimento devem ser apoiadas na confiança em vez de serem apoiadas no controle (TEIXEIRA; POPADIUK, 2003; WANG; AHRNED, 2003).

Segundo Wang e Ahrned (2003), quando a organização possui relações apoiadas na confiança, encoraja o desenvolvimento de uma política transparente, comunicação eficiente e habilidades colaborativas, derrubando barreiras e gerando otimismo entre os seus membros para o compartilhamento do conhecimento.

Já as relações orientadas e interativas externamente refletem o grau de abertura da estrutura e a ambigüidade da fronteira organizacional, assim como a competitividade do ambiente (WANG; AHRNED, 2003). Para os autores, atitudes e perspectivas insulares levam

à proteção do conhecimento, de modo que o compartilhamento fica restrito, ao contrário de ambientes colaborativos que ampliam as fronteiras, abrem espaço para o compartilhamento, o fluxo e a produção geral do conhecimento.

No contexto da gestão do conhecimento, relações externas são necessariamente voluntárias e transparentes, permitindo uma exploração mais profunda de ligações pessoais e informais, necessitando, para essas interações, de uma estrutura gerada a partir de acordos que as guiem, em vez de procedimentos internos e de rotinas rígidas (WANG; AHRNED, 2003).

Por fim, segundo Wang e Ahrned (2003), as relações emocionalmente inclusivas possibilitam a estruturação diferenciada, permitindo que os membros organizacionais detenham valores e competências de maneira personalizada, e ensejam oportunidade para a criatividade e a inovação dentro de um contexto cultural cercado de coerência. Contribuições criativas são encorajadas pela sinergia de emoções positivas e experimentação, a fim de se alcançar a diversidade.

Para resumir as características dos modelos de estruturas organizacionais apresentados nesta seção, elaborou-se o quadro 1 (2) o qual elenca as sete dimensões estruturais definidas por Wang e Ahrned (2003) e as propriedades de cada uma, em razão de aspectos abordados por diversos autores utilizados nesta parte da fundamentação teórica.

No referido quadro, indica-se também o grau de incidência das características de cada dimensão, objetivando fornecer uma visualização mais direta na identificação e no entendimento dos componentes de cada tipo, sobre os quais foram tecidas algumas considerações ao longo dessas seções. Para tal, utilizou-se as variáveis “alta”, “média” e “baixa” para refletir o grau de incidência das características das dimensões estruturais nos modelos apresentados – mecânico, orgânico e baseado no conhecimento.

Tipos de estruturas Dimensões

estruturais Características das dimensões estruturais

Mecânica Orgânica Baseadas no conhecimento

Funcional Foco na especialização de atividades,

tarefas rotineiras e agrupadas por departamento.

Alta Baixa Baixa

Hierárquica Níveis de hierarquia verticalizados. Alta Baixa Baixa

Centralização Controle rígido; processo decisório

centralizado; pouca autonomia.

Alta Baixa Baixa

Relação informal Política transparente; poucos

regulamentos, normas e procedimentos; interatividade; proliferação de redes; formação de estruturas flexíveis e comunicação informal.

Baixa Média Alta

Apoiada na confiança

Comunicação eficiente e sem barreiras; compreensão clara da estratégia organizacional; política transparente; processo colaborativo desenvolvido.

Baixa Média Alta

Interativa e orientada externamente

Relações externas e abertura da estrutura.

Baixa Média Alta

Emocionalmente inclusiva

Contexto cultural cercado de coerência; valores compartilhados; senso para experimentações; diversidade interna.

Baixa Média Alta

Quadro 1 (2) – Grau de incidência das características das dimensões estruturais Fonte: Conceitos destacados pelo autor na fundamentação teórica

Diversos aspectos, aqui abordados, sinalizam a importância das relações sociais para a constituição e a integração dos diferentes grupos. Nesses processos, muitas vezes os interesses são múltiplos e às vezes não-cooperativos (OLIVEIRA, R., 2004), potencializados pelas diferenças entre os grupos (LAWRENCE; LORSCH, 1973, 1977). Portanto, estimular as relações sociais dentro de uma empresa pode ser uma variável relevante para o aumento do compartilhamento do conhecimento, da confiança recíproca entre os grupos e para o alcance dos objetivos organizacionais.

Na próxima seção serão apresentados alguns estudos do capital social, tendo-se em vista a sua importância para a integração e coordenação de diferentes grupos existentes e atuantes na estrutura organizacional, mais identificados com o contexto das empresas baseadas no conhecimento.