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1 INTRODUÇÃO

2.2 CAPITAL SOCIAL ORGANIZACIONAL

2.2.4 Modelo de capital social organizacional: dimensões,

2.2.4.1 Dimensões ou categorias do capital social organizacional

Comentamos anteriormente que as fontes de capital social podem estar no conteúdo ou na estrutura das relações, ou em ambas. No entanto, consideramos que a forma mais simples e clara para se analisar o constructo é através de suas dimensões, que não deixa de contemplar as outras formas de classificação. Neste intuito é que apresentamos aqui

as dimensões ou categorias do capital social organizacional, demonstrando de forma detalhada seus componentes.

Com isso, trazemos Uphoff (2000) com sua classificação do capital social em duas categorias de fenômenos inter-relacionados:

estrutural (papéis, regras, precedentes e procedimentos) e cognitiva

(normas, valores, atitudes e benefícios). Essas categorias, para o autor, são tão fundamentais para a compreensão do capital social como a distinção entre recursos renováveis e não renováveis para formas naturais de capital.

Uphoff (2000) acredita que as iniciativas que não levam em conta as dimensões humanas do desenvolvimento, incluindo fatores como valores, normas, cultura, motivação e de solidariedade, seriam menos bem-sucedidas do que o esperado. Quando estes aspectos são ignorados, podem se transformar em falhas definitivas no processo de desenvolvimento.

Acrescenta o autor (2000) que os ativos de capital social estrutural são extrínsecos e observáveis, enquanto os ativos de capital social cognitivo não são, porém ambos os domínios estruturais e cognitivos sociais estão ligadas na prática (e em teoria nas ciências sociais) por parte dos fenômenos subjetivos comportamentais conhecidos como expectativas.

Para Rodríguez-Modroño (2012), o constructo “capital social” apresenta a prerrogativa de ser multidimensional, composto por três grandes dimensões: capital social estrutural (formado pelas redes e recursos que são acessados através deles), o capital social cognitivo (compreendendo as normas e valores, como confiança, cooperação, reciprocidade, civismo, relações informais.) e de capital social institucional (qualidade das instituições formais).

Rodríguez-Modroño (2012) argumenta que a maioria dos enfoques incluem apenas dimensões estruturais e cognitivas de capital social, enquanto a proposta da autora é incluir o capital social institucional, incorporando a perspectiva da economia institucional, a qual foca na qualidade e eficácia do papel ativo do governo no fornecimento de informações, promoção, regulamentação e fortalecimento da atividade econômica. Apesar da relevância da dimensão institucional, salienta-se que no presente estudo não será utilizada devido ao foco de análise.

Nahapiet e Ghoshal (1998), por sua vez, seguem na linha de Bourdieu (1986), Putnam (1993) e Coleman (1990) adotando o capital social como a soma dos recursos reais e potenciais, disponíveis através

de uma rede de relacionamentos pertencente a um indivíduo ou unidade social, focando-se, entretanto, nas dimensões deste atributo, o que é

essencial para o presente estudo. Neste sentido, as autoras especificam

três dimensões do capital social no contexto interno de organizações, sendo elas: estrutural, relacional e cognitivo.

2.2.4.1.1 Dimensão estrutural

O aspecto estrutural do capital social diz respeito às relações entre os atores, com quem e com qual frequência eles compartilham informações (hierarquia, densidade e conectividade), através de estruturas já existentes na organização, o que, segundo Nahapiet e Ghoshal (1998), pode influenciar na reputação dos atores envolvidos.

Para Uphoff (2000), a categoria estrutural está associada a várias formas de organização social, particularmente os papéis, regras, precedentes e procedimentos, bem como a ampla variedade de redes que contribuem para cooperação e, em específico a ação coletiva mutuamente benéfica que é a série de benefícios que resultam do capital social. Esta categoria de capital social, nos termos de Uphoff (2000) reduz os custos de transação, coordenando esforços, criando expectativas e sanções sociais.

A categoria estrutural é baseada em formas primárias e secundárias. As formas primárias, embora possuam origens cognitivas, são relativamente objetivas e observáveis, compostas por papéis (funções e regras específicas) e relacionamentos sociais. As funções e regras específicas apoiam as 4 (quatro) atividades básicas necessárias para a ação coletiva: tomada de decisão, mobilização e gerenciamento de recursos, comunicação e coordenação. As formas secundárias são procedimentos e precedentes. Um bom exemplo, neste sentido, são as

sanções (UPHOFF, 2000).

2.2.4.1.2 Dimensão relacional

A dimensão relacional difere da estrutural por descrever o tipo de relações sociais que as pessoas desenvolvem umas com as outras, abrangendo aspectos comportamentais, e não apenas nos vínculos estruturais entre os atores. Consiste nos ativos que são criados e alavancados por meio do relacionamento, através de um histórico de interações e inclui atributos como confiança e confiabilidade, normas e

sanções, obrigações e expectativas, e identificação e identidade

(NAHAPIET; GHOSHAL, 1998).

Este conceito centra-se nas relações particulares entre as pessoas, como o respeito e a amizade, que influenciam o seu comportamento. É através destas relações pessoais em curso que as pessoas cumprem justificativas sociais tais como sociabilidade, aprovação e prestígio. As autoras exemplificam da seguinte forma: dois agentes podem ocupar posições equivalentes em determinada rede, mas se os seus laços pessoais e emocionais com outros membros da rede diferem, suas ações também são susceptíveis de variar em aspectos importantes (NAHAPIET; GHOSHAL, 1998).

2.2.4.1.3 Dimensão cognitiva

E, por fim, a dimensão cognitiva refere-se aos recursos que representam visões compartilhadas, interpretações e significados, como a linguagem, códigos e narrativas em comum. Estes recursos, apesar de não serem muito discutidos no mainstream dos estudos sobre capital social, recebem importância substancial, entre outros, no domínio da estratégia e na geração de capital intelectual. (NAHAPIET; GHOSHAL, 1998).

A categoria cognitiva deriva de processos mentais e resulta em ideias, reforçadas pela cultura e ideologia, especificamente normas, valores, atitudes e crenças que contribuem para o comportamento cooperativo e ação coletiva mutuamente benéfica (UPHOFF, 2000, p.4). Uphoff (2000) divide, também, a categoria cognitiva em formas primárias e secundárias. As primárias são: orientação em direção ao outro (confiança e reciprocidade, solidariedade) e orientação em direção à ação (cooperação e generosidade). As secundárias são: normas diversas, valores, atitudes e crenças que reforcem as orientações normativas primárias.

Dentro de uma organização (especialmente grandes organizações), uma visão compartilhada e/ou um conjunto de valores em comum ajudam a desenvolver esta última dimensão de capital social – cognitiva. Esta terceira dimensão é incorporada em atributos como um código ou paradigma compartilhado que facilita o entendimento comum de metas coletivas e as formas adequadas de se atuar em um sistema social (TSAI; GHOSHAL, 1998). Capta o que Coleman (1990) cita como o “bom aspecto público” do capital social.

Em síntese, apresentamos o quadro 5 contendo os atributos de cada dimensão do capital social organizacional identificados por Nahapiet e Ghoshal (1998), em sua pesquisa teórica:

Quadro 5 – Dimensões e atributos do capital social organizacional

Dimensão Estrutural Dimensão Relacional Dimensão Cognitiva

Hierarquia Confiança Visão compartilhada

Conexões Normas e sanções narrativas em comum. Linguagem, códigos e Configuração da rede Obrigações e expectativas

Identificação social

Fonte: adaptado de Macke, Carrion e Dilly (2010) e Nahapiet e Ghoshal (1998).