1 INTRODUÇÃO
2.2 CAPITAL SOCIAL ORGANIZACIONAL
2.2.3 Resultados de pesquisas empíricas
Oportunamente, nos convém esquematizar os trabalhos nacionais encontrados sobre o tema “capital social organizacional”, seus objetivos e principais resultados, apresentando uma breve discussão sobre eles, assim como outros artigos encontrados na literatura internacional, relacionando as contribuições para a área e para a presente pesquisa. A busca foi realizada através das bases existentes para pesquisas no âmbito nacional, buscando-se apenas trabalhos empíricos (para fins de delimitação), no intuito específico de conhecer as formas de análise utilizadas que pudessem ser úteis ao presente trabalho. O período de realização da busca compreendeu desde o mês de setembro de 2012 até outubro de 2013, e as palavras chave utilizadas foram as seguintes: “capital social organizacional”, “capital social” e “organizações”, tanto no título como nos palavras chave ou resumo.
Como já comentado na justificativa, dada a relativa escassez de trabalhos nacionais sobre o tema, a intenção é explicitar o que já foi estudado, possibilitando o seu desenvolvimento a partir deste marco, buscando, com isso, a realização de contribuições para a área. Segue o quadro 3:
Quadro 3 – Relação de artigos e pesquisas nacionais encontradas sobre o tema - capital social organizacional.
Título Autor (es) e ano Objetivo Principais resultados Fonte/ Base de dados
A formação do capital social baseada em organizações intensivas em conhecimento como fator de desenvolvimento
local sustentável
Silva (2010)
Explorar a da formação do capital social baseada em
organizações intensivas em conhecimento como fator de desenvolvimento
local sustentável.
Os vínculos gerados por uma OIC, enquanto líder de um
processo desenvolvimentista acarreta fatores estruturais de formação de capital social que indicam relevância quanto aos índices de desenvolvimento local
sustentável.
Banco de dissertações
UFSC
A Influência do Capital Social e da Estrutura Organizacional em Atividades da Gestão do Conhecimento Alves Filho (2006) Analisar a influência do capital social e da estrutura organizacional nas atividades da gestão
do conhecimento, particularmente em termos de sua criação e compartilhamento. Os resultados apontam a necessidade de maior interatividade, flexibilidade e horizontalidade na regional, para
atenuar os efeitos da estrutura mecânica identificada, sendo este o
traço marcante da categoria estrutural de capital social.
Banco de Dissertações
UFPE
Arranjos Produtivos Locais, Capital Social Organizacional e
Desenvolvimento Local: Um Estudo de Caso no APL Coureiro-Calçadista de Campina Grande – PB Andrade (2011) Analisar o nível de contribuição do APL de couro e calçados de Campina Grande-PB para
o desenvolvimento local
Foi identificado um grau de contribuição final do APL de couro e calçados para o desenvolvimento de Campina Grande – PB de 0,51.
Banco de teses CAPES Banco de Alimentos SESC
Pernambuco: um estudo da geração de capital social em
seu processo de
Lins (2004)
Analisar como se deu a geração de capital social
no processo de institucionalização do
O capital social instituído nessa fase mostra a persistência de
sentimentos de amizade, cooperação, confiança nas ligações
Banco de teses UFPE
institucionalização6 Banco de Alimentos SESC
Pernambuco, na perspectiva de seus
stakeholders.
estabelecidas e uma infraestrutura capaz de viabilizar esse projeto social de intermediação da ação voluntária que lhe dá sustentação. Capital social e suas
implicações para o estudo das organizações. Vale, Amâncio, Lauria (2006) Investigar as origens e repercussões do conceito de capital social na literatura corrente e suas
possibilidades de aplicação nos estudos
organizacionais.
O estudo trouxe contribuições teóricas ao debate sobre capital social organizacional, concluindo
que há ampla perspectiva de pesquisas na área, porém os estudos devem ser realizados de forma sistemática e estruturada.
Revista O & S
Capital social organizacional: a “confiança” nas Instituições de
Ensino de Brasília.
Borda (2007)
Busca discutir o que mantém as organizações
vivas? Quais elementos são fundamentais p/ a
perpetuação das IES privadas de Brasília.
Verifica-se uma crescente importância na confiança nas organizações da atualidade. Os vínculos de longo prazo entre os
atores visam o princ. Objetivo organizacional: a perpetuação. Banco de teses de doutorado da UNB (Universidade de Brasília)
Capital social: explorando a rede de relações da empresa
Anand, Glick e Manz (2002)
Busca explorar métodos para se ter acesso ao
conhecimento que extrapola as fronteiras da
empresa, bem como os modos mais eficientes de
se aproveitar o capital social das organizações.
O conhecimento se tornou o recurso central da era da informação, mas nenhuma empresa
pode possuir permanentemente todo o conhecimento de que precisa
dentro de seus limites.
RAE/FGV (Revista de Administração de
Empresas) Capital social: um estudo
exploratório e mapeamento das fontes de capital social
Oliveira, Oliveira e
O estudo buscou revisar o conceito de capital social e sua relevância para as
As fontes de capital social identificadas no estudo estão presentes e/ou são acessíveis às
Congresso Nacional de Excelência em
disponíveis às organizações do
vale do Paraíba. Inocente (2012) contemporâneas. organizações Paraíba, sendo o diferencial o como organizações industriais no Vale do são utilizadas e/ou apropriadas.
Gestão
Liderança, confiança e capital
social.7 Drummond (2004) Analisar os fatores psicossociológicos relacionados à atuação de líderes e gestores de organizações privadas do Rio de Janeiro – RJ.
Os líderes formais apresentam efeito moderador no incremento,
manutenção ou destruição de climas de confiança, nos níveis de seus grupos e da Instituição como
um todo.
Banco de teses CAPES
Mensuração do capital social organizacional em redes de indústrias vitivinícolas brasileiras. Genari, Macke e Faccin (2012)
Avaliar como o capital social se manifesta no ambiente interno de organizações em rede - indústrias vitivinícolas localizadas no Vale dos Vinhedos (RS, Brasil).
Verificou-se a existência de altos índices de capital social, principalmente no que tange às dimensões relacional e cognitiva.
EBSCOhost
Fonte: Elaborado pela autora com base em pesquisa realizada nas bases de dados da CAPES, EBSCOhost, Emerald, Scielo, revistas científicas e bancos de teses e dissertações.
7Apesar de não constar no título da referida tese, o termo “capital social organizacional” consta nas palavras-chave, sendo um dos assuntos principais do trabalho da pesquisadora Virginia Souza Drummond (2007), o qual deu origem a um livro da mesma autora, denominado “Confiança e liderança nas organizações”.
Seguem algumas contribuições dos estudos relacionados no
quadro 3. Neste sentido, Borda (2007, p.119), em artigo sobre a
“confiança” nas instituições de ensino superior privado em Brasília, partindo-se da sociologia econômica, denomina de capital social organizacional a relação de confiança entre grupos sociais e a organização, o que segundo ele pode ser desenvolvida de 03 (três) formas:
a relação de confiança entre a organização e o grupo social formado por funcionários e profissionais, detentores e produtores do capital intelectual;
a relação de confiança entre a organização e o grupo social formado por seus clientes, visando a desenvolver um relacionamento de longo prazo; e
a relação de confiança entre o grupo social maior, a sociedade em que a organização está inserida na comunidade local, nacional ou global, caso em que por suas ações ela demonstra confiabilidade à sociedade.
Borda (2007) destaca o atributo “confiança” do capital social organizacional e faz uma análise de como as relações econômicas encontram-se imersas no social (embeddedness), buscando através desta confiança, firmar o laço social/vínculo de longo prazo entre os atores para alcançar o principal objetivo organizacional: a perpetuação.
Lins (2004) procurou identificar, ao longo do processo de institucionalização do Banco de Alimentos SESC Pernambuco as categorias de capital social estrutural e cognitiva apontadas por Uphoff (2000), estabelecendo relações entre capital social organizacional e processo de institucionalização. Dentre os resultados já citados no quadro 3, cabe destacar que os stakeholders desempenharam um importante papel para a geração de capital social no Banco de Alimentos, alguns pela mobilização de sua rede de relacionamentos em favor do Banco de Alimentos, gerando novas redes e ligações interpessoais e interinstitucionais, comprovando a tese de vários autores que comentam a oscilação entre os níveis de análise individual e coletivo no estudo do capital social organizacional.
Leana e Pil (2006) realizaram estudos sobre o capital social e o desempenho organizacional no âmbito das escolas públicas da área urbana, mostrando, com isso, que os capitais sociais interno e externo são determinantes no desempenho dos alunos e, também, indicadores
relevantes de qualidade de ensino. Os autores não mensuraram a dimensão “grupos e redes”, pois durante o pré-teste da pesquisa, os respondentes não concordaram em prestar estas informações, o que consideraram uma lacuna quanto ao alcance dos objetivos do estudo. Por fim, chegaram à conclusão de que, compreender a influência das comunidades e seus papéis pode trazer um melhor entendimento sobre o capital social e seu efeito sobre o desempenho dos alunos nas escolas, bem como a sua relação com o desempenho organizacional.
Na mesma linha, Farzianpour et al. (2011), ao investigarem o relacionamento entre capital social organizacional e serviço de qualidade em hospitais de ensino no Irã encontraram a existência de uma relação significativa entre as dimensões do capital social e a qualidade de serviço prestado, destacando a importância do capital social dos trabalhadores no ambiente interno da organização.
Partindo-se da premissa que o capital social relaciona-se com a criação de vantagens competitivas nas organizações, Genari, Macke e Faccin (2012) dedicaram-se a estudar o capital social organizacional no ambiente interno de indústrias vitivinícolas em rede da região de Bento Gonçalves, Rs, e utilizaram uma metodologia própria para comunidades, desenvolvida e aplicada pelos autores Onyx e Bullen (2000). As autoras justificaram a escolha desta metodologia pelo fato de as organizações estarem inseridas bem próximas das comunidades onde atuam. Como resultados, as autoras encontraram altos índices de capital social nas organizações pesquisadas em relação às dimensões relacional e cognitiva, e a dimensão estrutural teria a ver com a própria estrutura do município em que cada organização está inserida, pois esta dimensão apareceu mais forte nas organizações localizadas no município de Monte Belo do Sul, Rs.
Neste mesmo enfoque, Genari et al. (2012) acreditam que realizar estudos sobre as manifestações do capital social em organizações pode contribuir para o entendimento de como este construto pode contribuir no aumento de vantagens competitivas, não apenas com base em suas competências, mas também de outras organizações com as quais se relacionam.
Do estudo de Oliveira, Oliveira e Inocente (2012), destacamos um importante quadro de indicadores de capital social organizacional baseado em fontes. Dali retiramos algumas informações importantes para o nosso estudo, já que está bem clara a definição dos indicadores
(fontes), seu detalhamento e as medidas tomadas. Sendo assim, as fontes de capital social organizacional definidas no estudo são as seguintes:
visões/metas compartilhadas;
valores compartilhados;
trabalhos em rede (network);
trabalhos em equipe;
conexões/fontes;
filantropia/voluntariado;
intercâmbio eletrônico de informações entre organizações;
contatos sociais informais (e-mails, telefones, publicações
técnicas, etc.);
alianças estratégicas;
aproveitamento de parceiros e investidores da organização, uso
de especialistas.
A dissertação de Andrade (2011), tratando de Arranjos
Produtivos do setor coureiro-calçadista de Campina Grande – PB nos
traz uma relação entre APL´s, Capital Social Organizacional e Desenvolvimento Local, a partir de um modelo de análise de Román e Rodríguez (2004a), que foi particularmente útil, também, para o presente trabalho por ser estruturado na forma de sistema do qual fazem parte as dimensões do capital social, os mecanismos e os resultados, o qual é utilizado especificamente para estudos sobre capital social organizacional.
Do estudo de Vale, Amâncio e Lauria (2006), depreende-se a inexistência de um paradigma que sustente a relação entre capital social e organizações. Os autores sustentam a ideia de que a redução dos níveis hierárquicos, com consequente diluição do peso burocrático, podem criar um ambiente propício para a proliferação do capital social. Ainda assim, ao se eliminar ou superar as disputas internas e interagir coletivamente para conceber, de maneira compartilhada, seus procedimentos e regras, buscando a otimização dos resultados organizacionais, pode-se desenvolver um ambiente interno fértil para o capital social.
Drummond (2004), em sua tese de doutorado, traz para o âmbito da psicologia organizacional o estudo sobre capital social, relacionando as 03 (três) variáveis: confiança, liderança e capital social organizacional. A autora se firma no conceito de Leana e Van Buren (1999) e, a partir daí, estabelece uma excelente análise do ambiente
interno das organizações sob o enfoque da confiança e da liderança, considerando a importância da manifestação positiva destas 02 (duas) primeiras variáveis como práticas facilitadoras de ações integrativas com vistas ao desenvolvimento ou produção de bens e serviços com geração de capital social. O estudo trouxe muitos avanços para a área, resultando, inclusive, num livro da autora Virginia Drummond (2007),
intitulado “Confiança e liderança nas organizações”. Para o presente
estudo, no entanto, a perspectiva psicológica não será utilizada.
Silva (2010) realizou sua pesquisa de mestrado na formação de capital social baseada nas organizações intensivas de conhecimento. Constatou a autora que numa análise de contingências entre o capital social e o desenvolvimento local sustentável, a hipótese de que as organizações intensivas em conhecimento respondem positivamente para a sociedade, da forma que bens intangíveis são fonte de produção, riqueza e desenvolvimento, se confirma a partir de seu estudo.
Já Alves Filho (2006) estudou a influência do capital social e da estrutura organizacional do Serviço Federal de Processamento de Dados
(SERPRO), unidade regional em Recife – PE, nas suas atividades de
gestão do conhecimento, particularmente em termos de sua criação e compartilhamento. O autor identificou uma estrutura organizacional resistente à integração, mesmo a empresa contando com boa infraestrutura tecnológica, além da constatação de que o envolvimento dos gestores nos processos essenciais do conhecimento contribuem para a geração de capital social. Alves (2006) conclui trazendo as complexidades de se gerenciar o conhecimento nas organizações, ainda mais devido aos déficits de capital social que muitas empresas possuem como ele mesmo identificou na organização estudada.
Anand, Glick e Manz (2002), como já mencionados no texto, também trabalham nesta perspectiva de capital social como fator de
geração do conhecimento, classificando, inclusive, suas fontes com base
na natureza do conhecimento – explícito versus tácito, e na quantidade conhecimento que se está buscando. Os autores chegam a várias premissas sobre como uma organização pode tirar proveito do capital social, a partir de uma metodologia própria vinculada a uma série de ações. A principal conclusão dos autores é que as organizações devem desenvolver seu pessoal e seus processos para identificar, acessar, comunicar, criar e administrar efetivamente o conhecimento localizado fora da empresa para obterem vantagens competitivas.
Por conseguinte, cabe-nos citar as contribuições do presente trabalho. A principal acredita-se ter sido a busca por uma forma mais sistemática de estudo do capital social organizacional, ao que se fez adaptando-se a metodologia utilizada no trabalho de Andrade (2011) e aperfeiçoando o modelo de Román e Rodríguez (2004a), ao incorporar elementos dos estudos de Nahapiet e Ghoshal (1998), e também de
autores, tais como Uphoff (2000), Leana e Van Buren (1999), Adler e
Kwon (2009), entre outros autores relevantes na área.
2.2.4 Modelo de capital social organizacional: dimensões,