CAPITAL SOCIAL ORGANIZACIONAL DOS INSTITUTOS FEDERAIS DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO SUL E A SUA INFLUÊNCIA NA RELAÇÃO
COM A COMUNIDADE
Dissertação apresentada ao Mestrado Acadêmico em Administração, do Centro de Ciências da Administração e Socioeconômicas, da Universidade do Estado de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Administração.
Orientador (a): Mauricio C. Serafim, Dr.
H333c
Hartmann, Ariane Sartori
Capital social organizacional dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul e a sua influência na relação com a comunidade/ Ariane Sartori Hartmann. – 2014.
223p. : il. ; 21 cm
Orientador: Maurício C. Serafim Bibliografia: p. 181-198
Dissertação (mestrado) – Universidade do Estado de Santa Catarina, Centro de Ciências da
Administração e Socioeconômicas, Programa de pós-graduação em Administração, Florianópolis, 2014.
1. Administração pública. 2. Organizações públicas. 3. Institutos e sociedades
tecnológicas. I. Serafim, Maurício C. II. Universidade do Estado de Santa Catarina - Programa de pós-graduação em Administração. III. Título.
CAPITAL SOCIAL ORGANIZACIONAL DOS INSTITUTOS FEDERAIS DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO SUL E A SUA INFLUÊNCIA NA RELAÇAO
COM A COMUNIDADE
Dissertação apresentada ao Mestrado Acadêmico em Administração, do Centro de Ciências da Administração e Socioeconômicas, da Universidade do Estado de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Administração.
Banca examinadora:
Orientador: ____________________________________________ Mauricio C. Serafim, Dr.
Universidade do Estado de Santa Catarina
Membros:
____________________________________ Maria Carolina Martinez Andion, Drª
Universidade do Estado de Santa Catarina
____________________________________ Sulivan Desirée Fischer, Drª
Universidade do Estado de Santa Catarina
____________________________________ Gabriela Gonçalves Silveira Fiates, Drª
Universidade Federal de Santa Catarina
Dedico este trabalho a meus amigos e à minha família, em especial à memória de meu Avô Gabriel, que nos deixou no
A Deus, por permitir a vida e nela a busca incessante por conhecimento e sabedoria.
Agradeço a minha família, pela inspiração, carinho e compreensão em todos os momentos, especialmente à minha Mãe Lidiane, que acompanhou de perto todas as minhas angústias.
Ao meu Pai Ademir, que sempre me motivou a buscar o aperfeiçoamento pessoal e profissional.
A minhas primas, principalmente Kelly Sartori Sebben e Amanda Guareschi, que me auxiliaram, em momentos e de maneiras distintas, mas que, de certo modo, foram essenciais para que eu desse este importante passo na vida acadêmica.
Aos amigos e amigas que me influenciaram a buscar mais este aperfeiçoamento, principalmente à Camila Chagas, que me fez refletir sobre as minhas possibilidades de crescimento pessoal e profissional.
Aos amigos e colegas de trabalho, pela compreensão, por ouvir meus anseios, constantes angústias e apreensões quanto ao Mestrado.
Ao Maurício Dorneles, pela paciência e compreensão em grande parte desta caminhada.
À minha Instituição, por ter concedido a oportunidade de buscar mais este aperfeiçoamento. Aos meus atuais e antigos colegas de trabalho, por não medirem esforços para que eu pudesse cursar e obter êxito no curso.
Aos participantes da pesquisa, pela disposição e apoio essenciais na realização da pesquisa de campo.
Aos amigos e colegas do curso, e a todas as pessoas maravilhosas que conheci no decorrer desta caminhada, que me acolheram em Florianópolis, fico imensamente grata por estas amizades.
Ao meu Orientador, Prof. Dr. Mauricio C. Serafim, por toda a sua dedicação e paciência e, acima de tudo, por ter acreditado no meu potencial, apesar de eu mesma desacreditar por diversos momentos.
À Esag – Udesc, pela qualidade dos serviços educacionais oferecidos. Aos Professores do Curso pelos excelentes ensinamentos e debates nas diferentes disciplinas.
HARTMANN, Ariane Sartori. Capital social organizacional dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul e a sua influência na relação com a comunidade. Dissertação (Mestrado Acadêmico em Administração – Área: Organizações e esfera pública) – Universidade do Estado de Santa Catarina. Programa de Pós-graduação em Administração, Florianópolis, 2014.
ações) e análise documental. Quanto à análise e interpretação dos dados, utilizou-se análise estatística simples, análise de conteúdo, tabelas comparativas e, por fim, uma triangulação de dados. Na fase exploratória, participaram 10 (dez) organizações, para as quais se obteve o índice médio de capital social (0,66), considerado aceitável. O capital social individual manteve-se no intervalo de 0,50 a 0,80, entre o nível de alerta e ideal, sendo os maiores índices de capital social por fase do processo identificados na dimensão - relacional, no mecanismo - ação coletiva e no resultado - aprendizagem e geração de conhecimento. Na fase descritiva, verificou-se a relação dos IFs com as comunidades por meio da análise da gestão das ações de extensão, na qual as 02 (duas) ações pesquisadas apresentaram características de governança comunitária, com alguns traços da governança burocrática e de parcerias. Como resultado, identificou-se que o capital social organizacional dos IFs é mais bem articulado na sua estrutura interna, entretanto, o que, de fato, reforça e impulsiona as ações voltadas à comunidade são as relações externas. Por fim, consideramos a proposta de modelo de capital social organizacional apresentada como uma importante contribuição teórica do presente trabalho, pois propicia uma análise mais sistemática e estruturada, abrindo novas perspectivas para pesquisas na área.
HARTMANN, Ariane Sartori. Organizational social capital of The Federal Institute of Education, Science and Technology of Rio Grande do Sul and its influence on relationship with the community. Dissertação (Mestrado Acadêmico em Administração – Área: Organizações e esfera pública) – Universidade do Estado de Santa Catarina. Programa de Pós-graduação em Administração, Florianópolis, 2014.
simple statistical analysis, content analysis, comparative tables, and finally a data triangulation. On exploratory phase, attended ten (10) organizations, for which we obtained the average rate of capital (0,66) considered acceptable. The individual capital remained in the range 0,50 to 0,80, between the level of alert and ideal, with the highest rates of capital per procedure identified in the relational dimension, in collective action mechanism and outcome, learning and knowledge generation. On descriptive phase, it has been found the relationship of IFs with communities through the analysis of the management of extension actions, in which two (02) surveyed actions showed characteristics of community governance, with some traces of bureaucratic governance and partnerships. As a result, it was identified that organizational social capital of IFs are best articulated in its internal structure, however, what actually reinforces and drives the actions of the community are the external relations. Finally, we consider that the proposed organizational social capital model appears as an important theoretical contribution of this work, as it enables a more systematic and structured analysis, opening new perspectives for researches in the area.
LISTA DE QUADROS
Quadro 21-Quadro resumo dos dados encontrados na pesquisa de campo – Fase descritiva ... 158 Quadro 22-Governança versus dimensões do capital social – Projeto A ... 166 Quadro 23-Governança versus dimensões do capital social – Projeto B
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Modelo de Capital social organizacional interno ... 51
Figura 2 - Dimensões, mecanismos e resultados do capital social organizacional ... 64
Figura 3 - Capital social, capital social organizacional, capital intelectual e confiança ... 76
Figura 4 - Modelo de capital social organizacional adaptado para o presente estudo ... 77
Figura 5 - Modelo de análise sintético (conceitos) ... 105
Figura 6 - Modelo de análise do Capital social organizacional ... 106
Figura 7 - Modelo de análise da gestão da extensão (Relação com a comunidade) ... 113
Figura 8 - Desenho de pesquisa ... 116
Figura 9 - Instituições participantes ... 133
Figura 10-Tempo de funcionamento dos Câmpus respondentes ... 134
Figura 11-Quantidade de alunos matriculados ... 135
Figura 12-Capital Social Organizacional de cada Câmpus ... 135
Figura 13-Biograma das médias encontradas por categoria de capital social organizacional ... 136
Figura 14-Grau de contribuição do capital social organizacional dos Câmpus dos Institutos Federais do RS no desenvolvimento das suas comunidades. ... 154
Figura 15-Percentual de contribuição de cada componente de capital social ... 155
Figura 16-Capital social organizacional - Câmpus “F” ... 167
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Ponderação da escala Likert ... 126
Tabela 2 – Dimensão Estrutural ... 138
Tabela 3 – Dimensão Relacional ... 139
Tabela 4 – Dimensão Cognitiva ... 141
Tabela 5 – Mecanismo Acesso e intercâmbio de informações ... 143
Tabela 6 – Mecanismo Ação Coletiva ... 145
Tabela 7 – Inovação ... 148
Tabela 8 – Desempenho ... 150
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
APAE Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais CEFET´s Centros Federais de Educação Tecnológica CRAS Centro de Referência de Assistência Social EPCT Educação Profissional, Científica e Tecnológica IF Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
IFFarroupilha Instituto Federal Farroupilha
IFRS Instituto Federal do Rio Grande do Sul
IFSUL Instituto Federal Sul-riograndense
IPES Instituições Públicas de Ensino Superior
KS Capital Social
NAPNE Núcleo de Apoio às Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas
PDI Plano de Desenvolvimento Institucional PROEXT Pró-reitores de Extensão
SER Responsabilidade Social Empresarial
1 INTRODUÇÃO ... 25
1.1 OBJETIVOS ... 28
1.1.1 Objetivo geral ... 28
1.1.2 Objetivos específicos ... 28
1.2 JUSTIFICATIVA ... 29
2 MARCO TEÓRICO ... 33
2.1 CAPITAL SOCIAL ... 33
2.1.1 Origens do termo, principais conceitos e aplicabilidades 33 2.1.2 Fontes de capital social ... 38
2.1.3 Capital social como um bem público versus capital social como um bem privado ... 41
2.2 CAPITAL SOCIAL ORGANIZACIONAL ... 43
2.2.1 O surgimento de um conceito ... 43
2.2.2 Custos e Benefícios para as organizações ... 50
2.2.3 Resultados de pesquisas empíricas ... 54
2.2.4 Modelo de capital social organizacional: dimensões, mecanismos e resultados ... 62
2.2.4.1 Dimensões ou categorias do capital social organizacional.... 67
2.2.4.1.1 Dimensão estrutural ... 69
2.2.4.1.2 Dimensão relacional ... 69
2.2.4.1.3 Dimensão cognitiva ... 70
2.2.4.2 Mecanismos do capital social ... 71
2.2.4.2.1 Acesso e intercâmbio de informações ... 71
2.2.4.2.2 Ação coletiva ... 72
2.2.4.3 Resultados do capital social ... 73
2.2.4.3.1 Inovação ... 73
2.2.4.3.2 Desempenho ... 74
2.2.4.3.3 Aprendizagem e geração de conhecimento ou capital intelectual ... 75
2.2.5 Como criar e fomentar o capital social organizacional .... 77
2.3 INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR E RELAÇÕES COMUNITÁRIAS ... 81
2.3.1 Responsabilidade Social de IES ... 82
2.3.2 O que é Extensão Universitária? ... 84
2.3.3 A importância da extensão universitária ... 88
2.3.4 Gestão das ações de extensão ... 91
2.3.4.2 Formas de governança ... 92 2.3.4.3 Modelos de governança versus dimensões do capital social
4.2.2.4 Organização “F”: Capital social organizacional versus relação
com a comunidade ... 167 4.2.3 Projeto B ... 168 4.2.3.1 Dimensão Cognitiva ... 169 4.2.3.2 Dimensão Estrutural ... 170 4.2.3.3 Dimensão Relacional ... 172 4.2.3.4 Organização “I”: Capital social organizacional versus relação
1 INTRODUÇÃO
Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFs), por serem agentes estratégicos na estruturação de políticas públicas de educação profissional e tecnológica, apresentam estruturas propícias à intervenção em suas respectivas regiões, identificando problemas e criando soluções através das ações de ensino, pesquisa e extensão articuladas com as forças sociais da região (PACHECO, 2011). É neste sentido, que a interação da Instituição com a comunidade em que atua é de fundamental importância, buscando-se a sintonia nas ações frente às demandas identificadas.
Ao partirmos aqui de uma visão em que as instituições de ensino são organizações socialmente construídas (COLEMAN, 1993), necessitamos explicar de que forma as estruturas relacionais estão fazendo parte desta construção, e para esta pesquisa em específico, como a sua interação com a comunidade poderia ser explicada, em partes, pelo capital social presente nestas organizações. Com efeito, os IFs enquanto organizações apresentam estruturas apropriadas para propósitos além daqueles para os quais foram originalmente criadas constituindo-se num importante capital social para os membros, tendo a sua disposição recursos organizacionais que facilitam suas ações, nos termos de Coleman (1998).
Ilustramos, inicialmente, o conceito de capital social a partir de Fukuyama (2001, p. 155), para o qual é concebido como “[...] um conjunto de valores ou normas informais partilhados por membros de
um grupo que lhes permite cooperar entre si.” Para o autor, a confiança é
Admitimos, com isso, que existe um capital social disponível para uso, e através da disponibilização de recursos organizacionais para as ações podemos verificar de que forma as organizações as incentivam e viabilizam. Desta forma, nos convém explorar de que maneira a gestão das organizações pesquisadas disponibiliza recursos organizacionais (simbólicos e materiais), através de informações, apoio, recursos físicos, incluindo o aporte financeiro e espaço físico e, também, de investimento em capital humano para a viabilização das ações. Os recursos propiciados pelas estruturas organizacionais são uma das formas conducentes ao capital social (SERAFIM; MARTES; RODRIGUEZ, 2012), tendo em vista que os atores têm a sua disposição recursos que de outra forma não teriam. Sendo oportuno constatar o modo como o capital social presente na estrutura organizacional influencia na gestão das ações viabilizadas, e como consequência, na relação entre a instituição e a comunidade.
O capital social nas comunidades locais é cada vez mais visto como uma importante fonte de capacidade coprodutiva para prover melhores serviços públicos (ANDREWS, 2012), comprovado por Putnam (1993) através de estudos nos governos locais italianos e diversos outros autores que, também, comprovaram empiricamente o argumento. E, no entanto, até o momento, a pesquisa no campo da administração pública tem dado pouca atenção para as ligações entre os componentes estruturais e da existência de capital social, tais como a vida da comunidade organizacional, engajamento político e os níveis de confiança interpessoal, e o desempenho dos serviços públicos (ANDREWS, 2012).
Não obstante um crescente número de estudos que examinam os efeitos do capital social organizacional no contexto das empresas privadas nos últimos anos, pouca atenção tem sido dada até agora ao seu impacto sobre as realizações de organizações públicas (ANDREWS, 2007). A despeito disso, assume-se que instituições públicas precisam compreender e desenvolver o seu capital social, assim como qualquer grupo ou comunidade que deseja alcançar melhores resultados.
Por conseguinte, há o intuito em se discutir de que forma as relações sociais podem se configurar em possibilidades de indivíduos ou grupos obterem recursos e como as redes sociais e o capital social têm contribuído para as ações colocadas em prática no âmbito dos IFs. Salienta-se que os IFs são órgãos relativamente novos, e acima de tudo, foram concebidos como uma rede tecida a partir de relações sociais, abrangendo os seus próprios agentes e as relações estabelecidas com outros órgãos, empresas, entidades, movimentos sociais, sociedade civil, entre outros (PACHECO, 2011).
Os Institutos Federais foram criados pela Lei Federal nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008, sendo equiparados às Universidades Federais, por serem também instituições de ensino superior, entretanto, sua especialidade é a oferta de educação profissional e tecnológica nas diferentes modalidades de ensino - formação básica, técnica e tecnológica (BRASIL, 2008). Diferem estruturalmente por constituírem-se como rede, buscando a integração sistemática de diversas organizações de ensino através de um núcleo central. Desta forma, o IF passa a ser um conjunto de unidades com gestão interdependente entre os câmpus e a reitoria, integrados por princípios institucionais estratégicos, projeto político-pedagógico único, com foco na justiça social e na equidade (FERNANDES, 2009).
Logo, em virtude de sua função social, há que se considerar um engajamento mútuo na solução de problemas públicos, no sentido em que diferentes saberes e esforços direcionados para este fim podem ser capazes de promover avanços em termos de desenvolvimento econômico e social nas comunidades em que atuam. Neste sentido, Pereira et al. (2008) consideram o capital social estratégico para o desenvolvimento. As relações sociais são consideradas fatores decisivos na superação das desigualdades e determinantes para o desenvolvimento de um grupo, comunidade ou região.
através das organizações e as relações sociais que se estabelecem neste meio se constituem fontes para o alcance de objetivos comuns. Entretanto, como não basta identificar o capital social através das estruturas sociais, mas sim assimilar a sua contribuição organizacional para a comunidade, buscamos aqui investigar de que forma o capital social disponível na estrutura dos Câmpus dos Institutos Federais do Rs, influencia na relação dos mesmos com a comunidade em que atuam - focando-se na comunidade externa - a partir da análise da gestão da extensão universitária, por se tratar da expressão mais clara da relação entre a Instituição de Ensino e a Comunidade.
Entendemos que a base para a relação dos IFs com a comunidade externa seja a gestão efetiva das suas ações de extensão, partindo-se da premissa que a gestão de seus processos educacionais influencia diretamente sua atuação no intuito de modificar a realidade social da comunidade em que estão inseridas.
Sendo assim, o problema de pesquisa que se propõe é: de que forma o capital social organizacional dos Câmpus dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul influencia na relação com a comunidade, particularmente na gestão das suas ações de extensão?
1.1 OBJETIVOS
1.1.1 Objetivo geral
-Compreender de que forma o capital social organizacional dos Câmpus dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul influencia na relação com a comunidade, particularmente na gestão das suas ações de extensão.
1.1.2 Objetivos específicos
-Construir um modelo teórico analítico para compreensão do capital social das organizações na concepção de seus membros.
-Analisar a relação deste capital social na governança das ações de extensão dos IFs, a partir do estudo de 02 (dois) casos daquelas IFs com maior capital social organizacional.
-Apresentar critérios quanto ao fomento ao capital social nas organizações pesquisadas e em outras IFs.
1.2 JUSTIFICATIVA
Em termos teóricos, quanto ao estado da arte admite-se que apesar de haver diversos estudos sobre capital social em comunidades, organizações sociais, grupos empresariais ou profissionais, e um crescente interesse no tema, ainda não há um número significativo de estudos empíricos sobre capital social no contexto das organizações1
(social capital organizational), especialmente no âmbito nacional,
conforme pesquisa realizada em bancos de dissertações, teses, revistas científicas e bases de dados, como periódicos CAPES, EBSCOhost, Emerald e Scielo (veja quadro 3 na página 26).2
Dada a relativa escassez de trabalhos nacionais sobre o tema, a intenção é explicitar o que já foi estudado, possibilitando o seu desenvolvimento a partir deste marco, buscando, com isso, a realização de contribuições para a área. E como o tema capital social organizacional já vem sendo discutido há alguns anos pela academia internacional, porém ainda não é tão disseminado pela academia brasileira, este trabalho pretende, assim, preencher a lacuna teórica existente e, talvez, mais adiante contribuir para que o tema seja incluído no programa de disciplinas da área organizacional.
Com base na pesquisa realizada nas bases de dados, verificamos que existem várias formas de abordagem, desde uma perspectiva comportamental (confiança e liderança), e até mesmo abordando o fenômeno exclusivamente em relações interorganizacionais, faltando, em sua grande maioria, um método de análise mais sistemático, passível de ser adaptado ao objeto e forma de abordagem do problema. A lacuna
1 Aqui nos referimos às organizações formais, públicas ou privadas, lembrando que o trabalho foi desenvolvido numa instituição pública, o que torna ainda mais escassos os resultados.
2
teórica deve-se, portanto, à escassez de trabalhos sobre o tema em âmbito nacional e, também, à busca de uma forma mais sistemática e
estruturada de análise do constructo “capital social organizacional”.
Quanto ao campo, o presente trabalho teve por objetivo contribuir com um estudo empírico no que se refere à influência do capital social organizacional dos IFs na relação com a comunidade em que atuam, a partir da governança das ações de extensão. Neste contexto, construíram-se indicadores para análise do capital social organizacional, com a finalidade de explorar as dimensões, os mecanismos e resultados do capital social das organizações pesquisadas. Em seguida, aplicou-se o modelo construído, analisando-se os seus resultados e relacionando à governança das ações de extensão, escolhidas como categoria de análise por se tratarem da expressão mais clara da relação entre a Instituição de Ensino e a comunidade. Por fim, apresentaram-se sugestões quanto ao fomento deste importante ativo.
Dentre os possíveis benefícios de se estudar o capital social de organizações, quanto a presente pesquisa destacamos os seguintes: (1) organizações enquanto instituições são propícias ao desenvolvimento de altos níveis de capital social (SERAFIM; ANDION, 2010; COLEMAN, 1990); (2) capital social melhora a produtividade dos indivíduos, da equipe e da organização como um todo, permitindo um maior comprometimento com a organização por parte dos indivíduos (LEANA; VAN BUREN, 1999; ANDREWS, 2007; ADLER; KWON, 2002; ANDREWS, 2012); (3) o desenvolvimento das dimensões relacionais, estruturais e cognitivas facilita a criação do capital intelectual nas organizações (NAHAPIET; GHOSHAL, 1998); (4) a partir da análise das dimensões, mecanismos e resultados de capital social organizacional é possível estabelecermos relação direta com o processo de desenvolvimento local (ROMÁN; RODRÍGUEZ, 2004a); (5) uma melhor investigação quanto à influência do capital social organizacional na interação dos IFs com as comunidades em que atuam, poderá contribuir com pistas de como fomentar e investir de modo mais eficaz nesse tipo de recurso.
área, pode trazer novas perspectivas, principalmente no setor educacional, que apresenta uma série de possibilidades, que podem ser potencializadas pela ação coletiva e engajamento, tanto em relação aos servidores e alunos, no contexto interno, quanto externo, em relação aos diferentes atores que interagem junto aos IFs no intuito de buscarem melhorias na entrega de serviços públicos.
Admite-se que os IFs, conforme já mencionado, além de disponibilizarem recursos, possuem estruturas propícias para o desenvolvimento de ações comunitárias devido a sua função social na área da educação profissional e tecnológica, com atuação articulada e contextualizada a sua região de abrangência. Partimos da premissa que quanto maior o capital social organizacional mais qualitativa será a gestão das ações de extensão, evidenciando uma ação social mais efetiva. E, assim, podemos relacionar o capital social presente na estrutura organizacional com a governança das ações desenvolvidas. Pretende-se, desta forma, analisar de que forma o capital social organizacional dos IFs influencia a sua atuação na comunidade local por meio da governança das ações de extensão, em consonância com as dimensões, mecanismos e resultados de capital social identificados.
Além disso, ao aplicar o modelo nos Institutos Federais do Rio Grande do Sul e apresentar os resultados, percebemos que ao ser bem conduzido, podemos utilizá-lo como ferramenta de gestão, já que nos permite identificar quais aspectos a organização deve observar para reforçar o seu capital social e, com isso, aperfeiçoar os seus resultados.
Numa visão mais ampla, o estudo buscou trazer argumentos para compreendermos se o capital social organizacional pode constituir-se um aspecto relevante de mudança social, no constituir-sentido em que o estudo das dimensões do capital social se torna essencial à administração pública e ao desenvolvimento em geral (PUTNAM, 2000). Sendo a relação com o bem público (PUTNAM, 2000) o que figura a peça central do recente aumento de estudos relacionando o capital social e a administração pública (ANDREWS, 2012).
2 MARCO TEÓRICO
Neste item pretende-se apresentar o contexto teórico em que está inserido o termo “capital social”, suas origens e definições, logo após dando o enfoque devido ao “capital social organizacional”, demonstrando as diferentes vertentes de estudo, conceitos, dimensões e modelos de análise. Em complemento, apresentar-se-á uma breve discussão quanto aos resultados de pesquisas empíricas, conforme mencionado na justificativa do estudo. Por fim, será abordado o contexto teórico relacionado à interação entre instituições de ensino e comunidade, incluindo os tópicos - responsabilidade social universitária, extensão universitária e governança das ações de extensão.
2.1 CAPITAL SOCIAL
Capital social é um constructo teórico, proveniente da sociologia e, que, apesar do crescente interesse acadêmico na área, apresenta-se ainda como um conceito impreciso quanto a sua definição e utilização, bem como em processo de consolidação como campo de estudo. (CREMONESE, 2012; COFFÉ; GEYS, 2005; SILVA et al., 2012). Para Baquero (2006), o conceito de capital social surge como uma ponte entre o mundo real e o teórico, na medida em que proporciona um conjunto de recursos inerentes às relações sociais, tornando possível atingir determinados objetivos que não seriam alcançados na sua ausência.
As diferentes palavras utilizadas pelos teóricos para definição de capital social acabam gerando confusão sobre aquilo que o constitui (CREMONESE, 2006, p.58). Os termos frequentemente utilizados são: “energia social, espírito comunitário, laços sociais, tecido social, virtude cívica, confiança, redes associativas, relações horizontais, vida comunitária, normas sociais, redes informais e formais (bonding, bridging, linking), reciprocidade, bem comum e pró-atividade”. Passamos agora a discorrer pelas origens do termo, suas abordagens e aplicabilidade.
2.1.1 Origens do termo, principais conceitos e aplicabilidades
de cooperação e ajuda mútua que vigorava na sociedade norte-americana daquela época, sem saber, estava dando inicio à definição do
termo “capital social”. E foi este vigor associacionista bastante
generalizado que levou o autor a dar origem à obra “A democracia na
América”, em 1830, um dos clássicos na literatura política (FRANCO,
2001). Porém, a primeira utilização conhecida do conceito foi feita por LJ Hanifan, supervisor estadual de escolas rurais no estado de West Virginia, nos EUA. Hanifan (1916) percebeu que o sucesso escolar se devia principalmente pelo envolvimento da comunidade, e como razão disso, remeteu à ideia de “capital social”, para ele, significado de boa vontade, camaradagem, relações sociais entre indivíduos e famílias. No entanto, quem primeiramente abordou o tema tal como o conhecemos hoje foi a autora Jane Jacobs (1960), na obra “A vida e a morte nas
grandes cidades americanas”, investigando o motivo pelo qual algumas
cidades norte-americanas não apresentavam uma vivacidade e dinamismo social tanto quanto outras. Ela chegou à conclusão de que esta vivacidade devia-se a um capital, um fator de desenvolvimento
existente nas cidades, ao qual chamou de “capital social” (FRANCO,
2001).
Na área acadêmica, os primeiros estudiosos a tocar no tema foram Bourdieu (1980), Coleman (1988) e Putnam (1993), respectivamente. O primeiro acadêmico a definir o termo foi o sociólogo francês Pierre Bourdieu (1986, p. 249), o qual partiu da concepção de capital social como sendo "...a soma dos recursos reais ou virtuais que indivíduos ou grupos de indivíduos adquirem devido ao fato de possuírem redes duráveis de relacionamentos sociais mais ou menos institucionalizados de reconhecimento e conhecimento mútuos", estendendo sua noção de capital para além dos seus limites tradicionais, aplicando-a a dimensões não materiais e simbólicas.
James Coleman (1988), sociólogo norte-americano, foi quem trouxe para o debate acadêmico o tema, sendo considerado o autor mais relevante na área. Para ele, o capital social é definido pela sua função:
“[...] uma variedade de entidades diferentes, com dois elementos em
comum: consistem de algum aspecto das estruturas sociais e facilitam certas ações dos atores – sejam pessoas ou atores corporativos – no
interior da estrutura” (p. 98). Afirma o autor que o capital social ajuda a
Para Coleman (1988), capital social é uma característica das organizações sociais e está localizado no grupo ou em nível organizacional. E, assim, o capital social se dá por trocas provenientes das relações entre as pessoas que, por sua vez, facilitam a ação. Se o capital físico é totalmente tangível, sendo incorporado na forma material observável, e o capital humano é menos tangível, sendo incorporado nas habilidades e conhecimentos adquiridos por um indivíduo, o capital social, por sua vez, é ainda menos tangível, pois existe nas relações entre as pessoas. Para o autor, o capital social pode servir como um recurso para atores individuais ou coletivos, no entanto, o aborda como um recurso para atores individuais.
No entanto, o termo capital social só ganhou relevância após pesquisas desenvolvidas pelo cientista político, também norte-americano, Robert Putnam (1993, p.177), segundo o qual “[...] diz
respeito a características da organização social, como confiança, normas e sistemas, que contribuam para aumentar a eficiência da sociedade, facilitando as ações coordenadas”. Argumenta o autor que o desempenho institucional independe do desenvolvimento econômico da região, mas sim da comunidade cívica. O estudo de Putnam (1993) se deu no contexto dos governos locais na Itália contemporânea, onde identificou através de uma ampla pesquisa empírica que o desempenho institucional estaria intimamente relacionado aos sistemas de participação cívica, se revelando uma forma essencial de capital social. Dessa forma, o capital social, quando presente em uma sociedade, fortalece a tomada de decisões e a execução de ações colaborativas que beneficiam toda comunidade.
Putnam (2000) aborda o capital social como um ativo importante individual e socialmente. As redes e os vínculos que nelas se dão entre pessoas têm um valor e são importantes para os indivíduos, os grupos e as comunidades. Desta forma, o autor considera o capital social como um bem público. E como o capital físico e o capital humano podem aumentar a produtividade individual ou coletiva, os contatos sociais também podem afetar a produtividade do indivíduo e de grupos de indivíduos (COLEMAN, 1988).
conceito teórico, mas também como um dos fatores geradores de desenvolvimento (PORTES, 1998).
Franco (2001) sugere que o conceito da palavra capital não se refere a um conceito econômico. Para o autor, capital social é um conceito político, já que estimula a articulação dos indivíduos, por meio de suas redes, em torno de seus objetivos comuns. Capital social, então, diz respeito à capacidade das pessoas se unirem, trabalhando em conjunto e se articulando em grupo para o bem comum. A articulação, a partir de grupos, pressupõe que haja um grau de confiança entre os membros de uma comunidade entre si.
Baquero (2006) reforça a ideia de que quando as pessoas tomam consciência da importância de trabalhar em conjunto, a ação coletiva é viável. Neste sentido, empoderar mediante redes de confiança fomenta o capital social entre as pessoas e pode traduzir-se na obtenção de bens tangíveis. Segundo o autor, não é um conceito meramente normativo, mas tem a utilidade prática para o desenvolvimento da qualidade de vida e da cidadania. Nesta linha é que alguns autores, tais como Nazzari (2003) acreditam que o capital social seria capaz de levar a uma maior prosperidade, bem estar e felicidade nas pessoas.
Porém, nem toda forma de capital social é positiva, e que este pode ser usado negativamente contra os que estão fora de uma determinada rede. Portanto, as interações de uma rede podem ser utilizadas para fins que não conduzam ao bem-estar de uma determinada comunidade (MARTELETO; SILVA, 2004). E, por isso, o tema vem sendo alvo de muitas críticas. Com isso, Nicola e Diesel (2003) argumentam que as propostas de desenvolvimento devem valorizar e investir em normas e redes que gerem consequências positivas, isto é, devem buscar a correlação positiva entre capital social e desenvolvimento, combatendo a negativa, seja a unidade, o indivíduo, o grupo comunitário ou a nação, aproximando a noção de capital social a de um recurso produtivo.
Em se tratando de economia, as trocas são vistas como maximizadoras do bem-estar e resultados sociais, como Stiglitz e Walsh (2003), através do reconhecimento de que ambas as partes ganham numa troca voluntária. Seja uma troca voluntária entre duas pessoas, entre uma pessoa e uma empresa ou entre residentes de dois países diferentes, a troca pode aumentar o bem-estar das duas partes.
definida como um recurso da comunidade construído pelas suas redes de relações. Para esses autores, “a construção de redes sociais e sua consequente aquisição de capital social estão condicionadas por fatores culturais, políticos e sociais” (p.44). O que para esta pesquisa é primordial, no sentido de que entender sua constituição pode levar a sua utilização, como mais um recurso, neste caso, em favor de ações educacionais que sejam capazes de promover mudanças e melhorar as oportunidades sociais, a viabilidade econômica e as condições de vida da comunidade (BUARQUE, 2000).
Em 2003, pesquisadores do Banco Mundial, em estudos sobre pobreza e desenvolvimento, definiram seis dimensões para mensurar o capital social, sendo elas: grupos e redes, confiança e solidariedade, ação coletiva e cooperação, informação e comunicação, coesão e inclusão social e, poder e ação política (GROOTAERT et al., 2003). Explicando de forma mais detalhada:
grupos e redes: permite a percepção da diversidade das associações de um determinado grupo e a participação dos indivíduos em redes informais e/ou organizações sociais; confiança e solidariedade: pressupõe a obtenção de
informações sobre a confiança que inspiram seus pares, prestadores de serviços essenciais e pessoas estranhas, e como essas percepções mudaram com o tempo;
ação coletiva e cooperação: pode-se obter dados sobre a cooperação entre os membros da comunidade e a capacidade de desenvolvimento de ações coletivas;
informação e comunicação: é possível compreender o acesso à informação sobre as condições de mercado e serviços públicos, e ainda, à infra-estrutura de comunicação;
coesão e inclusão social: permite identificar as diferenças que podem desencadear conflitos, também os mecanismos utilizados para o gerenciamento dos mesmos, os grupos excluídos dos serviços públicos essenciais e as formas cotidianas de interação; e
poder e ação política: pode-se averiguar se o grupo detêm um certo controle sobre instituições e processos que afetam diretamente seu bem-estar.
Para Marteleto e Silva (2004), variáveis como “confiança”,
operacionalizadas, “pois há um acordo entre os estudiosos do tema, segundo o qual não basta identificar o número de componentes das redes (ligações e nós), mas sim apreender a sua importância para a comunidade” (p.45).
2.1.2 Fontes de capital social
Adler e Kwon (2002) percebem que além do consenso básico que o capital social é derivado de relações sociais, há uma considerável discórdia e confusão sobre os aspectos específicos das relações sociais que criam capital social, ou seja, as fontes de capital social. As pesquisas sobre capital social podem ser divididas em duas vertentes: a primeira, que localiza a fonte de capital social na estrutura formal dos laços que compõem a rede social e a segunda que foca no conteúdo dos laços.
Adler e Kwon (2009) sintetizam as fontes de capital social a partir de Ostrom (1994), incorporando aspectos formais e de conteúdo, sendo elas: redes, normas e crenças compartilhadas. Em complemento, citam a confiança, com ressalvas, entretanto, devido à confusão existente na literatura sobre capital social, em que alguns autores a igualam ao capital social e outras a trazem como uma fonte, ou ainda, como uma forma. Acreditam os autores que a confiança é conceitualmente diferente de capital social, configurando-se, como fonte e ao mesmo tempo, efeito.
Da mesma forma, é importante se distinguir os recursos da capacidade de obtê-los em virtude de participação em diferentes contextos sociais (estruturas). Igualar o capital social com os recursos adquiridos através dele pode facilmente levar a proposições tautológicas (PORTES, 1998). Desta forma, Portes (1998) embasado em Coleman (1990), partindo-se de uma estrutura social possuidora de capital social, onde há doadores e receptores, nos mostra 03 (três) distinções importantes que se deve fazer ao tratar de forma sistemática o conceito: (a) os possuidores de capital social são aqueles que fazem as reivindicações, (b) as fontes de capital social são os que concordam com essas demandas, (c) os recursos em si. Estes três elementos são muitas vezes misturados nas discussões sobre o conceito, definindo, assim, os alicerces para a confusão nos usos e alcances do termo.
tais comportamentos são, então, apropriáveis por outros como um recurso. É o que Coleman (1988) chama de normas e sanções. Trata-se, para ele, de uma forma de capital social, juntamente com obrigações e expectativas, e canais de informação. Neste caso, todas as formas de capital social são tidas como recursos, as quais permitem que o indivíduo tenha acesso ao capital social.
Quando uma norma existe e é eficaz, constitui uma poderosa, embora às vezes frágil forma de capital social. Numa estrutura mais aberta, as violações de normas não são frequentemente detectadas e, por isso, não punidas. Assim, quando há pessoas não confiáveis, há um enfraquecimento do capital social (COLEMAN, 1988).
Seja qual for a fonte, indivíduos em estruturas sociais, com altos níveis de obrigações pendentes, possuem mais capital social sobre o qual se pode desenhar. A densidade das obrigações pendentes significa que a utilidade geral dos recursos tangíveis da estrutura social é amplificada por sua disponibilidade para os outros, quando necessário (COLEMAN, 1988).
Certos tipos de estrutura social, no entanto, são especialmente importantes para facilitar algumas formas de capital social. Com efeito, trazemos a noção de “fechamento” de redes sociais de Coleman (1988), a qual consiste numa propriedade das relações sociais que facilita as formas de capital social: “normas e sanções” e “obrigações e
expectativas”. Normas surgem como tentativas de limitar os efeitos
externos negativos ou encorajar os positivos. O “fechamento” mostra a existência de laços suficientes entre as pessoas, para que as normas sejam observadas por meio de sanções sociais (COLEMAN, 1988; SERAFIM; ANDION, 2010).
Numa estrutura social em que há fechamento, um conjunto de sanções eficazes é capaz de monitorar e direcionar o comportamento. Por exemplo, pais que têm filhos que estudam na mesma escola e mantêm uma frequência de contato, podem discutir as atividades das crianças e chegar a algum consenso sobre sanções e padrões (COLEMAN, 1988).
(1981, 1999), Burt (1992, 1997, 2004) e Baker (1990). Há, neste sentido, para Adler e Kwon (2002), três facetas da estrutura social, cada uma delas enraizada em diferentes tipos de relações, são elas: relações de mercado, relações hierárquicas e relações sociais. Sendo este terceiro tipo de relação o que constitui a principal dimensão da estrutura social subjacente a capital social.
Por um lado, Granovetter (1985) trazendo a noção de
“enraizamento”, adaptado de Polanyi (1957), sugere que as relações
hierárquicas e de mercado são normalmente incorporadas no funcionamento das relações sociais, e na medida em que os três tipos de relações são essencialmente sociais, o seu distintivo conteúdo, assim, é secundário para a sua natureza social em comum. Quanto ao conteúdo das relações, pode-se citar: recursos, informações e afeição. Quanto à intensidade, os laços podem ser fortes ou fracos. Por outro lado, existe uma longa tradição de estudiosos argumentando que em sociedades modernas, econômicas e de relações hierárquicas, cujas relações foram progressivamente diferenciadas e desincorporadas, e, nessa medida, elas desenvolvem dinâmicas distintas.
Há, entretanto, uma espécie de capital social, o capital reticular
que está intimamente ligado ao conceito de “bridging social capital”,
onde sugere a construção de conexões entre grupos heterônomos por meio dos laços fracos, opondo-se à noção de “bonding social capital”
que se relaciona com a ideia de laços fortes, em relações familiares e de amizade, habitualmente (BARON; FIELD; SCHÜLLER, 2000). Outra espécie de capital social é o “linking social capital”, conceito atribuído pelo Banco Mundial (2003) como referente às ligações verticais entre os pobres e pessoas em postos de decisão em organizações formais. Adler e Kwon (2002) salientam que o tipo de capital social “bridging” teria o foco nas relações externas, enquanto os laços construídos no lado de dentro, através das coletividades teria relação com o conceito de “bonding social capital”. Cada tipologia possui diferentes características e, assim, propósitos diversos para os quais se mostram mais vantajosas.
Granovetter (1974) demonstrou, através de um amplo estudo empírico, que as redes sociais aumentam os índices de empregabilidade, e que os laços fracos (vínculos frágeis) são a peça fundamental devido ao acesso as informações que são trocadas através destes vínculos
(bridging social capital), as quais não poderiam ser acessadas através
concluiu que aqueles que possuem mais vínculos frágeis (vínculos de amizade) que vínculos fortes (vínculos de família) obtêm informações mais relevantes e eficientes que os demais em relação ao mercado de trabalho.
Cabe destacar aqui os estudos de Burt (1992, 2004), nos quais o
autor demonstrou que uma estrutura particular, denominada “buraco
estrutural”, daria uma nova significação empírica ao conceito de capital
social. Estrutura que está intimamente relacionada ao conceito de vínculos frágeis. Desta forma, admite-se que o sujeito que ocupa lugar
central numa estrutura na qual apresenta “buracos estruturais” ou “vínculos frágeis”, possui uma vantagem perante os outros, podendo
utilizá-la em seu próprio benefício, de uma organização (ou grupo) ou de todos os atores pertencentes a esta estrutura. Um fato importante é o acesso às novas informações, no qual este ator central possui privilégios devido a sua posição estrutural, podendo ser usada de forma oportunista ou solidária (moral). Esta vantagem, para Granovetter (1985), caso não esteja relacionada à rede social, a princípio não constitui um capital social. O que viria de encontro aos conceitos de capital social ligados à coesão social, laços fortes e solidariedade.
Baker (1990, p.619) segue na linha de Lin (1981, 1999) e Burt (1992, 2004), limitando o termo às estruturas de redes de relações, definindo o conceito de capital social como “um recurso que os atores fazem derivar de estruturas sociais específicas e usam depois para a realização dos seus interesses; recurso esse criado por alterações na
relação entre atores”. Os autores desta vertente partem, portanto, de uma
concepção de capital social conducente à ideia de “bem privado”, no que o ator se vale de um recurso coletivo para conseguir benefícios próprios, devido a sua posição estratégica dentro da rede.
2.1.3 Capital social como um bem público versus capital social como um bem privado
Quadro 1 - Distinções entre modelos de capital social público e privado Atributo Capital social como
um bem público
Capital social como um bem privado
Nível de análise Macro e meso (unidade social) Micro (individual)
Benefício para o
indivíduo indireto direto
Benefício para o
coletivo direto incidental
Laços necessários resilientes frágil
Incentivos individuais (função de acesso a Fraco e moderado
benefícios indiretos) forte
Fonte: Adaptado de Leana e Van Buren (1999, p. 541).
Desta forma, o capital social perpassa vários níveis de análise (nações, comunidades, organizações e indivíduos) e tem sido descrito utilizando tanto macro e/ou microanálises (LEANA; VAN BUREN, 1999).Ainda que os atores individuais e coletivos possam se beneficiar de ambos os modelos de capital social, há diferenças em quão diretos são os benefícios. Assim, os teóricos que veem o capital social como um atributo de uma unidade social (bem público), ao invés de um agente individual (bem privado), tendem a considerar os a presença ou ausência de benefícios individuais de maneira secundária.
Neste contexto, é importante salientar que o capital social, na maior parte de suas manifestações, é constituído ou desconstituído como consequência de outras atividades. Além disso, o bem gerado pode trazer benefícios para inúmeras pessoas, que podem ou não ter participado da construção, assim como nos traz Coleman (1990) ao afirmar que o capital social é um importante recurso para os indivíduos e pode causar efeitos na qualidade de vida das pessoas a partir das suas capacidades para atuar neste sentido. Eles têm a capacidade para trabalhar na criação de um capital desse tipo. Embora, em razão de que muitos dos benefícios da criação do capital social podem ser apropriados por outras pessoas que não participaram de sua gestação, não resulta atrativo investir esforços em sua construção. O resultado é que a maioria das formas do capital social é criada ou destruída como consequência de outras atividades.
abandono de interesses próprios e imediatos, para buscar o bem comum, numa ideia de coletividade.
Além disso, o “retorno” de atos individuais conduz a uma
melhoria para a unidade social como um todo e só indiretamente volta para o indivíduo (LEANA; VAN BUREN, 1999). Para este estudo é importante diferenciar o capital social como um bem público e o capital social como um bem privado, na medida em que utilizaremos aqui a primeira abordagem e, por isso, se faz necessário entender o que nos motiva a esta escolha.
Por conseguinte, passamos a discorrer sobre o capital social especificamente no âmbito das organizações.
2.2 CAPITAL SOCIAL ORGANIZACIONAL
Um crescente corpo de literatura ao longo dos últimos anos sugere que a estrutura organizacional (capital) de uma organização pode contribuir de forma significativa para a capacidade produtiva da mesma (BLACK; LYNCH, 2005). No que diz respeito à estrutura de capital, admite-se que ela pode existir sob diferentes formas e conforme assinala Bourdieu (1997, p. 25), equivalem a recursos ou poderes, sendo eles:
“capital financeiro, atual ou potencial, capital cultural (não confundir
com o ‘capital humano’), capital tecnológico, capital jurídico, capital
organizacional (incluindo o capital de informação e conhecimento sobre
o campo), capital comercial e capital simbólico”.
O capital simbólico se apresenta como uma síntese dos capitais cultural, econômico e social, portanto, desta forma o capital social estaria contemplado pelo capital simbólico. E no que se refere ao capital organizacional (capital de informação e conhecimento), o conceito atribuído por Bourdieu (1997) é conducente ao capital intelectual, concepção adotada por diversos autores, e que será abordada logo mais, partindo-se de Nahapiet e Ghoshal (1998).
2.2.1 O surgimento de um conceito
mudanças ambientais dramáticas - e estão afetando não só as teorias existentes, mas também, a própria prática organizacional (VALE; AMÂNCIO; LAURIA, 2006).
Adler e Kwon (2009) consideram que o surgimento do conceito de capital social organizacional é devido a uma ampla necessidade teórica de explicar o que tem sido o cerne dos estudos organizacionais contemporâneos - a “organização informal”. Lembrando que o primeiro estudo científico a comprovar a influência dos grupos informais no desempenho de trabalhadores foi o experimento de “Hawthorne”, coordenado por Elton Mayo, no ano de 19273. Para Adler e Kwon (2009), este seria o marco inicial para os estudos sobre capital social organizacional.
Leana e Van Buren (1999, p.01) são, entretanto, quem nos trazem ao primeiro conceito de capital social organizacional encontrando na literatura, numa construção unificadora, o qual se define como um “recurso que reflete o caráter das relações sociais dentro da organização, sendo realizada através da orientação para o alcance de objetivos comuns e confiança compartilhada entre os membros, que geram valor ao facilitar a ação coletiva bem sucedida”. Os autores argumentam que um nível mínimo de capital social, mesmo que se manifeste apenas sob a forma de regras específicas, é essencial para garantir que a organização sobreviva por um longo tempo, pois seria difícil imaginar uma organização sem qualquer capital social. Salientando que nesta concepção, o capital social estaria presente tão somente, no ambiente interno da organização, contrariando algumas vertentes.
Pani (2008) comenta que a literatura sobre capital social tem contribuído imensamente para as organizações e para as ciências administrativas através de uma maior compreensão de como um ator e suas atividades, incluindo as atividades econômicas, são dependentes do contexto da estrutura social em que atuam. Incorporam uma conceituação de capital social como um recurso de sistema de valores e aumentando um estoque de ativos negociáveis, de forma simultânea. Argumentam os autores que o capital social disponível para uma
3
organização, ou seja, o capital social organizacional é o líquido do capital social derivado de fontes externas (sintetizado pela visão estrutural) denominado de capital social estrutural, bem como de fontes internas (sintetizado pela visão individualista) denominado de capital de reputação. Portanto, Pani (2008, p.6) define o capital social organizacional como:
O conjunto de bens e recursos intangíveis à disposição da empresa para facilitar o ganho sócio-econômico em sua interação com os componentes internos e externos da rede. É a união entre o capital social estrutural e o capital reputacional. Capital social estrutural é originado a partir da posição da organização, relação e dependência incorporadas na estrutura da rede, na qual o capital social de reputação (ou simplesmente capital reputacional) resulta da relação da ação e a crença compartilhada da coletividade que é interna para a organização. Da definição de Pani (2008), podemos inferir que o capital social estrutural se refere a relações interorganizacionais (posição da organização em determinada rede) e as relações intraorganizacionais provêm do capital social reputacional o qual se manifesta no contexto interno da organização e como o próprio nome diz, resulta na reputação da empresa. O capital social, para alguns autores, é também, um fator fundamental para permitir o compartilhamento de conhecimento interfuncional (CLERCQ; DIMOV; THONGPAPANL, 2013).
Desta forma, o conceito de capital social, quando aplicado ao contexto organizacional, permite examinar a forma como as relações sociais podem facilitar a troca de conhecimento. O capital de dentro de uma organização permite que os indivíduos possam localizar informações úteis, conseguindo recursos para, assim, realizar contribuições para a rede (STEINFIELD et al., 2009).
organizações. O objetivo principal do capital social, para eles, é a obtenção de conhecimento externo.
Drummond e Santos (2009) destacam a disposição para a ação conjunta que resulta em benefícios mútuos para os envolvidos como característica de bastante relevância frente ao cenário contemporâneo, compreendendo o capital social como “resultado de características das relações sociais dentro de organizações, considerando que os níveis de orientação a objetivos coletivos e de confiança compartilhados facilitam sua obtenção” (p.02).
Já Schneider (2009), acredita que os indivíduos podem reforçar o capital social organizacional, e, no entanto, ele pode existir independentemente deles, com base no histórico desta organização e sua reputação. Desta forma, ao tratar da relação entre o capital social organizacional e organizações sem fins lucrativos, a autora utiliza o constructo para se referir às redes de confiança estabelecidas entre organizações e comunidades de apoio às organizações sem fins lucrativos, por meio da qual uma organização pode alcançar seus objetivos.
Por fim, Nahapiet e Ghoshal (1998, p. 243), autores-chave para a perspectiva adotada neste estudo, trabalham na hipótese de criação de valor nas organizações através do capital social presente nas suas estruturas, conceituando o termo da seguinte forma: “a soma dos recursos potenciais e atuais, enraizados na estrutura interna, disponíveis através dela e derivados da rede de relacionamentos possuídas por um individuo ou uma organização social”. O capital social é composto, portanto, da rede e dos ativos que podem ser mobilizados através desta rede.
A abordagem de capital social utilizada neste estudo é a de Nahapiet e Ghoshal (1998), aplicada aos contextos interno e externo da organização, nas dimensões estrutural, cognitiva e relacional, utilizando-se o modelo de Román e Rodríguez (2004a) para exemplificar a análiutilizando-se, realizando uma mescla entre os indicadores, conforme será explicado mais adiante.
diferentes metodologias de análise a partir das dimensões ou componentes elencados.
Quadro 2 – Autores, definições e diferentes abordagens do capital social organizacional Autor(es) Contexto interno e/ou externo Dimensões/
componentes Definição
Adler e Kwon (2009) Interno e externo Redes, crenças, regras, normas e confiança.
O capital social é o recurso disponível para atores individuais ou coletivos,
criado através da sua localização e conteúdo de redes de relações mais ou
menos duráveis. Anand, Glick e Manz (2002) Externo Apesar das inúmeras fontes e formas de obter capital social, os autores optam por categorizar o capital social com base na natureza do conheciment o –explícito
versus tácito.
O capital de uma organização “[...] refere-se ao conhecimento e à informação
aos quais as organizações podem ter acesso, utilizando
seus funcionários, seus vínculos formais e informais com agentes externos”(p.58),
incluindo clientes, organizações parceiras e
funcionários de outras organizações. Cohen e Prusak (2001) Interno Conheciment o, acesso, engajamento e segurança.
“Capital social consiste no estoque ativo de conexões entre as pessoas: a confiança, compreensão mútua, valores e
comportamentos compartilhados, ligam os membros das redes humanas e
comunidades e fazem a ação cooperativa possível” (p.04). Drummon
(2009) organizações. das relações sociais dentro de organizações, considerando que os níveis de orientação a
objetivos coletivos e de confiança compartilhados
facilitam sua obtenção” (p.02).
Leana e Van Buren
(1999) Interno
Associabilida de e confiança
Recurso que reflete o caráter das relações sociais dentro da
organização, sendo realizada através da orientação para o alcance de objetivos comuns e confiança compartilhada entre os membros, que geram valor ao facilitar a ação coletiva
bem sucedida. Nahapiet e Ghoshal (1998) Interno e externo Estrutural, relacional e cognitiva
A soma dos recursos potenciais e atuais, enraizados
na estrutura interna, disponíveis através dela e
derivados da rede de relacionamentos possuídas por
um individuo ou uma organização social. O capital
social é composto, portanto, da rede e dos ativos que
podem ser mobilizados através desta rede.
Pani
(2008) Interno e externo
Estrutural e de reputação
O conjunto de bens e recursos intangíveis à disposição da empresa para facilitar o ganho
sócio-econômico em sua interação com os componentes internos e externos da rede. É a união entre o capital social estrutural e o capital reputacional (p.06).
Pennings e
Lee (1998) Interno e externo
Organização como ator político ou ator racional.
O capital social das organizações constitui uma propriedade ou bem coletivo
que pode ser mediada por indivíduos, mas é unicamente
e difícil de apropriar que o capital financeiro e humano,
tendo em vista o envolvimento contínuo de
duas ou mais partes.
Román (2001, p 18) Interno e externo Estrutural, cognitivo e institucional (Redes, confiança, normas, valores e atitudes, e marco institucional).
“Capital social é a capacidade de um determinado grupo
social para adquirir informações, incorporá-las a
processos econômicos e gerenciar tais processos”.
Schneider
(2009) Interno e externo Histórico e reputação
O capital social traduz-se em relações baseadas em padrões de reciprocidade, reforçadas
pela confiança, as quais permitem às pessoas e instituições obterem acesso a
recursos diversos, tais como serviços sociais, voluntários
ou de financiamento.
Steinfield (2009) Interno e externo (individual) Bounding, bridging e linking.
O termo capital social, em geral, refere-se aos recursos
que derivam das relações entre as pessoas em diferentes
contextos sociais. Quando aplicado ao contexto organizacional, o conceito permite examinar a maneira pela qual as relações sociais podem facilitar a troca de
conhecimento.
Uphoff
(2000) Interno e externo
Estrutural e cognitiva
“O capital social é uma acumulação de vários tipos de
ativos sociais, como componentes cognitivos,
psicológicos, culturais e institucionais, que aumentam
comportamentos cooperativos mutuamente benéficos”
(p.216).
Fonte: elaborado pela autora a partir da pesquisa bibliográfica realizada.
Importante destacar que não há um consenso teórico. Por exemplo, Lins (2004) considera que o tema ainda se apresenta de forma embrionária na literatura administrativa, sendo empregado mais frequentemente na área da gestão do conhecimento, no que tange à criação, desenvolvimento e manutenção do capital intelectual de uma organização e em práticas de gestão voltadas para sua própria criação e manutenção.
2.2.2 Custos e Benefícios para as organizações
Adler e Kwon (2009) argumentam que as instituições formais e as regras que ajudam a moldar a estrutura de rede e de normas e crenças têm um forte efeito sobre o capital social. Um exemplo a ser citado é um governo transparente, responsivo às necessidades das pessoas, apresentando-se como um fator-chave no estabelecimento das regras comunitárias e instituições públicas (FU, 2004). Assim, ao investir na construção de rede de relações externas, atores individuais e coletivos podem aumentar o seu capital social e obter benefícios sob a forma de melhor acesso à informação, poder e de solidariedade, e ao investir no desenvolvimento de suas relações internas, os atores coletivos podem fortalecer sua identidade e aumentar sua capacidade de ação coletiva (ADLER; KWON, 2002).
Como já mencionado anteriormente, Leana e Van Buren (1999) abordam o capital social como o bem de uma coletividade e ao utilizar o nível de análise organizacional chegam, assim, a um modelo organizacional de capital social interno (vide figura 1). No entanto, sugerem os autores que a composição deste modelo deve considerar os interesses coletivos e individuais, ainda que estes indiretamente. Chegando, assim, aos componentes primários do modelo de capital social organizacional, sendo eles: associabilidade e confiança. O primeiro componente refere-se à ação coletiva e objetivos compartilhados, e o segundo remete aos resultados de uma ação coletiva bem sucedida4, portanto um depende do outro e configuram-se peças
chaves para o entendimento do capital social organizacional. Segue abaixo o modelo desenvolvido pelos autores, com base em estudo sobre o capital social em relação às práticas de trabalho:
Figura 1 – Modelo de Capital social organizacional interno
Fonte: Adaptado de Leana e Van Buren (1999, p.547).
A partir do modelo de Leana e Van Buren (1999), podemos verificar que o capital social organizacional oferece diversos benefícios para os resultados das organizações, entre eles: comprometimento, flexibilidade de trabalho, organização coletiva e capital intelectual. Importante frisar que o capital social organizacional fornece uma justificativa para os membros serem "bons agentes”5. O modelo de
Leana e Van Buren (1999) apresenta, entretanto, alguns custos, como: manutenção, inovação precipitada e poder institucionalizado. Se os indivíduos acreditam que seus esforços são parte integrante de um coletivo, eles são mais propensos a dispensar tempo fazendo tarefas para a organização, por exemplo, práticas de trabalho extra e trabalhos cooperativos, dedicando menos tempo a coisas que beneficiam somente o indivíduo, mas à organização como um todo.
É claramente percebido, portanto, que o capital social contribui na gestão das organizações, na medida em que o seu fomento pode se configurar como um importante ativo capaz de contribuir na melhoria do desempenho em todos os níveis, seja individual, de grupo ou
mecanismos podem ser substituídos pelas normas implícitas e confiança dos membros, eliminando alguns custos adicionais.
5