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CAPÍTULO 2. A PESQUISA E SEUS PARTICIPANTES

2.4. Os professores e o contexto escolar

2.4.5. Dinâmica das aulas

As aulas eram compostas somente pela prática de esportes, com raras exceções, os professores disseram organizá-las em dois momentos: o aquecimento e o jogo.

Diante do ensino quase que exclusivo das modalidades esportivas, a composição dos times era outro aspecto que envolvia decisões do professor. Essa tarefa estava a cargo do professor e, em alguns casos, do aluno. Todos os professores indicaram que a composição dos times deveria proporcionar a inclusão de todos os alunos; para isso, empregavam estratégias variadas, tais como: de acordo com a ordem numérica, por serem mais ou menos habilidosos, agrupando os mais e os menos habilidosos em um grupo etc. Quando os alunos escolhiam, os professores relataram que eles já conheciam a postura diante da escolha dos times e, desse modo, estavam acostumados a realizar a tarefa sem exclusões. Nesse sentido, os alunos tinham que demonstrar uma postura não discriminatória, mesmo que forçada pelas contingências estabelecidas pelos professores.

Para evitar exclusões, os professores escolhiam as equipes ou retiravam alguém que tivesse entrado indevidamente. Essas estratégias para escolha dos times parecem ser algo de consenso entre os docentes da área, pois foram também relatadas pelos professores pesquisados por Darido (1997) e por Rangel-Betti (1998). Permitir o envolvimento de todos denota conhecimento pessoal e profissional do professor, por evitar situações de discriminações que talvez tenha vivenciado enquanto aluno e por se diferenciar da formação inicial, na qual os grupos eram separados de acordo com as habilidades e, em alguns casos, os menos habilidosos nem chegavam a jogar.

Se, por um lado, a postura diretiva do professor pode ser vista como adequada para a intervenção diante de possíveis situações de exclusão, por outro lado, pode ser vista

como demonstração do “pequeno poder” na cultura escolar. O fato de o professor pouco participar das decisões educacionais na elaboração de políticas públicas, nos planos de capacitação docente ou mesmo em projetos político-pedagógicos, pode fazer com que ele reaplique o que vive, ou seja, a tomada de decisões sem a participação dos elementos que estão na base da estruturação social. Como afirma Torres (1999), (...) as instituições e os programas de formação docente têm sido a melhor ‘escola de demonstração’ da escola de transmissão, autoritária,

burocrática... (p.106).

As verbalizações eram o principal meio de comunicação entre o professor e os alunos, pois eram empregadas nas correções, instruções e orientações das atividades. Em atividades envolvendo gestos motores específicos, como os fundamentos

esportivos, os professores disseram verbalizar o movimento a ser feito associando à demonstração corporal (feita por ele ou por algum aluno).

Dos 27 professores, 88,8% deles chamavam a atenção dos alunos verbalmente e afirmaram que essa intervenção ocorreria de modo respeitoso: (...) Eu acho que a gente tem que respeitar a intimidade de cada um (P22). Posturas de respeito eram cobradas por 74% dos 27 professores. Nas relações estabelecidas entre os próprios alunos (...) já é colocado que cada um é um, e tem que respeitar o outro (P8).

Além dos aspectos apresentados que caracterizavam os professores e o contexto escolar em que atuavam, questionou-se por meio de outro instrumento (a entrevista) como eles enfrentavam situações do cotidiano escolar envolvendo as diferenças dos alunos.

CAPÍTULO 3. FORMAS DE ENFRENTAMENTO DOSPROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA DIANTE DE SITUAÇÕES COTIDIANAS ENVOLVENDO

AS DIFERENÇAS DOS ALUNOS

Atuar adequadamente diante da diversidade do contexto escolar tem sido um dos pontos que permeiam os pensamentos de pesquisadores, professores, futuros professores, diretores; enfim, daqueles que buscam uma escola comprometida com o acesso, permanência e sucesso de todos os alunos.

No contexto da Educação Física, os relatos das pesquisas têm apontado que a formação na área não está preparando, desde longo tempo, o professor para atuar na realidade educacional; pelo contrário, ela está direcionada para o trabalho com alunos perfeitos, com habilidades e capacidades, e em ambientes ideais, contendo material, equipamentos, espaço amplo e adequado à prática de atividades físicas, com apoio institucional, etc. E a formação dos professores participantes desta pesquisa não foi diferente.

Associado aos problemas da formação, as condições de trabalho também não têm favorecido uma atuação que permita a inserção de todos os alunos. Rangel-Betti (apud Rangel-Betti, 1998) afirma que o professor de Educação Física em escolas de ensino fundamental e médio tem que controlar muitos mais aspectos ambientais, temporais, estruturais, sociais, pedagógicos, políticos, etc. do que os demais professores, uma vez que (...) lida com muito mais ‘fatores intervenientes’ do que qualquer outra profissão, justamente porque trata com o ser humano em toda sua complexidade (p. 27).

Entre as inúmeras diferenças que compõem as particularidades dos indivíduos, algumas, em particular, geravam situações problemáticas na prática docente dos professores de Educação Física: a opção religiosa e sexual, a raça, a presença de pessoas com necessidades educativas especiais, as diferenças físicas e os problemas de saúde.

Empregando-se de entrevista, baseada nos episódios de ensino, obteve- se as narrativas dos 27 professores. As situações elaboradas foram adequadas ao contexto dos professores, pois pouquíssimos não tinham enfrentado as situações expostas durante a experiência profissional.

Os professores expressaram seus pensamentos de modo prático, contextualizado, pessoal e baseado nas compreensões sobre situações

específicas de trabalho; permitindo identificar as formas de enfrentamento empregadas, tal como na análise de Mizukami (1996).

As formas diferenciadas de enfrentar cada uma das situações eram empregadas como meio de manter o bom andamento escolar e estavam relacionadas ao repertório de conhecimentos e competências que os professores possuíam e as condições de trabalho.

As narrativas dos professores disseram a respeito das formas de enfrentamento diante do objeto de estudo do episódio e das manifestações dos alunos, consideradas por uns como preconceituosas e por outros como brincadeiras, perante os colegas. Além das temáticas previstas outras foram abordadas pelos professores: turmas mistas, uso do uniforme, dispensa de alunas de religiões que colocavam limitação a prática da Educação Física, alunos encrenqueiros, envolvidos com drogas, obesos e anoréxicos.

As manifestações entre os alunos surgiam quando o desempenho dos alunos era insuficiente nas atividades desenvolvidas em aula (lembrando que eram basicamente modalidades esportivas). Os alunos com deficiência e problemas de saúde eram, segundo os professores, poupados de tais comentários.

Os resultados de “Isabel” e do conjunto “João”, “Marcelo”, “Waldir” e “Julia” estão organizados em sub-tópicos de acordo com as temáticas surgidas, os demais estão descrevem a existência da problemática apresentada, as formas de enfrentamento diante delas e a presença e a forma de enfrentamento diante de possíveis comentários jocosos e atitudes discriminatórias.

3.1. Relatos dos professores sobre os enfrentamentos diante das situações envolvendo a