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Dinâmica dos principais rios da área de estudo: Poti e Parnaíba.

4 MÉTODOS E TÉCNICAS

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Análise morfológica e morfogênica: fatores envolvidos na esculturação do relevo.

5.3.1 Dinâmica dos principais rios da área de estudo: Poti e Parnaíba.

A dinâmica dos principais rios da área de estudo, o Poti e o Parnaíba, foi analisada a partir dos seguintes indicadores: o perfil longitudinal e o traçado dos leitos; a vazão de pontos a montante e a jusante do trecho percorrido por esses rios na área de estudo; o material transportado como carga de fundo; e o nível de encaixamento do rio Parnaíba na coluna estratigráfica e seus respectivos níveis topográficos identificados em perfis transversais topográficos e geológicos nas seções média e inferior do trecho de sua bacia hidrográfica na área de estudo.

5.3.1.1 Dinâmica do rio Poti

O rio Poti, de forma semelhante aos grandes afluentes dos rios Amazonas e Paraná, superou obstáculos tectonomorfológicos e conseguiu formar um grande boqueirão (percée) através do qual, saindo da Depressão de Circundesnudação pós-Cretácea Nordestina, penetrou na Bacia Sedimentar do Parnaíba, em processo que se estendeu até o final do período Pleistoceno (BARTORELLI, 2012). Adaptando-se, assim, ao contínuo soerguimento da borda leste dessa Bacia Sedimentar (planalto da Ibiapaba), organizou sua drenagem e foi aprofundando-se na busca de ajuste à estrutura geológica, como um rio consequente, por acompanhar o mergulho das formações geológicas, em direção ao centro da Província Parnaíba, e também se encaixando nos sistemas de falhamentos regionais de direções NE-SW e NW-SE (LIMA, 1982).

O traçado do perfil longitudinal do rio Poti (Fig. 57) reflete essas condições de adaptação à estrutura geológica, identificadas principalmente nos vários pontos de ruptura de declive de seu canal principal. No traçado desse perfil é possível observar que a cidade de Crateús, no Ceará, se localiza na Depressão Cristalina Periférica à Bacia Sedimentar, e que a montante do povoado Ibiapaba tem inicio a formação do boqueirão do rio Poti na borda da bacia sedimentar. Esta borda forma o front de um planalto do tipo Cuesta de dimensão sub- regional, cujo reverso se estende até a calha do rio Parnaíba, a oeste. Nesse reverso, já no espaço piauiense, o rio Poti encaixa-se num dos grandes falhamentos da faixa do Lineamento Transbrasiliano até Prata do Piauí de onde, alguns quilômetros após, inflete para NW, encaixando-se em falhamentos associados ao Lineamento Picos-Santa Inês em todo o seu baixo curso até a foz (LIMA, 1982), trecho este que contorna a presente área de estudo.

Figura 57 – Perfil longitudinal do rio Poti.

Org. Lima (mar.2013). Adaptado de Lima (1982).

A seção do baixo curso expressa no perfil longitudinal do rio Poti, em escala ampliada (Fig. 58), mostra que a sua extensão no trecho da área de estudo, entre o ponto mais a montante: a foz do rio Berlengas, e o mais a jusante: a sua foz no rio Parnaíba, corresponde a cerca de 145,20 Km. Observou-se, ainda, que a cidade de Teresina ocupa suas margens por um trecho de cerca de 45 Km, considerando seu limite sul no conjunto habitacional São Paulo, na curva do rio Poti conhecida localmente como a “curva do São Paulo”.

A partir da análise deste perfil (Fig. 58), verifica-se que a declividade média apresentada pelo canal do rio Poti nesse percurso é de 0,21 m/Km. Essa relação varia de forma mais significativa na porção superior desse trecho, entre a foz de seus afluentes Melancia e Barrocão, onde apresenta uma declividade de aproximadamente 0,73 m/Km. Volta a ter outra queda significativa (0,43 m/Km) a partir do ponto de travessia do rio por pontão em Demerval Lobão, até sua foz no Parnaíba.

Esses dados indicam que o rio Poti apresenta no seu baixo curso trechos de maior velocidade que outros, possivelmente porque ainda não conseguiu erodir as rochas do seu leito de maneira uniforme, ou seja, a resistência das rochas é superior à energia de desgaste nesses dois pontos do leito do rio Poti: nos quilômetros 13,9 e 61,5 de montante para jusante. Considerando todo o seu curso, no entanto, esse rio apresenta uma grande energia de desgaste por ter regime de chuvas concentrado, mesmo que em fluxo temporário, fazendo-o erodir as rochas em seu curso e aprofundar o seu leito (Fig. 59). Esse trabalho erosivo é potencializado por sua própria carga de fundo formada por areias e seixos, que atuam como instrumento abrasivo do seu leito, nos períodos de altas vazões (LEOPOLD et al, 1964; HACK, 1973; SCHUMM, 1993). Os cordões e bancos de sedimentos aluviais que o rio vai deixando ao longo de seu curso testemunham esse processo (Fig. 60).

Desta forma, as observações realizadas em mapas, nas cartas do DSG, em imagens do

Google Earth e em trabalhos de campo permitem afirmar que o rio Poti encontra-se

fortemente encaixado na estrutura geológica, seguindo a direção geral do Lineamento Picos- Santa Inês (NW-SE), mas que suas curvas angulosas alternam esse padrão em pequenos trechos, com a direção do Lineamento Transbrasiliano (NE-SW). Portanto, sem condições de migrar lateralmente em toda a extensão superior e média desse trecho do seu curso, só vai formar curvas meândricas nos terraços e planícies aluviais no seu trecho inferior, já nas proximidades da foz do seu afluente Marimbas até sua foz no rio Parnaíba.

Figura 58 - Perfil longitudinal do rio Poti no trecho da área de estudo.

Figura 59 – Fotografia do leito do rio Poti encaixado nos arenitos da formação Piauí. Município de Demerval Lobão, a montante da travessia por pontão para a margem direita do rio.

Foto: Santos (set.2012).

Figura 60 – Imagem de satélite do leito do rio Poti “cortando” extenso afloramento rochoso, com carga de fundo arenosa, à jusante da travessia do rio por pontão, no município de Demerval Lobão.

Fonte: Imagem Google Earth de 25.09.2012.

A vazão do rio Poti apresenta uma grande variação anual do volume e velocidade de suas águas, conforme se observa nas Figs. 61 e 62.

Figura 61 – Gráfico da vazão anual do rio Poti, na estação fluviométrica de Prata do Piauí, a montante da área de estudo, de 2000 a 2011.

Fonte: BRASIL/CPRM, abr.2013.

Figura 62 –Gráfico da vazão anual do rio Poti, na estação fluviométrica Fazenda Cantinho II, no trecho final da área de estudo de 2000 a 2006, 2008 e início de 2012.

Fonte: BRASIL/CPRM, abr.2013.

Comparando os valores de vazões máxima e mínima do rio Poti na década de 2000 (Figs. 61 e 62), referentes às estações localizadas logo a montante do seu trecho na área de estudo (Prata do Piauí) e com aqueles na fazenda Cantinho II, próximo do final desse curso (município de Teresina), observa-se que: