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Sub-bacia do riacho São Francisco/Berlengas

4 MÉTODOS E TÉCNICAS

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Análise morfológica e morfogênica: fatores envolvidos na esculturação do relevo.

5.2.1 Caracterização dos conjuntos das sub-bacias dos rios Parnaíba e Poti e do riacho São Francisco/Berlengas.

5.2.1.3 Sub-bacia do riacho São Francisco/Berlengas

O riacho São Francisco tem uma extensão de 43 Km, e sua bacia uma área de 715,52 Km2, apresentando margens bem assimétricas em relação ao canal principal (Tabela 16). Mesmo tendo suas nascentes principais na porção mais elevada, e apresentando também a altitude da foz mais elevada em relação a todos os rios da área de estudo, apresenta amplitude altimétrica entre topo e foz relativamente modesta, com valor médio de 4,9 m/Km, ou seja, apenas um pouco acima da média da maioria dos demais rios dessa área de estudo.

O valor encontrado para o índice de circularidade da bacia hidrográfica desse rio foi de 0,49 indicando que, como a grande maioria, o riacho São Francisco não apresenta riscos de frequentes transbordamentos de sua calha no período chuvoso (Tab. 17).

Tabela 17 - Características do rio São Francisco/Berlengas e de sua bacia hidrográfica.

Nome do riacho Área da bacia** (Km2) Perímetro da bacia** (Km) Extensão do rio principal *** (Km) Altitude (m) Amplitude altimétric a (m) Índice de circulari dade Declivi dade média (m/Km) Nascente *** Foz **** São Francis co 715,50 148,37 43 360 160 200 0,49 4,9 Total 715,50 - - - -

(*)– Não foi incluído na análise o resultado do cálculo do Índice de Densidade de Drenagem por terem sido encontrados valores semelhantes

para todas as sub-bacias hidrográficas (Apêndice A).

Fonte: Pesquisa direta (2012). Cálculo: (**) Programa ArcGis (2011); (***) Cartas DSG (1973); (****) Imagens Google Earth Pro.

Berlengas.

Considerando que a análise da rede de drenagem pode ser utilizada como um indicador da evolução do relevo, uma vez que esses sistemas estão diretamente associados tanto às variações do regime climático quanto às influências lito-estruturais (SILVA et al, 2003), buscou-se identificar como essa relação ocorre ao contrapor os dados do relevo com os da base geológica e da dinâmica dos maiores rios na área estudada.

Na área do conjunto de sub-bacias do Poti verifica-se uma maior variação com relação aos tipos de rochas aflorantes mesmo não ocorrendo uma grande diferença litológica, uma vez que as formações presentes são constituídas praticamente pelas mesmas rochas. Elas apresentam alternância de posições de acamamento principalmente entre arenitos, siltitos e folhelhos e, em menor proporção, de calcários e silexitos, sempre com predominância dos arenitos, o que causa pequena variabilidade dos tipos de afloramentos (Figs. 27 e 53).

A maioria dos canais principais das bacias hidrográficas dos rios/riachos afluentes do Parnaíba encontra-se encaixado em longos trechos na mesma formação geológica, sem grande variação litológica no seu percurso. Assim, as variações existentes muitas vezes referem-se em grande parte à alternância de camadas da mesma formação geológica (Figs. 2 e 27).

Com base na análise dos perfis longitudinais desses rios (Fig. 54) e nas observações de campo foi possível fazer inferências a alguns aspectos da dinâmica atual, no que diz respeito ao trabalho de erosão e transporte e sua relação com a litologia de suas respectivas bacias de drenagem.

Tendo em vista que: a) não ocorrem diferenças significativas também na distribuição e quantidades das chuvas em toda a área de estudo (Figs. 45, 46 e 47); b) que são as águas das chuvas, concentradas em quatro ou cinco meses do ano que, predominantemente, alimentam os sistemas de drenagem local (Figs. 52 e 53); c) que, com certa frequência, ocorrem chuvas torrenciais, ou seja, em uma ou duas horas chega a chover 50 ou mais milímetros de água, a resposta dos rios a elas é de cheia seguida de vazante em questão de horas (PRESTES, 2012). Estas condições tendem a promover baixa taxa de infiltração, principalmente nas áreas do alto e do médio curso dos rios onde os solos são mais rasos e apresentam frequentes afloramentos rochosos. É possível observar, ainda, que o potencial de águas subterrâneas dessas áreas é muito fraco a fraco (Fig. 52), resultado da rápida saturação da camada superficial e de um escoamento com elevado poder de desagregação mecânica das encostas e dos leitos,

Figura 52 – Mapa do Potencial Hídrico Subterrâneo da área de estudo

por cascalhos, seixos e areia grossa.

Como consequência das condições citadas, os regimes hidrológicos são temporários e, após as chuvas, esses rios têm suas vazões aumentadas rapidamente e com grande volume de água (PRESTES, 2012). Considerando, ainda, que os rios Parnaíba e Poti têm seu período de cheias coincidente com o de seus afluentes, a maioria dos rios/riachos que deságuam nos trechos médio e superior da área de estudo têm seus cursos represados, mudando seus níveis de base e fazendo aumentar o poder erosivo remontante, dando-lhes, portanto, alta energia de desgaste e transporte nos períodos chuvosos (Fig. 54).

Essas condições foram constatadas em trabalhos de campo, tanto em relação aos afluentes do rio Parnaíba, quanto aos do rio Poti: rios/riachos com grande fluxo de água no período chuvoso e secos no período sem chuvas, ou com apenas trechos de “poças d’água” ou de baixo escoamento superficial. A maioria apresenta trechos com leitos estreitos e outros trechos largos e com grande quantidade de cargas de fundo formada por areias alternadas por seixos e cascalhos, sendo também frequentes trechos de leitos rochosos com formação de marmitas de várias dimensões (Figs. 53, 55).

Nos rios/riachos com extensão menor que 20 Km, ou seja, aqueles denominados neste trabalho de conjuntos de sub-bacias difusas, observou-se elevada frequência de leitos rochosos e pequeno fluxo de água, mesmo no período chuvoso (Fig. 53).

Figura 53 – Fotografias de leitos rochosos, fraturados, de riachos subafluentes dos rios Poti e Parnaíba

Leito de riacho afluente do rio Poti, localizado na área das Sub-bacias difusas III.

Leito de riacho afluente do rio Parnaíba, localizado na área das Sub-bacias difusas III.

Fotos: Lima (jan.2012).

Francisco, apontando para a presença de dinâmica bem diferenciada das demais. Neste, observou-se evidências de menor desgaste mecânico, predominando o transporte fluvial em suspensão e em dissolução. Provavelmente, além do maior intemperismo químico e da ocorrência de solos mais profundos nessa bacia, contribui para isto a presença predominante dos litotipos da formação Pastos Bons com camada aflorante de siltitos e folhelho/argilito cinza a verdes, intercalados de arenito, e na camada superior, parte dela ainda presente, os arenitos finos vermelhos a cor-de-rosa, que gradam para siltitos com níveis de folhelho (VAZ

et al., 2007).

O traçado do perfil longitudinal desses rios corrobora essa inferência quanto a atuação dos processos fluviais, uma vez que, como apontado por Leopold et al. (1964), Howard (1967, 1973), Gregory e Walling (1983), Christofoletti (1981) e Penteado (1983), o nível de base local de um rio forma o limite abaixo do qual não ocorre erosão fluvial na área por ele drenada.

De forma geral, os perfis dos rios afluentes do Parnaíba e do Poti (Figs. 54 e 55), elaborados com equidistância de curvas de níveis de 40 m, demonstram que nos seus leitos não se formam degraus estruturais como cachoeiras de grande expressão topográfica, ou seja, igual ou maior que 40 metros. Este fato poderá ser indicativo de que as falhas existentes onde os rios locais cortam as mesmas de forma transversal sejam do tipo transcorrente, ou que os rios apresentam, ou apresentaram no passado, competência suficiente para retrabalhar as rochas, rebaixando os níveis anteriores dos blocos soerguidos por falhas normais, uma vez que se observa que a dissecação do relevo já reduziu esses desníveis topográficos.

Durante os trabalhos de campo foi detectada a ocorrência de algumas corredeiras de cerca de 0,50 m, principalmente nos locais de afloramentos de diques de diabásio/basalto, como no baixo curso do riacho Fundo 1 e dos Negros (Fig. 54), afluentes do Parnaíba, e no alto curso do Marimbas, afluente do Poti. Elas certamente se constituem um indicador de que em alguns pontos de contato entre litologias diferentes ocorra uma resistência maior das rochas ao trabalho de erosão fluvial. Levando em consideração que os patamares transversais nas calhas fluviais que provocam o aparecimento dessas corredeiras, são formadas por matacões de rochas básicas em expressiva fragmentação, é possível assumir que o trabalho atual desses rios apresenta relativa competência de desgaste se sobrepondo à resistência dessa litologia.

entre todos, o Fundo 1 é o único que apresenta indícios de ocorrência de rupturas de declives próximos às suas nascentes principais, indicando um certo grau de resistência litológica ao trabalho erosivo do rio. No entanto, apresenta perfil com maior regularidade na concavidade da curvatura para o céu, indicando maior proximidade das condições do estágio de equilíbrio- dinâmico de seu canal principal, à semelhança do riacho Riachão, seguido do Santa Teresa. Já os demais riachos apresentam o traçado de seus perfis com curvas pouco acentuadas, o que sugere que ainda estejam em fase de aprofundamento dos seus canais, desde o alto curso, em busca desse equilíbrio-dinâmico (Fig. 54).

O Riachão, por exemplo, transporta uma grande carga de fundo formada por seixos e conglomerados, mesmo no baixo curso, indicando grande energia de seu fluxo (HACK, 1973), antes de se encaixar no terraço fluvial do rio Parnaíba, onde passa a transportar uma carga de fundo predominantemente arenosa. Conforme Prestes (2012), suas cheias são tipo “relâmpago”, ficando com alta vazão após as chuvas caírem nas cabeceiras e 3 a 4 horas depois baixar totalmente a sua vazão, episódios esses que se refletem no traçado do perfil longitudinal principalmente do riacho Riachão. A heterogeneidade da carga de sedimentos encontrada no seu leito varia em termos de litologia, com a presença de arenitos com grande frequência de incrustações de ferro e feldspatos; sendo sua granulometria formada por matacões, cascalhos, seixos angulosos a subangulosos e areias. Essas observações indicam condições de média a curta proximidade da fonte dos sedimentos e, ainda, a presença predominante de afloramentos rochosos e de Neossolos Litólicos desde o alto curso dessa bacia hidrográfica (Fig. 55).

Os perfis longitudinais dos demais afluentes do Parnaíba: o Cadoz, o dos Negros, o Fundo 1 e o Mutum apresentam concavidade menos acentuadas desde suas cabeceiras, representando menor energia nos processos de erosão e de transporte de suas cargas detríticas, indicando que já venceram grande parte da resistência das rochas em todo o percurso e tendem a um estágio de equilíbrio-dinâmico (HACK, 1973; GREGORY; WALLING, 1983). A carga de fundo de seus leitos, observados durante os trabalhos de campo, também está relacionada à litologia e à textura das rochas, sendo que, enquanto o Cadoz e o Mutum apresentam uma camada de mais de 20 cm de areia acamada no leito, nos riachos Fundo 1, Fundo 2 e dos Negros predominam areias mais finas e maior carga suspensa, inferida pela maior turbidez de suas águas.

maneira geral, todos os riachos apresentam elevada energia erosiva no período chuvoso. Isto pode ser inferido seja pelas concavidades pouco acentuadas, sem degraus que indiquem resistência ao trabalho erosivo, seja pela carga de fundo formada de areia grossa, seixos e cascalhos, ou ainda pelo encaixamento do leito cortando os afloramentos rochosos, nos trechos observados (Figs. 56 e 65).

O riacho Melancia, por exemplo, se encaixa e retrabalha a linha de falha do Horst de Monsenhor Gil e, à semelhança do riacho Natal, corre em grandes trechos sobre afloramentos rochosos (Fig. 40). Os riachos Barrocão e Natal também apresentam trechos de leitos rochosos e grande quantidade de seixos e cascalhos angulares a subangulares como carga de fundo, indicando proximidade da área fonte desse material transportado (Fig. 56). Essas evidências indicam que esses três riachos apresentam grande competência durante os períodos de cheias. Já o rio Marimbas, mesmo apresentando grande extensão, encontra-se bastante encaixado, apresenta-se com regime perene no alto curso, porém torna-se temporário no médio e baixo curso com carga de fundo formada basicamente por material arenoso, em alguns trechos encontra-se totalmente descaracterizado pelo uso da terra, secando completamente. No entanto, nas proximidades de sua foz esse rio encaixa-se no terraço aluvial do rio Poti, próximo ao povoado Cebola, permanecendo com o leito bem estreito, porém com significativo fluxo de água (Figs. 59 e 60).

O perfil longitudinal do riacho São Francisco apresenta forte concavidade apenas na área de suas cabeceiras, passando a quase retilíneo e com pequena inclinação a partir da cidade de Agricolândia até sua foz no rio Berlengas. Esse rio se encontra numa posição topográfica “suspensa”, corroborando as demais evidências de sua singularidade em relação aos demais rios/riachos que drenam toda essa área de estudo (Fig. 55). Nos trechos visitados, observou-se que seu canal principal apresenta-se ora estreito e bem definido, ora descaracterizado em função da expansão urbana, como ocorre em Agricolândia, onde a população local não o reconhece como um canal fluvial.

Dentre os afluentes do rio Poti, o rio Berlengas é o que apresenta o perfil longitudinal com um traçado mais atípico, praticamente retilíneo e com baixa declividade em todo o percurso da área de estudo, à semelhança do riacho Mulato, afluente do rio Parnaíba. Esse traçado reflete a condição de se encontrar totalmente encaixado em grandes falhamentos na faixa do Lineamento Transbrasiliano, com o predomínio de carga transportada de sedimentos finos, em suspensão e em solução.

Figura 56 – Painel de fotografias dos leitos dos rios e riachos afluentes do rio Poti. Riacho Melancia: leito rochoso. Riacho Barrocão: material transportado.

Riacho Natal: leito rochoso. Rio Marimbas: cortando terraço aluvial do rio Poti, próximo a sua foz.

Rio Berlengas: soleiras de diabásio no leito, a montante da foz do S.Francisco, prox. à rodovia PI-225.

Rio Berlengas: encaixado em siltitos a jusante da foz do S. Francisco, próximo a ponte da BR-316.