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2. EXPECTATIVAS SOCIAIS SOBRE A EDUCAÇÃO ESCOLAR BÁSICA DE

2.3 Direito à aprendizagem

Essa categoria apresenta uma ideia central de expectativa para a Educação Escolar Básica de Qualidade: o direito à aprendizagem. Representando a sociedade cível, a Superintendente do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária), fora entrevistada para discutir seu entendimento de educação de qualidade. Ela defendeu a qualidade da educação como direito de todos, que só é alcançado se há equidade. Da direção do MST, representando um movimento social, Marisa de Fatima da Luz também defendeu a educação de qualidade como direito de todos, historicamente negado pelas elites brasileiras (QUALIDADE, 2014). A comunidade escolar e as pesquisas têm chamado a atenção para o direito de reivindicar o acesso à Educação Escolar Básica de Qualidade para todos, independente da situação social, econômica e cultural que ocupam. Trechos da música ―Estudo errado‖ trazem algumas questões para se pensar o que seria essa aprendizagem, garantida legalmente:

Música: Estudo Errado

Compositor e intérprete: Gabriel O Pensador Eu tô aqui Pra quê?

Será que é pra aprender?

Ou será que é pra sentar, me acomodar e obedecer? Tô tentando passar de ano pro meu pai não me bater (...)

Mas meus pais só querem que eu "vá pra aula!" e "estude!" Então dessa vez eu vou estudar até decorar cumpádi

Pra me dar bem e minha mãe deixar ficar acordado até mais tarde Ou quem sabe aumentar minha mesada

(...)

A rua é perigosa então eu vejo televisão (Tá lá mais um corpo estendido no chão)

Na hora do jornal eu desligo porque eu nem sei nem o que é inflação - Ué não te ensinaram?

- Não. A maioria das matérias que eles dão eu acho inútil Em vão, pouco interessantes, eu fico pu..

Tô cansado de estudar, de madrugar, que sacrilégio (Vai pro colégio!!)

Então eu fui relendo tudo até a prova começar Voltei louco pra contar:

Manhê! Tirei um dez na prova

Me dei bem tirei um cem e eu quero ver quem me reprova Decorei toda lição

Não errei nenhuma questão Não aprendi nada de bom Mas tirei dez (boa filhão!)

Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi Decoreba: esse é o método de ensino

Eles me tratam como ameba e assim eu não raciocino Não aprendo as causas e consequências só decoro os fatos Desse jeito até história fica chato

Mas os velhos me disseram que o "porque" é o segredo Então quando eu num entendo nada, eu levanto o dedo Porque eu quero usar a mente pra ficar inteligente

Eu sei que ainda num sou gente grande, mas eu já sou gente E sei que o estudo é uma coisa boa

O problema é que sem motivação a gente enjoa O sistema bota um monte de abobrinha no programa Mas pra aprender a ser um ignorante (...)

Ah, um ignorante, por mim eu nem saía da minha cama (Ah, deixa eu dormir)

Eu gosto dos professores e eu preciso de um mestre

Mas eu prefiro que eles me ensinem alguma coisa que preste - O que é corrupção? Pra que serve um deputado?

Não me diga que o Brasil foi descoberto por acaso! Ou que a minhoca é hermafrodita

Ou sobre a tênia solitária.

Não me faça decorar as capitanias hereditárias!! (...) Vamos fugir dessa jaula!

"Hoje eu tô feliz" (matou o presidente?) Não. A aula

Matei a aula porque num dava Eu não agüentava mais

E fui escutar o Pensador escondido dos meus pais Mas se eles fossem da minha idade eles entenderiam (Esse num é o valor que um aluno merecia!) Íííh... Sujô (Hein?)

O inspetor!

(Acabou a farra, já pra sala do coordenador!) Achei que ia ser suspenso mas era só pra conversar E me disseram que a escola era meu segundo lar E é verdade, eu aprendo muita coisa realmente

Faço amigos, conheço gente, mas não quero estudar pra sempre! Então eu vou passar de ano

Não tenho outra saída

Mas o ideal é que a escola me prepare pra vida Discutindo e ensinando os problemas atuais

E não me dando as mesmas aulas que eles deram pros meus pais Com matérias das quais eles não lembram mais nada

E quando eu tiro dez é sempre a mesma palhaçada Manhê! Tirei um dez na prova

Me dei bem tirei um cem e eu quero ver quem me reprova Decorei toda lição

Não errei nenhuma questão Não aprendi nada de bom Mas tirei dez (boa filhão!)

Encarem as crianças com mais seriedade

Pois na escola é onde formamos nossa personalidade

Vocês tratam a educação como um negócio onde a ganância a exploração e a indiferença são sócios

Quem devia lucrar só é prejudicado

Assim cês vão criar uma geração de revoltados Tá tudo errado e eu já tou de saco cheio

Agora me dá minha bola e deixa eu ir embora pro recreio...

Fonte: Disponível em: http://www.vagalume.com.br/gabriel-pensador/estudo- errado.html#ixzz3nhE7nRHL. Acesso em: 23 de julho de 2014.

Trouxe a letra dessa música para o contexto da minha pesquisa porque remete muito a falas dos estudantes, os quais mesmo tendo garantido o acesso à escola, parecem não entender o significado das informações e conhecimentos que circulam nessa instituição para a sua vida. Muitas questões suscitam para pensar as concepções que perpassam o contexto escolar, para professores e estudantes, sobre os significados de ensino, aprendizagem e educação. Não são raras às vezes que os estudantes rechaçam a disciplina, os conteúdos e até criam certa aversão ao professor, que remetem principalmente a frustração pela incapacidade de aprendizagem, mais pelo inconveniente causado pelo desconhecido.

Assim como Almeida e Grubisich (2011), entendo o ensino e a aprendizagem numa perspectiva dialética, nas interações estabelecidas pela mediação entre os sujeitos e o conhecimento. Estes autores entendem que o conceito de ensino se refere a ―relação que o professor estabelece com o conhecimento produzido e sistematizado pela humanidade‖, via seleção, organização e transmissão (p. 71). Enquanto que a aprendizagem é entendida como ―a relação que o estudante estabelece com o conhecimento e, portanto, é nela que a mediação se efetiva: pela superação do imediato no mediato.‖ (ALMEIDA; GRUBISICH, 2011, p. 67). O ensino só acontece se há aprendizagem, a baixa aprendizagem remete ao ensino que não obteve sucesso, não para todos.

A racionalidade tecnicista instrumental ainda se faz muito presente nas práticas pedagógicas das instituições educativas. Na universidade, há grande descontentamento com a escassez de aprendizagem proveniente das escolas, contudo, as concepções teóricas e metodológicas parecem assemelhar-se muito com as práticas que produzem os resultados já conhecidos. Conforme Gadotti (2013, p. 1), ―há um conjunto de variáveis, intra e extraescolares, que interferem na qualidade da educação, entre elas, a concepção mesma do que se entende por educação.‖. Esse autor entende que o conceito qualidade na educação tem sido abordado de vários ângulos e está relacionado à vida das pessoas, ao seu bem viver; quando os conhecimentos escolares não fazem sentido para a vida, falta motivação para aprendê-los. ―Educação é, antes de tudo, o processo de

gerar bons hábitos ou de substituir hábitos nocivos por outros melhores.‖ (EDUCAÇÃO, 2013e, p. web).

Educação Escolar Básica de Qualidade é aquela (em) que: emancipa, ao contemplar dimensões sociais e políticas; insere culturalmente, viabilizando um viver melhor; o sentido (seja ele curiosidade, necessidade, projeto de vida ou prazer) que move o aluno é compreendido e facilitado; o direito de todos à aprendizagem dos conhecimentos produzidos e sistematizados pela humanidade e conclusão na idade adequada é respeitado; promove o desenvolvimento integral de modo a responder aos desafios da sociedade contemporânea, a partir do equilíbrio: cultura, tradição e evolução; há respeito e valorização das características regionais, especificidades das comunidades, permanência dos povos em seus territórios (ex. educação no campo, MST, indígenas); proporciona a inclusão das pessoas com deficiência; garante o direito a aprender de todos (QUALIDADE, 2014; GADOTTI, 2013).

O contexto escolar vivencia um conflito de posições no que concerne a temática aprendizagem e reprovação dos estudantes, que carrega consigo diversas marcas culturais e históricas. Professores estão insatisfeitos por não terem a autonomia que tinham para decidir sobre a aprovação ou não dos alunos, cada vez mais incentivada pelos gestores da escola, e questionam os efeitos da aprovação automática ou dos baixos índices de reprovação na motivação dos estudantes. Os pais criticam as escolas que aprovam alunos com baixo desempenho, colocando em voga a qualidade da aprendizagem e os níveis de exigência do ensino. Os alunos reclamam da aprovação de colegas que se empenharam pouco com sua aprendizagem. Por outro lado, pesquisas apontam para as altas taxas de evasão que caminham juntas dos índices de reprovação.

Um desses indicadores brasileiros é o Ideb, criado pelo Inep5 em 2007; é calculado de dois em dois anos a partir da avaliação dos Alunos nos anos iniciais e finais do ensino fundamental e no 3° ano do ensino médio (EDUCAR, 2013). Ele constitui um indicador para traçar metas para os sistemas educacionais a partir de dados ―sobre aprovação escolar, obtidos no Censo Escolar, e médias de desempenho nas avaliações do Inep, o Saeb6 – para as unidades da federação e para o país, e a Prova Brasil – para os municípios.‖ (BRASIL, 2014a, p. web). ―Assim, para que o Ideb de uma escola ou rede cresça é preciso que o aluno aprenda, não repita o ano e frequente a sala de aula.‖ (MEC, 2013, p. web). As taxas de evasão e de reprovação Escolar afetam

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Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

diretamente a aferição do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). (EDUCAR, 2013). O bom desempenho no Ideb, que inclui o alcance de metas, possibilita à escola ampliar o repasse de verbas do governo federal à instituição. Desde então, a taxa média de aprovação percentual tem ganhado atenção especial por parte dos gestores das escolas, inclusive, escolas estaduais foram investigadas por suspeita de transferir alunos para melhorar o Ideb (ESCOLAS, 2013b).

O índice de reprovação tem sido considerado uma questão pertinente nas políticas públicas educacionais brasileiras, sobretudo porque no Brasil ele é muito elevado se comparado à média dos demais países, conforme demonstram relatórios publicados pela Unesco7. A média de reprovação no ensino fundamental brasileiro é seis vezes maior do que a média mundial (RETER, 2013). No Brasil, cerca de 10% dos estudantes são reprovados no ensino fundamental e 13% no ensino médio. Uma consequência direta dessas reprovações é a ―distorção idade-série, que mede a quantidade de alunos matriculados em séries inferiores ao adequado para suas idades‖ (CONHEÇA, 2013, p. web). Tal defasagem ―demanda não só tempo, mas investimento em novas políticas públicas. É o que defende o Professor Ângelo de Souza, coordenador do curso de Pedagogia da Universidade Federal do Paraná (UFPR)‖ (REPROVAÇÃO, 2013, p. web). Para a gerente técnica do movimento Todos Pela Educação, ―o atraso Escolar desmotiva a criança, que tem menos possibilidade de um grau de Escolaridade maior. Isso faz com que tenhamos uma sociedade menos preparada para o mercado de trabalho e para a cidadania como um todo.‖. (REPROVAÇÃO, 2013, p. web). Cury (2008) entende que o direito à aprendizagem, por meio da educação básica, repercute na ampliação da cidadania e em reencontro com uma democracia civil, social, política e cultural (CURY, 2008, p. 294).

A evasão é uma consequência indireta da reprovação, que se deve, principalmente, à sua relação com a autoestima dos estudantes, o que atrapalha o seu progresso acadêmico e pode levar ao abandono. A evasão escolar gira em torno de 3% no ensino fundamental e 10% no ensino médio (CONHEÇA, 2013). ―Uma série de estudos mostra que a retenção é o primeiro passo para o abandono Escolar.‖ (APÓS HADDAD, 2013, p. web). Entretanto, o abandono escolar envolve muitos outros fatores, como a necessidade de garantir o sustento e, também, a falta de atrativo da escola (46% DOS ESTUDANTES, 2013). De qualquer forma, a quantidade de jovens

cidadãos brasileiros que abandonam a escola é um fator importante a ser considerado. Tais aspectos merecem atenção, pois contribuem para um quadro que tem sido denominado de fracasso escolar, que diz respeito não apenas aos índices de reprovação e evasão, mas também a outras questões como o analfabetismo, o baixo desempenho dos alunos e indisciplina (NERY, 2009). Outra consequência das reprovações é o aumento nos gastos, estima-se que aproximadamente 9% dos custos com a educação básica brasileira sejam destinados a dar suporte aos que são reprovados na escola (ESPECIALISTAS, 2013).

Tendo em vista os efeitos da distorção idade-série, a corroboração com índices de abando escolar e o aumento dos gastos públicos educacionais, em que aspectos a reprovação traz benefícios ao contexto escolar? Para o professor da USP, Romualdo Portela,

se a Educação é um direito, não tem cabimento reprovar. (...) Assim, toda proposta que induza ou crie brechas para reprovação é um retrocesso. O problema não é aprovar ou reprovar, mas entender por que a ação pedagógica não está funcionado. O desafio é enfrentar as dificuldades e não reintroduzir a reprovação. O que precisamos é de políticas que garantam que as crianças aprendam. (APÓS HADDAD, 2013, p. web).

O autor defende que tais ideias não podem ser impostas aos professores, mas que é preciso mudar, junto a eles, a lógica de funcionamento das escolas na perspectiva de garantir a todos o aprendizado. Alejandra Meraz Velasco, do movimento Todos Pela Educação, reafirma tais posicionamentos ao defender que ―Crianças têm direito de aprender, não apenas de ir à Escola‖ (REPROVAÇÃO, 2013, p. web). Para ela, a reprovação acaba sendo um mecanismo de exclusão e combatê-lo é responsabilidade de todos os atores envolvidos, com ênfase para oportunidades de intervenções de recuperação do aprendizado. Conforme Souza, a taxa de reprovação nunca foi demonstração de qualidade de ensino, é preciso mudar a ―cultura‖ da reprovação, que é vista pela população como algo que não é ruim. (REPROVAÇÃO, 2013).

Ainda hoje, a ideia de que escola forte é aquela que reprova está muito presente entre os pais, nunca é fácil combater questões culturais (ESPECIALISTAS, 2013). Em contrapartida, propõem-se a ―criação de uma cultura de acompanhamento, que defina metas e priorize intervenções‖ (ALUNOS, 2013, p. web).―A crença na reprovação como fator de pressão para a dedicação aos estudos é um mito‖ (ESCOLAS, 2013a, p. web). A proposta defendida, nesse caso, foi a da progressão continuada. Miguel Arroyo defende que ―a reprovação é uma medida antipedagógica e antiética, já que muitas vezes a nota abaixo da média ocorre somente em uma matéria, mas o aluno é obrigado a

estudar todas novamente‖ (ESPECIALISTAS, 2013, p. web). Estes são alguns dos argumentos em favor do direito à educação e contra a reprovação, que ―em vez de colaborar, reduz os ganhos de aprendizagem dos Alunos ao longo dos anos‖ (ALUNOS, 2013, p. web).

Por outro lado, a aprovação automática não é uma unanimidade. Alckmin defendeu o aumento das possibilidades de retenção, para ele a "reprovação cria na criança a cultura do fracasso. Por outro lado, não se pode ficar cinco anos sem reprovação." (APÓS HADDAD, 2013, p. web). O secretário municipal de Educação de São Paulo, Cesar Callegari, afirmou que a adoção da prova automática é uma das principais medidas que contribuem para o mau desempenho dos alunos (ESCOLA, 2013). Para o secretário a provação automática, com as condições de hoje, gera um quadro de ―fracasso escolar disfarçado‖, isso porque só tardiamente, os estudantes irão perceber que não aprenderam o que tinham que aprender na hora certa. Ele propôs substituir a aprovação automática pela progressão continuada e a retomada da obrigatoriedade da lição de casa, boletins e provas bimestrais (ESCOLA, 2013). Para os que contestam a reprovação automática a forma mais cruel de exclusão é quando a criança passa de ano e não consegue acompanhar sua turma (NÃO, 2013).

A substituição de notas por conceitos descritivos, que dificulta a reprovação ao tolerar que o aluno tenha um desempenho abaixo do esperado em até uma área de conhecimento, divide opiniões no Rio Grande do Sul: o governo enxerga a mudança como um avanço político pedagógico, enquanto que parte da categoria entende que a medida vai gerar aprovações de alunos menos preparados (NOVO, 2013). Há muitos posicionamentos contra a aprovação automática, sem, contudo desconsiderar os prejuízos da reprovação. A questão é que a aprovação sem aprendizagem é considerada um problema ainda maior do que a reprovação, daí a importância do acompanhamento da aprendizagem e do cuidado constante com o desenvolvimento dos alunos. Outro argumento é a motivação dos estudantes.

A ampliação das possibilidades de reprovação vem sendo criticada ―pela maioria dos especialistas, que receiam aumento nos índices de reprovação, que só puniria quem tem mais dificuldades e que pode refletir em abandono da Escola‖ (EDUCADORES, 2013, p. web). Além disso, o medo da reprovação

não é tão eficaz para motivar a maior parte dos estudantes. ―Ameaça é uma crença que não tem sustentação. Quando nós temos boas propostas, as crianças participam. E esse é o desafio. O [des]interesse na escola não é um problema só da criança. Vamos pensar no que podemos fazer para que essas crianças possam se interessar pela escola. A ameaça tem efeito muito menor

que os seus defensores imaginam‖, alerta Munhoz. (RETER, 2013, p. web).

A questão é: se o objetivo do estudante, ao frequentar a escola, e sua motivação tem como enfoque principal apenas a aprovação, o que se espera da escola não é muito pouco? Para a mestre em Educação, Ermelina Bontorin Tomacheski, é preciso ―atribuir um novo significado ao papel que a Escola tem na vida dos jovens. (...) É necessário trabalhar com a autoestima deles. Cabe à instituição levantar a defasagem, identificar as dificuldades e convocar as famílias para ajudar neste processo‖ (REPROVAÇÃO, 2013, p. web). Acompanhar as aprendizagens continuamente pode contribuir para reduzir, ao máximo, a reprovação. Para tanto, isso requer a presença constante de pais e professores para realizar as intervenções necessárias no sentido de recuperar o que não foi alcançado. Essa tentativa, muitas vezes, pode ser um desafio, como no caso da im- plementação de reforço no contraturno, sendo que faltam professores com formação adequada para o ensino nos moldes tradicionais (EDUCADORES, 2013). São muitas as possibilidades e as necessidades para esse tempo de ―mudar de Escola‖, como a presença de mais de um professor nas aulas, a substituição da reprovação por um acompanhamento mais adequado e próximo (UNIDOS, 2013), e, assim, a escola seja um ambiente cada vez mais marcado pelo acolhimento e não pela punição ou exclusão.

A principal questão controversa sobre a função da reprovação diz respeito à aprovação automática. Mas questionar o significado da reprovação requer questionar os sentidos e a função da própria educação escolar. Apontar culpados não vai mudar as notas dadas no passado nem melhorar o rendimento em sala de aula. Mas identificar os motivos que vêm causando a reprovação é essencial para tirar lições úteis dessa experiência de que todos são responsáveis (LIÇÕES, 2013). Mais importante do que preocupar-se com os índices e resultados das pesquisas é que o estudante desenvolva sua capacidade de pensar e tenha satisfação de estar estudando, compreendendo que seu futuro e sua qualidade de vida estão inter-relacionados com a aprendizagem escolar (ENSINO, 2013). Mesmo com posições diferentes, todos os envolvidos querem a melhoria da qualidade da Educação Escolar Básica, ampliando o acesso aos serviços e criando as premissas ao desenvolvimento humano (EDUCAR, 2013).

A função social da educação assume a igualdade como pressuposto fundamental do direito à educação, sobretudo nas sociedades politicamente democráticas e socialmente desejosas de maior igualdade entre as classes sociais e entre os indivíduos que as compõem e as expressam. Essas são as exigências que o direito à educação traz, a fim de democratizar a sociedade brasileira e republicanizar o Estado. (CURY, 2008, p. 294).

educação em que todos têm o direito de aprender, por meio da criação de melhores condições para o desenvolvimento de todos. Isso significa repensar o que se espera da Educação Escolar Básica de Qualidade, tendo em vista o cuidado para não reafirmar a exclusão ao acesso à aprendizagem. Ao considerar a escola um espaço que tem como compromisso contribuir com a formação cidadã, há que se compreender que a aprendizagem está vinculada ao desenvolvimento crítico e reflexivo, à dimensão estética e ética do sujeito. A qualidade da Educação Escolar Básica perpassa, neste sentido, a questões como superar a cultura da reprovação, por meio de novos sentidos para essa instituição.

Horizontes mais amplos para a Educação Escolar Básica podem corroborar com a construção de um perfil de estudante que protagoniza sua formação, assume suas responsabilidades nos processos de aprendizagem e que entende a importância do conhecimento para a sua constituição. A expectativa é que a escola contribua com criação da necessidade de aprendizagem (VIGOTSKI, 2009), que os estudantes ousem querer mais do que o mínimo que lhe é exigido durante a vida escolar E, também, na futura vida acadêmica ou nas oportunidades de aprendizagem em espaços não formais. Duarte faz uma crítica às apropriações neoliberais da teoria vigotskiana e defende que ―devemos lutar por uma educação que produza nesses alunos necessidades de nível superior, necessidades que apontem para um efetivo desenvolvimento da individualidade como um todo‖ (2000, p. 31). Individualidade, entendida nesse contexto, como a constituição do indivíduo a partir da síntese de inúmeras relações sociais.

Cumprir tais expectativas requer que essa instituição tenha melhores condições, dentre elas, urge a valorização dos profissionais que operacionalizam o que é recomendado e incentivado pelas políticas públicas educacionais. Daí a importância de atentar às contribuições dos professores para elaborar propostas e traçar metas, dando- lhes suporte para concretiza-las. Quantos as políticas públicas educacionais: formação e