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DIREITO COMPARADO E FUNÇÕES DESTACADAS PELA DOUTRINA PARA

A economia global força os países a um intercâmbio sem fronteiras (relação com aumento substancial dos fluxos comerciais e fluxo de informações e experiências), determinando ao Brasil a adoção de um comportamento comprometido com o equilíbrio de suas contas públicas.

A LRF, segundo Figueiredo e Nóbrega (2006, p. 21), adotou exemplos de diversos países, sobretudo, daqueles bem-sucedidos em seus programas fiscais, julgados, ao ver doutrinário, importantes para a formulação do diploma legal em comento. Dentre os destacáveis, encontram-se a Comunidade Européia, EUA e Nova Zelândia que, sobre a chancela do Fundo Monetário Internacional (FMI), desenvolveram um novo padrão fiscal, estatuído sob a égide da implantação de requisitos dispostos no Código de Boas Práticas para a Transparência Fiscal, conforme preleciona (Idem, 2001, p. 17 e 18)

- Mecanismos claros devem ser estabelecidos para a coordenação e gestão das atividades orçamentárias e extra-orçamentárias e devem ser bem definidos os dispositivos de relacionamento com outras entidades públicas;

- a gestão financeira pública deve ser regida por leis e normas administrativas abrangentes, aplicáveis as atividades orçamentárias e extra-orçamentárias. Todo empenho e gasto de recursos públicos deve basear-se em autorização legal;

- o orçamento anual deve proporcionar informações suficientes para permitir a apresentação de um demonstrativo da posição financeira consolidada do governo geral;

- demonstrativos com descrição da natureza e significação fiscal dos passivos eventuais, das renúncias fiscais e das atividades parafiscais devem ser publicados juntamente com o orçamento anual;

- as normas fiscais adotadas (por exemplo, obrigatoriedade de equilíbrio orçamento ou limites de endividamento dos níveis inferiores do governo) devem ser claramente definidas, bem como os principais riscos que poderão afetar o orçamento anual (Idem, 2001, p. 18).

A criação de um mercado sem fronteira e o estreitamento da independência econômica, relatam Figueiredo e Nóbrega (2006, p. 24), estabelecem as bases para uma maior coordenação das políticas econômicas, o que representa fator de extrema importância para a criação de uma União Econômica Monetária

(UEM). Um passo importante neste processo de integração econômica foi a assinatura do Tratado de Maastrich (1992), que estabeleceu parâmetros de cooperação e estipulou regras rígidas (estabelecimento de metas de manutenção de uma relação estável entre dívida/ Produto Interno Bruto (PIB) e o compromisso de manutenção e do equilíbrio fiscal) para que os países pudessem adentrar a comunidade. A crítica doutrinária que se estabelece em relação à adoção desses mecanismos da comunidade européia, sobretudo do Tratado de Maastrich, é o fato de que lá, os países pactuaram as regras para o ajuste, ao passo que a LRF, segundo muitos, foi imposta pelo Governo Federal, desrespeitando em muitas de suas passagens, a autonomia dos entes federados e o já frágil pacto federativo do Brasil.

Para Figueiredo E Nóbrega (2001, p. 29), para a formação do seu modelo de federalismo fiscal, o Brasil adotou padrões estrangeiros estabelecidos em duas matrizes: regras e transparência.

Dos Estados Unidos, extraiu-se a regra da limitação de empenho e compensação.

A adoção de políticas mais ortodoxas de contenção de déficit público, ocorrida nos anos 80 com a eleição de Ronald Reagan, prescrevia, na legislação do GRH (Gramm-Rudman-Hollings Act-1985) e BEA (Budget Enforcement Act – 1990), uma redução permanente e gradual do déficit, ano após ano, e determinava uma redução nos mecanismos de corte e uniformes para alcançar as metas. O primeiro não cumpriu seus objetivos de disciplina fiscal por não ter estabelecido mecanismos mais ágeis que pudessem ser aplicados durante a execução orçamentária, já o segundo, estabeleceu mecanismos mais ágeis para o controle de déficits, fixando metas para ser alcançadas por vários anos. [...], ensina Figueiredo e Nóbrega (2006, p. 30). Os dois mecanismos do BEA são: o sequestration e o pay as you go. Estes mecanismos foram traduzidos para a lei brasileira, respectivamente, com a limitação de empenho e compensação. A limitação de empenho, ou melhor, os sequestration norte-americano, representam a fixação no âmbito orçamentário de limites para as despesas chamadas ações discricionárias7, a serem contingenciadas, porque não haveria condições de se promover a limitação de despesas de natureza

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Despesas Discricionárias são aquelas em que o gestor teria uma determinada “liberdade” de contingenciá-las como, por exemplo, despesas de custeio (FIGUEIREDO; NÓBREGA, 2006, p. 31).

constitucional ou mesmo legal. Diferente dos EUA, limitação de empenho no país se apresenta mais adequada aos parâmetros de planejamento e da autonomia dos entes federados. A compensação, assemelhada ao pay as you go, norte-americano, aqui, pode, em principio, atuar sobre qualquer tipo de despesas, diferentemente de lá, onde atua somente sobres os chamadas “grupos de defesa” (FIGUEIREDO; NÓBREGA, 2006).

Outra grande influência internacional foi a experiência da Nova Zelândia, da qual a LRF adotou importantes pilares para sua estruturação para a construção do modelo de responsabilidade fiscal brasileiro, baseado mormente nas regras de transparência (FIGUEIREDO; NÓBREGA, 2006, p. 37).

A Nova Zelândia da década de 80 caracterizava-se por um quadro de déficits orçamentários e por uma dívida pública extremamente elevada, com inflação crescente, além de uma administração pública ineficiente que determinava o alto custo fiscal e social para a população (FIGUEIREDO; NÓBREGA, 2006, p. 37).

O ponto importante ocorrido em 1994 foi a adoção do Fiscal Responsabiliy

Act (Lei de Responsabilidade Fiscal), marcado por um processo longo de extrema

produção legislativa que se desenvolveu para estabelecer eficiência como papel chave na estruturação do atual modelo de administração pública. Ocorreu, então, um grande esforço de reorganização do setor público e empresarial, fortalecendo empresas estatais e os monopólios públicos, com vistas a proporcionar processo de recuperação econômica; realizou a modernização da administração pública, dotando-a de métodos de gestão e desempenho semelhantes às empresas privadas, fortaleceu o Poder Legislativo no que se refere ao poder de autorizar e controlar despesas, impondo regras de prestação de contas e apresentação de resultados de desempenho e, por último, dotou de condições normativas institucionais programa de estabilidade fiscal capitaneado pela lei referida (FIGUEIREDO; NÓBREGA, 2006).

A grande influência do modelo da Nova Zelândia foi quanto ao aspecto da transparência. Tal princípio da LRF reveste-se de tamanha importância porque não significa apenas publicar informações, dar publicidade. Significa, sim, quebrar a “caixa preta” das finanças públicas, possibilitando ao cidadão o acesso a informações que lhes sejam inteligíveis. No entanto, assinalam os doutrinadores, há a necessidade da adoção de uma linguagem clara e o esforço de divulgar de forma

mais ampla as informações, as quais serão peças-chave para a implantação do modelo de gestão fiscal (FIGUEIREDO; NÓBREGA, 2006, p. 40).

Como permitem compreender os doutrinadores, há de se considerar que a adoção de modelos econômicos externos sem uma reflexão maior pode trazer problemas, levando-se em consideração os aspectos econômicos, sociais e políticos que lhes são peculiares.

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