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A LRF estabeleceu que constituem requisitos essenciais da responsabilidade, na gestão fiscal, a não-instituição, previsão e efetiva arrecadação de todos os tributos da competência constitucional do ente da Federação. Logo, as entidades, segundo Motta e Fernandes (2001, p. 199), que não exercerem tal atribuição, restarão impedidas de realizar transferências voluntárias, na medida em que se referem transferências voluntárias da União para os Estados e Municípios, porquanto não guarda conformidade com a CFB, a interpretação que vincule o repasse feito por Estado a Município ou entre os Municípios.

Para situar a importância deste recurso, Nascimento (2006, p. 206) discorreu que:

A transferência voluntária, realizada na maioria das vezes por convênios, representa parte importante das receitas dos cerca de cinco mil municípios do nosso país, além de alguns Estados da Região Norte e Nordeste. O governo federal transfere, a cada ano, cifras de bilhões de reais para Estados e municípios na forma de transferência voluntária. Trata-se de instrumento importante da política macroeconômica e de distribuição de renda. A possibilidade de incorrer nesse tipo de sanção tem levado os entes subnacionais, principalmente os municípios, a observarem com atenção as normas de finanças públicas definidas a partir de maio de 2000 pela LRF.

Todavia, registra Pazzaglini Filho (2006, p. 17), resta ao agente público o dever de exercer toda competência tributária, que é conferida constitucionalmente ao ente da Federação por ele elegido, com eficiência e responsabilidade, cuidando de reduzir a sonegação fiscal e a evasão, bem assim tolhendo a renúncia descompensada de receita.

A sanção manifesta é punição bastante severa e destina-se a obrigar a entidade a exercer uma competência, que seja decorrente da instituição, previsão e

efetiva arrecadação de todos os tributos da competência constitucional, como alude como Castro (2001, p. 52). Essa ação revela-se requisito essencial da responsabilidade da gestão fiscal, porquanto, continuar na lógica da LRF sem arrecadar efetivamente os tributos, fará emergir ao gestor, punição pelo descumprimento da melhor gestão da receita, como assentado inicialmente.

Alheio à punição demandada pelo descumprimento da norma, o gestor público deve atentar para a necessidade que representa a instituição, previsão e arrecadação para a consecução dos objetivos propostos por sua gestão, não podendo permanecer inerte na expectativa do repasse federal. Logo, julga-se à altura a imposição normativa.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na trajetória desta pesquisa, referenciada no bojo deste trabalho, procurou-se focar os mecanismos de controle da Administração Pública, no que tange às finanças, ora organizados no corpo da Lei Complementar 101/2000 - instituto disciplinador denominado de Lei de Responsabilidade Fiscal - LRF, e cuja proposta verificou-se erigir nos pilares do equilíbrio das finanças públicas.

A LRF, focada na ação responsável do gestor e na transparência dos seus atos, busca propiciar um ambiente fiscal mais favorável, posto que fixa limites e constitui regras norteadoras para a realização da gestão fiscal, sem impedir o investimento público, porém, buscando moralizar e organizar sua aplicação.

Surgiu num momento em que a economia nacional, por decorrência da edição de sucessivos planos econômicos malfadados, não mais agradava à sociedade. Seus mecanismos gerenciais buscam representar um importante instrumento norteador para a consecução do interesse maior da sociedade, porquanto na sua clareza desenha detalhadamente normas disciplinadoras para serem obedecidas pelo gestor da coisa pública, a fim de fulminar de vez a histórica “farra” com o dinheiro público por meio da coerção da prática de ações irresponsáveis.

Assim, sob os pilares da sua imperiosidade subordinou as ações do gestor público a um planejamento obrigatório (PPA-LDO-LOA), que deverá ser elaborado segundo as formalidades legais, tornando elementar para sua legitimidade a concordância social. Na estrutura deste planejamento, determinou constar o estabelecimento de metas para serem perseguidas, objetivando a consecução do melhor resultado à satisfação do interesse público.

Acertadamente, a partir do planejamento e cumprimento de metas, criou a obrigatoriedade da elaboração do relatório de gestão fiscal. Por meio deste instrumento, tornou-se possível comparar e avaliar o desempenho dos objetivos, permitindo realizar, concomitantemente, correções e adequações necessárias, efetivadas a partir das informações contidas em seus instrumentos e realizadas por órgãos dotados de legitimidade legal, como forma de otimizar os esforços públicos.

Essa proposta de vigilância permanente contida na égide da LRF é que permitirá evitar que os objetivos pré-estabelecidos no planejamento não se

desvirtuem no curso da sua trajetória e, caso isso ocorra, tenha seu vigilante a oportunidade imediata de determinar a correção, evitando, desta forma, prejuízos vários ao erário.

O controle não possui somente na sua compreensão, o condão de dimensionar as conseqüências do ato, com vistas a impor-lhes sanções diversas trazidas pela norma no seu bojo, ou no corpo de outras normas infraconstitucionais. A questão fundamental do controle, proposto pela LRF, conforme a manifestação doutrinária apresentada visa atuar como elemento auxiliador do bom gestor na prática do ato realizado, conduzindo-o ao alcance da eficiência voltando-se para a consecução do seu melhor resultado, dotando, destarte, a atuação da Administração Pública de legitimidade.

No entanto, se na teoria a LRF trouxe avanços, na prática não alcançou seus propósitos. Para sua eficácia, ressalta-se a importância do engajamento ético dos organismos legitimados para o exercício da fiscalização, como forma de possibilitar que as regras contidas na norma disciplinadora surta seus devidos e perseguidos efeitos, destacando, principalmente, o engajamento dos seguimentos sociais, mormente, na exigência da adoção de um padrão de conduta pública pautada na responsabilidade, transparência e eficiência.

Como boa parte das normas infraconstitucionais, sua eficácia ficou prejudicada por conta da falta de fiscalização aditada ao comprometimento, ou seja, um engajamento ético dos diversos atores sociais que parece demonstrar não acreditar na força da norma disciplinadora.

Os impulsos maléficos decorrentes da ação de gestores oportunistas continuam amparados pela cumplicidade com o ilícito e conivência de alguns atores sociais (deputados, vereadores, fiscais, etc..) que contribuem para o insucesso da implantação do novo padrão fiscal.

Órgãos como o Poder Legislativo (Congresso e Câmara de Vereadores) atuam de forma pouco eficiente no controle, e a sociedade, por sua vez, fecha os olhos como se a coisa pública não fosse um problema seu.

Do cotejo alinhado se observa que boa alternativa para tornar eficaz os ditos da LRF seria a regulamentação imediata do Conselho de Gestão Fiscal pelo Congresso Nacional. O acompanhamento realizado por técnicos representantes das entidades sociais (Órgãos Públicos, Conselho de Classe Profissional, Câmara de Dirigentes Lojistas, Associação Comercial e Industrial, Associação Comunitária, etc.)

na elaboração e na operacionalidade da gestão fiscal, representará melhor os “olhos vigilantes” da sociedade, porquanto é forçoso exigir do cidadão comum a compreensão lógica da linguagem utilizada no planejamento orçamentário.

Finalmente, considerada a relevância que guardam os reflexos dos atos públicos no dia-a-dia do cidadão, percebe-se que os instrumentos de controle, regulados pela Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF e reforçados pelo engajamento dos diversos atores sociais, mostram-se aptos e capazes de moralizar a coisa pública, tanto preventiva, quanto repressivamente.

Demonstram-se eficazes para controlar os impulsos irresponsáveis do gestor público, desde que por ele, sejam observados e obedecidos e pela sociedade, fiscalizado e seu cumprimento exigido. Para que o controle ocorra, efetivamente, surge a necessidade da mudança de padrões culturais, intrínsecos na sociedade brasileira, como o de achar que político bom é o que rouba, mas faz, e que a coisa pública não é um problema seu. Passa sobre as bases da lei a exigência de maior participação nas decisões que lhes afetam, principalmente.

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