• Nenhum resultado encontrado

O direito de resposta, em conjunto com a responsabilidade civil, responsabilidade criminal e as tutelas específicas, é mais um meio disponível ao indivíduo para a salvaguarda dos direitos da personalidade.

Foi na França que o direito de resposta teve origem, através da Lei Imprensa em 1822. Ainda no século XIX, tal direito foi assegurado na legislação

infraconstitucional de outros países, como Portugal, Alemanha, Itália e Espanha451

. No Brasil, o direito de resposta foi reconhecido pela primeira vez em 1923 pela lei Adolfo Gordo (lei 4.743/1923). Atualmente, tal direito está previsto no art. 5, V da

Constituição e sua regulamentação feita através da lei 13.188/2015452453.

O direito de resposta é um instrumento de defesa assegurado a todos indivíduos contra imputações prejudiciais à reputação da pessoa, publicadas em qualquer meio de comunicação, garantidas independentemente da responsabilização civil ou criminal do autor 454

. Nesse escopo, o professor Vital Moreira ressalta que:

O direito de resposta serve naturalmente para desmentir, corrigir ou esclarecer notícias ou afirmações inverídicas. Por outro lado, havendo direito de resposta, isso funciona como incentivo ao autocontrole dos jornalistas,

451 SARMENTO, Daniel. Comentários ao Artigo 5º, inciso V da Constituição. In: Canotilho, J.J. Gomes;

LEONCY, Leo Ferreira; MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lênio Luiz (Org.). Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 259.

452 SARMENTO, Daniel. Comentários ao Artigo 5º, inciso V da Constituição. In: Canotilho, J.J.

Gomes; LEONCY, Leo Ferreira; MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lênio Luiz (Org.). Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 259.

453

Importante ressaltar que antes da edição da lei 13.188, o direito de resposta era regulamentado pela lei imprensa. A Suprema Corte brasileira, entretanto, no julgamento da ADPF 130, a declarou não recepcionada pela Constituição de 1988. A decisão acarretou, portanto, um vácuo na regulamentação do direito de resposta. A fim de sanar o problema, o mesmo STF, no julgamento da Ação Cautelar 2.695, reconheceu a possibilidade do exercício do direito de resposta independentemente da não recepção da lei de imprensa. (SARMENTO, Daniel. Comentários ao Artigo 5º, inciso V da Constituição. In: Canotilho, J.J. Gomes; LEONCY, Leo Ferreira; MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lênio Luiz (Org.). Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 254)

454

VITAL, Moreira; CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Constituição da República Portuguesa

como pena de se verem publicamente desautorizados no seu próprio jornal por um desmentido ou correcção. 455

É uma garantia fundamental, que possibilita à pessoa ofendida por conteúdo

divulgado em qualquer veículo de comunicação456

, de forma gratuita, refutar ou corrigir a afirmação que foi feita em seu desfavor no mesmo horário e modo do agravo praticado457458

.

Nesse sentido, no julgamento da ADPF 130 o ex-Ministro do STF, Carlos

Ayres Britto, afirmou que: “o direito de resposta consiste na ação de replicar ou de retificar matéria publicada, sendo exercitável por parte daquele que se vê ofendido em

sua honra objetiva, ou então subjetiva” 459

.

Essa garantia constitucional visa à proteção da honra, da imagem, do nome e principalmente assegurar a reputação das pessoas físicas ou jurídicas que tenham sido

acusadas ou ofendidas através da mídia460

.

O direito de resposta possui natureza jurídica dúplice, pois ao mesmo tempo em que assegura os direitos da personalidade, auxilia na multiplicação do acesso à comunicação social ao oportunizar que diferentes pontos de vistas sejam conhecidos pelo indivíduo. Esse direito é um instrumento que permite um acesso cada vez maior à

mídia proporcionando a efetivação do contraditório diante da opinião pública461.

Pode-se afirmar que o direito de resposta é um corolário da liberdade de expressão ao auxiliar na formação da opinião pública, operando também como um

455 VITAL, Moreira. O Direito de resposta na comunicação social. Coimbra: Coimbra Editora, 1994, p.

30.

456

Importante ressaltar que o art. 2, §2º faz uma ressalva quanto os comentários realizados por usuário da internet nas páginas eletrônicas dos veículos de comunicação social. Portanto, a lei não se aplica aos usuários de páginas como Twitter, Facebook, entre outros, uma vez que seria inimaginável controlar o teor de todos os comentários e seria impossível garantir do agravo no mesmo espaço. Não obstante, a possibilidade de futuras indenizações quanto ao agravo cometido. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/44614/direito-de-resposta-e-a-lei-n-13-188-2015>. Acesso em: 3 jun. de 2016.

457 Artigos 1º e 2º da Lei 13.188/2015; 458

Nas linhas do professor Vital Moreira, o direito de resposta pode ser concebido como direito individual de expressão e de opinião. “Um direito dos cidadãos contra a imprensa para defesa de seus direitos e interesses pessoais afectados por ela, mas também (ou sobretudo) como direito individual de acesso aos meios de informação, uma concretização da liberdade individual de expressão ou opinião através da imprensa (direito de imprensa), um direito de participação na formação da opinião pública”. (VITAL, Moreira. O Direito de resposta na comunicação social. Coimbra: Coimbra Editora, 1994, p. 26)

459 Disponível em: <http://www.dizerodireito.com.br/2015/11/comentarios-lei-131882015-direito-

de.html#more> Acesso em: 3 jun. de 2016;

460 SARMENTO, Daniel. Comentários ao Artigo 5º, inciso V da Constituição. In Canotilho, J.J. Gomes;

LEONCY, Leo Ferreira, MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lênio Luiz (Org.). Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 259;

461 SARMENTO, Daniel. Comentários ao Artigo 5º, inciso V da Constituição. In Canotilho, J.J. Gomes;

LEONCY, Leo Ferreira, MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lênio Luiz (Org.). Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 254;

serviço do direito à informação das pessoas, que possuem a oportunidade de ter

conhecimento de todas versões sobre os mesmos fatos e informação exata e precisa462

. No julgamento da ação cautelar 2.695 pelo STF, o ministro Celso de Melo ressalta a função instrumental do direito de resposta ao estabelecer que tal direito:

Neutraliza os excessos decorrentes da prática abusiva da liberdade de expressão e informação e comunicação jornalística”; “protege a autodeterminação das pessoas em geral” e “permite a preservação/restauração da verdade pertinente aos fatos reportados pelos meios de difusão e de comunicação social 463.

Assim, o direito de resposta prospera em favor de todas as pessoas, mesmo aquelas não atingidas pela publicação, ao garantir que o indivíduo tenha acesso à

informação exata, tornado ainda mais democrático o debate464

.

Daí porque as palavras de Gustavo Binenbojm, citado por Celso Melo em seu voto no recurso extraordinário 683751, ressalva o direito de resposta como “um instrumento de "mídia colaborativa" (collaborative media) em que o público é autorizado a colaborar com o debate das notícias divulgadas na imprensa, dando a sua

versão dos fatos e apresentando seu ponto de vista”465

.

Por fim, dois princípios são norteadores do direito de resposta. O primeiro deles, denominado da proporcionalidade ou equivalência, determina que a resposta deve possuir o mesmo destaque da imputação. Por seu turno, o princípio da brevidade impõe que a resposta deve ocorrer com a maior brevidade possível a fim de que seja

resguardado o impacto almejado466.

Resta demonstrado, portanto, que a garantia fundamental do direito de resposta encontra ainda maior importância na seara da resolução de controvérsias relativas à publicação de biografias, haja vista ser o instrumento adequado nos casos de dano à imagem da pessoa biografada, na medida em que possibilita exigir, tanto da editora

462 SARMENTO, Daniel. Comentários ao Artigo 5º, inciso V da Constituição. In Canotilho, J.J. Gomes;

LEONCY, Leo Ferreira, MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lênio Luiz (Org.). Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 261;

463

Decisão monocrática na ação cautelar 2.695 publicada em 26 jun. de 2015. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=3942663>. Acesso em: 4 jun. de 2016;

464 Decisão monocrática no recurso extraordinário 683.751 publicada em 1 jul. de 2015. Disponível em:

<file:///C:/Users/Usuario/Desktop/texto_307133621.pdf> Acesso em: 4 jun. de 2016;

465

Decisão monocrática no recurso extraordinário 683.751 publicada em 01 de julho de 2015. Disponível em: <file:///C:/Users/Usuario/Desktop/texto_307133621.pdf> Acesso em: 4 jun. de 2016;

466 SARMENTO, Daniel. Comentários ao Artigo 5º, inciso V da Constituição. In: Canotilho, J.J. Gomes;

LEONCY, Leo Ferreira, MENDES, Gilmar Ferreira; SARLET, Ingo Wolfgang; STRECK, Lênio Luiz (Org.). Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 261.

quanto do biógrafo, que se publique nova edição da obra com a versão dada pelo biografado, preferencialmente, com menção à correção grafada na capa da obra. Tal medida garantirá o direito de informação e preservará, de forma mais eficiente do que eventuais indenizações pecuniárias, a imagem, honra e intimidade do biografado.