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O direito a errar assumindo as consequências dos seus atos e repará-las

1.1 «A escola às crianças»

3. Ahmad & Hoffman (2007) definem empreeendedorismo como o fenómeno associado com a atividade empreen-

1.2.6 O direito a errar assumindo as consequências dos seus atos e repará-las

«Se a criança começa por fazer algo errado, esforçar-se-á por fazer melhor, deixamo-la viver moralmente, ou seja, permitimos-lhe que se supere, que supere o que está mal até conseguir o bem… damos-lhe ocasiões de agir, multiplicamos oportunidades e experiências, porque serão elas que farão dela uma pessoa com carácter. Se fez algo de mal, mostramos-lho adequadamente com tacto e todo o jovem bem formado tentará fazer melhor.» (p. 50-51) «Deixamos a criança em grande liberdade… O aluno não abusa da liberdade que lhe é concedida. Isto não quer dizer que não exista autoridade. A supressão dos castigos que degradam e humilham a criança não implica que deixe de haver sanções. Estas sanções, no entanto, não são artificiais mas naturais; a criança adquire à sua custa a experiência do bem e do mal. É livre mas responsável; pode e deve medir as consequências dos seus atos e reparar, sempre que possível, os prejuízos causados. Aquele que quebra coisas substitui-as com a sua mesada; o que não fez o trabalho na hora certa fá-lo durante os tempos livres; o que deixa as coisas desarrumadas arruma-as; quem suja limpa; o aluno que habitualmente se atrasa deve começar mais cedo para chegar a horas; ao aluno que agiu mal chama-se-lhe a atenção para a ação que cometeu e relembram-se-lhe as boas ações que ele já realizou noutros momentos… As sanções são prescritas pela assembleia dos alunos que vota as leis e as regras, o que lhes confere um carácter impessoal. E uma vez que são voluntariamente aceites por todos, resulta daí que todos aceitam a sua aplicação sem rancor nem ressentimento… Sempre que as circunstâncias nos impõem o dever de intervir e aplicar uma sanção, cuidamos para que essa sanção seja simultaneamente adequada à natureza da criança, à natureza do ato em si e às circunstâncias em que foi praticado. Acima de tudo, queremos que a sanção seja compreendida pelo aluno, de modo que ele possa sentir a sua utilidade e reconheça a relação lógica, proporcional e harmoniosa entre a falta cometida e a sua reparação. Tudo o que for para além de uma sanção natural e lógica será uma punição degradante que leva à humilhação e revolta da criança. Vamos supor, por exemplo, que um dos alunos tem falta de arrumação, limpeza, atenção, aplicação, espírito de trabalho, dedicação, altruísmo ou solidariedade. Colocamo-lo num cargo em que adquira, desenvolva e fortaleça os hábitos e sentimentos que lhe faltam… Não o desencorajamos, ajudamo-lo. O nosso lema é ajudar a criança a tornar-se melhor… Também damos recompensas, mas não como um isco que perverte o sentido ético do esforço. Não há nenhum “negócio” entre aluno e professor no início do trabalho. Além disso, a recompensa não se segue imediatamente ao esforço realizado, pois não convém que pareça que o professor está a pagar uma fatura cobrada pelo aluno. A recompensa é uma questão que exige tacto e delicadeza. Vamos supor que um dos alunos acaba um trabalho livre, pessoal e que o interessou. Esforçou-se e está satisfeito consigo próprio. Mas a satisfação pessoal do dever cumprido não é suficiente, ele precisa também da aprovação

encorajadora dos outros. A aprovação será ainda mais preciosa se for concretizada num ato ou num prémio: um livro sobre o tema estudado, uma ferramenta de trabalho ou uma folga para se refazer do esforço realizado.» (p. 214-221) (Vasconcellos, 2012). Faria de Vasconcellos, em 1912, defendia a autonomia e a responsabilidade assumidas pelo próprio sujeito a partir da sua própria experiência, como a Unesco (1978) viria a propor 66 anos mais tarde: «o aluno devia ser exortado a agir de acordo com as suas convicções, segundo a sua idade e o seu grau de maturidade, e aprender a assumir as consequências dos seus atos (n.º 15)… ajudar o indivíduo a construir ele próprio a sua personalidade autónoma, capaz de uma participação ativa, responsável e criativa, na vida da sociedade nacional e internacional a que pertence (n.º 26)… é preciso que os métodos de formação ponham os alunos diante de escolhas reais e lhes ofereçam possibilidades de experimentar soluções para tentar resolver situações que põem problemas. O direito a errar devia ser reconhecido e a pluralidade de opções aceite (n.º 37)…» (Unesco, 1978).

Muitas escolas da atualidade ainda estão longe de educar para responsabilidade que consiste, antes de mais, em assumir os erros feitos e repará-los, na medida das possibilidades. Prefere-se o castigo estandardizado a aprender com o próprio erro para não o repetir e a repará-lo para minimizar os prejuízos causados.

1.3 Conclusão

A autonomia, a responsabilidade e a solidariedade aprendem-se, vendo fazer, fazendo e participando. Estas competências determinantes, para uns (Eu, 2008), e valores fundamentais, para outros (Unesco, 2000), eram já a referência para a aprendizagem de cada aluno na escola de Faria de Vasconcellos. Para desenvolver estas competências e valores a escola precisa de um clima que envolva os alunos e lhes permita participar tanto na construção permanente da escola como da construção pessoal e social da sua própria aprendizagem. Os alunos, com orientação do adulto, devem ser capazes de identificar problemas, procurar resolvê-los, utilizar diferentes estratégias, materiais e técnicas, manipular o conhecimento disponível, arriscar soluções e analisar criticamente os resultados das suas próprias ações, numa atitude solidária. Educar para o empreendedorismo implica antes de mais educar para a responsabilidade e a autonomia na liberdade e na solidariedade para assumir riscos inerentes ao construir fazendo, construindo a sua identidade na convivência com os outros. E para isso a dimensão das escolas é determinante do clima que nelas se gera. Um estabelecimento escolar bem organizado não tem de ocupar um edifício enorme para centenas de crianças, onde o clima nunca permitirá uma educação e formação em que a criança se possa envolver à sua medida, beneficiando do acompanhamento necessário. Uma escola pode ser constituída por vários edifícios diferenciados

onde os alunos podem (des)envolver-se utilizando alternadamente os equipamentos. O clima gerado numa escola condiciona o envolvimento e a participação dos alunos e o seu sucesso pessoal e social.

References

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4. 1909, embora a data da edição não conste do próprio livro, que é a publicação das lições sobre pedologia para profes-

sores do ensino primário, em conferências, na Sociedade de Geografia de Lisboa de maio a julho de 1909 sob os auspí- cios da Liga de Educação Nacional. Na 2,ª lição cita «34 - Claparède, Psychologie de l’enfant et pédagogie expérimentale, 1909». Na 3.ª lição cita «64 – Compayré. L’adolescence, 1909. – 65 – Colegrove. Memory, 1909…» Nunca cita obras posteriores a 1909. No preâmbulo escreve: «…atento o interesse que o assunto despertou – para tantos inteiramente novo – fui levado a publicá-las tais quais as professei…»

Juventude, Participação e Educação Integral: