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Direitos patrimoniais

2. COMPREENSÃO DOGMÁTICA DO DIREITO AUTORAL

2.5 Conteúdo dos Direitos Autorais

2.5.1 Direitos patrimoniais

Direito patrimonial é a nomenclatura utilizada para expressar genericamente a prerrogativa do autor sobre a utilização e exploração de sua obra intelectual. Da criação, o autor retira proveito econômico, de forma exclusiva, podendo dispor de tal direito em favor de outrem, se assim lhe aprouver133.

131

BRANCO, Sérgio. A natureza jurídica dos direitos autorais. Civilistica.com. Rio de Janeiro, a. 2, n. 2, abr.-jun./2013, p. 5.

132

BITTAR, Carlos Alberto, Direito de Autor. 4ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 68. Gama Cerqueira, por sua vez, entende que o direito autoral é um direito puramente patrimonial, acrescentando que “não se trata nem de um direito de dupla natureza, nem de faculdades diversas de um mesmo direito, nem de aspectos diferentes de um direito único; mas de dois direitos diversos e independentes, o que explica a faculdade que tem o autor de alienar o seu direito patrimonial da maneira mais completa, conservando íntegro o relativo à sua personalidade, bem como a possibilidade de ser violado o direito de autor sem ofensa ao seu direito moral” (CERQUEIRA, João da Gama. Tratado da Propriedade

Industrial. Vol I., 3ª Ed., 2ª Tiragem. Rio de Janeiro: Forense, 2012, p. 121).

133

Oliveira Ascensão critica a colocação no núcleo do direito de autor o do “direito de utilizar a obra”, já que esta faculdade em si “nada tem de patrimonial. Até, tratando-se de obra literária ou artística, o direito de utilizar tem um caráter espiritual, parecendo integrar-se antes entre as faculdades pessoais”. (...) ”O que a lei reserva ao autor são formas de utilização pública da obra” (ASCENSÃO, José de Oliveira, 2007,

48 O direito de exploração econômica está assegurado no artigo 5º, XXVII da CF/88134 e na LDA, no artigo 22135. Idêntica previsão é encontrada no CDADC, no artigo 9.º136.

Eliane Y. Abrão define os direitos patrimoniais como sendo “direitos exclusivos, porque dependem de prévia e expressa aprovação do autor e só dele, ou de quem o represente, para que possam ser reproduzidos, exibidos, expostos publicamente, transmitidos por meios mecânicos, eletrônicos ou digitais, armazenados, etc.”137.

A exploração econômica pode se dar de diversas formas, não exaustivas, haja vista que os direitos patrimoniais são reconhecidos pela lei genericamente. Conforme Delia Lipszyc, “Os direitos de exploração de que dispõe o autor são tantos quanto sejam as formas factíveis de utilização da obra, não somente no momento de criação da obra, mas durante todo tempo em que permaneça no domínio privado”138. Em outras palavras, o autor pode autorizar a utilização da obra por meios distintos e autônomos entre si: permitir a edição de um livro, autorizar a representação cênica ou mesmo a adaptação para o cinema.

A sua justificação está, em sua origem, no incentivo à produção cultural e valorização do autor criador, não sendo, contudo, possível ao autor exercer os direitos patrimoniais perpetuamente. A temporalidade, portanto, é mais uma das suas principais características. No caso do Brasil, o prazo é de 70 (setenta) anos e o início de cômputo de sua contagem varia de acordo com a espécie de obra.

Quanto à possibilidade de dispor de tal direito em favor de outrem, significa, em outras palavras, que o autor pode, de forma onerosa ou gratuita, transferir

134

Artigo 5º, inciso XXVII, da CF/88:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)

XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;

135

Artigo 22 da LDA:

Art. 22 - Pertencem ao autor os direitos morais e patrimoniais sobre a obra que criou.

136

Artigo 9.º do CDADC:

Artigo 9.º (Conteúdo do direito de autor) 1 – O direito de autor abrange direitos de caráter patrimonial e direitos de natureza pessoal, denominados direitos morais.

137

ABRÃO, Eliane Y.. Direitos de Autor e Direitos Conexos. São Paulo: Ed. do Brasil, 2002, p. 80.

138

“Los derechos de explotación de que dispone el autor son tantos como formas de utilización de la

obra sean factibles, no solo en el momento de la creación de la obra, sino durante todo el tiempo em que ella permanezca em el domínio privado”. LIPSZYC, Delia. Derecho de autor y derechos conexos.

49 a terceiro o direito de exploração da obra, seja através de licença, cessão ou de concessão dos direitos, ou por outra modalidade contratual. Tais negócios jurídicos são interpretados restritivamente e se presumem onerosos. E, ampliando a proteção dos criadores, a interpretação destes negócios faz-se em favor do autor.

Ao lado da possibilidade de alienação dos direitos patrimoniais, tem-se a de renúncia dos mesmos. Se ao autor é dado explorar economicamente a sua obra, também lhe é permitido deixar de fazê-lo, permitindo a terceiro, inclusive, a sua utilização gratuita. Outra característica que se pode apontar é a possibilidade de expropriação. Sendo assim, os direitos patrimoniais poderão ser penhorados ou gravados de outra forma.

Tradicionalmente, a norma legal e a doutrina brasileiras apontam para as seguintes espécies de utilização de obra literária, artística ou científica (rol não taxativo), para a qual é indispensável a autorização do seu autor: a reprodução, a distribuição e a representação ou comunicação139.

Cumpre salientar, quanto a última espécie acima referida, a conclusão a que chega Fernanda Amarante, de que “a representação diz respeito à execução direta ou por atos, como as encenações, a dança, ou mesmo pela sua pela sua projeção por

139

Artigo 29 da LDA:

Art. 29. Depende de autorização prévia e expressa do autor a utilização da obra, por quaisquer modalidades, tais como:

I- a reprodução parcial ou integral; II- a edição;

III- a adaptação, o arranjo musical e quaisquer outras transformações; IV- a tradução para qualquer idioma;

V- a inclusão em fonograma ou produção audiovisual;

VI- a distribuição, quando não intrínseca ao contrato firmado pelo autor com terceiros para uso ou exploração da obra;

VII- a distribuição para oferta de obras ou produções mediante cabo, fibra ótica, satélite, ondas ou qualquer outro sistema que permita ao usuário realizar a seleção da obra ou produção para percebê-la em um tempo e lugar previamente determinados por quem formula a demanda, e nos casos em que o acesso às obras ou produções se faça por qualquer sistema que importe em pagamento pelo usuário;

VIII- a utilização, direta ou indireta, da obra literária, artística ou científica, mediante: a) representação, recitação ou declamação;

b) execução musical;

c) emprego de alto-falante ou de sistemas análogos; d) radiodifusão sonora ou televisiva; e) captação de transmissão de radiodifusão em locais de frequência coletiva;

f) sonorização ambiental;

g) a exibição audiovisual, cinematográfica ou por processo assemelhado; h) emprego de satélites artificiais;

i) emprego de sistemas óticos, fios telefônicos ou não, cabos de qualquer tipo e meios de comunicação similares que venham a ser adotados;

j) exposição de obras de artes plásticas e figurativas;

IX- a inclusão em base de dados, o armazenamento em computador, a microfilmagem e as demais formas de arquivamento do gênero;

50 satélites ou cabo”140, numa declarada indicação de que, pelo menos para boa parte da doutrina brasileira, a encenação é apenas uma forma de comunicação ao público de uma obra autoral que lhe é anterior.