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Direitos reprodutivos e saúde reprodutiva Bases para a ação

No documento AS MULHERES E OS DIREITOS CIVIS (páginas 104-108)

PLANO DE AÇÃO DA CONFERÊNCIA MUNDIAL DE POPULAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

A. Direitos reprodutivos e saúde reprodutiva Bases para a ação

2. A saúde reprodutiva é um estado de completo bem-estar físi-co, mental e social em todas as matérias concernentes ao sistema reprodutivo, suas funções e processos, e não a simples ausência de doença ou enfermidade. A saúde reprodutiva implica, por conse-guinte, que a pessoa possa ter uma vida sexual segura e satisfató-ria, tendo a capacidade de reproduzir e a liberdade de decidir sobre quando e quantas vezes deve fazê-lo. Está implícito nesta última condição o direito de homens e mulheres de serem informados e de terem acesso aos métodos eficientes, seguros, aceitáveis e financei-ramente compatíveis de planejamento familiar, assim como a outros métodos de regulação da fecundidade à sua escolha e que não con-trariem a lei, bem como o direito de acesso a serviços apropriados de saúde que propiciem às mulheres as condições de passar com segurança pela gestação e o parto, proporcionando aos casais uma chance melhor de ter um filho sadio. Em conformidade com a defi-nição acima de saúde reprodutiva, a assistência à saúde reprodutiva é definida como a constelação de métodos, técnicas e serviços que con-tribuem para a saúde e o bem-estar reprodutivo, prevenindo e resol-vendo os problemas de saúde reprodutiva. Isto inclui igualmente a saúde sexual, cuja finalidade é a melhoria da qualidade de vida e das relações pessoais, e não o mero aconselhamento e assistência relativos à reprodução e às doenças sexualmente transmissíveis.

CAPÍTULO VII*

DIREITOS REPRODUTIVOS E SAÚDE REPRODUTIVA

* A Santa Sé expressou sua reserva geral sobre este capítulo, que deve ser interpretada nos termos da declaração feita por seu representante na 14ª Sessão Plenária, em 13 de setembro de 1994.

3. Tendo em vista a definição anterior, os direitos de reprodução abrangem certos direitos humanos já reconhecidos em leis nacio-nais, em documentos internacionais sobre direitos humanos e em outros documentos consensuais. Esses direitos se ancoram no reco-nhecimento do direito básico de todo casal e de todo indivíduo de decidir livre e responsavelmente sobre o número, o espaçamento e a oportunidade de ter filhos, bem como de ter a informação e os meios de assim o fazer, e o direito de gozar do mais elevado padrão de saúde sexual e reprodutiva. Inclui também o direito de tomar decisões sobre a reprodução, livre de discriminações, coerções ou violências, conforme expresso nos documentos sobre direitos hu-manos. No exercício desse direito, os casais devem poder levar em consideração as necessidades dos seus filhos atuais e futuros e suas responsabilidades para com a comunidade. A promoção do exercí-cio responsável desses direitos por todo indivíduo deve ser a base fundamental das políticas e programas de governos e da comunida-de na área da saúcomunida-de reprodutiva, incluindo-se o planejamento fami-liar. Como parte do seu compromisso, toda atenção deve ser dispen-sada à promoção de um relacionamento mutuamente respeitoso e equitativo entre os gêneros, particularmente no que se refere à sa-tisfação das necessidades educacionais e de serviço dos adolescen-tes, para capacitá-los a tratar sua sexualidade de uma maneira posi-tiva e responsável. A questão da saúde reproduposi-tiva constitui um desafio para muitos povos do mundo em função dos seguintes fato-res: níveis inadequados de conhecimento da sexualidade humana e informações ou serviços; inadequados ou de pouca qualidade na área da saúde reprodutiva; prevalência de comportamentos sexuais de alto risco; práticas sociais discriminatórias; atitudes negativas com relação às mulheres e às jovens; o limitado poder que têm mui-tas mulheres e moças sobre suas próprias vidas sexuais e reproduti-vas. Na maioria dos países, os adolescentes são particularmente vulneráveis em função da sua falta de informação e de acesso aos serviços relevantes. Homens e mulheres mais idosos têm proble-mas distintos de saúde reprodutiva e sexual, os quais muitas vezes são tratados de maneira inadequada.

4. A implementação do presente Programa de Ação deve ser ori-entada pela supramencionada definição integral de saúde reprodu-tiva, a qual inclui a saúde sexual.

OBJETIVOS

5. Os objetivos são:

(a) Assegurar que uma informação abrangente e factual e que toda a gama de serviços de assistência à saúde reprodutiva, inclusi-ve de planejamento familiar, sejam acessíinclusi-veis, financeiramente com-patíveis, aceitáveis e convenientes para todos os usuários;

(b) Possibilitar e apoiar as decisões voluntárias responsáveis so-bre gravidez e métodos de planejamento familiar, assim como ou-tros métodos disponíveis para regulação da fecundidade, desde que não contrariem a lei, bem como o acesso à informação, à educação e aos meios para fazê-lo;

(c) Atender as necessidades de saúde reprodutiva que mudam ao longo do ciclo de vida, e fazê-lo de maneira sensível à diversida-de diversida-de circunstâncias das comunidadiversida-des locais.

AÇÕES

6. Todos os países devem, o mais cedo possível, não depois de 2015, envidar esforços para tornar a saúde reprodutiva acessível a todos os indivíduos em idades adequadas, por meio de um sistema primário de assistência à saúde. A assistência à saúde reprodutiva, no contexto da assistência primária à saúde, deve incluir inter alia:

aconselhamento, informação, educação, comunicação e serviços de planejamento familiar; educação e serviços de assistência pré-na-tal, de parto seguro e de assistência pós-natal; prevenção e devido tratamento da esterilidade; aborto conforme especificado no pará-grafo 8.25, incluindo-se a prevenção do aborto e o tratamento das suas eventuais seqüelas; tratamento das infecções do aparelho reprodutivo e informação, educação e, quando apropriado, aconse-lhamento sobre sexualidade humana, saúde reprodutiva e paternida-de responsável. Serviços paternida-de referência paternida-de planejamento familiar, diag-nóstico e tratamento de complicações de gravidez, parto e aborto, este-rilidade, infecções do aparelho reprodutivo, câncer de mama e do sis-tema reprodutivo, doenças sexualmente transmissíveis, inclusive HIV/

AIDS, devem estar disponíveis quando requisitados. Desestimular ativamente as práticas prejudiciais — como a mutilação genital fe-minina — é prática que deve ser parte integral da assistência à saú-de, inclusive dos programas de assistência à saúde reprodutiva.

7. Programas de assistência à saúde reprodutiva devem ser ela-borados para atender às necessidades da mulher, inclusive das ado-lescentes, e envolver mulheres na liderança, planejamento, tomada de decisões, gerenciamento, execução, organização e avaliação de serviços. Os governos e outras organizações devem tomar provi-dências positivas para incluir mulheres em todos os níveis do siste-ma de assistência à saúde.

8. Programas inovadores devem ser criados para tornar a infor-mação, a orientação e os serviços de saúde reprodutiva acessíveis aos homens e aos jovens. Ao mesmo tempo, esses programas devem educar os homens e capacitá-los a compartilhar, de uma maneira mais eqüitativa, o planejamento familiar, as responsabilidades do-mésticas e a criação dos filhos, bem como a aceitar sua responsabi-lidade central na prevenção das doenças sexualmente transmissí-veis. Os programas devem alcançar os homens em seu locais de trabalho, nos lares e onde se reúnem para recreação. Meninos e adolescentes, com o apoio e a orientação de seus pais, e nos termos da Convenção sobre os Direitos da Criança, devem também ser al-cançados na escola, nas organizações juvenis e onde quer que se reúnam. Métodos anticoncepcionais masculinos, adequados e vo-luntários, como também de prevenção das doenças sexualmente transmissíveis, inclusive a AIDS, devem ser promovidos e tornados acessíveis, com informação e orientação adequadas.

9. Os governos devem promover maior participação comunitá-ria nos serviços de assistência à saúde reprodutiva, descentralizan-do a administração descentralizan-dos programas públicos de saúde e fazendescentralizan-do par-cerias com as organizações não-governamentais locais e os presta-dores privados de serviços de saúde. Todos os tipos de organizações não-governamentais, inclusive os grupos locais de mulheres, sin-dicatos, cooperativas, programas de jovens e grupos religiosos de-vem ser incentivados a participar da promoção de uma melhor saú-de reprodutiva.

10. Sem prejuízo do apoio internacional a programas em países em desenvolvimento, a comunidade internacional deve, sob deman-da, dar atenção ao treinamento, à assistência técnica, às necessida-des de suprimento a curto prazo de anticoncepcionais, bem como às necessidades dos países em transição de economias centralizadas para a economia de mercado, onde a saúde reprodutiva é precária e, em alguns casos, vem se deteriorando. Ao mesmo tempo, esses países devem eles próprios dar maior prioridade a serviços de saúde reprodu-tiva, incluindo-se um leque abrangente de meios anticoncepcionais.

Eles devem enfrentar a atual dependência em relação ao aborto como meio de regulação da fecundidade, atendendo de maneira urgente as necessidades das mulheres desses países, em termos de uma melhor informação e de um maior número de opções.

11. Em muitas partes do mundo, migrantes e outras pessoas fora dos seus locais de origem ou moradia habitual têm acesso limitado à assistência à saúde reprodutiva, podendo enfrentar ameaças gra-ves e específicas aos seus direitos e à sua saúde reprodutiva. Os serviços devem ser particularmente sensíveis às necessidades indi-viduais das mulheres e das adolescentes, e à sua condição freqüen-te de impotência, com particular afreqüen-tenção para as vítimas da violên-cia sexual.

B. Planejamento familiar

No documento AS MULHERES E OS DIREITOS CIVIS (páginas 104-108)