• Nenhum resultado encontrado

Planejamento familiar Bases para a ação

No documento AS MULHERES E OS DIREITOS CIVIS (páginas 108-115)

PLANO DE AÇÃO DA CONFERÊNCIA MUNDIAL DE POPULAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

B. Planejamento familiar Bases para a ação

12. O objetivo dos programas de planejamento familiar deve ser habilitar casais e indivíduos para decidirem livre e responsavelmente sobre o número e o espaçamento dos seus filhos, colocando à sua disposição as informações e os meios para fazê-lo, assegurando es-colhas informadas e tornando disponível toda a gama de métodos eficientes e seguros. O sucesso dos programas de educação sobre população e planejamento familiar demonstra, numa variedade de contextos, que o indivíduo informado pode agir e agirá em toda parte, com responsabilidade, à luz das suas próprias necessidades e daquelas da sua família e da sua comunidade. O princípio da esco-lha livre e informada é essencial para o sucesso de longo prazo dos

programas de planejamento familiar. Não há lugar para qualquer forma de coerção. Em toda sociedade tanto há muitos incentivos como desestímulos sociais e econômicos que afetam decisões indi-viduais sobre a gravidez e o tamanho da familia. Ao longo do sécu-lo, muitos governos experimentaram planos que incluíam incenti-vos e desestímulos para reduzir ou aumentar a fecundidade. A mai-or parte dos planos teve apenas um impacto marginal na fecundida-de e, em alguns casos, foram contraproducentes. Os objetivos go-vernamentais de planejamento familiar devem ser definidos em ter-mos de necessidades não-satisfeitas de informação e de serviços.

Os objetivos demográficos, embora sendo objeto legítimo de estra-tégias governamentais de desenvolvimento, não devem ser impos-tos aos prestadores de serviços de planejamento familiar na forma de metas ou quotas no recrutamento de clientes.

13. Nas últimas três décadas, a crescente disponibilidade de métodos mais seguros de anticoncepção moderna, embora ainda inadequados sob alguns aspectos, tem permitido, em grande parte do mundo, mais oportunidades de escolha individual e mais espaço para a tomada de decisões responsáveis em matéria de reprodução.

Atualmente, cerca de 55 por cento dos casais habitantes das regiões em desenvolvimento usam algum método de planejamento famili-ar. Esse número representa um incremento de quase cinco vezes desde a década de 60. Os programas de planejamento familiar têm contribuído consideravelmente para o declínio das taxas médias de fecundidade nos países em desenvolvimento: de seis a sete filhos por mulher, na década de 1960, para cerca de três ou quatro atual-mente. Todavia, a gama dos métodos modernos de planejamento familiar continua ainda indisponível para pelo menos 350 milhões de casais em todo o mundo, muitos dos quais dizem querer espaçar ou evitar uma nova gravidez. Dados de pesquisa sugerem que cerca de mais 120 milhões de mulheres em todo o mundo estariam atual-mente usando um método moderno de planejamento familiar se in-formações precisas e serviços autorizados estivessem facilmente disponíveis, e se os parceiros, famílias e comunidades fossem mais solidários. Estas cifras não incluem a quantidade substancial e cada vez maior de indivíduos solteiros e sexualmente ativos que querem

e precisam de serviços e de informação. Durante a década de 1990, o número de casais em idade reprodutiva crescerá cerca de 18 mi-lhões por ano. Para satisfazer suas necessidades e preencher as gran-des lacunas existentes nos serviços, o planejamento familiar e o su-primento de anticoncepcionais precisarão expandir-se muito rapi-damente nos próximos anos. A qualidade dos programas de plane-jamento familiar está freqüentemente relacionada com o nível e continuidade do uso de anticoncepcionais e com o crescimento da demanda de serviços. Programas de planejamento familiar funcio-nam melhor quando fazem parte ou estão articulados a programas mais amplos de saúde reprodutiva, que atendam necessidades de saúde estreitamente correlacionadas ao planejamento familiar, e quando há mulheres integralmente envolvidas no projeto, presta-ção, administração e avaliação dos serviços.

OBJETIVOS

14. Os objetivos são:

(a) Ajudar casais e indivíduos a alcançar seus objetivos reprodu-tivos com base num marco de referência que promova níveis ótimos de saúde, responsabilidade e bem-estar familiar e que respeite a dignidade de todas as pessoas e seus direitos de escolher o número, o espaçamento e a oportunidade do nascimento de seus filhos;

(b) Evitar gestações indesejadas e reduzir a incidência de gesta-ções de alto risco, de morbidade e de mortalidade;

(c) Tornar os serviços de planejamento familiar com qualidade aceitáveis e acessíveis, inclusive em termos financeiros, a todos que deles precisem e os queiram, assegurando, porém, a confidencia-lidade;

(d) Melhorar a qualidade da orientação, da informação, da edu-cação, da comuniedu-cação, do aconselhamento e dos serviços de pla-nejamento familiar;

(e) Aumentar a participação e a partilha de responsabilidade dos homens na prática concreta do planejamento familiar;

(f) Promover a amamentação para favorecer o espaçamento de nascimentos.

AÇÕES

15. Os governos e a comunidade internacional devem lançar mão de todos os meios à sua disposição para apoiar o princípio da escolha voluntária no planejamento familiar.

16. Todos os países devem, nos próximos anos, avaliar a exten-são da necessidade nacional não-satisfeita de serviços de planeja-mento familiar de boa qualidade e sua integração no contexto da saúde reprodutiva, dispensando especial atenção aos grupos mais vulneráveis e desfavorecidos da população. Todos os países devem tomar providências para satisfazer, tão logo quanto possível, as ne-cessidades de planejamento familiar das suas populações. Todos os países devem, no melhor dos casos até por volta do ano 2015, pro-curar prover o acesso universal a toda a gama de métodos seguros e confiáveis de planejamento familiar e aos serviços correlatos de saú-de reprodutiva, saú-dessaú-de que não sejam contrários à lei. O objetivo deve ser o de ajudar casais e indivíduos a alcançar seus objetivos reprodutivos e de proporcionar-lhes a oportunidade plena de ter fi-lhos segundo sua escolha.

17. Os governos são instados, em todos os níveis, a instituir sis-temas de acompanhamento e avaliação dos serviços centrados nos usuários, de modo a identificar, prevenir e controlar abusos de ad-ministradores e provedores de planejamento familiar e a assegurar uma melhoria contínua da qualidade dos serviços. Para esse fim, deve ser garantida a conformidade com os direitos humanos e com os padrões éticos e profissionais na provisão dos serviços de plane-jamento familiar e daqueles relacionados à saúde reprodutiva, de modo a assegurar o consentimento responsável, voluntário e infor-mado e a própria prestação de serviços. Técnicas de fertilização in-vitro devem ser oferecidas de acordo com as devidas diretrizes éti-cas e padrões médicos.

18. As organizações não-governamentais devem desempenhar um papel ativo na mobilização do apoio da comunidade e da famí-lia, na ampliação do acesso e da aceitabilidade dos serviços de saú-de reprodutiva, incluindo-se o planejamento familiar, bem como cooperar com os governos no processo de preparação e prestação

da assistência, com base na escolha informada, e ajudando a mo-nitorar programas públicos e do setor privado, inclusive os seus pró-prios.

19. Como parte do esforço para atender às necessidades não-satisfeitas, todos os países devem procurar identificar e afastar os principais obstáculos à utilização dos serviços de planejamento fa-miliar. Algumas dessas barreiras estão relacionadas com a inadequação, a baixa qualidade e o custo dos atuais serviços de planejamento familiar. O objetivo das organizações públicas, priva-das e não-governamentais de planejamento familiar deve ser a re-moção, até 2005, de todos os obstáculos que limitam o uso do pla-nejamento familiar, através de uma redefinição ou da expansão da informação e dos serviços — lançando mão de outros meios para aumentar a capacidade de casais e indivíduos de tomar decisões livres e conscientes sobre quantidade, espaçamento e oportunidade dos nascimentos e protegê-los contra doenças sexualmente trans-missíveis.

20. Os governos devem, especificamente, tornar mais fácil para os casais e indivíduos assumirem a responsabilidade da sua própria saúde reprodutiva, removendo os obstáculos de natureza legal, médi-ca, clínica e regulamentares desnecessários que limitem a informa-ção e o acesso aos serviços e métodos de planejamento familiar.

21. Todos os líderes políticos e comunitários são instados a de-sempenhar um papel ativo, sustentado e transparente na promoção e legitimização do fornecimento e uso de serviços de planejamento familiar e de saúde reprodutiva. Os governos, em todos os níveis, são instados a criar, por todos os meios possíveis, um clima favorá-vel ao planejamento familiar público e privado de boa qualidade, à informação e aos serviços de saúde reprodutiva. Finalmente, líde-res e legisladolíde-res devem, em todos os níveis, traduzir seu apoio público à saúde reprodutiva, inclusive ao planejamento familiar, em termos de alocações orçamentárias adequadas e de recursos huma-nos e administrativos para atender às necessidades de todos que não podem arcar com o custo total dos serviços.

22. Os governos são incentivados a concentrar a maior parte dos seus esforços para alcançar seus objetivos de população e

desen-volvimento fazendo uso da educação e de medidas voluntárias, em lugar de lançar mão de esquemas de incentivos ou desestímulos.

23. Nos próximos anos, todos os programas de planejamento familiar devem envidar esforços significativos para melhorar a qua-lidade da assistência. Entre outras medidas, os programas devem:

(a) Reconhecer que os métodos apropriados a casais e indivídu-os variam de acordo com suas idades, partindivídu-os, preferência pelo ta-manho da família e outros fatores, e assegurar que mulheres e ho-mens tenham informação e acesso a mais ampla gama de métodos seguros e eficientes de planejamento familiar, de modo a habilitá-los a fazer uma escolha livre e informada;

(b) Prover informações acessíveis, completas e precisas sobre vários métodos de planejamento familiar, inclusive seus riscos e benefícios para a saúde, possíveis efeitos colaterais e sua eficácia na prevenção da disseminação do HIV / AIDS e de outras doenças sexualmente transmissíveis;

(c) Tornar os serviços mais seguros, convenientes e acessíveis, inclusive financeiramente, e assegurar, por meio de sistemas logísticos sólidos, o suprimento suficiente e contínuo de anticon-cepcionais essenciais de alta qualidade. A privacidade e o caráter confidencial devem ser garantidos;

(d) Estender e elevar o nível do treinamento formal e informal da assistência sexual, da saúde reprodutiva e do planejamento fa-miliar para todos os prestadores de serviços de saúde, educadores e administradores de saúde, inclusive o treinamento em comunica-ções interpessoais e aconselhamento;

(e) Assegurar assistência de seguimento adequada, incluindo-se o tratamento dos efeitos colaterais dos anticoncepcionais;

(f) Assegurar a disponibilidade local dos serviços relacionados com saúde reprodutiva, ou então através de mecanismos eficientes de referência;

(g) Além das medidas quantitativas de desempenho, dar mais ênfase às medições qualitativas que levem em conta as perspecti-vas das usuárias e usuários atuais e potenciais dos serviços, por

meios tais como sistemas eficientes de gerenciamento da informa-ção e de técnicas de levantamento com vistas a oportuna avaliainforma-ção dos serviços;

(h) Os programas de planejamento familiar e de saúde reprodu-tiva devem enfatizar a educação sobre amamentação e os serviços de apoio que possam contribuir simultaneamente para espaçar os nascimentos, melhorar a saúde materna e infantil e aumentar a taxa de sobrevivência infantil.

24. Os governos devem tomar medidas apropriadas para ajudar as mulheres a evitarem o aborto, o qual, em nenhuma hipótese, deve ser promovido como método de planejamento familiar, fazendo, em todo caso, com que as mulheres que tenham recorrido ao aborto recebam aconselhamento e tratamento humanitário.

25. Para atender ao aumento substancial da demanda de anti-concepcionais nas próximas décadas e depois, a comunidade inter-nacional deve se mobilizar imediatamente para estabelecer um sis-tema eficiente de coordenação e instalações globais, regionais e sub-regionais, em vista da provisão de anticoncepcionais e de outros artigos essenciais para os programas de saúde reprodutiva dos paí-ses em desenvolvimento e daqueles de economia de transição. A comunidade internacional também deve considerar medidas tais como a transferência de tecnologia para os países em desenvolvi-mento, de modo a capacitá-los para produzir e distribuir anticon-cepcionais de alta qualidade e outros artigos essenciais aos servi-ços de saúde reprodutiva, fortalecendo a autonomia desses países.

A pedido dos países interessados, a Organização Mundial de Saú-de Saú-deve continuar a prestar assessoria sobre qualidaSaú-de, segurança e eficácia dos métodos de planejamento familiar.

26. A prestação de serviços de assistência à saúde reprodutiva não deve ficar confinada ao setor público, mas deve envolver o setor privado e as organizações não-governamentais, de acordo com as necessidades e recursos das suas comunidades, incluindo, quando conveniente, estratégias eficazes de recuperação do custo e da pres-tação de serviço, incluindo-se a comercialização social e os serviços de base comunitária. Esforços especiais devem envidados para me-lhorar a acessibilidade através de serviços de extensão.

C. Doenças sexualmente transmissíveis e prevenção contra o vírus da

No documento AS MULHERES E OS DIREITOS CIVIS (páginas 108-115)