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Diretora do departamento técnico ambiental da SMA.

4. A QUARTA EMERGÊNCIA: RESULTADOS

4.5. Resultado das entrevistas

4.5.2. Diretora do departamento técnico ambiental da SMA.

A entrevistada iniciou a sua carreira no setor ambiental público antes de existir a secretaria do meio ambiente no município, no ano de 2007, quando o tema era ainda de responsabilidade de uma autarquia. Entrou, cerca de dois anos após formada e após um período de estágio, como diretora. À época da entrevista, estava locada na diretoria técnica de meio ambiente. A justificativa para entrevistá-la é justamente o destaque atribuído a ela pela diretora do departamento de EA, visto acima.

A entrevista foi realizada em um dia normal de trabalho, em sua sala (por indicação sua), que divide com o próprio secretário do meio ambiente e com outra técnica. A entrevista foi oficialmente marcada por e-mail, mas combinada alguns dias antes quando nos encontramos em um evento do Comitê de Bacia local.

Quando cheguei, no início da manhã, estava sozinha, mas outras pessoas, inclusive o secretário, iam e vinham durante o procedimento, interrompiam a entrevista, telefones tocavam, enfim, foi um dia comum. O encontro durou cerca de uma hora e a entrevista se estendeu por aproximadamente 50 minutos, e foi gravada com aparelho MP3 GT DIGITAL®. O conteúdo foi posteriormente transcrito.

De acordo com a entrevistada, no início de sua experiência era sozinha, tinha que lidar com uma série de questões que não tinham estado presentes na sua formação, e então que passou um bom tempo estudando e tentando compreender a questão ambiental no município e também a sua função na totalidade.

Com o tempo, também, foi desenvolvendo “malícia” a respeito da sua forma de agir dentro da prefeitura, diante dos vários interesses políticos e partidários invisíveis a priori, presentes. Chegou, inclusive, a se filiar a um partido, o que desfez em seguida:

É, nem todo mundo tá no mesmo lado que você assim, em relação a trabalho, é nem todo mundo pensa em relação ao coletivo, ao município, nem todo mundo tem a mesma filosofia. E aí envolve muitos interesses políticos, nem só quanto ao prefeito, não, é o entorno mesmo que você acaba....no começo, eu cheguei, eu não conhecia,

eu não sabia quem era político, quem não era, quem era do partido A, o partido B, eu não sabia, então você, então às vezes você acaba cometendo algum erro, acaba falando coisas que não deve, até você começar a ter certa malícia. Então, assim, é difícil, você tem que estar sempre pisando em ovos, né, então é complicado. Mas hoje, [...] eu não tenho problemas com questões políticas, não tenho interesse de me envolver com essa questão, eu sou técnica e pretendo continuar só na área técnica. Não pretendo me filiar a partido algum. Até em um período eu acabei me filiando por um engano. Acabei me filiando a um partido, né, mas hoje já desfiliei, não, porque realmente eu não tenho nada a ver com política, então tou desfiliada, não tenho partido, não tenho interesse de ir para partido algum, eu quero mesmo é trabalhar na parte técnica mesmo

Quando a Secretaria do Meio Ambiente foi criada, em janeiro de 2011, em grande parte devido ao Programa Município Verde-Azul da Secretaria do Estado do Meio Ambiente, tornou-se diretora do departamento técnico ambiental. Apesar do Setor de Educação Ambiental não estar situado, a rigor, dentro dessa diretoria, continuou desempenhando essa função, em meio as suas atribuições normais que o cargo lhe demandava, especificamente relacionadas ao desenvolvimento de projetos, análise técnica e licenciamento ambiental. Em determinado momento da entrevista, após a contextualização da sua história de vida, de sua entrada no setor público e, finalmente, das funções que exerce na secretaria, direcionei a conversa para a EA, para a sua inserção e da secretaria no campo da EA.

Sua atuação com a EA se dava, principalmente, por meio da sua participação no grupo de trabalho de EA nos dois Comitês de Bacias Hidrográficas dentro dos quais os município se insere (por ter território dividido em duas bacias, está inserido em dois comitês) e na participação e organização de projetos e eventos em EA. Ressaltou que mesmo antes da criação da secretaria, ainda na época da autarquia, já desenvolvia projetos em cooperação no município:

Tinha bastante projetos que a gente fazia em parceria, né, quando era o departamento [a autarquia]. Até teve o ano passado [2010], eu com a [diretora da Escola de EA] fizemos o concurso literário da água juntas, então muita coisa, muito evento que tinha na escola [de EA] ou no meio ambiente, por exemplo tinha uma data comemorativa, sempre tava envolvendo as escolas, né a [Secretaria da] educação, então até para inaugurar a escola [de EA], né, eu ajudei, para conseguir terminar de estruturar, para a inauguração...é, por exemplo eu participo dos comitês na parte de educação ambiental.

Entretanto, conforme colocado no item 4.3.1., não disponibilizou projetos para análise sob a argumentação da inexistência de processos de sistematização. Com suas próprias palavras:

[E]ssa é uma coisa assim que na prefeitura e que às vezes eu acho que é falho ainda, que a gente precisa assim, talvez às vezes por falta de estrutura, a gente acaba fazendo e não pondo no papel. É, e então isso ainda é muito falho. Então porque falta muito planejamento aí. Ainda, prá gente conseguir fazer no papel e depois por em prática.

Quando perguntada sobre as suas impressões a respeito das condições de trabalho conjunto entre as duas secretarias (de educação e do meio ambiente), após a criação da segunda, se existiria um “muro” entre elas, comentou, ao meu ver, com certo nível de constrangimento, sem, no entanto, levantar detalhes:

Técnica: Olha, ó, é, não, não mu.... mais ou menos...mais ou menos, tem um pouco. Tem um pouco de dificuldade nisso (rs). Tinha menos, acho que hoje tem mais. Daniel: É, porque que você acha que hoje tem mais?

Técnica: Ah, já teve muitos atritos, muitas coisas, aí, e não sei, então...

Daniel: Mas qual que é a origem disso? Qual é o ponto disso? É a questão de projeto, de não estar concordado com projeto?

Técnica: É, de não concordar com condutas.

Daniel: Ah, então não é um negócio que fica na esfera mais técnica, assim.

Técnica: Não, não. Então é assim. É assim...é que eu tenho, é que eu sou suspeita em falar (rs) então sei lá. Eu não quero influenciar em nada. Eu sinto assim, que daria para ser muito, ter muito mais parceria, entendeu, muito mais, ser muito mais envolvido, muito mais unido.

Daniel: O que que falta?

Técnica: O que que falta? Então, eu acho assim, por exemplo, ah é que (rs), eu acho assim, mais vontade de fazer, é, mas é o que eu sinto, não sei se todo mundo tem essa sensação. De que falta ter mais vontade de fazer o trabalho pensando na comunidade, no envolvimento, não na questão pessoal, entendeu, então eu acho que...

Daniel: A questão pessoal é, tipo a valorização pessoal, assim...autoenaltecimento? Técnica: Isso, é, eu sinto isso. E às vezes a questão até de, por exemplo, de secretarias, questão de poder, sabe, de secretário para secretário.

Daniel: Essa é uma dificuldade?

Técnica: É, hoje eu acho que rola um pouco. Porque antes, por exemplo, antes eu era diretora. E na verdade que o secretário era, digamos assim, omisso. Prá ele tanto fazia se fizesse alguma coisa ambiental ou não, tanto fazia. Então eu trabalhava muito mais à vontade, apesar de não ter muito apoio, ter pouca estrutura, eu trabalhava muito mais à vontade. Então eu tinha a liberdade, de por exemplo, de ir lá e conversar com a secretária de educação e eu e ela acordávamos alguma coisa, ela pedia a minha ajuda e eu ajudava, entendeu.

Daniel: Tinha um intercâmbio.

Técnica: É, hoje não é assim, que sempre que ó, tem que passar, o caminho é diferente. Então assim que eu sinto isso. E às vezes achar que tá ruim, de querer passar por cima um do outro, então não, então acaba distanciando um pouco...

Por fim, ressaltou a dificuldade que tem de angariar participação para os projetos, ações e eventos que realizam:

Questão também de você conseguir fazer um envolvimento, né, que as pessoas participem. Por exemplo, a nossa dificuldade nesse curso [que o Comitê de Bacias pretende realizar], a nossa preocupação, não é a nossa dificuldade, mas a nossa preocupação, é, qual será o melhor dia, o melhor horário, prá que realmente as pessoas possam participar, mesmo, porque tem gente que quer participar mas não tem condições, não conseguem, né. Então essa é, acho que é a dificuldade.