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4. A QUARTA EMERGÊNCIA: RESULTADOS

4.5. Resultado das entrevistas

4.5.5. Secretária da educação.

A entrevista se deu após o expediente da secretária, marcada para às 17h, no dia 26 de março de 2012. O processo de marcar a entrevista foi longo. No início, tentei a intermediação da diretora do DEA. Por várias vezes ela ficou de marcar a entrevista mas dizia que nunca conseguia. Então, cerca de duas semanas antes da entrevista eu contatei a secretaria pessoalmente. A pressa estava relacionada ao fato de que, após muito tempo, a secretária deixaria a função no inicio de abril.

Sua secretária foi muito solícita e por várias vezes se comprometeu a marcar a entrevista para mim, que por dias não ocorreu. Até que no dia 20 de março, agendou a visita para o dia 22, às 17h, na própria secretaria da educação.

Cheguei lá pontualmente às 17 horas junto com a secretária, que também chegava, e fui anunciado. A secretária tinha ainda alguns compromissos e pediu para eu esperar. Quando veio para a sala da diretora do DEA me encontrar, já eram quase 18h. Ainda, disse que teria que sair para ir ao médico e perguntou se eu podia esperar.

Em função de outros compromissos pré assumidos, preferi remarcarmos para outra ocasião, então no dia 26. De qualquer forma, a secretária me pediu que eu adiantasse o tema da entrevista, e diante das minhas colocações começou a comentar sobre a história da criação da escola de EA. Falou por uns 20 minutos, quando eu interrompi confirmando o assunto e dizendo que deveríamos esperar a reunião em si, quando a conversa seria gravada.

No dia 26 cheguei novamente pontualmente às 17h. A diretora do DEA me anunciou e me levou para a sua sala para esperarmos. Como estávamos conversando sobre outras questões, fiquei absorto e praticamente desisti da entrevista naquele dia. Em certo momento diretora do DEA foi até a sala da secretária e retornou, dizendo que não tinha interrompido a reunião que estava em andamento lá porque o clima estava tenso. Segundo ela, vereadores do município estavam vindo negociar a sua substituição na secretaria. Três vereadores de três partidos diferentes.

Por volta das 18h, então, a secretaria veio até a sala do DEA, sentou-se do meu lado e perguntou: “Vamos lá?”.

Mesmo diante do adiantado da hora e, novamente da existência de pré agendamentos, resolvi dar sequencia à entrevista com receio de perder uma oportunidade que seria difícil de ser encontrada novamente. Prontamente me preparei com o gravador e o caderno de campo. Durante a entrevista a secretária foi muito espontânea e solícita. A entrevista durou pouco mais de uma hora, foi gravada em um aparelho MP3 GT DIGITAL® e seus conteúdos foram posteriormente transcrito. Os resultados dessa entrevista estão disponíveis abaixo.

A secretária da educação é formada em Educação Física e, antes de se tornar secretária, foi diretora de escola estadual no município. Na ocasião da entrevista, vivia seus últimos dias no

cargo que ocupara por 12 anos, ao longo de três mandatos subsequentes de dois partidos diferentes.

A entrevista se iniciou com a secretária relembrando o processo que levou à criação da infraestrutura pública de EA na secretaria de educação do município (a Escola de EA e o departamento de EA na Secretaria da Educação). Esta história está relacionada à transferência, no início dos anos 2000, de famílias instaladas irregularmente em uma área de preservação permanente do município, que se situava em frente a uma escola pública. O prefeito da época decidiu, então, transferir a área desocupada para a secretaria da educação para que promovessem a manutenção da área e seu uso para atividades educativas.

Assim, em 2003, com a atribuição de horas para um professor de geografia lecionar aulas no local, iniciaram-se as atividades do que seria o embrião da escola de educação ambiental. A execução de atividades de campo no local logo demandou a construção de uma infraestrutura maior, tanto física (a construção de um galpão) quanto humana (a presença de funcionários permanentes). O então prefeito, diante da proposta do projeto que estava sendo apresentada, sugeriu que fosse feito algo mais “grandioso”, diferente do que já existia em termos arquitetônicos e coerente com a proposta ambiental (ou seja, que fizesse o que se propunha a ensinar, coletar água de chuva, fazer uso de materiais recicláveis e reciclados em sua estrutura e etc).

Foi então que a prefeitura local ganhou uma grande área na zona rural da cidade de uma empresa local e o prefeito sugeriu a construção da escola de educação ambiental em uma parcela dessa área. Ela foi assim construída a partir de um projeto arquitetônico em formato de árvore e com algumas outras estruturas educativas, como sala de aula, viveiro de mudas e etc. Quando construída, uma professora concursada foi transferida para geri-la, e começou a dar funcionalidade para a escola, e ao longo do tempo novas estruturas foram sendo implantadas.

Entretanto, foi apenas em 2008 que a escola foi oficialmente entregue, com tantas falhas que ainda em 2009 não havia atividades práticas lá. Foi quando uma consultora foi contratada (que viria a ser a diretora da escola na ocasião dessa pesquisa) para “rechear” o “esqueleto” dela com outras estruturas, pois havia a deliberação de inaugurar a escola no aniversário da cidade, no final daquele ano, e iniciar suas atividades no início do ano seguinte.

Neste mesmo período de tempo, em que a escola estava finalmente ficando pronta para atuar, entre 2008 e 2009, que surgiu o pensamento de se criar um departamento de educação ambiental na cidade. O DEA seria um órgão com a função de

regulamentar a vida dessa escola [...], que haja um diretor, diretor de departamento de educação ambiental, que vai cuidar da educação ambiental como um todo, nas escolas, e que vai ser responsável por levar essa ideia que gerou a escola. Vai fazer o elo entre a escola, a escola comum, né, regular, e a escola de educação ambiental, a ideia foi essa.

Portanto, dentro do organograma da secretaria da educação, o DEA foi concebido em 2009 com a escola de EA submetida a ele. Quase ao mesmo tempo foram nomeadas diretoras tanto para a escola quanto para o DEA, que começaram a atuar em 2010. Apesar da vinculação dessas duas instituições (a primeira submetida à segunda) elas atuavam independentemente, de forma que aos poucos, embora com ações comuns, nichos de atividade foram sendo delineados.

A secretária comentou anda que, com a criação da secretaria do meio ambiente, em janeiro de 2011, outro órgão de EA foi estabelecido, o setor de EA, com quem poderiam atuar de forma conjunta mas que, para ela, as duas secretarias tinham competências bem distintas.

Ela [a secretaria do meio ambiente] trata das ações ambientais, os programas, os convênios, né, eu acho que a secretaria, eu vejo assim, ó, educação ambiental, ela é papel do departamento de educação ambiental e da escola de educação ambiental. A secretaria [do meio ambiente] ela lida mais com a legislação, né, ela faz as legislações, fiscaliza para o cumprimento disso, mas nada impede que ela trabalhe em conjunto aqui para fazer educação ambiental mesmo.

Sobre a contratação das duas diretoras (da escola de educação ambiental e do DEA), os comentários da secretária foram os seguintes:

Ela [a diretora da escola de EA] veio, porque ela tinha um irmão que trabalhava comigo aqui, que trabalhava com o prefeito, é irmã do motorista do prefeito. E ela veio, ela me trouxe o currículo, até porque ela tava com intenção de vir prá cá, de mudar prá cá, porque a mãe dela era daqui....a mãe dela faleceu, já. Mas a família toda é daqui, ela morava em São Carlos. Ela falou que quando pegasse aula aqui ela viria prá cá, então ela trouxe um currículo. Aí eu olhando o currículo dela, eu tentei com a [ex. diretora da escola], não deu muito certo, e a [ex. diretora da escola] também casou nesse interim, mudou pro norte, e ela pediu até exoneração do cargo de professor. E aí, na realidade, na realidade...nós pagamos pro, prá [diretora da escola] e o marido dar uma recheada na escola na questão de ações, né, dar um outro visual. E, e a, e a, então, já sabia desse perfil dela.

Sobre a diretora do DEA, os detalhes foram trazidos em meio à conversa abaixo:

quando formou o departamento, mas não lotou,[...], foi quando o prefeito falou. Ó, vamo, vamo acertar a situação da [diretora da escola], vamo acertar, e a gente precisa dividir os serviços aí, né, preencher pelo menos o departamento, a diretora

do departamento. Foi aí então que veio a [a diretora do DEA]. E é das duas que eu mais conhecia aí, eu tive vários currículos, mas que eu conhecia o trabalho...

Daniel: Mas ela entrou principalmente com um trabalho direcionado para a cooperativa, né? Que não tinha nada a ver com....

Secretária: Isso, ele [o prefeito] me ligou e disse “eu preciso por alguém para coordenar a cooperativa”. Prá ter uma pressão do promotor, né, do...

Daniel: Ministério público [...].

Secretária: [...] Ele [o prefeito] falou “como é”, ele falou “vamo colocar a [diretora do DEA] aí mas ela vai ter que cuidar da educação ambiental e vai ter que cuidar da cooperativa”.

Por fim, quando questionada sobre o que sentia que ainda estava faltando para o bom desempenho das estruturas de EA que tinha criado e que ia deixar para seu sucessor, a diretora apontou para os seguintes aspectos:

O que mais pega ainda, que eu não consegui, é fazer realmente esse, essa ligação, do regular com a atividade prática lá, que é o objetivo principal. Não existe uma fala, que assim que que eu falo você me entende, ou eu te completo, você me procura....são ações que ainda não são, comuns...não são comuns sabe.[...] Não são comuns, sabe? Não tem uma intenção, que eu vou lá. Vai na escola visitar a escola mas não tem a intenção, já não vai com aquela intenção que a professora já trabalhou aquilo, vamos fazer aquilo. Não existe aquela educação ambiental intencional.

E como uma possível solução para essa situação, apontou a importância das capacitadoras pedagógicas, que são figuras criadas pelo MEC (Ministério da Educação), são da secretaria de educação do município e atuam diretamente com as coordenadoras pedagógicas das escolas. Atualmente tais capacitadoras foram designadas para as disciplinas regulares, mas com tempo devem também passar a incorporar outros temas, destinando tempo individualizado aos professores e professoras e as disciplinas que ministram. Para a secretária, em algum momento as capacitadoras irão trazer para o escopo das ciências a questão da educação ambiental, e a aproximação maior entre a secretaria de educação e a escola estará maior.