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4. A QUARTA EMERGÊNCIA: RESULTADOS

4.5. Resultado das entrevistas

4.5.3. Secretário do Meio Ambiente

A entrevista com o secretário do meio ambiente, a exemplo de sua técnica, também ocorreu em seu escritório (que divide com outras duas técnicas), em uma quinta-feira normal de trabalho, no período matutino, cedo. Na ocasião eu perguntei a ele se não queria que fosse em outra sala, por conta da privacidade, mas ele respondeu que aquela era a única disponível, e riu. Isso me deixou receoso, obviamente, porque imaginei que o trânsito de pessoas poderia gerar constrangimentos em determinados momentos. Mas isso não foi percebido, pelo menos diante dos temas que eu considerava mais problemáticos.

De qualquer forma a entrevista se iniciou antes do expediente, e foi apenas à medida que se desenrolou que sua atenção passou a ser dividida com outros afazeres e pessoas. Na mesma manhã haveria uma inauguração no município na qual vários funcionários da secretaria deveriam estar presentes, e a medida que o horário se aproximava, a tensão aumentava. Mesmo assim, o entrevistado ficou a minha disposição pelo tempo que eu julguei necessário e em nenhum momento sugeriu a interrupção ou o apressamento da entrevista.

Embora tenha ocorrido mais de um mês após a de sua técnica, foi combinada naquele dia, e confirmada posteriormente por telefone. Desde o início o secretário se colocou, de forma gentil, à disposição para o processo. Em uma ocasião marcada em que teve que cancelar, o fez pessoalmente e sugeriu uma segunda data, na qual a entrevista foi realizada. Os conteúdos da entrevista, de aproximadamente 45 minutos, foram gravados com aparelho MP3 GT DIGITAL® e ulteriormente transcritos.

O secretário do meio ambiente é economista, com pós-graduação em economia regional, finanças empresariais e MBA em administração de empresas e administração rural, “Isso não por eu estudar muito, é o tempo, é a idade, vai fazendo a gente fazer cursos....(rs)”.

É natural do município, de onde saiu apenas para cursar a faculdade. Foi militante estudantil (presidente de diretório acadêmico e do diretório central dos estudantes) e é militante do Partido dos Trabalhadores desde a sua fundação na cidade. Por duas ocasiões já concorreu às eleições municipais para a prefeitura. Nas últimas eleições, apoiou o candidato de oposição e, no final de 2010, foi contemplado pelo prefeito para assumir uma secretaria, a princípio da saúde, mas foi posteriormente convidado para assumir a Secretaria do Meio Ambiente.

Sobre essa situação (ter apoiado a oposição, ser de outro partido e, ainda, ter planos embrionários de estar presente de alguma forma no próximo pleito – ou seja, ter interesses pessoais), explicou que há uma ligação de seu partido com o prefeito desde que ele apoiou a candidata do PT à presidência. Além disso, que para o seu partido, que está no “ostracismo” político no município por quatro anos, por não conseguir eleger nenhum representante, é uma forma de demonstrar trabalho para a população. Por fim, falou que deixou claro para o prefeito que seu apoio seria até abril de 2012 e que, sob essas condições, ele poderia decidir. Mencionou que por ter vivido em fazenda até os dezessete anos, sentia sua função como natural, apesar de assumir sua falta de experiência (tanto na administração pública quanto no meio ambiente) e que, portanto, assumiria diante da possibilidade de compor uma equipe técnica competente.

Como a sua secretaria está em processo de estruturação (pois foi criada em janeiro de 2011), está ainda construindo condições para ser a responsável no município pela implantação da política municipal do meio ambiente, que segundo ele também está em elaboração. Assim, há duas linhas de ação paralelas, a criação de medidas estruturantes e o cumprimento das atividades para as quais foi criada (licenciamento de atividades de baixo impacto, revisão e criação de programas, de leis e outros, arborização, educação ambiental, dentre outros). Para ele, “o nosso trabalho, em síntese, é o olhar ambiental na administração municipal”, o que o coloca em contato direto com outras secretarias, tanto na parte operacional (por ter poucos recursos, conta com outras) quanto de planejamento, pois agora as ações com implicações ambientais precisam passar por sua secretaria.

De forma espontânea, ao falar das ações que a secretaria tinha desempenhado em 2011, trouxe à tona a EA:

E por isso que eu friso que a atuação da secretaria ambiental, nesse primeiro momento é a revisão das leis nossas que eram bastante antigas, e a partir, e também o processo educacional. A educação ambiental que não é educação formal, é

educação da comunidade como um todo. E aí passa pelo funcionalismo, passa pelas empresas e passa também pelo cidadão comum.[...] Como eu disse, é recente a secretaria, entramos sem um programa, na medida do possível nós fomos atuando, fazendo palestras, em, nos temos sendo convidados, é, prá falar em semana de prevenção de acidente de trabalho, as CIPATs nas empresas, nós realizamos a semana de meio ambiente, realizamos a conferência, a primeira conferência de meio ambiente[...] realizamos palestras [...] mostrando a legislação, no Centro das Indústrias [...], mostrando a legislação [...] de trato de resíduos, processos de licenciamentos, [...] a gente sempre que possível tá explorando os canais de comunicação, TV, rádio, nos colocando, nos posicionando....

Sobre a ação coordenada com outras secretarias...

O que nós fizemos esse ano? Estreitar esse relacionamento com a Secretaria de Educação, a gente discutir programas, e agora nós vamos, [es]tamos caminhando pro próximo ano, e nós já fizemos ações conjuntas durante esse ano com a Secretaria da Educação. Tanto na semana do meio ambiente como na realização, da Conferência, nas campanhas de coleta de lixo eletrônico, todas as ações nós temos feito em parceria. É, porque eles são nosso primo rico, né? (rs). Então dentro desse quadro aí, a gente tem estreitado, não só pelo aspecto econômico mas também pela importância da gente entrar. Mas eu devo confessar que isso é fruto até da secretaria ser nova, nós não temos um programa formal de ação das duas secretarias, né. A Secretaria da Educação já vinha desenvolvendo os seus programas e nós entramos, apresentando algumas sugestões e seguindo, agora para o próximo ano, [...] a partir do ano que vem, não, ano que vem nós já aprovamos o orçamento, já temos uma linha de ação e já estamos conversando com a Educação Ambiental, com a Escola [de Educação] Ambiental, ou seja, com a Secretaria de Educação das ações que nós vamos desenvolver.

Quando perguntado sobre as possibilidades de um desenvolvimento conjunto de um programa de EA entre várias secretarias e ainda outros atores não públicos...

Esse é o caminho, aliás nós estamos trabalhando com essa...ontem mesmo eu tive uma reunião com o pessoal aí do, da Secretaria de Indústria e Comércio, e logo depois com representantes do Centro das Indústrias. Ou seja, as ações que nós fazemos, nos distritos industriais, nós sempre estamos em conjunto com a Secretaria da Indústria e Comércio. Agora, nós precisamos formalizar, tornar o negócio, porque tem uma coisa, se troca o secretário, troca a linha de ação, então esse é o próximo passo que nós vamos [es]tar trabalhando.[...] [Mas] [i]sso não é nem questão de cultura da formação da população. Cê fala, cê chamar uma reunião hoje, sem oferecer nada, prá se discutir um orçamento da cidade não aparece ninguém. Se você faz uma reunião hoje, para se discutir questão de resíduos de empresas, vai aparecer três, quatro empresas, tem que convidar, isoladamente. [I]sso nós temos que construir[...] esse é o desafio da sociedade brasileira. [A] constituição de 88, de 89, a constituição de 89 a constituinte de 88, ela criou uma série de instrumentos para a participação popular, né, por isso que ela é chamada de constituição democrática. Mas você não vê a população. [...]. Então as reuniões dos conselhos são esvaziadas. E apesar de ter esse poder a população não enxerga...

Neste momento da fala somos interrompidos pela Técnica de Meio Ambiente que explica que, no dia anterior, tinha marcado uma reunião no Conselho Municipal do Meio Ambiente, mas que ninguém tinha aparecido.

É falta de participação. É reflexo dos trinta anos de ditadura. Nós criamos uma sociedade, nós criamos não, foi uma sociedade que foi formatada prá não participar.

Com as abertura política, o que que houve, houve um processo de democratização, e nesse processo de democratização, é, as instituições não estavam fortalecidas para desempenhar os seus papéis, e foram, começaram a ser aparelhadas por grupos, sendo ocupadas, né. Ocupadas por quem tinha um interesse, não um interesse global, interesse de todos, pessoais. Fora isso, nós pegamos um período da história, não só do Brasil[...], mas um período de descrença na questão do estado, que vem da onda neoliberal da Europa de 80 que chegou aqui em 90, e você desconstruiu o estado, ou seja, os canais que a população tinham de ser interlocutor com o estado foram esvaziados, mas eles estão aí. Fora isso tem a decepção com a sucessão de governos e...[...] Então o que sobra? Uma parte da sociedade se afasta, os espertos ficam, e os que lutam têm vergonha de falar que tá lutando. Então é um processo histórico, tá certo...isso vai ser vencido, a população vai chegar com o tempo.

E voltando para a questão da comissão interinstitucional de EA...

Eu só tenho medo de você criar esses instrumentos e esvaziar o Conselho [Municipal do Meio Ambiente]. Eu acho que o conselho tem que puxar isso. Que aí você fortalece o Conselho Municipal, leva prá dentro, atribui responsabilidade para outras pessoas que não tão participando do conselho e aproveita esse momento, eu acho que é excelente, mas eu não puxaria pela secretaria.[...] [V]ocê vai fragmentando. Eu acho que, por exemplo, o Conselho Municipal, uma das saídas, pensando rapidamente, não tá amadurecido, você colocou agora, mas uma das propostas que eu inicialmente proporia para amadurecer é que o Conselho Municipal criasse essa comissão, e ele indicasse membros para participar junto com a Secretaria, junto com a indústria, junto com todos os segmentos da sociedade. Aí, aí eu acho que encaminharia bem.