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DIRETRIZES GERAIS DO PROGRAMA NACIONAL ESCOLA DE GESTORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA

PRODUÇÃO PARA O MERCADO

3.3 DIRETRIZES GERAIS DO PROGRAMA NACIONAL ESCOLA DE GESTORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA

Conforme as definições das diretrizes político-pedagógicas que orientam a formulação e a implementação do Programa Escola de Gestores da Educação Básica, este se inscreve na política de educação continuada, tendo como objetivo “[...] contribuir com a formação de gestores escolares, por meio de um amplo processo de articulação envolvendo o MEC, sistemas públicos de ensino e entidades educacionais.” (BRASIL, 2009a, p. 7). As diretrizes definem a concepção de formação continuada em serviço que implica no desenvolvimento profissional do professor gestor e, também, a melhoria da qualidade dos processos de organização e de gestão escolar. Essa compreensão respalda-se na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei n. 9.394/96, que dispõe, em seu Art. 61, sobre os seguintes critérios para a formação do educador:

Art. 61. A formação de profissionais da educação, de modo a atender aos objetivos dos diferentes níveis e modalidades de ensino e às características de cada fase do desenvolvimento do educando, terá como fundamentos: I - a associação entre teorias e práticas, inclusive mediante a

capacitação em serviço;

II - aproveitamento da formação e experiências anteriores em instituições de ensino e outras atividades (BRASIL, 1996a, grifo nosso).

Assim, a formação continuada em serviço do projeto é desenvolvida conforme o currículo do Programa Nacional Escola de Gestores da Educação Básica (PNEGEB), estratégia política de formação docente em nível superior, por meio de curso de pós-graduação lato sensu na modalidade a distância. Com essa compreensão é pautada a concepção de formação de professores, de modo a contemplar temas como os saberes e as práticas políticas e pedagógicas no contexto do desenvolvimento profissional permanente. Ou seja, trata-se de formação continuada em serviço, baseada na relação teoria e prática, segundo a qual o professor que atua como gestor escolar torna-se pesquisador de sua própria ação.

Identifica-se, portanto, a perspectiva metodológica desse curso como sendo semelhante à pesquisa-ação. Essa metodologia consiste de uma

[...] forma de investigação baseada em uma autoreflexão coletiva empreendida pelos participantes de um grupo social de maneira a melhorar a racionalidade e a justiça de suas próprias práticas sociais e educacionais, como também o seu entendimento dessas práticas e de situações onde essas práticas acontecem. A abordagem é de uma pesquisa-ação apenas quando ela é colaborativa [...]. (KEMMIS; MCTAGGART, 1988, p. 9).

Tomando por referência as concepções apresentadas por Thiollent (1997), a pesquisa-ação tem como características: a) o caráter participativo, o que permite e/ou facilita a interação entre o pesquisador e os membros da situação investigada; b) produz uma ação planejada sobre os problemas detectados; c) requer legitimidade dos diferentes atores e convergência de interesses; d) não se limita a descrever uma situação. Por tais proposições consideramos que esse método de pesquisa gera acontecimentos ou resultados que podem desencadear mudanças em um determinado contexto.

As formações para gestores escolares a distância promovidas, a exemplo dos processos de formação específicos para a docência (GATTI, 2008), também enfatizavam as relações entre o exercício profissional e os saberes inerentes a ele, com foco no “saber fazer”. Para tanto, busca articular a relação entre os saberes profissionais e o trabalho ao contemplar “[...] a tematização de saberes e práticas num contexto de desenvolvimento profissional permanente.” (BRASIL, 2009a, p. 5). Entendemos que a importância atribuída ao saber fazer do gestor escolar prioriza a relação do campo teórico-metodológico com a ação desenvolvida no contexto escolar, desencadeada pela mobilização dos gestores cursistas.

Compreendemos, portanto, que a perspectiva de formação continuada é um direito do profissional, devendo, por isso, ser ofertada por instituições formadoras, de forma a possibilitar a associação com o exercício profissional. Assim, o programa apresenta interface entre os saberes e fazeres gestionários ao tratar de aspectos teóricos, relacionando-os com as práticas desenvolvidas nas próprias escolas, observando-se os seus problemas concretos, valorizando a produção de saberes e de conhecimentos construídos no próprio trabalho, e ampliando-os no campo da gestão. A formação continuada em serviço se efetiva por meio de uma relação dialética estabelecida entre a teoria e a prática, a partir da construção coletiva do

conhecimento, que se dá em meio a um processo de reflexão, análise e problematização da prática, propondo o seu redimensionamento, constituindo-se como práxis criadora e transformadora.

Ao tempo que se discute a concepção inovadora de formação de gestores escolares presente nas proposições do programa, também se evidencia, no conjunto das diretrizes, o vínculo entre a estruturação do processo formativo oferecido com base nos princípios básicos da nova administração pública e, se define que a formação continuada em Gestão Escolar deve ser na modalidade a Distância (EaD). Esta deve possibilitar

[...] maior flexibilidade na organização e desenvolvimento dos estudos; fortalecimento da autonomia intelectual no processo formativo; acesso às novas tecnologias da informação e comunicação; interiorização dos processos formativos, garantindo o acesso daqueles que atuam em escolas distantes dos grandes centros urbanos; redução dos custos de formação

a médio e longo prazo; a interatividade entre os formandos, facilitando o

trabalho coletivo; fortalecimento de infra-estrutura adequada nas universidades públicas, estimulando a formação de grupos de produção científica na área de gestão escolar, e de formação de quadros para atuarem com EAD e sua institucionalização no tocante à formação continuada. (BRASIL, 2009a, p. 8, grifos nossos).

Conforme considera Sousa (2009, p. 174), são inúmeros os desafios impostos aos professores nessa modalidade, suscitada em vários aspectos como: “[...] na qualidade do ensino viabilizada na proposta pedagógica, no uso dos meios de comunicação, na infra-estrutura organizacional, na efetiva participação e interatividade”. A autora considera que essas questões não podem ser perdidas de vista quando se analisa um Programa de formação continuada a distância como o aqui estudado.

Assim, observamos que o que parece ser uma solução para a democratização do acesso ao ensino também pode se configurar como estratégia do estado para atender aos seus próprios interesses e aos do capital. O estado, alinhado aos propósitos das políticas neoliberais, encontrava meios legais para reduzir as despesas públicas.

Nesta pesquisa, a discussão está centrada no processo de formação que toma por base o princípio da gestão democrática, considerando a importância a ela atribuída como fator que pode contribuir de forma significativa para a melhoria da qualidade da educação básica. Compreendemos que o termo melhoria possa remeter ao sentido de se promover mudanças no contexto escolar, no que se refere

aos processos de gestão e à qualidade do trabalho realizado nas instituições de ensino, com vistas a melhores resultados na qualidade da aprendizagem escolar.

3.4 CONCEPÇÃO DE GESTÃO NO PROGRAMA ESCOLA DE GESTORES DA