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Diretrizes normativas para a educação

As ações da UNESCO no que tange à educação direcionaram-se a partir da proposta de “reeducação” contra os efeitos do nazismo e do fascismo ainda presentes no contexto europeu. Em 1951, a UNESCO institui como política a proposta de que a educação seja ofertada de forma gratuita e obrigatória. Nos anos 1950 e 1960 são realizados estudos de sistemas escolares de diversos países para aplicação desta indicação. A partir dos anos 1960, a UNESCO incorpora o discurso da “educação permanente” que se refere ao estudo ao longo da vida.

Em 1960 a UNESCO publica a Convenção relativa à Luta contra a Discriminação no campo do Ensino83. O documento é considerado um dos mais importantes sobre a discriminação racial e a educação. Logo no primeiro artigo, o texto traz uma definição de discriminação, compreendida como “qualquer distinção, exclusão, limitação ou preferência” que seja utilizada para quaisquer

       

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MORANT, G.M. Les différences raciales et leur signification. La question raciale devant la science moderne, Paris, UNESCO, 1952, 51p.

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ROSE, Arnold M. L'origine des préjugés. In: La question raciale devant la science moderne, Paris, UNESCO, 1951. 44p.

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LITTLE, Kenneth L. Race et société. In: La question raciale devant la science moderne, Paris, UNESCO, 1 952. 61p.

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tipos de limitação, imposição ou privação. Em seguida há uma definição de ensino na qual são mencionados o acesso e a oferta dos diversos níveis de ensino.

De maneira geral, os artigos são dirigidos aos Estados-membros, atribuindo suas funções de assegurarem educação para todos e em todos os níveis. O texto estabelece distinções entre as medidas a serem adotadas de acordo com o contexto, como exemplo, políticas específicas como as dirigidas às mulheres ou a manutenção de estabelecimentos escolares que garantam a integridade de um grupo minoritário religioso ou linguístico. Dito de outro modo, a prática específica voltada para a oferta de um ensino diferenciado seja de gênero, religioso ou privado, não deve ser caracterizada como discriminação, posto que garanta o princípio de acesso equivalente. Assim, há uma ampliação da percepção do modo como a política deve ser executada, no sentido de discernir os atos que se restringem apenas a um tipo particular de ato discriminatório daquelas medidas concretas que visam promover a equidade.

O documento se referindo diretamente à versão da Declaração Universal dos Direitos Humanos é identificado como o mais importante da UNESCO no campo da educação. Não gera surpresa que a publicação de um documento dessa natureza em 1960, período de intensos conflitos e práticas discriminatórias de cunho racial em vários territórios, não seja ratificada por países como os Estados Unidos84. A justificativa dos EUA se pautava no argumento de que a Convenção limitava a liberdade de ensino, o que fere a soberania das nações expressa como princípio capital no ato fundador da UNESCO. É importante ressaltar que na década de 1960 o Movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos marcava o auge dos conflitos sociais de cunho racial na sociedade norte-americana.

A Convenção destaca que o papel dos educadores é essencial para assegurar a igualdade de oportunidades a todos os grupos humanos. O texto conceitua “ensino” como as diversas modalidades de oferta de ensino e o acesso aos mesmos. No texto, educação é considerada um direito universal que visa garantir a igualdade de direitos, além disso, em seu Artigo 1º, a discriminação é conceituada como uma prática de exclusão, distinção, limitação ou preferência

       

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que impede a “igualdade de tratamento” (Convenção relativa à luta contra a discriminação no campo do ensino, 1960, Artigo 1º). Essa definição é qualificada de “discriminação ativa” (DAUDET, Y. e EISEMANN, 2005, p. 9).

Yves Daudet e Pierre Michel Eisement (2005) em um boletim informativo comentando o contexto de elaboração do documento85 afirmam que o acordo em torno do mesmo produziu debates internos sobre as especificidades nacionais. Tais debates trazidos pelos países derivaram em posições divergentes quanto à forma e função do instrumento. Em 1958, o debate sobre a elaboração de uma medida normativa dessa natureza ocasionou uma ambiguidade acerca do tipo de documento, ou seja, havia dúvidas se haveria a preparação de um instrumento específico ou se as indicações seriam inseridas nos outros documentos já estabelecidos. Daudet e Eisement destacam que a Convenção é um dos pilares de “atividade normativa da UNESCO em matéria de educação” (DAUDET, e EISEMANN, 2005, p. 70). Os autores destacam os limites do documento e ao mesmo tempo sua contemporaneidade ao se dirigir especialmente às várias práticas de discriminação.

Fundamentalmente, impedir o acesso à educação e ao ensino com base em distinções qualificativas que possam em alguma medida impedir a “igualdade de oportunidades e tratamento” é o embasamento do texto, nesse sentido,

[...] a educação deve visar ao pleno desenvolvimento da personalidade humana e ao fortalecimento do respeito aos direitos humanos e das liberdades fundamentais e que deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações. Todos os grupos raciais ou religiosos, assim como o desenvolvimento das atividades nas

Nações Unidas para a manutenção da paz (UNESCO, Convenção

relativa à luta contra a discriminação no campo do ensino, 1960, Artigo 1º).

O termo raça aparece somente na descrição do primeiro artigo como elemento descritivo o qual não pode ser empregado para qualquer tipo de discriminação. A sequência dos artigos tem enfoque no desenvolvimento técnico e operacional, no âmbito dos Estados, das disposições da Convenção. Na

       

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DAUDET, Y. e EISEMANN, P. M. Commentaire Convention concernant la lutte contre la discrimination dans le domaine de l’enseignement. Paris, 2005 In : Droit à l’Éducation. UNESCO : Paris, 2005, p. 80.

 

continuidade, o texto descreve as obrigações dos Estados signatários na matéria que devem se atentar a medidas legislativas. De modo diretivo, a política de entendimento entre as nações define que a educação a ser oferecida a “todos os grupos raciais ou religiosos” deve ser conduzida para o “pleno desenvolvimento da personalidade humana e ao fortalecimento do respeito aos direitos humanos e das liberdades fundamentais e que deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações” (Convenção relativa à luta contra a discriminação no campo do ensino, 1960, Artigo 2º).

Assegura a possibilidade de que os grupos minoritários sejam “reconhecidos” em ensino próprio segundo a “política de cada Estado” de modo que esse ensino não comprometa a “soberania nacional” (Convenção relativa à luta contra a discriminação no campo do ensino, 1960, Artigo 3º). O Artigo 4º insta os Estados a “formular, desenvolver e aplicar uma política nacional visando à promoção, pelos métodos adequados às circunstancias e práticas nacionais, da igualdade de possibilidades e de tratamento no domínio do ensino” (Convenção relativa à luta contra a discriminação no campo do ensino, 1960, Artigo 4º). Os demais artigos se referem às disposições legais do documento perante as Nações Unidas.

O informativo intitulado Significação da Convenção relativa à luta contra a discriminação no campo do ensino escrito por Hector Gros Espiell em 2005, quando delegado permanente do Uruguai na UNESCO apresenta uma exegese do texto. Espiell realiza uma analítica sob a perspectiva do direito internacional dividida em seis pontos, dentre eles, igualdade de acesso à educação, obrigações dos Estados, a defesa dos princípios da UNESCO no que se refere à luta contra a discriminação e a função da Convenção no sistema jurídico internacional (ESPIELL, 2005). Espiell destaca o fato de a Convenção ser o primeiro instrumento internacional da UNESCO em direito internacional promovendo dois princípios básicos da organização: o direito à educação para todos86 e a não discriminação em matéria de ensino.

       

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A denominação Educação para todos se torna uma das plataformas políticas da UNESCO no campo da educação definida no Fórum mundial sobre educação em Dakar, 2000 cujo objetivo é instar os Estados-membros para construir políticas que ofereçam educação para todos os cidadãos. A Educação para Todos é reafirmada pela Declaração Mundial de Educação Para Todos que faz

 

Essa documentação específica se dirige à educação como um direito fundamental da pessoa sendo elemento central no desenvolvimento dos “direitos do homem”87 (UNESCO, 2008). Esses documentos junto a outros são constituídos no princípio da exigibilidade jurídica, o qual se refere à defesa e salvaguarda dos direitos. Nessa concepção os tratados adquirem valor de norma constitucional podendo substituir normas legislativas.

O emprego da expressão “ato de ensinar”, e não “educação” pode ser interpretada como um movimento que parte da execução objetiva no desenvolvimento da política interna e das medidas legislativas a serem adotadas pelos Estados. Esse movimento, em parte, atribui para a figura de quem ensina a tarefa de evitar discriminações no campo da educação88 visto que o ensino é uma etapa básica e fundamental da educação (DAUDET e EISEMANN, 2005, p. 71). Espiell ainda menciona a importância da Convenção no projeto de Educação para Todos (2002) e no contexto pós-Durban (2001).

A Recomendação relativa à condição docente publicada em 1966, na Conferência Intergovernamental Especial sobre a Condição Docente89 se insere nas medidas normativas para a educação dedicada aos docentes de todos os níveis de ensino. Trata da definição da prática docente, dos seus atributos e das funções do profissional. O texto inicia-se indicando a exigência dos Estados na oferta de educação, inclusive técnica e profissional procura estabelecer um “conjunto de normas e medidas comuns” relativas à condição de exercício da docência (Recomendação relativa à condição docente, 1966, Preâmbulo).

O texto aplica-se a todos os docentes definindo-os como todas as pessoas responsáveis pela educação dos alunos, em seguida o termo “condição” é definido como a atuação do profissional “a posição social” ocupada e “reconhecida” (Recomendação relativa à condição docente, 1966, Definições, p. 5). Os demais itens relacionam-se à constituição de uma política educacional que inclua aspectos

       referência à questão racial no item sobre equidade em referência a garantia do acesso aos grupos excluídos (Jomtien, 1990).

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UNESCO. Analyse comparative : la Convention concernant la lutte contre la discrimination dans le domaine de l’enseignement (1960) et des articles 13 et 14 du Pacte international relatif aux droits économiques, sociaux et culturels. Droit à l’Éducation. UNESCO: Paris, 2008, 69p.

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A distinção se refere ao fato de ensino se referir aos várias modalidades de ensino e educação ao processo de formação mais ampla e permanente.

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Conferência Intergovernamental Especial sobre a Condição Docente realizada em Paris em 1966.

 

específicos da formação docente, dotação orçamentária, programas de aperfeiçoamento, bem como direitos e deveres do profissional. A definição de educação está prevista nos “princípios gerais” e trata do “desenvolvimento” da criança por meio da personalidade, o respeito aos direitos humanos e liberdades fundamentais (Recomendação relativa à condição docente, 1966, Princípios gerais, p. 6).

A publicação elaborada por Cyril Bibby dedicada ao modo como os educadores devem agir diante do racismo, publicada em 1965 constitui-se de um material cujo objetivo é o trato com os conflitos raciais de acordo com as necessidades locais e as disciplinas ministradas nas escolas90. O texto apresenta aspectos conceituais sobre a formação de grupos racialmente diferentes, a construção da discriminação racial na história e o papel da escola e dos educadores na luta contra o racismo. Em 14 capítulos, o livro estabelece um percurso desde a utilização da palavra raça, passando pelo debate biológico, as teorias sobre desigualdades raciais, a função da escola no combate ao racismo e de organizações da sociedade civil. De modo específico, o texto é voltado ao debate biológico da questão desde as argumentações aos exemplos utilizados, bem como, na divisão dos capítulos.

O texto traz desenhos, diagramas e fotografias que aparecem ilustrando as alegações desenvolvidas. Um dos temas que atravessa o livro é a centralidade da linguagem, de tal maneira que o primeiro capítulo é destinado ao modo de empregar a palavra raça (BIBBY, 1965, p. 9).

       

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Figura 6 - Fotografia anexada ao capítulo “Le concept de d’inégalité raciale” que indica que as crianças devem ser ensinadas a julgar os indivíduos como tais e não como representantes do grupo que são identificados. (BIBBY, 1965, p. 76). © UNESCO/1965.

Destaca-se no livro um capítulo destinado à linguagem no sentido de debater o caráter “emotivo” das palavras. O emprego de determinado termo que remeta a uma percepção racial possui uma carga não apenas descritiva, mas veicula sentimentos “hostis” a quem é dirigido (BIBBY, 1965).

 

Figura 7 - Fotografia anexada ao capítulo “Le concept de d’inégalité raciale” mostra a distinção de acesso aos serviços públicos para negros e brancos na África do Sul. (BIBBY, 1965, p. 86). © UNESCO/1965.

 

Bibby indica que o professor deve direcionar os estudantes à utilização adequada da linguagem e à contextualização histórica de determinados temas. Com essa postura, os estudantes poderão utilizar os termos destituídos de sua semântica estereotipada, o que faz referência à concepção de que é possível, racionalmente, promover que os estudantes possam se apartar de práticas racistas na linguagem que utilizam. Com isso, os estudantes poderão formar “espíritos em uma atitude de fraternidade humana” (BIBBY, 1965, p. 83).

Figura 8 Fotografias anexadas ao capítulo “Les racines enchevêtrées des prejugés” que apresenta, na primeira foto, Martin Luther King e Ralph Bunche, subsecretário das Nações Unidas, ambos em marcha pelos Direitos Civis no Alabama em 1965. A segunda fotografia retrata trabalhadores em usina na África do Sul (BIBBY, 1965, p. 96). © UNESCO/1965.

 

Posteriormente, a UNESCO convocou um comitê para avaliar os manuais escolares e indicar aos professores uma vigilância à linguagem empregada para fazer menção aos grupos étnicos, religiosos ou outros antigamente colonizados91 (MAUREL, 2013).

Em 1965, é publicada a Convenção Internacional para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial da ONU considerado o primeiro instrumento normativo das Nações Unidas que se refere à eliminação da discriminação racial como eixo de proteção aos direitos humanos. A Convenção possibilitou a criação de outros instrumentos especiais de proteção aos direitos humanos entre eles a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (1979), a Convenção sobre os Direitos da Criança (1989) e a Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos dos Trabalhadores Migrantes e seus Familiares (1990).

O texto da Convenção declara “[...] as Nações Unidas condenaram o colonialismo e todas as práticas de segregação e discriminação que o acompanham, em qualquer forma e onde quer que existam” (Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, 1965, Artigo 2º). Esta convenção é resultado direto da inserção dos países africanos na ONU e do registro de um aumento de casos de racismo na Europa. A convenção se torna documento de referência nas Nações Unidas sobre o racismo, consolidando o tema como elemento prioritário na agenda política da CDH.

O título do documento apresenta uma percepção da pluralidade das formas de discriminação ao descrever “todas as formas de discriminação racial”. O documento define discriminação racial como:

“[...] toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em motivos de raça, cor, classe ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto ou como resultado anular ou cercear o reconhecimento, gozo ou exercício, em condições de igualdade, dos direitos humanos e das liberdades fundamentais na esfera política, econômica, social, cultural ou em qualquer outra esfera da vida pública” (Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, 1965, Artigo 1º).        

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Entre as palavras recomendadas para serem banidas dos materiais escolares estão “tribo”, “nativo”, “selvagem”, “incivilizado”, “negro”, “de cor”, “raça” (MAUREL, 2013).

 

Há, portanto, na pluralização da discriminação racial a inclusão de outras formas de distinção que podem vir a se constituir em discriminação, como as condições de classe, gênero, pertencimento nacional ou étnico. A definição operacionaliza, ainda, como as noções de reconhecimento, direitos humanos e igualdade atuam na definição do que deve ser considerada discriminação.

A Convenção toma importância como documento de referência ao racismo e as formas de discriminação correlatas. Ao ser publicado no contexto de um intenso debate sobre as relações raciais na experiência norte-americana é identificado como uma resposta a estes conflitos. Segundo Rodrígues (2001) o texto consagra um princípio fundamental dos direitos humanos o “desenvolvimento progressivo e do princípio pró-homem (pró-pessoa humana)” (RODRÍGUES, 2001). Além de uma descrição sistematizada do sentido atribuído a discriminação, o texto traz aspectos importantes dos modos pelos quais se identificava a ascensão de problemáticas identificadas como raciais. Um artigo estabelece os deveres dos Estados e menciona o princípio da ação positiva ou ação afirmativa, o que fundamenta o argumento de tratamento desigual aos que são tratados de forma desigual.

Os Estados Signatários, conforme indicarem as circunstâncias, tomarão medidas especiais e concretas, na esfera social, econômica, cultural e em outras esferas, para assegurar o desenvolvimento adequado e a proteção de certos grupos raciais ou de pessoas pertencentes a esses grupos, com a finalidade de garantir, em condições de igualdade, a plena fruição por essas pessoas de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais. Em nenhum caso, essas medidas poderão ter como conseqüência a manutenção de direitos desiguais ou separados para os diversos grupos raciais depois de alcançados os objetivos para os quais elas foram tomadas (Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial, 1965, Artigo 1º).

Outro artigo faz referência à propaganda que estimula e encoraja a discriminação e a hostilidade entre grupos racialmente diferentes. Afirma que a inclusão deste item se refere ao temor do crescimento de ideias de superioridade racial e de violência racial (RODRÍGUES, 2001).

Os Estados Partes condenam toda propaganda e todas as organizações que se inspiram em idéias ou teorias cujo

 

fundamento seja a superioridade de uma raça ou de um grupo de pessoas de uma certa cor ou de uma certa origem étnica, ou que pretendam justificar ou encorajar qualquer forma de ódio e de discriminação raciais, comprometendo-se a adotar imediatamente medidas positivas destinadas a eliminar qualquer incitação a tal discriminação e, para esse fim (Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial, 1965, Artigo 4º).

O terceiro artigo condena a prática de apartheid e de qualquer segregação racial. O quarto artigo destaca:

Os Estados Partes, comprometem-se a tomar as medidas imediatas e eficazes, principalmente no campo do ensino, educação, da cultura, e da informação, para lutas contra os preconceitos que levem à discriminação racial e para promover, o entendimento, a tolerância e a amizade entre nações e grupos raciais e étnicos assim como para propagar ao objetivo e princípios da Carta das Nações Unidas, da Declaração Universal dos Direitos do Homem, da Declaração das nações Unidas sobre a eliminação de todas as formas de discriminação racial e da presente Convenção (Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial, 1965, Artigo 4º).

Por ser um instrumento jurídico de proteção aos direitos humanos, institui a constituição de um Comitê das Nações Unidas para a Eliminação da Discriminação Racial (CERD), o primeiro designado para este fim (Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial, 1965, Artigo 8º). O CERD é um órgão de monitoramento e fiscalização dos efeitos e diretrizes indicadas pela Convenção, integrado por 18 especialistas sobre o tema. As funções do CERD e o caráter de suas atribuições nos Estados-partes e no interior das Nações Unidas92 consistem em solicitar a elaboração de relatórios aos Estados signatários, formular recomendações e receber denúncias de pessoas ou grupos, tendo por função avaliá-las. Dentre os grupos considerados mais vulneráveis a ser alvo de discriminação e ao qual o CERD deve dirigir atenção destacam-se as mulheres, determinados grupos étnicos, pessoas refugiadas e

       

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O Comitê para a Eliminação da Discriminação racial orientou a instituição de três Décadas de Combate ao Racismo e a Discriminação Racial (1973-1983; 1983-1993 e 1994-2004), além de quatro Conferências Mundiais contra o Racismo e a Discriminação Racial, sob os auspícios das Nações Unidas em 1978, 1983, 2001 e em 2009 a Conferência de revisão de Durban. Houve ainda a criação do Ano Internacional da Luta contra o Racismo e a Discriminação racial em 1971 e o Ano de mobilização contra o racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Todas as Formas de Intolerância em 2001.

 

deslocadas, povos indígenas, ciganos, entre outros. O CERD estabelece igualmente a reparação econômica como um dos componentes de proteção jurídica às pessoas que sofrem discriminação.

O Comitê notifica aos Estados-Signatários que, na sua opinião, o direito de obter uma compensação ou satisfação justa e adequada por qualquer dano sofrido como resultado desses atos de discriminação, conforme estabelecido no artigo 6 da Convenção, não é garantido, necessariamente, pela mera punição do autor; ao mesmo tempo, os tribunais e outras autoridades competentes deveriam considerar, sempre que seja conveniente, a possibilidade de conceder compensação econômica pelos danos, materiais ou morais, sofridos pela vítima (Comitê para a Eliminação da Discriminação Racial, ONU, 1966).

Os termos raça, sexo e etnia, são considerados diferenças pelas quais se