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5 ANÁLISE E DISCUSSÃO

5.1 ENTRE A POLÍTICA E OS CURSOS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES

5.1.2 Sugestões sobre a formação de professores de Educação Especial

5.1.2.1 Diretrizes para cursos de pós-graduação lato sensu em Educação Especial

No transcorrer desta pesquisa os dados coletados indicaram que a estrutura organizacional e conceitual da Educação Especial foi alterada por força de Leis, Decretos e Resoluções; que os cursos de Pedagogia foram alterados por força de Diretrizes Oficiais e que as disciplinas que atualmente os compõe e que são relacionadas com a Educação Especial, foram incorporadas com base em determinações legais; que as pós-graduações lato sensu em Educação Especial assumiram um lugar de destaque na formação de docentes para o desenvolvimento de atividades com o PAEE, a partir de exigências da própria LDB (BRASIL, 1996) e das transformações no curso de Pedagogia.

Evidenciou-se também que os cursos de pós-graduação lato sensu Educação Especial ofertados no Paraná são um âmbito de formação em que quase tudo é permitido: das disciplinas que os compõem aos tempos de duração que os estruturam ou aos profissionais que neles atuam, identificou-se tanto situações extremamente diversas e contraditórias, quanto ausência de elementos fundamentais (estágios, tempo para a prática) para a formação do profissional em questão.

Assim, inferiu-se que da mesma forma que, por força de leis, foi transformado todo o modus operandi da Educação Especial e da formação de professores para esta modalidade de ensino, as pós-graduações lato sensu Educação Especial podem ser alteradas por meio de diretrizes e normas oficiais que definam parâmetros mínimos para estes cursos. Ora,

[...] se os textos [documentos oficiais-leis] são, ao mesmo tempo, produto e produtores de orientações políticas no campo da educação, sua difusão e promulgação geram também situações de mudanças ou inovações, experienciadas no contexto das práticas educativas. (SHIROMA; CAMPOS; GARCIA, 2005, p. 433).

Neste contexto, a legislação69 paulista em relação às pós-graduações lato sensu Educação Especial apresentou-se como um indicativo de caminho para se pensar em um norteamento para os cursos ofertados no Paraná e, a partir dela, tendo como base os dados coletados na presente pesquisa, elaborou-se uma sugestão70 de texto oficial com diretrizes para oferta e avaliação de cursos de pós-graduações lato sensu, que visem a formação de docentes para o desenvolvimento de atividades educacionais com o PAEE, no sistema de Ensino do Estado do Paraná. Esta sugestão é expressa a seguir:

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DELIBERAÇÃO CEE N° __/___

Institui Diretrizes Curriculares Estaduais para oferta, avaliação e fiscalização de cursos de pós-graduações lato sensu, que visem a formação de docentes para o desenvolvimento de atividades educacionais com o PAEE, no sistema de Ensino do Estado do Paraná.

Art. 1º - A presente deliberação institui diretrizes para oferta e avaliação de cursos de pós- graduações lato sensu, que visem a formação de docentes para o desenvolvimento de atividades educacionais com o PAEE, no sistema de Ensino do Estado do Paraná.

69 Trata-se da Deliberação nº112/2012 (SÃO PAULO, 2012) do Conselho Estadual de Educação do Estado de São Paulo.

70 Acompanhado de uma síntese dos dados coletados nesta pesquisa, a sugestão em questão será encaminhada ao Departamento de Educação Especial da Secretaria de Educação do Estado do Paraná e ao Conselho Estadual de Educação– CEE/PR.

Art. 2º - No Sistema de Ensino do Estado do Paraná, os Cursos de pós-graduação lato sensu destinados à Formação de Professores de Educação Especial, oferecidos por Universidades, Centros Universitários e Institutos isolados de Ensino Superior, dos Sistemas Estadual e Federal de Ensino, ofertados por Instituições públicas ou privadas, deverão ser aprovados pelo Conselho Estadual de Educação, na forma estabelecida na presente Deliberação.

Parágrafo único – Concursos públicos realizados no Estado do Paraná com objetivo de selecionar profissionais para atuação com o PAEE, deverão exigir que os candidatos às vagas a eles relacionadas, apresentem pós-graduações lato sensu que atendam as diretrizes expressas na presente deliberação.

§ 1º Candidatos que concluíram cursos de pós-graduação lato sensu em Educação Especial em momento anterior ao da publicação da presente deliberação terão seus diplomas validados no ato dos concursos públicos desde que comprovem que atuaram como professores com segmento de alunos PAEE a que a vaga do concurso está relacionada.

Art. 3º - A Instituição interessada poderá organizar e ministrar Cursos de pós-graduação lato sensu destinados à formação de Professores de Educação Especial, requerendo aprovação do Conselho Estadual de Educação, observados os seguintes critérios:

I – apresentação do projeto pedagógico do curso, que deverá contemplar: a) objetivos, modalidade e justificativa do curso;

b) indicação da possibilidade de uso de estrutura material necessária para apresentação dos conhecimentos técnicos relacionados com o segmento de alunos PAEE abordado pelo curso. Por exemplo, se uma instituição oferta curso de pós-graduação lato sensu em Educação Especial com ênfase em Deficiência Visual deverá comprovar a posse ou apresentar termo de compromisso de empréstimo ou aquisição de materiais como regletes, punções, máquina Perkins, sorobã e bengalas.

c) organização curricular do curso, de acordo com o perfil de competências demandado pela PNEEPEI, com os conhecimentos necessários para atuação com o segmento PAEE abordado no curso e composta por 100% de disciplinas direcionadas à Educação Especial.

c) estrutura curricular com indicação da carga horária de cada disciplina e respectivas ementas e com bibliografia geral e complementar com títulos que contemplem o segmento abrangido pelo curso;

d) indicação dos espaços em que os estágios relacionados com o curso podem ser desenvolvidos, com ênfase para as Salas de Recursos Multifuncionais.

e) exigências para matrícula, critérios de distribuição de vagas e planejamento de distribuição de carga horária;

f) normas para avaliação dos alunos e exigências para obtenção do certificado de conclusão.

II – Indicação dos docentes que ministrarão os componentes curriculares, com a titulação mínima de mestre obtida em curso credenciado, e as respectivas qualificações profissionais.

III – Indicação do docente responsável pelo acompanhamento e orientação dos estágios e comprovação de sua experiência prática junto ao segmento abordado pelo curso;

IV – Indicação do coordenador responsável pelo curso e sua qualificação, com titulação mínima de Mestre.

§ 1º - A formação acadêmica ou a qualificação profissional dos docentes, assim como do coordenador do curso, deverá guardar aderência com a(s) disciplina(s) a ser ministrada, comprovada no currículo Lattes desses profissionais.

§ 2º - Desde que não ultrapassem a metade do total, poderão ser aceitos docentes especialistas, com formação universitária pertinente e experiência profissional relevante na área da disciplina.

§ 3º - A divulgação, a inscrição e a matrícula só poderão ocorrer após a publicação do ato autorizatório.

Art. 4º - Os Cursos de Especialização em Educação Especial deverão ser cursos focais e apresentar carga horária mínima de 600 horas.

Parágrafo único – entende-se como curso focal aquele que enfatiza a formação de professores para o ensino de um único segmento de alunos PAEE.

§ 1º - as atividades acadêmicas deverão abranger apenas uma das áreas de atuação dos profissionais da Educação Especial, sendo a carga horária distribuída como segue:

I – tronco comum de formação básica de 200 horas, compreendendo os fundamentos filosóficos, pedagógicos, legais e científicos da Inclusão Escolar e da Educação Especial e apresentando a vigente estrutura organizacional e conceitual desta modalidade de ensino;

II – parte diversificada de, no mínimo, 300 horas, dedicadas ao conhecimento e prática dos processos técnico-metodológicos relacionados com um dos segmentos integrantes do PAEE.

III - 100 horas de estágio supervisionado com produção de relato de estágio teórico-analítico- reflexivo.

§ 2º - No caso de realização de segunda especialização abordando um segmento de alunos PAEE que não o abordado na primeira especialização, o discente fica dispensado de cursar os conteúdos do tronco comum.

§ 3º - O estágio supervisionado será obrigatoriamente realizado em uma sala de recursos multifuncionais ou em um centro de atendimento educacional especializado que tenha em seu conjunto de discentes alunos do segmento PAEE abrangida pelo curso de pós-graduação lato sensu.

§ 4º Caso o pós-graduando seja graduado em licenciatura que não o habilite para atuação com determinada etapa da Educação Básica, como, por exemplo, para atuação com Educação Infantil ou Anos Iniciais do Ensino Fundamental, deverá vivenciar parte do seu estágio com esta etapa.

§ 5º O conjunto de disciplinas deverá, em suas ementas e composição, apontar como o futuro professor de AEE será preparado para as seguintes atribuições:

a – identificar, elaborar, produzir e organizar serviços, recursos pedagógicos, de acessibilidade e estratégias considerando as necessidades específicas dos alunos público-alvo da Educação Especial;

b – elaborar e executar plano de Atendimento Educacional Especializado, avaliando a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagógicos e de acessibilidade;

c – organizar o tipo e o número de atendimentos aos alunos na sala de recursos multifuncionais; d – acompanhar a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagógicos e de acessibilidade na sala de aula comum do ensino regular, bem como em outros ambientes da escola;

e – estabelecer parcerias com as áreas intersetoriais na elaboração de estratégias e na disponibilização de recursos de acessibilidade;

f – orientar professores e famílias sobre os recursos pedagógicos e de acessibilidade utilizados pelo aluno;

g – ensinar e usar a tecnologia assistiva de forma a ampliar habilidades funcionais dos alunos, promovendo autonomia e participação;

h – estabelecer articulação com os professores da sala de aula comum, visando a disponibilização dos serviços, dos recursos pedagógicos e de acessibilidade e das estratégias que promovem a participação dos alunos nas atividades escolares.

Art. 5º - Farão jus ao certificado de conclusão correspondente, os discentes que tenham, comprovadamente, freqüentado pelo menos 75% da carga horária prevista para cada componente do curso e atingido o mínimo de aproveitamento global estabelecido no projeto do curso e nas normas da Instituição.

Art. 6º - Os certificados, expedidos e registrados em livro próprio da Instituição, deverão conter no verso, o respectivo histórico escolar, do qual constarão obrigatoriamente:

I – estrutura curricular do curso, com carga horária, nota de aproveitamento e nome do docente e a sua titulação máxima, para cada um dos componentes curriculares;

II – conceito ou média final global de aproveitamento e percentual global de frequência; III – período em que foi ministrado o curso e sua carga horária total;

IV – ato do Conselho Estadual de Educação que aprovou a realização do curso.

Art. 7º - Os cursos em questão ficam sujeitos à supervisão e à avaliação periódica. Parágrafo único – Pare efeito do disposto no caput, as Instituições deverão elaborar Relatório Final, conclusivo e circunstanciado da cada curso oferecido, mesmo daquelas em que o oferecimento é de caráter regular.

Art. 8º - Mantidas as mesmas condições, inclusive relativas ao corpo docente envolvido, as Instituições poderão oferecer novas turmas do curso aprovado, comunicando o fato ao Conselho Estadual de Educação, por meio de ofício, em que conste:

a) declaração de que não houve alteração no projeto aprovado; b) calendário do curso para a nova turma.

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Destaca-se que as Diretrizes Curriculares sugeridas não constituem um modelo de formação perfeito, mas que podem melhor adaptar as possibilidades dos cursos de pós- graduação lato sensu em Educação Especial do Estado do Paraná de formarem docentes com o perfil demandado pela atual PNEEPEI. Bem como, podem evitar ou minimizar a ocorrência de cursos como os evidenciados – cursos que objetivam formar um especialista em Educação Especial e desenvolvem matrizes curriculares compostas por mais de 50% de disciplinas que versam sobre outros assuntos.

No entanto, considerando que muitos profissionais, especialmente aqueles que atuam com o PAEE na sala de aula de ensino regular, podem não cursar pós-graduação lato sensu em Educação Especial, há que se pensar em como as licenciaturas prepararão os profissionais para efetivação da Inclusão Escolar dos discentes em questão. Especialmente, considerando os dados desta pesquisa, é preciso avaliar como o curso de Pedagogia preparará os futuros professores para efetivarem práticas educativas com o PAEE. Este é o assunto que será abordado no próximo tópico.