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4 RESULTADOS

4.1 A EDUCAÇÃO ESPECIAL BRASILEIRA (2008-2013) E O DOCENTE

4.1.4 Modus Operandi

4.1.4.2 Funcionamento da Educação Especial

Como observa-se a partir da figura 02, construída com base na análise dos Decretos que promoveram a reestruturação no MEC (BRASIL, 2012d), atualmente as políticas de Educação Especial são disseminadas a partir de uma das diretorias da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI) e esta diretoria é denominada Diretoria de Políticas Públicas de Educação Especial (DPEE).

MEC – Ministério de Educação e Cultura; CJ – Conselho Jurídico; GM – Gabinete do Ministro; CNE – Conselho Nacional da Educação; SE – Secretaria Executiva; SAA – Subsecretaria de Assuntos Administrativos; SPO – Subsecretaria de Planejamento e Orçamento; RE – Representação do MEC nos Estados; SEB – Secretaria de Educação Básica; SEE – Secretaria de Educação Superior; SEPT – Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica; SECADI – Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão; SASE – Secretaria de Articulação com os Sistemas de Ensino; Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior; DP – diretoria política de; ECIDRER – Educação do Campo, Indígena e para as Relações Étnico-Raciais; AEJA - Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos; EDHC - Educação em Direitos Humanos e Cidadania; EJ - Educação para a Juventude; EE – Educação Especial; CG – Coordenação Geral da; PPEE – Política Pedagógica da Educação Especial; PAE – Política de Acessibilidade na Escola; APISE – Articulação da Política de Inclusão nos Sistemas de Ensino.

Figura 2 – Estrutura da administração federal da Educação Especial MEC SAA GM CJ SE SPO RE CNE SES

SEB SEPT SECADI SEAS SERSES

AEJA IBC INES PAE ECIPRER EDHC CGde CGde DP DP EJ EE APISE PPEE

Administração direta do Sistema de Ensino Administração direta do Sistema de Ensino

Fonte: Adaptação de estrutura indicada na homepage do MEC28.

Ressalta-se que, anteriormente a estes decretos, a Educação Especial tinha uma secretaria própria denominada SEESP e que, aparentemente, este remanejamento da gestão da Educação Especial para “dentro” de uma Secretaria que agrega também diretorias voltadas para Educação do Campo, Indígena e para as Relações Étnico-Raciais; Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos; e, Educação em Direitos Humanos e Cidadania se articula com a lógica de tornar a Educação Especial um dentre outros serviços de atenção à diversidade, destituindo-a do caráter de modalidade de ensino historicamente constituída.

Assim, a Educação Especial é representada como modalidade transversal de ensino que “perpassa” todos os níveis (educação básica e educação superior) e modalidades de ensino (educação profissional e tecnológica, educação de jovens e adultos, educação básica do campo, educação escolar quilombola) ofertando recursos e serviços denominados como AEE. Estes serviços são ofertados para um público-alvo composto por pessoas com deficiência, com TGD e/ou com altas habilidades/superdotação, com a função essencial de complementar e/ou suplementar a formação destes estudantes, conforme representado na figura 03.

Figura 3 – Estrutura organizacional da Educação Especial atual NA AEE PcD PcAH/S PcTGD PA PA Complementar Suplementar F F DV DA DI DF DM T1 T2 onde onde prioritariamente prioritariamente 4-17 anos 4-17 anos prática educativa prática educativa EC PPP PE CAEE

financiamento da matrícula no AEE é condicionado à matrícula no financiamento da matrícula no AEE é condicionado à matrícula no

Sistema Educacional Inclusivo Sistema Educacional Inclusivo

RPA ER CC EB ES EE SRM EF EF EI EI EM EM G G PG PG EJA EPT EAD EBC EEQ LR LR + + ou ou TA TA confessional confessional filantrópica filantrópica comunitária comunitária P colaboraçãocolaboração quando quando no contraturno escolar no contraturno escolar PAEE abordagem bilíngue abordagem bilíngue NAH/S Inclusão Plena princípios estruturantes princípios estruturantes SA contraposições contraposições modelo clínico de EE Legenda

: Elemento da Estrutura Organizacional da EE. : Nível da Educação Básica

: Modalidade de ensino

Elemento da estrutura da rede regular de Ensino EE serviços denominadosserviços denominados

Fonte: Elaboração do autor (2015).

Fonte: elaboração do autor (2015).

Conforme a Nota Técnica nº 13 (BRASIL, 2008d), a oferta do AEE, em SRM, deve ser institucionalizada no Projeto Pedagógico da Escola, que indicará os recursos previstos, os profissionais que atuam, os alunos atendidos, a colaboração com os professores ensino regular, a interface com a família, as relações de apoio e a articulação com as demais políticas setoriais.

Neste meandro, a Educação Especial consolidou-se como modalidade transversal de ensino que "perpassa" todos os níveis e modalidades de ensino ofertando recursos e serviços denominados como AEE (BRASIL, 2008a). E, o Decreto 7.611 de 2011 (BRASIL, 2011a) definiu como objetivos do AEE a promoção de condições de acesso, participação e aprendizagem no ensino regular; a garantia serviços de apoio especializados de acordo com as necessidades individuais dos estudantes; o fomento de recursos didáticos e pedagógicos que

SIGLAS DA FIGURA: AEE – Atendimento Educacional Especializado; PA – Público Alvo; PcD – Pessoas com Deficiência; PcTGD – Pessoas com Transtornos Globais do Desenvolvimento; PcAH/S – Pessoas com Altas Habilidades/Superdotação; F – Função; ES – Ensino Superior; EB – Educação Básica; NA – Núcleos de Acessibilidade; G- Graduação; PG – Pós-graduação; EI – Educação Infantil; EF – Ensino Fundamental; EM- Ensino Médio; T1 – SRM tipo 1; T2 – SRM tipo 2; CAEE – Centro de AEE; PAEE - Plano de AEE; EC – Estudo de Caso; RPA – Recursos Pedagógicos Acessíveis; PPP – Projeto Político Pedagógico; SA – Serviço de Apoio; P – Professor; PE – Professor Especialista; EaD – Educação à distância; EJA – Educação de Jovens e Adultos; EBC – Educação Básica do Campo; EPT – Educação Profissional e Tecnológica.

eliminem as barreiras no processo de ensino e aprendizagem; e a criação de condições para a continuidade de estudos nos demais níveis e etapas de ensino.

Com estes objetivos, o modus operandi a ser adotado para o desenvolvimento do AEE é caracterizado/orientado pelo Ministério de Educação, nos dez volumes da coleção "A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar". Nestes volumes, predominantemente em um tom prescritivo, com superficialidade de conteúdos teóricos e apresentação no estilo “cartilha”, a estruturação dos serviços de Educação Especial é descrita como um processo que deveria ser principiado por estudos de caso e seguiria com a aplicação de planos de AEE.

Assim, no primeiro volume da coleção em questão, Ropoli et al. (2010) apresentam roteiros para o desenvolvimento dos estudos de casos e para o desenvolvimento de planos (individualizados) de AEE. Em outros volumes, como os produzidos por Gomes, Poulin e Figueiredo (2010), Domingues et al. (2010) e Alvez, Ferreira e Damázio (2010), seguindo os roteiros apresentados por Ropoli et al. (2010), apresentam exemplos de estudos de caso e de planos de AEE. Os demais volumes enfocam aspectos clínicos do público-alvo da Educação Especial e recursos pedagógicos acessíveis.

Por exemplo, em Belisário Filho e Cunha (2010) constam repetitivas descrições de elementos associados com o diagnóstico de Transtornos Globais de Desenvolvimento, bem como constam críticas a metodologias do campo terapêutico relacionadas com sugestões de práticas oriundas deste mesmo campo. No entanto, em Belisário Filho e Cunha (2010) praticamente não constam orientações e análises sobre o fazer pedagógico junto ao segmento em questão.

Em Giacomini, Sartoretto e Bersch (2010), constam orientações para a correção da retroversão pélvica e da cifose toráxica, debates sobre reflexos humanos (reflexo tônico cervical assimétrico, simétrico e labiríntico); exemplos de recursos de adequação de mobilidade e noções de acessibilidade. E, em Delpretto, Giffoni e Zardo (2010) constam debates sobre a teoria piagetiana, repetitivas exposições retratando o funcionamento neurológico do ser humano e paralelos entre estruturas cerebrais normais e atípicas.

Em Domingues et al. (2010) e em Alvez, Ferreira e Damásio (2010), em um enfoque educativo raramente observado nos outros volumes da coleção em questão, apresenta-se, respectivamente, discussões que caracterizam a formação de conceitos, a construção de conhecimentos, a aprendizagem e alfabetização de alunos com cegueira e a proposta da abordagem bilíngue para educação de pessoas com surdez.

Tem-se então que, nos volumes da coleção "A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar", observa-se predominantemente a discussão sobre aspectos biológicos e

clínicos dos segmentos que compõe o público-alvo da Educação Especial; sobre avaliação da educação das pessoas com deficiência; ou sobre o conhecimento técnico associado a recursos pedagógicos acessíveis. Com estes enfoques, incita-se a perpetuação de velhos traços da Educação Especial, como o descrito por Bueno (2012): a realização de práticas pautadas em modelos pré-definidos, originários da Biologia e da Psicologia.