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Diretrizes para a elaboração de Planos Nacionais de Ação para a Educação em

5.2 NORMATIVAS DE EDH: DA TEORIA À AÇÃO

5.2.6 Diretrizes para a elaboração de Planos Nacionais de Ação para a Educação em

O Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos pode ser definido como a Política Pública normativo-legal por meio da qual se vai concretizar ou efetivar os direitos humanos nas diversas dimensões da vida humana, nos diversos contextos sociais. Assim sendo, a elaboração do Plano é iniciativa estatal/governamental.

Foi com o desígnio de assistir aos Estados/governos no processo de concretização dos direitos humanos, por meio de ações educacionais coordenadas e eficazes – Planos de Ação – que a Assembléia-Geral da ONU publicou as Diretrizes para a Elaboração de Planos Nacionais de Ação para a Educação na Esfera dos Direitos Humanos, por meio da Resolução A/52/469/Add.1, de 20 de novembro de 1997 (doravante Resolução).

As diretrizes para a elaboração de planos nacionais de ação para a EDH surgem no âmbito da atribuição da ONU de promoção e defesa dos direitos humanos, enquadradas em sua missão maior de manutenção da segurança e paz mundiais.

Elas visam subsidiar os esforços dos estados, por meio de sugestões concretas à formulação e prática de um plano de ação nacional amplo (no que diz respeito à vulgarização), eficaz (no que diz respeito às estratégias) e sustentável (em longo prazo).

109 Desde 2006 se iniciou o processo de elaboração de uma Declaração das Nações Unidas sobre Formação e

Educação em Direitos Humanos, aprovado pela Resolução (10/06). O Conselho de Direitos Humanos ficou com a incumbência de coordenar os trabalhos e, atualmente, esta disponível um draft da declaração, para contribuições de pessoas ou instituições governamentais não governamentais interessadas, ou seja, recolha de opiniões e contributos sobre possíveis elementos de seu conteúdo direcionado aos Estados membros da ONU, organizações internacionais e regionais, ao Escritório das Nações Unidas, ao ACNUDH, instituições nacionais de direitos humanos bem como organizações da sociedade civil, incluindo organizações não governamentais.

Draft integral em:

<http://www2.ohchr.org/english/bodies/hrcouncil/advisorycommittee/HR_education_training.htm>. Acesso em: 21 jun.2010.

As diretrizes resultaram de esforços e debates levados a cabo pela ONU, sob a égide do Escritório das Nações Unidas para os Direitos Humanos, e contou particularmente com a participação de peritos, pesquisadores e outras individualidades, que lidam especificamente na área de educação em direitos humanos; e da Organização das Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e o Conselho da Europa (AG/ONU, 1997, p. 4).

Em linhas gerais, a Resolução define que tais diretrizes têm por objetivos: i) a promoção e entendimento comum dos propósitos e conteúdos da EDH; ii) dar relevo às normas mínimas de EDH; iii) determinar os processos e as medidas necessárias a elaboração, planificação, avaliação e formulação de planos nacionais de EDH; iv) assinalar que deve ser dada particular atenção aos recursos humanos, financeiros e técnicos, necessários para a adoção de um enfoque nacional voltado ao ensino dos direitos humanos; v) proporcionar mecanismos para fixar metas razoáveis de ensino dos direitos humanos e avaliar sua persecução; vi) encorajar a interação eficaz entre as instituições e as organizações nacionais e internacionais que trabalham em prol dos direitos humanos, e promover o cumprimento, a nível nacional, das normas internacionais em matéria de direitos humanos (AG/ONU, 1997, p. 7. Original em inglês, tradução livre).

Contudo, para a realização de tais objetivos, é necessária a adoção de algumas medidas básicas, descritas em seis pontos pela Resolução.

1.º) Criação de um comitê: trata-se de um órgão misto integrado por organismos governamentais e não governamentais, com experiência em direitos humanos e ensino dos direitos humanos ou com capacidade de formular os programas correspondentes à temática (AG/ONU, 1997, p. 9. Original em inglês, tradução livre).110

2.º) Realização de um estudo de referência: que deve ser legítimo, credível e objetivo, no sentido de proceder a uma avaliação realista das necessidades mais urgentes no plano local e nacional, incluindo-se, para o efeito, os propósitos, os conteúdos e os métodos específicos.

110 Entre outros, devem fazer parte do comitê: Representantes de órgãos nacionais e locais como: autoridades

governamentais, instituições nacionais independentes que advogam por direitos humanos (comissão de direitos humanos, ombudsmen), representantes das autoridades governamentais, centros nacionais de especialização e capacitação em matéria de direitos humanos, grupos e organizações nacionais locais que trabalham na esfera dos direitos humanos, por exemplo, os comitês nacionais do UNICEF, bem como outras organizações populares, entre elas os grupos que advogam em favor das mulheres e da justiça social, os representante principais da sociedade civil, entre estes, representantes de sindicatos e associações profissionais, representantes do poder judicial, dirigentes comunitários, a comunidade empresarial, associações e sindicatos de docentes, grupos minoritários, organizações juvenis, educadores e professores universitários; e representantes dos meios de difusão (AG/ONU, 1997, p. 9. Original em inglês, tradução livre)

Esta avaliação deverá ser levada a cabo pelo comitê por meio de um estudo sistemático encomendado, tendo em vista um diagnóstico da situação dos direitos humanos. Para todas as atividades subsequentes, é necessário compreender que os entes envolvidos na planificação devem entender claramente o que constitui educação em direitos humanos.

Este estudo deve abarcar o conhecimento sobre direitos humanos, da população em geral, assim como os possíveis grupos beneficiários e a previsão de quais os obstáculos à execução do plano e o modo de superá-los.

Em termos de conteúdo, podem ser debatidas questões básicas como: planos de estudo em todos os níveis do ensino, que tratem de questões relativas a direitos humanos e democracia; programas atuais de ensino de direitos humanos – destinados ao público em geral, os setores de ensino escolar e grupos determinados – a existência de normas jurídicas relativas à promoção dos direitos humanos e sua aplicação, a disponibilidade de documentos fundamentais sobre direitos humanos, escritos de modo claro e conciso, em idiomas nacionais ou locais etc. (AG/ONU, 1997, p. 13. Original em inglês, tradução livre).

Quanto ao método, dependendo do contexto, poder-se-á adotar, entre outros, a distribuição de questionários, a realização de entrevistas, a recolha ou o exame de materiais informativos mediante sondagem de opinião a grupos existentes, muitos dos quais já estariam representados em comitês nacionais.

Igualmente poder-se-á recorrer à apreciação dos informes enviados pelos Estados aos órgãos das Nações Unidas criados em virtude de tratados sobre a aplicação das disposições dos instrumentos internacionais que se refiram ao ensino dos direitos humanos, bem como as observações e recomendações pertinentes, formuladas por tais órgãos.

Por fim, poder-se-á, ainda, utilizar as diretivas de todos os institutos nacionais e locais e organismos governamentais e não governamentais que se ocupem da educação em direitos humanos, aos que ainda se podem solicitar materiais pertinentes à elaboração do plano (AG/ONU, 1997, p. 12. Original em inglês, tradução livre).

3.°) Determinação de prioridades e definição de grupos necessitados: tais prioridades podem ser fixadas com base nas necessidades mais urgentes (entre os grupos carentes de educação em direitos humanos) e na oportunidade, por exemplo, nos casos em que determinados grupos ou instituições tenham solicitado ajuda para estabelecer programas de EDH (AG/ONU, 1997, p. 14. Original em inglês, tradução livre).

No que se refere aos grupos-alvos em educação em direitos humanos, sugere-se, entre outros:

a) Funcionários da administração da justiça: pessoal encarregado de fazer cumprir a lei, incluindo a polícia, oficiais penitenciários, juízes e fiscais;

b) Outros funcionários do governo e da legislatura: membros da Assembleia; funcionários públicos incumbidos de legislar e formular políticas públicas; membros e funcionários das forças armadas e outras forças de segurança; funcionários da emigração e de controle fronteiriço;

c) Grupos profissionais influentes: professores; trabalhadores sociais; profissionais de saúde; meios de difusão e periódicos; advogados;

d) Organizações e grupos: organizações de mulheres; populações autóctones; grupos minoritários; sindicatos; comunidade empresarial; organizações de trabalhadores e de empregadores; dirigentes comunitários; grupos especialmente interessados em questões relacionadas à justiça social; lideres religiosos;

e) Setores escolares: crianças; jovens; estagiários e profissionais;

f) E outros como: refugiados e pessoas portadoras de deficiência; pobres de zonas rurais e urbanas; refugiados e pessoas deslocadas; trabalhadores migrantes; outras pessoas vulneráveis, como soropositivos, pessoas que vivem em extrema pobreza e idosos; presos e outras pessoas detidas; e público em geral.

As prioridades fixadas neste âmbito são realizadas a curto, médio e longo prazo tendo por base as conclusões do estudo de referência anteriormente realizado.

4.°) Elaboração de um Plano Nacional: em função dos dados produzidos a partir do estudo de referência e de acordo com o contexto nacional. Assim sendo, incluem-se, neste ponto, aspectos como os componentes, os objetivos, as estratégias, os programas e os recursos para levar a cabo a EDH.

Por isso, o Plano deverá definir um conjunto amplo de objetivos, estratégias, programas e mecanismos de avaliação na esfera do ensino dos direitos humanos (AG/ONU, 1997, p. 16-17. Original em inglês, tradução livre).

Este Plano terá por finalidade reforçar os programas e a capacidade locais, mediante a coordenação de atividades dando apoio institucional e orgânico tendo em vista a incorporação da educação em direitos humanos em todos os níveis de ensino formal.

Prevê-se ainda que o plano objetive levar a cabo campanhas de sensibilização da opinião pública, educação aos grupos necessitados, produção e revisão de material, reforma legislativa, pois a elaboração de um plano de ação nacional deverá vincular-se a uma declaração normativa correspondente e à liberação de recursos para contribuir na persecução dos objetivos programáticos.

Contudo, para alcançar tal desiderato, o plano de ação deverá conter, entre outros, os seguintes componentes:

a) Afirmação dos objetivos gerais da educação em direitos humanos no país (com base em uma definição clara de tal educação, conforme prescrito nos instrumentos internacionais;

b) Estratégias para chegar ao público em geral, aos sectores de ensino formal e a grupos beneficiários especiais;

c) Programas para a aplicação de tais estratégias, naqueles em que se prevejam atividades concretas;

d) Medidas de curto, médio e longo prazo para levar-se a cabo o Plano;

e) Formulação realista de resultados que poderão ser alcançados bem como os critérios para supervisioná-los e avaliá-los;

f) Oportunidades especiais para comunicar a educação em direitos humanos; g) A função do Comitê Nacional na execução do plano;

h) Mecanismos que permitam aos particulares e grupos estabelecerem contactos com o comitê e participarem no trabalho nacional de EDH;

i) Informações para facilitar contactos com organizações-chave locais no tocante à educação em direitos humanos.

5.°) Execução do Plano: resultante de uma elaboração de plano nacional credível, a execução está vinculada a diversos fatores, incluindo as políticas de resposta, o direito, os mecanismos e recursos (humanos, financeiros, tecnológicos e de informação), e pode variar de um país para outro (AG/ONU, 1997, p. 18. Original em inglês, tradução livre).

Contudo, a execução deverá basear-se nos princípios estabelecidos pelas diretrizes, independentemente do país.

6. Exame e revisão do Plano Nacional: o processo encerra (e reinicia) a partir do exame periódico e revisão para garantir respostas eficazes às necessidades definidas no estudo de referência (AG/ONU, 1997, p. 18. Original em inglês, tradução livre).

Este exame baseia-se em auto-avaliações e avaliações independentes, que serão os instrumentos de aprendizagem para a compreensão dos pontos fortes e fracos da planificação e execução de programas existentes. E, ainda, para introduzir as mudanças necessárias relativamente a atividades eficazes complementares.

Neste contexto, as avaliações nacionais devem ser feitas no mínimo em três esferas: o plano de ação nacional, a execução dos programas e o funcionamento do comitê nacional.

Os Estados têm a obrigação de formularem Planos Nacionais orientados à efetivação da educação em direitos humanos tendo, por bases, as seguintes finalidades:

1. Promover o respeito e a proteção de todos os direitos humanos mediante atividades educativas destinadas a todos os membros da sociedade;

2. Promover a interdependência, a indivisibilidade e universalidade dos direitos humanos, incluindo os direitos civis, culturais, econômicos, políticos e sociais, bem como o direito ao desenvolvimento;

3. Incorporar os direitos da mulher como parte integrante dos direitos humanos em todos os aspectos do plano nacional;

4. Reconhecer a importância de que se reveste o ensino dos direitos humanos para o fomento da democracia, o desenvolvimento sustentável, a prevalência da lei e da paz, assim como a proteção do meio ambiente;

5. Reconhecer o papel do ensino dos direitos humanos como estratégia para a prevenção das violações aos direitos humanos;

6. Encorajar a análise de problemas crônicos e incipientes em matéria de direitos humanos, no sentido de encontrar soluções compatíveis com as normas a este respeito;

7. Fomentar os conhecimentos sobre instrumentos e mecanismos para a proteção dos direitos humanos e a capacidade de aplicá-los a nível mundial, regional, nacional e local;

8. Dotar as comunidades e as pessoas de meios necessários para determinar as suas necessidades em matéria de direitos humanos e velar por sua satisfação;

10. Elaborar métodos didáticos que incluam conhecimentos, análises críticas e o desenvolvimento de atitudes para promover direitos humanos;

11. Estimular investigações e a elaboração de materiais didáticos que fundamentem os princípios gerais;

12. Fomentar ambientes de aprendizagem livres de necessidades e temores e que estimulem a participação, a fruição dos humanos e o desenvolvimento pleno da personalidade humana (AG/ONU, 1997, p. 7-8. Original em inglês, tradução livre).

O processo de elaboração, execução e avaliação de um Plano Nacional de educação em direitos humanos deve, ainda, garantir a representação pluralista da sociedade (incluindo

ONG), transparência das operações, responsabilidade da gestão pública e participação

democrática.

Estas têm sido, grosso modo, as ações legislativas e executórias levadas a cabo pela comunidade internacional, sob a égide da ONU, em parceria com organizações governamentais e não governamentais. E também tem sido o entendimento da ONU do que são e como devem ser materializados os direitos humanos universais e interdependentes.

Em seguida, nos propomos a analisar a educação em direitos humanos em seu aspecto mais conceitual e principiológico, a partir de alguns referenciais teóricos que foram desenvolvidos por pesquisadores que estudam e trabalham com esta temática.