• Nenhum resultado encontrado

EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS EM ÁFRICA: DA TEORIA A PRÁTICA

PRÁTICA

Posto isto, afirmamos, sem quaisquer receios, que existe no nível da região africana uma forte produção legislativa voltada à educação em direitos humanos, com realce para as ações da Comissão Africana, órgão por excelência de monitoramento do cumprimento da Carta Africana e dos Direitos Humanos e dos Povos.

Contudo, o mesmo não se pode dizer no que se refere ao cumprimento destas diretrizes por parte dos Estados-partes. É o que confirma um estudo feito em 2009 pelo Dr. Nico Horn, sul- africano de nacionalidade, professor e ativista de direitos humanos, denominado Human Rights Education in Africa, em que o autor faz um exaustivo balanço sobre o cumprimento da Década Mundial para a Educação em Direitos Humanos da ONU no continente africano.134 Dada sua importância e pertinência para o tema ora apresentando, nos debruçaremos em seguida sobre este trabalho.

Em sua pesquisa, o professor Horn inicia apresentando uma constatação, a de que os países africanos foram mais lentos a ratificar seus próprios instrumentos de proteção de direitos humanos, pois estes pareciam dedicar maior atenção ao sistema das Nações Unidas, ao invés do seu sistema regional (2009, p.59). Ou seja, havia maior preocupação por parte dos governos africanos em ratificarem as convenções elaboradas pela ONU.

Razão pela qual os países africanos são líderes em ratificações de tratados da ONU, ao passo que foram precisos 18 anos para que estes mesmos estados ratificassem a Carta Africana. Até dezembro de 2006, refere Horn (2009, p.59), apenas 27 países tinham ratificado a Convenção para a Eliminação do mercenarismo na África, apenas 20 tinham ratificado o Protocolo à Carta Africana sobre Direitos das Mulheres em África, e somente 39 haviam ratificado a Carta sobre Direitos e Bem-Estar da Criança. 135

134 Apesar de o estudo ter sido feito em 2009, o cenário atual não sofreu grandes transformações, daí a

pertinência de trazê-lo aqui para análise e discussão.

135[...] até ao ano 2006, a participação africana tinha ultrapassado a média total internacional na maior parte dos

instrumentos [no que se refere à assinatura e ratificação de tratados da ONU]: i) cerca de 94% de todos os países africanos ratificaram o PIDCP em comparação com 82% globalmente; ii) para o PIDESC, os números são 91% (África) e 80% (global); iii) para a convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher (CEDAW) é de 96% a 90%; iv) para a convenção contra tortura e outros tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes (CAT) é 74% a 99%; v) para a convenção sobre os Direitos da Criança, é de 98% a 99% e para a

Cenário semelhante se verifica no âmbito da obrigação de submeter relatórios periódicos sobre a situação de direitos humanos nos territórios dos Estados-partes. Em 2006, quinze dos Estados-membros da UA não tinham apresentado qualquer relatório, enquanto os relatórios de sete países “tiveram mais de dez anos de atraso e apenas 14 estados tinham cumprido de fato todas as suas responsabilidades em termos de conteúdos dos relatórios” (HORN, 2009, p.59). Na visão de Viljoen (2007, p.377), estes números contrastam, em grande medida, com os registros em nível internacional, em que os Estados africanos cumpriram muito melhor as exigências de relatórios aos órgãos de tratados da ONU.136 O

record em ratificações de tratados internacionais não resultou em mais direitos e em uma

sociedade mais democrática: é um simples preparar do terreno.

A nosso ver, esse fenômeno continua patente na realidade africana, particularmente pelo fato de que a maioria dos governos africanos, altamente contaminados pela lógica de violência, usam esta artimanha para fazer crer aos demais Estados que estão realmente preocupados em respeitar, proteger e promover direitos humanos, pois, de outro modo, não poderia ser entendido. Basta prestar atenção nos diversos relatórios internacionais produzidos por ONG como a Human Rights Wach, a Transparência Internacional, a Anistia Internacional, ou ainda, outras instituições como o Banco Mundial ou o The Economist, no que se refere à democracia e direitos humanos na África.

Na visão de Ki-Zerbo, o verdadeiro problema está na maneira de conceber o político na África, pois o período colonial não foi uma boa preparação para democracia. Além de paternalista, o sistema colonial era autoritário e mesmo totalitário (In: HOLENSTEIN, 2003, p. 63).

Enquanto as pessoas se consideravam súbditos e obedeciam, os colonizadores mantinham a antiga organização dos chefes e dos reinos africanos, servindo-se desta estrutura para implantar o seu próprio poder. E todos aqueles que gravitavam em torno do poder colonial [...] tinham aprendido a comportar-se não como representantes democraticamente eleitos, mas como homens do poder (In: HOLENSTEIN, 2003, p. 63).

Por este motivo, entendemos que a temática deve ser encarada na perspectiva de uma ausência de consciência democrática e de direitos humanos, razão pela qual a política de direitos humanos, na maioria dos países africanos, deve ser analisada também à luz deste convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação racial (CERD), 92% de todos os países africanos ratificaram o tratado em comparação com 98% global (HORN, 2009, p. 58).

136 Os juízes africanos raramente se referem [hoje mais do que no passado] ao sistema Africano. Em vez disso

preferem usar jurisprudência não doméstica, mas sim do Supremo Tribunal dos EUA, da Suprema Corte do Canadá e do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (HORN, 2009, p. 60)

passado ainda presente, uma vez que alguns líderes permanecem no poder desde a independência de seus respectivos países, sendo, por isso, estes novos regimes herdeiros daquele sistema autoritário e brutal, em que não houve ocasião para uma aprendizagem da democracia (In: HOLENSTEIN, 2003, p.64).

O professor Horn considera desolador o quadro de participação geral dos países africanos na Década das Nações Unidas para a Educação em Direitos Humanos, e justifica.

Somente sete dos cinquenta e quatro Estados-membros responderam ao questionário de avaliação do ACNUDH. Além disso, os obstáculos listados pelos sete governos que responderam o questionário, no que se refere à implementação de programas de EDH, na visão de especialistas, apresentam uma indicação da falta de vontade política dos respectivos governos, evidenciada na ausência de técnicas para o desenvolvimento e execução de planos de educação em direitos humanos e de nenhuma prestação de financiamento de longo prazo por parte dos Estados (HORN, 2009, p. 67).

Muitos dos relatórios submetidos aos órgãos de tratados da ONU por países africanos membros foram vagos, continham pouca informação e não tinham detalhes sobre programas de formação em educação em direitos humanos.

Muito pouco foi feito pelos governos, segundo o estudo de Horn, para levar a EDH a grupos profissionais como a polícia, as forças de defesa e oficiais de imigração, e menos ainda a grupos vulneráveis tais como minorias, trabalhadores migrantes, prisioneiros e pessoas vivendo em extrema pobreza.

Como vimos defendendo, a falta de conhecimento e informação continua sendo um empecilho para o exercício e reivindicação de direitos pelos/as africanos/as. Horn avança exemplos em como, desde a proclamação da Carta Africana até ao século XXI, poucos/as africanos/as sabiam de sua existência.

Em 1987, a CADHP era amplamente desconhecida na Libéria. Cerca de 16 anos depois, em dezembro de 2003, a Serra Leoa compartilhava a experiência liberiana. Pesquisa no Zimbábue em 1994 e no Quênia em 1997 chegou às mesmas conclusões (HORN, 2009, p. 60).

A mera ratificação dos tratados internacionais não significa de per se o cumprimento dos mesmos, e o caso africano tem sido exemplar nesse sentido, pois os Estados têm se comprometido a realizar diversas atividades, nelas incluindo a de ensino dos direitos humanos, especialmente junto à população vulnerável e aos funcionários do judiciário, mas pouco se tem feito neste campo.

Os governos têm fracassado na sua missão de desenvolverem um programa de difusão de uma cultura de direitos humanos a partir de um conhecimento geral dos direitos por parte de todas as pessoas.

A materialização da Década da ONU para a Educação em Direitos Humanos em África não pode ser considerada bem sucedida, segundo Horn, pois uma mera resposta de apenas 14% dos governos, após cinco anos da existência do Plano, comprova o fato. No caso do questionário realizado pelo ACNUDH, para avaliar os efeitos da Década, os governos africanos que responderam não indicaram grandes sucessos. Por isso, “o desempenho dos governos nos cinco anos não melhorou significativamente” (HORN, 2009, p.68).

Em outubro de 2003, apenas 17 Estados africanos de um total de 50 da África [subsaariana] foram listados entre os membros da ONU que tinham feito comunicações ao ACNUDH relativamente às iniciativas tomadas em seus países como parte do plano da Década da ONU para Educação em Direitos Humanos. Alguns relatórios não estavam atualizados e outros nem sequer foram apresentados, redação.137

A maioria dos Estados africanos ainda tem dificuldades em informar sobre o status dos direitos humanos nacionais e nem sequer elaboram planos nacionais de ação para a educação em direitos humanos, embora alguns os tenham desenvolvido como resultado da Década para a Educação em Direitos Humanos. Porém, os governos não desenharam estratégias nacionais, bem como poucas redes foram criadas e não houve cooperação com os esforços das ONG; “e a ideia de se desenvolver uma maior consciência de direitos humanos

amigável em África continua a ser um sonho” (HORN, 2009, p.73).

Grande parte dos governos africanos passou a investir a maior parte dos seus recursos no desenvolvimento curricular e, em determinados casos, na criação de comissões nacionais de direitos humanos.138

Entretanto, autores como Henry e Meintjes têm questionado a eficácia ao se incluir esse tipo de ‘‘educação’’ na educação formal. Para Meintjes (1997, p.70), “enquanto a retórica do empoderamento sugere mudanças na educação em si, os fins e os meios continuarão a ser os da educação convencional”. Henry fala do papel histórico da educação na socialização dos alunos a uma estrutura social existente, ou seja, o ensino de direitos humanos

137 Documento disponível em:

<http://www.unhchr.ch/huridocda/huridoca.nsf/e06a5300f90fa0238025668700518ca4/30fc5f8ec3a3034c1256cf 5003aa90f/$FILE/G0311329>. Acesso em: 1 abr.2009.

138 Vide a este propósito o site: <http://www2.ohchr.org/english/issues/education/training/initiatives.htm>.

poderia se reduzir a ensinar aos alunos a respeitarem a autoridade a reverenciar os políticos e não necessariamente a questioná-los (1991, p.420).

Apesar de estas críticas serem pertinentes, Horn acredita que as mesmas deixaram de ser tabus na literatura pedagógica, uma vez que muitos autores já têm se debruçado sobre ela. Entre eles, vale citar Yaacov Hecth, defensor da educação democrática, que entende que “a escolarização formal é somente uma parte muito pequena da experiência do aprendizado do aluno”. Portanto,

Se os direitos humanos fazem parte dos valores comuns da sociedade em que o/a jovem esta inserido/a, a sua compreensão dos direitos humanos fará parte do seu processo de socialização. Se, no entanto, a educação em direitos humanos for um acréscimo para impressionar a comunidade internacional, a tensão entre um sistema político autocrático e filosofia da educação, por um lado, liberdade e respeito pela dignidade dos outros, por outro lado, irá confundir o/a aluno/a, em vez de contribuir para seu pleno desenvolvimento como ser humano.

Nestes termos, Horn concorda com Meintjes, que entende que o resultado será a educação formal como é conhecida hoje (1997, p.71).

Outrossim, Horn refere que os governos africanos ainda esperam das organizações intergovernamentais para financiarem projetos de educação em direitos humanos (1997, p.67). Um dos aspectos fundamentais a levar em consideração neste processo, é a falta de vontade política dos governos, que acaba por justificar-se a partir da ausência ou insuficiência de mecanismos de controle efetivo [e financiamento] por parte da ONU que, na visão dos respectivos governos constitui o maior obstáculo para que os compromissos e ações sejam cumpridos, nomeadamente, aqueles voltados ao ensino de direitos humanos.

Quanto a nós, defendemos que a ONU tem cumprido seu papel, não sendo de sua competência sancionar stricto senso os governos faltosos. É fundamental que estes compreendam os benefícios que se constatam sempre que há promoção e proteção de direitos humanos internamente e, para isto, é essencial que haja cidadãos mais conscientes por conta da relação que se estabelece entre os governantes e os governados através da eleição.

Por isso, Rosemann vê o papel dos Estados-membros da ONU como os principais promotores do programa de EDH, como uma receita para o seu fracasso, pois a educação em direitos humanos só pode funcionar em um ambiente em que a abordagem se baseia nos

direitos à dignidade humana que é aceita e em uma sociedade livre na qual as pessoas possam reivindicar seus direitos humanos, sem pôr em perigo suas próprias vidas (2003, p.1).139

Por muitas boas intenções que tenha a ONU, ela jamais poderá fiscalizar com o rigor necessário as atividades levadas a cabo pelos seus Estados-membros, pois critérios meramente formais podem não ter os efeitos desejados. Horn relata a situação do Zimbábue, país que gastou tempo, dinheiro e esforço na criação e aplicação de programas de educação, mas o estado do país mostra o real impacto desses programas. Na verdade, defende Horn (2009, p.69), pelo contrário, houve declínio dos direitos humanos justo no momento em que se teria esperado que os programas de educação estivessem aptos a produzir resultados.

Este quadro se inverte substancialmente quando formos analisar o papel das ONG na implementação dos respectivos programas de educação em direitos humanos, elas que se deparam diariamente com imensas dificuldades, principalmente financeiras, de segurança e humanas. Ainda assim, conseguem superar as parcas atividades do “poderoso Estado”. A este propósito, cerca de 13 ONG, três instituições nacionais de direitos humanos e quatro institutos superiores de direitos humanos responderam ao questionário elaborado pelo ACNUDH.

A existência de uma sociedade civil forte, em muitos países de África, tem se mostrado uma mais-valia para a promoção, proteção e reivindicação dos direitos humanos.

Observadores céticos de educação em direitos humanos – em nosso entender, realistas – veem a contribuição de ONG como a única forma possível de superar a apatia dos governos e sua falta de compromisso. Contudo, enquanto a sociedade civil tem sido capaz de conduzir os programas de direitos humanos com atores importantes como a polícia, militares e demais agentes do governo, elas não têm sido tão bem sucedidas na educação direcionada a grupos marginalizados (HORN, 2009, p.68).

Okafor atribui esta falha ao fato de os ativistas de direitos humanos serem provenientes de uma pequena elite que entende o ambiente de direitos humanos, mas não necessariamente a linguagem dos marginalizados. Eles compartilham experiências de vida da elite governante e não o de pessoas marginalizadas. Corolário disto é a incapacidade de se fazer a ponte entre a elite e os que nada têm, embora eles [a elite educadora] possam compreender as necessidades das pessoas em termos de direitos humanos, porém não são as

139 ‘‘Os governos por si só não podem arcar com as responsabilidades voltadas à educação em direitos humanos.

Foi irreal, desde o inicio, esperar os governos para coordenar o programa e assumir a responsabilidade por estratégias nacionais e planos de ação’’. Quanto a nós, continuamos a defender que estas responsabilidades devem caber sim aos estados, devendo entre outras providencias, apostar-se mais na capacitação das ONGs nacionais e locais. Rosemann, op. cit., p.1.

melhores pessoas para comunicarem e ensinarem esses direitos aos grupos marginalizados (2007, p.269).

Esta é uma dificuldade que permeia grande parte das ONG em África que lidam com direitos humanos, pois existe ainda dificuldade em transpor as barreiras impostas, por exemplo, pela língua, pela cultura, pelo modus vivendi em geral, razão pela qual tem havido, nos últimos anos, incentivo ao surgimento de associações ou agrupamentos locais que debatam e discutam temas voltados aos direitos humanos, cultura, democracia, justiça social etc.

Entretanto, ainda no âmbito das atividades de avaliação da Década Mundial de Educação em Direitos Humanos, o ACNUDH publicou esta pesquisa que mostrou que, para o primeiro semestre da Década, a sociedade civil africana realizou um pouco melhor as atividades planejadas do que o governo, alcançando a maioria dos grupos-alvo com seus programas de educação em direitos humanos.140

O ACNUDH verificou que muitas das ONG se concentraram nos direitos humanos relacionados com sua atividade diária, tendo realizado um trabalho genérico sobre conscientização dos direitos humanos e apoio a interesses particulares. Este escritório da ONU observou também que houve pouca interação entre o governo e as ONG. A ausência desta participação é também justificada pelas sucessivas tentativas dos governos de controlarem e manietarem estes agrupamentos de acordo com sua conveniência política, colocando em causa seus propósitos basilares, razão pela qual muitos preferem desenvolver seu trabalho sem parceria do governo.

No entanto, o sucesso, em longo prazo, dos programas de educação formal nas escolas dificilmente pode ser sustentável sem a participação do governo (HORN, 2009, p.70).

Muitas ONG indicaram a falta de vontade política como sendo um dos maiores obstáculos às suas atividades, mormente pelo fato de a promoção do ensino de direitos humanos colocar os governos sob pressão, pois mais cidadãos irão insistir para que haja cumprimento de seus direitos, e quanto mais o fizerem, o governo será forçado a agir contra os violadores dos direitos humanos, que, em muitos contextos africanos, incluindo o angolano, ainda têm o Estado como o principal violador.

140 Disponível em:

<http://www.unhchr.ch/huridocda/huridoca.nsf/e06a5300f90fa0238025668700518ca4/55da934a2691b02ac1256 98400496605/$FILE/0064037e.doc>. Acesso em: 20 dez.2009.

Apesar de terem surgido mais comissões nacionais de direitos humanos na África, uma das propostas da Década, ainda se colocam algumas dúvidas quanto a sua eficácia, independência, financiamento e resultados.

No geral, considera-se que a sociedade civil cumpriu o seu mandato no âmbito dos programas e objetivos da Década para a Educação em Direitos Humanos, apesar de, no que se refere ao objetivo principal – uma cultura global de direitos humanos – a África ainda ter um longo caminho a percorrer (HORN, 1999, p.70).

A avaliação do ACNUDH foi positiva para a efetivação da Década, contudo, autores como Bosl e Lástrembski afirmam não ter sido tão positiva assim, uma vez que os intervenientes mais importantes neste processo realizaram muito mal o seu papel, inclusive as

ONG, que foram bastante elogiadas por sua contribuição, mas apenas participaram na

educação incluindo-a como um ponto secundário para aumentar em seus objetivos principais daí não se poderem falar em sucesso em todos os aspectos da implementação da Década por parte das ONG (2005, p.5).

Assim, para resolver o problema do não comprometimento dos governos nos projetos de EDH, o ACNUDH sugeriu três estratégias: a) outra década dedicada à educação em direitos humanos; b) um fundo especial para a EDH e; c) um comitê de articulação comum entre ONG – governo para levar a educação em direitos humanos adiante. 141

Rosemann (2003, p.6) vê apenas um caminho possível a seguir: menor participação do governo e mais participação de ONG. Neste processo, a sociedade civil deve aceitar ou assumir o papel de oposição parlamentar quando se trata de direitos humanos, ou seja, se a ONU é séria nos projetos de desenvolvimento das comunidades em que os direitos humanos são respeitados e os indivíduos são livres para reivindicar os seus direitos e liberdades, ela terá de capacitar as ONG para se tornarem mais assertivas na oposição a abusos dos direitos humanos – ainda que isso signifique provocar ativo antagonismo ao governo.

Portanto, entendemos que não basta manifestar vontade ou ainda assinar tratados ou assumir compromissos no plano internacional, é também fundamental que, no continente africano, estes atos formais tenham algum impacto prático. Para tal, o envolvimento da sociedade civil, com ênfase para as ONG, tem sido de importância crucial, sendo estas que, muitas vezes, desempenham as responsabilidades que em princípio caberiam ao Estado.

141 Disponível em:

<http://www.unhchr.ch/Huridocda/Huridoca.nsf/(Symbol)/E.CN.4.2003.101.En?Opendocument>. Acesso em: 18 ago. 2009.

Do mesmo modo, os programas voltados aos direitos humanos ainda se deparam com imensas barreiras na África, mais do que em qualquer outra região do globo. Entraves como a miséria, a corrupção, o tráfico de influências, a miséria extrema, a fome, a malária, a AIDS, a tuberculose, a falta de liberdade, a precariedade dos serviços básicos como saneamento, energia elétrica, água potável, saúde e educação etc. impossibilitam o desenvolvimento e a confiança nas instituições governamentais para levarem avante processos de educação em direitos humanos, quer de modo autônomo como em parceria com outros organismos não governamentais.142

Igualmente, as ONG e outros agrupamentos não têm capacidade suficiente para