• Nenhum resultado encontrado

Segunda Conferência Mundial de Direitos Humanos – Viena, 1993

5.2 NORMATIVAS DE EDH: DA TEORIA À AÇÃO

5.2.3 Segunda Conferência Mundial de Direitos Humanos – Viena, 1993

À Conferência de Teerã, seguiu-se a de Viena, realizada entre os dias 14 a 25 de junho de 1993, cognominada “Segunda Conferência Mundial de Direitos Humanos ou, simplesmente, Conferência de Direitos Humanos”.

103 Entre outros condicionalismos, importa citar o fato de a maior parte dos países africanos e alguns asiáticos

O evento teve uma estrutura geopolítica em diversos aspectos diferentes, uma vez que a maior parte dos países anteriormente colonizados já havia alcançado suas independências e, consequentemente, novas linhas governativas foram sendo traçadas, delineando-se, assim, “novo (s)” tipo (s) de relação entre os diversos países, nomeadamente os países do Norte, ditos desenvolvidos, e os do Sul, subdesenvolvidos, realidade que repercutiu nas diferentes discussões da Conferência.

Em vários pontos, a Conferência de Direitos Humanos apenas reforçou determinadas matérias, já tratadas na primeira conferência, porém cremos que a segunda conferiu maior legitimidade às decisões nela produzidas, pelas discussões exaustivas e, sobretudo, pela participação de mais Estados independentes, que foi muito maior, com o destaque para os países africanos.

Da Conferência, saíram dois documentos, a saber: a Declaração e o Programa de Ação de Viena. Entre os diversos aspectos destes documentos, destacaremos somente os que se afiguram relevantes ao presente estudo. Assim, a violência contra a mulher, condenada na Proclamação de Teerã, passa a constituir crime contra os direitos da pessoa humana. Para os participantes da Conferência, ‘sem os direitos da mulher, os direitos não podem ser humanos’.

Os ataques racistas e xenófobos, principalmente nos países ocidentais, a concepção de indivisibilidade de direitos econômicos, sociais e culturais, direitos civis e políticos, foram reforçados neste evento. Assim sendo, a comunidade internacional deverá tratá-los de forma global, justa e equitativa, em pé de igualdade e com a mesma ênfase, cabendo aos Estados o dever de promovê-los, sejam quais forem os seus sistemas políticos, econômicos e culturais (ONU, 1993, ponto 5).

Foi da Conferência de Direitos Humanos que se formalizou a proposta de proclamação da Década das NU para a Educação em Direitos Humanos, coroando, assim, todo o trabalho que, até aquela altura, vinha sendo desenvolvido não só pela UNESCO e outros organismos da ONU como também por ONG em todos os continentes.

A Declaração e o Programa de Ação de Viena reservaram um título específico para a educação em direitos humanos (Secção D, §§ 78 a 82 ).

A informação pública e o treinamento na área dos direitos humanos foram reconhecidos como elementos essenciais na promoção e estabelecimento de relações estáveis e harmoniosas entre as comunidades fomentando, deste modo, o entendimento, a tolerância e a paz (ponto 78).

Aliás, este entendimento é corolário de outras conferências anteriormente realizadas nos quais se concebeu a EDH como instrumento de manutenção da paz.

Por isso, a EDH deveria incluir a paz, a democracia, o desenvolvimento e a justiça social, conforme previsto nos diplomas legais internacionais e regionais de direitos humanos, propiciando, desse modo, a conscientização de todas as pessoas relativamente à necessidade de fortalecer a aplicação universal de tais direitos (ponto 80).

Neste sentido, é obrigação dos Estados empreenderem todos os esforços necessários no sentido de erradicarem o analfabetismo e orientarem a educação com vistas ao desenvolvimento pleno da personalidade humana, fortalecendo o respeito aos direitos humanos e liberdades fundamentais (ponto 79).

A EDH revela-se, assim, como um item a ser enquadrado em todos os setores da sociedade, reiterando ser responsabilidade dos Estados e instituições incluírem os direitos humanos, o direito humanitário, a democracia e o Estado de Direito como matérias dos currículos de todas as instituições de ensino dos sectores formal e informal (ponto79).

A Declaração e Plano de Ação de Viena estabeleceram, ainda, que os governos, com a assistência de organizações intergovernamentais, instituições nacionais e ONG deveriam promover maior conscientização dos direitos humanos e da tolerância mútua (ponto 81).

Outrossim, os governos deveriam iniciar o apoio à EDH e efetivamente divulgarem informações públicas nesta área. Não há informações dispersas ou esporádicas, mas sim informações derivadas de estratégias direcionadas, visando especificamente à ampliação ao máximo da educação em direitos humanos, com particular ênfase nos direitos humanos das mulheres (pontos 80 e 81).

Assim, enfatizando a importância de intensificar a Campanha Mundial de Informação Pública sobre Direitos Humanos, lançada pelas Nações Unidas, os seus programas de consultoria e assistência técnica passariam a atender imediatamente às solicitações de atividades educacionais e de treinamento dos Estados na área dos direitos humanos.

No início deste processo, foi dada especial atenção às solicitações de atividades educacionais sobre as normas consagradas em instrumentos internacionais de direitos humanos e no direito humanitário bem como sua aplicação a grupos especiais, como forças militares, pessoal encarregado de velar pelo cumprimento da lei, polícia e profissionais de saúde (ponto 82).

Este realce deveu-se, particularmente, ao fato de as Nações Unidas terem empreendido tal projeto com enfoque para a prevenção de abusos, e o respeito às leis e normas internacionais, especialmente em casos de conflitos e pós-conflitos armados.104

104 Foi ainda levado em consideração o Plano Mundial de Ação para a Educação em prol dos Direitos Humanos,

A proclamação de uma década das Nações Unidas para a EDH teve em vista a promoção, o estímulo e a orientação das atividades educacionais levadas a cabo pela própria ONU, (e pelos Estados), em colaboração com as ONG, segundo a Declaração.

A campanha da ONU foi sendo levada a cabo sob a égide da antiga Comissão de Direitos Humanos, atualmente Conselho de Direitos Humanos, em colaboração com os Estados-membros, os órgãos encarregados de supervisionar a aplicação dos tratados de direitos humanos e demais instituições apropriadas bem como organizações não governamentais.

Consequentemente, em fevereiro de 1994, a Assembléia-Geral das Nações Unidas, (resolução A/RES/48/127) reconhece que a EDH é um processo integral que se prolonga por toda a vida, mediante o qual as pessoas de todos os estratos da sociedade podem aprender a garantir o respeito dos direitos em uma sociedade democrática. Trata-se de um reconhecimento do caráter gradual e sistemático da EDH, não efêmero e esporádico, no sentido de se alcançar o respeito aos direitos humanos.

Paralelamente à Conferência de Direitos Humanos, foram realizadas outras reuniões ou encontros tendo por enfoque a EDH.

Uma primeira reunião, a destacar, contou com a participação dos presidentes e membros dos órgãos internacionais de direitos humanos estabelecidos por tratados (convencionais), destacando-se: Comitê de Direitos Humanos, Comitê sobre os Direitos Econômicos Sociais e Culturais, Comitê sobre Eliminação da Discriminação Racial, Comitê sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher, Comitê contra a Tortura, Comitê sobre Direito da Criança, a Comissão Africana de Direitos Humanos e dos Povos, Comissão Européia dos Direitos Humanos etc.

Posteriormente, foi realizada outra reunião especial oficiosa, ainda à margem da Conferência Mundial, convocada pela Secretaria daquele evento, e foram convidados os membros dos órgãos convencionais da ONU, funcionários de setores relevantes da Secretaria da ONU e organismos especializados, com o intuito de forjar as linhas mestras para a proclamação de uma década da ONU para a EDH (RESOLUÇÃO E/CN/1994/39, 1994).

Resultado dos esforços iniciados quando da realização da segunda Conferência Mundial, em 1994 a AG da ONU proclama em sessão plenária – por meio da Resolução

Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura em 1993. Segundo Zenaide (2007, p. 15) este Plano foi referendado na Conferência Mundial de Direitos Humanos de 1993, visando promover, estimular e orientar compromissos em prol da educação em defesa da paz.

A/RES/49/184 – a Década das Nações Unidas para a Educação em Direitos Humanos que teria seu início a 1a de janeiro de 1995 e término a 1a de Janeiro de 2004.

A organização estava “convencida de que cada mulher, homem, menina ou menino, para materializar seu pleno potencial humano, deveria estar consciente de todos os seus direitos humanos, civis, culturais, econômicos, sociais e culturais” (A/RES/49/184, 1995, § 9).