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Capítulo 1 – Enquadramento do Director de Turma na Escola como

3. A Relação Pedagógica com os Alunos na Formação Cívica

3.1. A área não disciplinar – Formação Cívica

A Reorganização Curricular do Ensino Básico, instituída pelo Decreto-Lei nº 6/2001 de 18 de Janeiro, vem criar três áreas curriculares não disciplinares: Área de Projecto, Estudo Acompanhado e Formação Cívica. Este documento consagra a “educação para a cidadania”, na área da Formação Cívica, como uma área de formação transdisciplinar,

“visando o desenvolvimento da consciência cívica dos alunos como elemento fundamental no processo de formação de cidadãos responsáveis, críticos, activos e intervenientes com recurso, nomeadamente, ao intercâmbio de experiências vividas pelos alunos e à sua participação, individual e colectiva, na vida da turma, da escola e da comunidade” (Lei nº6/2001, artigo 5º, ponto 3, alínea c). Podemos então considerar

três níveis complementares de abordagem desta área na escola: o tratamento de conteúdos das diferentes áreas curriculares; as relações interpessoais que se estabelecem na própria escola; as actividades próprias para o espaço/ tempo destinado à Formação Cívica.

O papel da escola na educação para a cidadania é bastante importante, uma vez que uma das funções da escola é a de contribuir para a inserção dos indivíduos na sociedade, através da instrução e também da socialização. No entanto, esta educação está bastante restringida, pois segundo Fonseca (2001, 16), a escola possui algumas limitações na sua luta contra a desagregação social, uma vez que “se dirige unicamente à formação cívica

de cada criança e de cada jovem em concreto e mantém inalterável o funcionamento dos contextos socioculturais que, no fundo, limitam e constrangem os efeitos dessa formação.” Neste sentido, muitas vezes a escola reduz os seus esforços de educação

cívica a uma série de funções associadas à transmissão de conhecimentos úteis. Talvez por essa causa, exista a convicção de que subsiste um défice cívico entre as crianças e jovens portugueses. Foi também, neste sentido que a área curricular de Formação Cívica foi criada, numa tentativa de colmatar este défice. Nesta sequência, as intenções do Ministério da Educação apontam directamente para a "Formação Cívica" como educação

para a cidadania. Neste sentido, o currículo deverá ter incluído a ideia de Cidadão como ponto nuclear e organizador (Teixeira, 2002).

Assim, conceito actual de cidadania resulta de uma evolução de concepções, originadas pelo desenvolvimento e transformação das sociedades ao longo dos tempos, podendo-se definir o conceito de cidadania como a “qualidade do cidadão, ou seja do

indivíduo pertencente a um estado livre, no gozo dos seus direitos civis e políticos e sujeito a todas as obrigações inerentes a essa condição” (Figueiredo, 2001, 34). O

conceito de cidadania está directamente ligado aos conceitos de liberdade, igualdade e fraternidade, desde a Revolução Francesa e a Declaração dos Direitos Humanos, considerando que “todos os indivíduos de um estado fossem considerados cidadãos de

plenos direitos, independentemente do sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica ou condição social”

(Figueiredo, 2001, 35).

Neste sentido, a escola emerge para a sociedade como um espaço de preparação dos indivíduos para a cidadania, legitimada pelo poder político e enquadrada no sistema educativo, cujo intuito está directamente relacionado com a formação de cidadãos e na sua inserção na sociedade. Em Portugal, esta vertente está bem patente na Lei de Bases do Sistema Educativo, referindo que o sistema educativo deverá prover o

“desenvolvimento pleno e harmonioso da personalidade dos indivíduos”, bem como

promover “a formação de cidadãos livres, responsáveis, autónomos e solidários”, evidenciando-se também a valorização do trabalho (LBSE, artigo 2, nº4 e 5).

Também, na Constituição da República Portuguesa (artigo 73º), está constitucionalizada a educação, cabendo ao Estado: promover a democratização da educação e as demais condições para que a educação, realizada através da escola e de outros meios formativos, que contribua para igualdade de oportunidades, a superação das desigualdades económicas, sociais e culturais, o desenvolvimento da personalidade e do espírito de tolerância, de compreensão mútua, de solidariedade e de responsabilidade, o progresso social e a participação democrática na vida colectiva; (...).

A cidadania constrói-se ao longo do percurso escolar dos alunos, procurando instruí- los para que se tornem cidadãos responsáveis, pressupondo-se assim que a educação não tem só subjacente valores democráticos de participação, solidariedade e responsabilidade, mas também práticas pedagógicas coerentes com esses valores.

Actualmente os problemas que se reflectem na escola, nomeadamente a exclusão social, a desigualdade de sexos, a diversidade cultural e a violência, são reflexos da crise

da própria sociedade que só será ultrapassada com a mudança social, preconizada pela escola.

Neste sentido, Delors (2003, 18) refere a necessidade de se caminhar para uma

“Sociedade Educativa”, considerando quatro pilares fundamentais para a educação: “aprender a viver juntos”, “aprender a conhecer”, “aprender a fazer” e “aprender a ser”. Estes elementos abrangem, de forma clara, a educação para a cidadania e para a

autonomia, que visam a necessidade de se alterar o sistema educativo, que por sua vez, está dependente da vontade política (Perrenoud, 2002, 126). Nesta perspectiva, Delors (2003, 12) considera que os responsáveis devem ter em atenção as finalidades e os meios de educação, a fim das políticas educativas contribuírem para o enriquecimento dos conhecimentos e competências, privilegiando a construção da própria pessoa, tanto a nível da relação com os outros como a nível do conhecimento interior. Também Nogueira e Silva (2001, 100) consideram que “para a promoção de uma educação para

a cidadania activa e democrática é necessário que a própria escola não se esquive à responsabilidade de ser ela própria alvo de questionário, de forma a tornar-se um local privilegiado de participação e educação para a participação”, referindo também que ”educar para a cidadania implica educar para a consciencialização da relação recíproca entre os direitos e os deveres”, implicando que os alunos se consciencializem

não só dos seus direitos, mas também das suas responsabilidades enquanto cidadãos. Nesta perspectiva, Freire (citado por Nogueira e Silva, 2001, 103) ”reivindica uma

educação, uma ética e uma cultura para a diversidade”, mas para que isso suceda, é

necessário uma mudança na educação, mais especificamente “reconstruir o saber da

escola e a formação dos educadores” (Nogueira e Silva, 2001, 103). Esta mudança tem

de partir do próprio sistema educativo, passando também por uma verdadeira consciencialização, por parte da escola e dos diversos actores educativos, para a necessidade de se alterar a vertente curricular e organizacional, a fim de se assumir como uma das prioridades, a vertente da cidadania e da autonomia (Perrenoud, 2002, 126). Esta consciencialização, por parte dos actores educativos, destacando especialmente os professores, é bastante importante, no sentido em que estes devem promover o trabalho em equipa na construção do Projecto Educativo de Escola, procurando evidenciar a sua própria cidadania profissional (Perrenoud, 2002, 126), aspecto este que não se verifica actualmente, pois a própria organização escola não favorece o trabalho em equipa, nem a partilha do conhecimento, incentivando-se mais as vertentes burocráticas, a disciplina e a sustentação da ordem, do que propriamente o sentido cívico e democrático.

3.2. O Director de Turma enquanto professor da área não disciplinar –