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A disciplinaridade e a interdisciplinaridade da Educação Ambiental na disciplina Sobre a ausência da discussão sobre a disciplinaridade e a interdisciplinaridade no

2 REFERENCIAL TEÓRICO

4.8 A disciplinaridade e a interdisciplinaridade da Educação Ambiental na disciplina Sobre a ausência da discussão sobre a disciplinaridade e a interdisciplinaridade no

programa da disciplina, a professora respondeu que o tema é abordado, ainda que não diretamente. Para contemplá-lo concretamente, a docente afirma que mais tempo seria necessário e a disciplina teria que ter outro formato. Os Estudos Culturais são importantes nessa abordagem:

Poderia mas, eu acho que aí precisaria mais tempo talvez. Teria que ter uma fundamentação teórica que fugiria daquilo que a gente discute. Seria com outro formato. Ela discute? Discute mas ela discute “un passant”, nas entrelinhas, acaba que a gente entra nessa temática. (...) Essa questão de não haver mais disciplina, quer dizer, como vamos caminhar pra sair do disciplinar, do formato disciplina. Os Estudos Culturais vão trabalhar com a crítica da modernidade, mas, pra entrar nessa questão precisa de um aprofundamento maior. Talvez até tenha condições e não saiba!

A docente entende que uma disciplina de EA não deve se preocupar com esse aprofundamento teórico, o que poderia ser feito por um profissional formado em EA:

A disciplina deve trabalhar essa questão. Ela deve estar no contexto da disciplina, mas não com o comprometimento de um aprofundamento teórico. (...) Para isso, é preciso uma formação específica, uma pessoa da área da Biologia que faz mestrado e doutorado na área de EA, que faça alguma coisa na faculdade de Educação, eu não me sinto tão à vontade para discutir profundamente.

Outra opção que pode possibilitar a abordagem do tema pela disciplina é a parceria com professores de outras áreas:

Mas para ter uma discussão desse tipo talvez nem eu tivesse condições de trabalhar. Teria que ser com alguém da área da Filosofia, ou da Didática, ou da Sociologia, teria que ter um conhecimento da epistemologia mesmo, pra trabalhar com Morin ou com outros autores que eu não teria esse aprofundamento. Eu posso até entrar, ter um seminário, ter uma aula, mas uma aula é muito pouco não é? Quantas aulas eu precisaria pra trabalhar com essa questão disciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar?

Entretanto, pondero sobre a centralidade do tema disciplinaridade/interdisciplinaridade em qualquer programa de EA, cuja ausência pode contribuir para uma redução do assunto aos

limites da prática, em detrimento da discussão das questões epistemológicas que a fundamentam. Para contemplá-las, necessário se faz oportunizar aos alunos a discussão sobre a Ciência Moderna e a nova Ciência (VASCONCELLOS, 2002), e a EA nesses contextos. A discussão proposta pela autora citada pode contribuir na percepção da influência da disciplina, da especialização e do currículo sobre a EA. A abordagem desse tema poderia ter auxiliado na discussão sobre a transversalidade da EA prevista nos PCN (BRASIL, 1997b), assunto de um dos grupos dos seminários.

4.9 A postura docente durante a disciplina

A construção dessa categoria resulta do importante trabalho desenvolvido pela docente responsável pela disciplina EA. A experiência acumulada como professora desde 1995 na instituição, atuando nos temas Ensino de Ciências e Biologia, Mídia e cultura, Plantas medicinais, Educação Ambiental, Etnoconhecimento, dentre outros, se fizeram presentes na elaboração e na permanente revisão da disciplina, conforme testemunhamos. Trago como exemplo o plano de curso que foi cuidadosamente modificado no segundo semestre de 2009, sem contar as inserções não previstas como o filme-documentário “Homem Urso” e o texto de Umberto Eco ou mesmo a suspensão do mapeamento ambiental. Nas palavras da professora, essas modificações não são tão simples de serem feitas:

Por exemplo, num semestre, eu percebo que há a procura dos alunos por determinados assuntos ou então a discussão da sala de aula leva a incluir determinada questão. É muito difícil fazer essas escolhas, o que vai entrar e o que não vai entrar.

Note-se que o trabalho da docente não ocorreu como uma disciplina interdepartamental, planejada, executada e avaliada por professores de diversas áreas (ARAÚJO; BIZZO, 2005), antes ocorreu em um contexto de institucionalização da temática, ampliando o desafio que professora enfrentou com profissionalismo, certa de que a oportunidade era estratégica para o fortalecimento da EA, conforme argumentação de Sorrentino (1995), citada anteriormente. Tal compreensão da parte da docente também se evidenciou pela atitude de acolher esta pesquisa nos moldes em que foi proposta, ou seja, o acompanhamento das aulas.

As alternativas apresentadas pela professora sobre o futuro da EA na formação dos biólogos evidenciam os desafios da temática, conforme se observa em suas palavras:

Mas eu penso assim, a importância dessa discussão, ela não necessariamente precisa ser numa disciplina, mas eu não consigo ainda pensar em como que ela poderia avançar! Então por exemplo, o PIPE é uma tentativa de acabar com as disciplinas, não de acabar, mas de trazer um novo jeito de organização do currículo. As duzentas horas que os alunos fazem de atividade complementar no nosso currículo também seriam uma maneira de flexibilizar!

Este estudo de caso vai ao encontro de Velasco (2002), segundo o qual a disciplina é uma forma de garantia da presença da temática nos cursos. Entretanto, discorda de Nunes (2010), que defende que uma disciplina assegura a inserção “consistente e adequada” da EA nessa modalidade de ensino, encerrando a questão. Antes, os dados dessa pesquisa apontam para a importância dos diversos aspectos que dão sustentação para a disciplina, desde o projeto pedagógico do curso até o comprometimento de quem se dispõe a ministrá-la.

Conforme observei nesse estudo, a inserção de uma disciplina de EA garante a presença da temática no curso de Biologia da UFU, mas não de forma interdisciplinar, que é um dos princípios do assunto. Por outro lado, elenco dois aspectos que se revelaram muito positivos nesses primeiros dois semestres de oferta da disciplina, os quais me levam a reconhecer o papel estratégico dessa forma de abordagem na institucionalização da temática no curso: (1) a valorização da disciplina pelos alunos que reconheceram a importância da EA em sua formação e legitimam assim a entrada do assunto no curso; (2) a competência e dedicação da professora que propôs e conduziu a abordagem da EA a partir de diversos posicionamentos teóricos, com destaque para os Estudos Culturais, acompanhados de várias estratégias didáticas, sempre convidando os alunos a uma participação ativa na disciplina.

Este estudo de caso sugere a limitação da oferta da EA, como disciplina, de contribuir para a inserção da EA nos parâmetros apregoados em Tbilisi e reforçados pelos teóricos que escrevem e atuam nessa área, na formação do biólogo. Sugere também as possibilidades dessa forma de abordagem, especialmente na condição estratégica para institucionalização da temática no referido curso. Juntamente com o acolhimento dos alunos, a disciplina abriu as portas do curso para a EA, o que já é um grande avanço.

A inserção da disciplina de EA no curso de Biologia da UFU estabelece uma nova fase para a EA no mesmo. Essa nova etapa é merecedora de pesquisas que investiguem o papel dessa disciplina em inserir a EA no curso de formação do biólogo.