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2 REFERENCIAL TEÓRICO

3.2 Descrição da disciplina nos dois semestres acompanhados.

3.2.1 Módulo I – Conceitos, Tendências e História da Educação Ambiental

3.2.1.2 Sondando as concepções de Educação Ambiental dos alunos

No 1º semestre de 2009, o objetivo da primeira atividade da disciplina foi levantar as concepções dos alunos sobre EA a partir de uma atividade em grupo intitulada Dinâmica do Diamante (anexo 5). Nessa atividade, os grupos deveriam montar a figura de um diamante utilizando nove fichas que continham frases com ideias sobre EA. O verso de cada ficha possuía uma das cores: verde, preta, rosa e vermelha. Cada uma dessas cores estava

relacionada com uma das quatro concepções de EA, as quais foram adaptadas16 de Fernandes (2002): Tradicional, Resolução de problemas, Integradora e Transformação Social (anexo 6). Ressalte-se que essa autora é a técnica que acompanhava a disciplina. À medida que os alunos concordavam com a frase contida na ficha, a mesma era colocada na parte superior da figura, da mesma forma como a discordância da frase significava seu posicionamento na parte inferior da figura.

Após a dinâmica, os alunos receberam de volta a folha contendo a concepção inicial e participaram da exposição da professora sobre as quatro concepções adotadas. Após essa exposição, os alunos utilizaram a mesma folha para escrever com qual das quatro mais se identificava.

A análise das concepções dos 30 alunos participantes após a Dinâmica do Diamante permitiu-nos perceber que:

11 alunos se identificaram com a concepção Integradora, uma visão sistêmica da relação homem e natureza, embora, para três deles, essa concepção pode não estar definida, recebendo a influência de outras como a Resolução de problemas e a Tradicional, uma vez que citam essas concepções como uma segunda opção;

10 alunos se identificaram com a concepção Resolução de problemas;

9 alunos se identificaram com a concepção Tradicional. Para esses alunos, o objetivo da EA é a proteção da natureza.

A concepção Transformação social não aparece entre os alunos, pelo menos nesse momento. Nos dados colhidos por Fernandes (2002) essa concepção também não aparece, motivo pelo qual ela exclui essa categoria em sua tipologia. A ausência da concepção de EA como transformação social se confirma entre os alunos na metade do primeiro semestre, em uma atividade envolvendo temas polêmicos em EA. O desenvolvimento da temática EA e Agroecologia causou dificuldades no diálogo entre os alunos. O distanciamento dos graduandos em relação aos aspectos políticos envolvidos em temáticas como a Agroecologia

16 Em sua dissertação de mestrado em Ecologia, Fernandes (2002) construiu as seguintes tipologias: Tradicional, Resolução de problemas, Integradora e Não elucidativa. A adaptação a que se refere o texto está na exclusão da categoria Não elucidativa e a inserção da categoria Transformação social.

levou a docente responsável pela disciplina, a técnica da área de Prática de Ensino e o pesquisador a refletirem sobre alguns direcionamentos para a disciplina.

No 2º semestre a professora incluiu outra atividade, além da dinâmica do Diamante, para levantar a concepção inicial dos alunos sobre EA, realizando um passeio fotográfico pelo campus Umuarama, onde está localizado o Instituto de Biologia da UFU. Para organizar o trabalho, as turmas A foi dividida em grupos, assim como a turma B. Cada grupo recebeu uma máquina digital para registrar imagens do campus que refletissem sua percepção sobre EA. Conforme a professora, tratava-se do exercício do ver.

Das fotografias obtidas pelo grupo, cada aluno selecionou duas fotos as quais foram impressas, legendadas e apresentadas para a turma. Foram selecionadas fotos com temáticas sobre reciclagem, prédios, carros, grupos de pessoas, bichos e plantas. Durante a apresentação oral, os grupos chamaram a atenção para a transformação do ambiente, de natural para urbano. Esse foi o principal discurso dos grupos. Nesse ambiente urbano, revelado pelas fotos do campus, criticaram a colocação das latas para coleta seletiva dizendo que posteriormente o lixo seria reunido no lixão. A frota de carros antigos e a poluição provocada por esses veículos também foi objeto de discussão.

As apresentações dos alunos da turma A revelaram uma percepção integrada do ambiente, com bastante aproximação com a concepção Resolução de Problemas. Para alguns, basta planejar. Bastante objetivo sobre a questão, um deles declarou: “Cansei dessa história de macaquinho na árvore, Parque Siquieroli17”.

Por outro lado, o discurso dos alunos da turma B revelou a força da tradição naturalista nos cursos de Ciências Biológicas. Não fosse a provocação da professora, da técnica da área de Prática de Ensino e do pesquisador, esses alunos passariam todo o tempo da aula ressaltando as cores, os movimentos, os lagos, a resistência dos bichos e das plantas, etc. A maior parte da turma B entende que o objetivo da EA é a preservação ambiental.

Durante a atividade, a técnica da área de prática de ensino, que reside no Campus Umuarama, ofereceu contribuições riquíssimas sobre a história e a percepção que possui daquele bairro e do próprio campus, ajudando os alunos a entenderem o tempo presente das fotografias a partir de elementos fidedignos do passado. Chamou minha atenção a importância do conhecimento da história e da cultura da localidade em questão, como elementos que favorecem o trabalho de EA.

17 O Parque Municipal Victório Siquieroli leva o nome do doador das terras para sua construção, em 1996. Localizado na região norte de Uberlândia, o parque possui 232.300 metros quadrados, nos quais se encontram um museu de biodiversidade do cerrado, brinquedos infantis e inúmeras espécies de plantas.

Nessa aula, perguntei aos alunos sobre seu envolvimento com a pesquisa em EA, já sabendo que a apresentação tardia da EA, no currículo do curso, os distanciava da temática, por já estarem comprometidos com as outras áreas da Biologia, o que foi confirmado por suas respostas. Sobre seu envolvimento com a Educação Básica, outra parte de meu questionamento, apenas dois alunos disseram já atuarem como professores na Educação Básica.

Na Dinâmica do Diamante, realizada no 2º semestre, a turma A foi dividida em três grupos, assim como a turma B. Os alunos desenvolveram a atividade, seguida de apresentação e discussão dos resultados. Assim, como no semestre anterior, as fichas deveriam compor a figura de um diamante, sendo que, à medida que os alunos concordavam com a frase contida na ficha, a mesma era colocada na parte superior da figura, da mesma forma como a discordância da frase significava seu posicionamento na parte inferior da figura.

Diante das seis figuras na forma de diamante, compostas pelos grupos foi possível perceber que:

Os três grupos da turma A manifestaram maior apreciação pela concepção Integradora (cor rosa), sendo a concepção Tradicional (cor verde) ou Transformação Social (cor vermelha) apresentada como menos apreciada. Nos três grupos, a concepção de EA como Resolução de Problemas (cor preta) apareceu no meio das figuras, indicando que tal concepção é parcialmente apreciada;

Os três grupos da turma B tiveram percepções um pouco diferentes. A concepção Transformação Social apareceu como mais apreciada em dois grupos, sendo a concepção Resolução de Problemas e Tradicional menos apreciada. A Resolução de Problemas apareceu como mais apreciada em um dos grupos, sendo a concepção Integradora a menos apreciada.

Diante das imagens do diamante ali expostas, os resultados da atividade fotográfica não se confirmaram, pelo contrário se inverteram. Na atividade com a fotografia, a turma B demonstrou identificar-se com a concepção Tradicional de EA, porém, na Dinâmica do Diamante, a concepção com a qual mais se identificaram foi a Crítica. Esse episódio alertou a professora e o pesquisador para possíveis dificuldades de interpretação das concepções presentes nas fichas da Dinâmica do Diamante, o que já havíamos percebido no semestre anterior, na discussão com os alunos. Depois da aula, a professora comentou em conversa

com o pesquisador e com a técnica que deixaria de trabalhar com esse instrumento para sondar as concepções dos alunos.