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2 REFERENCIAL TEÓRICO

3.2 Descrição da disciplina nos dois semestres acompanhados.

3.2.1 Módulo I – Conceitos, Tendências e História da Educação Ambiental

3.2.1.3 Leitura, discussão e produção de textos

Vários textos foram adotados no primeiro semestre, com o objetivo de discutir conceitos, tendências e a história da EA.

O primeiro texto “Da pessoa ao planeta” (ALPHANDERY; BITOUN; DUPONT, 1992) realiza uma sofisticada revisão histórica do pensamento ecológico desde Jacques Costeau até os dias atuais. Nessa trajetória, conceitos como Hedonismo, Pós-Modernidade, Ecologia Espiritualista, Nova Era, Conspiração de Aquário e Hipótese de Gaia foram utilizados pelo autor. O fragmento abaixo ilustra o perfil do texto:

A ideia de que é preciso refazer os elos entre a pessoa e o planeta ameaçados por inimigos comuns serve então, hoje em dia, como elemento de união a inúmeros componentes da sensibilidade ecológica do mundo. Estes tentam encontrar na proteção da natureza restos de sentidos para os indivíduos. Assim colocam-se em ação processos identificatórios ou identitários, suscetíveis de recriar territórios, reais ou simbólicos, nos quais os homens possam se reconhecer (ALPHANDERY; BITOUN; DUPONT, 1992, p. 34). No outro texto “Deconstruyendo la história de la educación ambiental” (GAUDIANO, 2007), escrito em língua espanhola, o autor buscou relacionar a história oficial da EA com aquela que se efetiva na realidade, especialmente no contexto da América Latina. Nesse percurso, conceitos como capitalismo tardio, teologia da libertação e racionalidade instrumental foram utilizados pelo autor. O fragmento transcrito abaixo sintetiza o texto:

Sua história (se refere à história da EA) oficial tem sido construída a partir das declarações das reuniões de cúpula; porém se trata de uma história sem sujeitos e sem fissuras, que se produzem em uma contínua e coerente trama discursiva, que descreve uma unidade constituída por aproximações sucessivas. Nada mais longe da realidade18 (GAUDIANO, 2007, p. 29).

Além desses, foi utilizado também o texto “Desenvolvimento e meio ambiente” (LAYRARGUES, 1998). Nele, o autor faz uma revisão histórica do pensamento ecológico,

18 Tradução nossa do original em Espanhol: Ello es importante porque su história oficial tem sido construída a partir de las declaraciones de reuniões cumbre; pero se trata de uma história sin sujeitos y sin fisuras, que se produce em uma continua y coherente trama discursiva que describe una unidade constituída por aproximações sucessivas. Nada más lejos de la realidad (GAUDIANO, 2007, p. 29).

focalizando o ecologismo nos seguintes estilos de desenvolvimento propostos para o terceiro mundo: Desenvolvimento convencional; Desenvolvimento endógeno; Ecodesenvolvimento e Desenvolvimento sustentável. No desenrolar do texto, o autor discute a urgência e a distância de uma ética ecológica, bem como a importância da participação coletiva nos processos de tomada de decisão. O fragmento a seguir foi transcrito da introdução do texto e evidencia seu objeto de discussão:

(...) o objeto de escolha não se situa entre desenvolvimento e meio ambiente. A escolha situa-se precisamente entre que tipo de desenvolvimento, o qual, seja o terceiro mundo ou a própria civilização ocidental, deseja implementar daqui em diante. Ou seja, a questão que se coloca é como ocorrerá um estilo de desenvolvimento que estabeleça relações em harmonia com o ambiente, ou melhor, qual racionalidade, a ecológica ou econômica, terá obtido o direito de legitimidade em aplicar seu ideário na prática, expressa por um modelo de desenvolvimento (LAYRARGUES, 1998, p. 125-126).

Para o trabalho com os textos de Alphandery e Gaudiano, a professora solicitou que os alunos se dividissem em dois grupos segundo o critério de facilidade de leitura do espanhol. Um tempo foi estipulado para que os grupos pudessem dizer o que mais gostaram do texto e o que mais acharam estranho. Além disso, deveriam decidir se indicariam ou não a leitura de seu texto para o outro grupo, justificando essa decisão. Após o tempo estipulado, passou-se à discussão dos textos e logo os alunos do primeiro grupo começaram a expor a dificuldade em interpretar o texto traduzido do francês, aspecto que foi bem compreendido pela professora. Apesar dessa dificuldade, esse grupo achou o texto interessante, do ponto de vista geral, recomendando sua leitura para o outro grupo. Por outro lado, o outro grupo não recomendou a leitura para o primeiro grupo, argumentando que se tratava de uma leitura para profissionais no momento de preparação de aulas para EA. Registraram que a compreensão dependia de leituras anteriores, sobre a história da EA, aspecto que também foi bem compreendido pela professora. Apesar dessa declaração, o grupo não criticou o conteúdo do texto, embora não tenha feito nenhum registro positivo sobre algum assunto abordado no capítulo.

Após esse momento de exposição dos textos pelos grupos, a docente apresentou alguns slides com resumo das obras, trazendo novas discussões como a questão da inclusão da dimensão política na questão ambiental, fato bastante abordado pelo texto em espanhol do professor Gaudiano. Nesse instante, a professora trouxe de volta o resultado do levantamento das concepções na aula anterior, na qual a concepção Transformação social não aparecera entre os alunos. A professora reafirmou de forma contundente que os alunos não deviam ser

ingênuos, que não era preciso assumir nem discutir a dimensão política na questão ambiental, mas isso é diferente de dizer que ela não existe.

No início da discussão do texto “Desenvolvimento e meio ambiente”, de Felipe Pomier Layrargues, contextualizei um pouco o autor, cujo nome só aparece no cenário nacional a partir de 2003, com a subida ao poder do Partido dos Trabalhadores (PT). O autor, militante político, era membro do Ministério do Meio Ambiente, juntamente com Marcos Sorrentino e outros educadores. A discussão continuou e foi ganhando corpo à medida que se revelava a temática do desenvolvimento sustentável. Além deste conceito, a inclusão de termos como ecodesenvolvimento, globalização, mundialização, modernidade e pós- modernidade chamou a atenção dos alunos. Fiz algumas considerações sobre o período chamado de modernidade e a reivindicação para a substituição da noção de desenvolvimento sustentável para sociedade sustentável, esta última assumida recentemente em termos legislativos pelo governo brasileiro.

Utilizando um roteiro escrito que foi entregue a cada aluno, a professora solicitou a elaboração de uma produção escrita a partir desse texto de Layrargues (anexo 7). Conforme roteiro, o objetivo era fazer uma reflexão sobre o conceito de desenvolvimento sustentável e a relação deste com outros conceitos como Ecodesenvolvimento, Sustentabilidade e Sociedade Sustentável.

As dificuldades dos alunos com os três textos comprometeram um pouco o desenvolvimento histórico-conceitual da EA no primeiro semestre de 2009. Embora tenham sido muito bem escritos, a leitura e discussão dos mesmos exigiam o conhecimento prévio de diversos conceitos, os quais não eram conhecidos pelos graduandos. Essa dificuldade ficou evidente na atividade escrita a ser elaborada em casa a partir do texto de Layrargues, com os alunos apresentando dificuldades para sua elaboração, solicitando maior prazo para que fossem feitos novamente.

Para as atividades de leitura de textos no 2º semestre, a professora fez algumas modificações: Ampliou o tempo, excluiu a discussão do texto em espanhol do Professor Gaudiano, embora tenha permanecido como bibliografia, e incluiu uma discussão sobre os encontros nacionais e internacionais sobre EA, com o objetivo de conhecê-los, bem como seus frequentadores e seus resultados, além de verificar a interferência ou não dessas reuniões na EA. A programação no roteiro de atividades entregue aos alunos (anexo 8) apresentava os seguintes itens:

1. Exibição de trechos da edição de dois programas do Repórter Eco sobre a “Rio + 10 – Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável”;

2. Discussão de temas exibidos e a forma como a televisão (Repórter Eco) noticiou tal reunião;

3. Buscar na Internet informações sobre reuniões no Brasil e na América Latina e Caribe que tratem sobre educação ambiental:

a. VI Fórum de Educação Ambiental no Brasil (Rio de Janeiro/2009);

b. V Congresso Ibero Americano de Educação Ambiental (abril de 2006 em Joinvile);

c. Agenda 21; d. Outros.

4. Fazer anotações sobre documentos, declarações, cartas construídas nessas reuniões. Observar discussões atuais e marcos históricos.

Durante as discussões sobre as reuniões internacionais, um dos alunos se posicionou de forma bastante pessimista, afirmando que os resultados palpáveis não são significativos para uma mudança que, para ele, deveria ser radical. Em certo momento chegou a dizer: “No papel, a Agenda 21 é linda! Quero ver na realidade”. Esse discurso foi endossado pela fala de outros colegas. Por outro lado, uma aluna, que é membro da ONG Organização para Proteção Ambiental (OPA), protestou dizendo que os processos de mobilização e decisão política eram lentos e que já havíamos progredido muito. Essa aluna possuía em mãos uma série de manuais do Ministério do Meio ambiente (MMA) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA), utilizados durante uma reunião para elaboração da Agenda 21 local. O impasse ficou estabelecido e foi necessária a intervenção da docente no sentido da tolerância ao pensamento alheio.

Convém ressaltar a riqueza que se seguiu na discussão, com a questão da gestão ambiental e da política ocupando alguma atenção dos alunos como caminhos possíveis para a mudança da relação homem e natureza. No calor da discussão, alguns alunos chegaram a afirmar que a Educação escolar parece distante demais dessa mudança que se requer agora, o que levou a professora e o pesquisador a ponderarem sobre os limites e as possibilidades da temática, se desenvolvida somente no ambiente escolar.

A cronologia da EA, ausente no primeiro semestre, foi avaliada como positiva pela professora, em face do envolvimento da turma.