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CAPÍTULO III – ANÁLISE E DISCUSSÃO DO CORPUS DA PESQUISA

3.1. O QUE É PROPOSTO

3.1.2. Discurso do professor

Para atender ao segundo objetivo específico da pesquisa, identificar as percepções do professor quanto à articulação entre as dimensões informativa e formativa do processo educacional, foram entrevistados oito professores. Feitas as entrevistas, as falas foram transcritas, na íntegra, para possibilitar a análise do corpus. Cada entrevista durou em média 40 minutos e o exaustivo trabalho de transcrição demorou 24 horas. Visando à preservação da identidade dos professores participantes, estes foram codificados com a letra “P”, seguida de sequencial à sua direita (P1 a P8).

Tal como ocorreu na análise documental, definiu-se como unidade de codificação a análise categorial, em que se verificou a presença ou ausência de itens de sentido. Considerando os objetivos propostos e, de acordo com os princípios teóricos da análise de conteúdo, os dados foram organizados em categorias semânticas, sendo as unidades de registro escolhidas conforme a coleta

de dados a partir de frases, afirmações e resumos. A escolha teve como ponto de início os assuntos previamente selecionados no roteiro de entrevista.

Desse modo, aos assuntos predeterminados no roteiro foram agregados outros itens coletados nas entrevistas, formando um conjunto de informações que se tornaram os núcleos de sentido na comunicação estabelecida entre pesquisador e participantes. Foram organizados em três rubricas, sob os títulos genéricos conforme abaixo (ver Figura 6).

Figura 6 – Discurso do professor: categorias analisadas. Fonte: dados coletados nas entrevistas.

3.1.2.1. Informação

A sociedade atual é marcada por uma avalanche de informações sobre os indivíduos, interferindo no processo educacional, o qual passa a se basear no acúmulo de conhecimentos em detrimento da formação pessoal e social. Um cenário que, segundo Alarcão (2008), exige a reestruturação das relações mantidas por professores e alunos com o saber e com a utilização que dele se faz. Um processo educacional no qual, de acordo com a concepção freiriana, o professor busca encher os educandos de conhecimentos, como se eles fossem depósitos de conteúdos (FREIRE, 1987).

Para Machado (2004), a escola ainda forma para ocupações bastante específicas, sendo necessário que os cursos de graduação ultrapassem o conteúdo, levando aos egressos uma formação mais ampla, que possibilite o desempenho de funções diversificadas e mantendo o foco na criatividade. Como explica Severino (2010), o processo de ensino-aprendizagem na universidade constitui-se tão somente numa mediação para formar o indivíduo, implicando mais do que o mero repasse de informações empacotadas.

CATEGORIAS

• Articulação entre informar e formar

• Formação

Considerando isto, os participantes foram perguntados quanto à percepção que têm sobre a dimensão informativa do processo educacional. As respostas obtidas foram organizadas em três temas (ver Figura 7).

Figura 7 – Discurso do professor: categoria informação e respectivos temas. Fonte: dados coletados nas entrevistas.

3.1.3.1.1. A informação é conhecimento, instrução, um processo exógeno

O aluno, enquanto ser humano, capta, recebe, digamos, externamente, dos meios de comunicação, de outros meios, digamos, de socialização do conhecimento, da cultura; daí ele vai absorvendo isso. São canais informativos. E a própria aula, também é um canal informativo (P2).

A instrução tá mais voltada para o conhecimento puro [...] Conhecimento das teorias [...] que é o de fora para dentro. E a educação que seria de dentro pra fora (P5).

Para os participantes P2 e P5, a informação se constitui em processos que acontecem da perspectiva externa ao indivíduo. Seria, conforme as falas dos entrevistados, o conhecimento originário de dados, experiências, formas, conteúdos e teorias, que vêm ao encontro do aluno. Em sua resposta, P5 estabelece uma dicotomia entre os termos instrução e educação. Segundo ele, a primeira é o conhecimento puro, que ocorre para o sujeito que aprende; a segunda é um fenômeno que ocorre do sujeito que se educa.

De fato, instruir, proveniente do latim instruere, significa a transmissão de conhecimentos a alguém. Significa ensinar (FERREIRA, 1986). Tem o sentido de edificar, construir dentro de. Diferentemente é o que ocorre com o termo educação, proveniente do latim educare, que significa fazer sair, conduzir para fora, estimular e liberar forças latentes (HAIDT, 1994). Educação é processo de criação do indivíduo, que tem início em seu íntimo, expandindo-se no sentido dos outros e do mundo. Se, por um lado, a instrução pode até separar, a educação integra, à vista de sua função social. INFORMAÇÃO • Técnico • Conteúdo Conhecimento, instrução, processo exógeno

3.1.3.1.2. A informação seria o conteúdo

Eu lembro um pouco a questão da educação informal [...] E também tem a questão da informação [...] Lembra um pouco a questão do conteúdo [...] Lembra informática, a distancia [...] Mas eu acho que na questão da informação seria o conteúdo (P4).

Em consonância com esta fala de P4, o participante P1 entende que a dimensão informativa restringe-se à ideia e à prática de uma educação que busca desenvolver e transmitir conteúdos sistematizados ao aluno.

Em permanecendo nesta transmissão de conteúdos, fica caracterizado o processo educacional em que, segundo Freire (1987), a dialogicidade como essência da educação é negada. Neste sentido, o educador apenas educa, mas não é educado. Não há diálogo com o educando. O educador possui os objetos cognoscíveis, que são descritos por ele e, figurativamente, são depositados na cabeça dos educandos, meros elementos passivos.

Estas percepções são significativas na medida em que remetem, dentre outras, para as seguintes reflexões: estariam os professores, na sala de aula, formando ou informando? Em que medida a pressão para transmitir conteúdos que são definidos sem a participação dos professores estaria contribuindo para restringir o processo educacional à simples informação?

3.1.3.1.3. A técnica como aspecto informativo da educação

Eu formo o aluno como técnico. Então, tem o aspecto bem objetivo da disciplina a que se pretende [...] Então eu tenho que ensiná-lo a agir como gerente [...] a atividade de compra, atividade de suplay, share, os termos técnicos, as contas, as técnicas [...] Então são aspectos formativos importantes que eu não posso abrir mão dele (P7).

Na mesma linha do entendimento de P7, o participante P8 vincula o aspecto informativo do processo educacional à transmissão do conhecimento técnico- científico. Segundo ele, a informação tem a ver “apenas, talvez, com o acréscimo de conhecimentos” que não mudam a atitude do aluno. Que não mudam paradigmas.

Desde os gregos antigos, a preocupação de formar para a techne, transmitindo conhecimentos e aptidões para a prática de uma profissão (JAEGER, 2001), não constitui, em si, um problema. Esta é uma concepção coerente com a fala dos participantes. No geral, ficou evidenciado que eles compreendem e aceitam

que é necessário acumular dados e informações visando à preparação para o mercado de trabalho. O que os preocupa é que, em sendo considerado isoladamente, o conhecimento técnico não contribui para mudar atitudes e posturas dos alunos.

Freire (2009) alerta que não é possível pensar o ser humano longe da ética. Para o autor, a transformação da experiência educativa em puro treinamento técnico significa tornar mesquinho o que existe de fundamentalmente humano no ato educativo, que é o seu caráter formador. No âmbito de uma epistemologia utilizada em prol da formação integral do indivíduo, transformá-la em treinamento técnico significa, nos termos de Morin (2008b), contribuir para perpetuar a desarticulação entre ciências da natureza e ciências do homem. Para o autor, os desenvolvimentos científicos, técnicos e sociológicos têm inter-retroagido apenas quando o processo científico é manipulado em favor da técnica, relegando a formação integral do ser humano ao segundo plano.

Estas teorizações constituem o pano de fundo das preocupações evidenciadas pelos participantes ao mencionarem a preponderância da técnica no processo educacional sobre a formação integral do aluno.

3.1.2.2. Formação

À educação cabe contribuir para atualizar a gênese humana, multidimensional, possibilitando que o indivíduo se desenvolva para além do simples aprendizado de conhecimentos, que o educando se aproprie da construção de sua identidade, realizada por intermédio de dinâmicas educacionais desenvolvidas na interação entre professor e alunos.

Deve permitir que se manifestem valores importantes tanto para o indivíduo como para a sociedade, que sejam resgatados princípios e valores morais universais, tais como o Amor e a Justiça, possibilitando o fazer social (BEUST, 2000).

Neste sentido, buscou-se identificar entre os participantes qual a sua percepção sobre os aspectos formativos do processo educacional. Os dados obtidos foram organizados em oito temas (ver Figura 8).

Figura 8 – Discurso do professor: categoria formação e respectivos temas. Fonte: dados coletados nas entrevistas.

3.1.2.2.1. A formação tem a ver com a visão do ser humano

[... A] formação, ela passa primeiro por uma visão filosófica e antropológica do ser humano... Além da ética, estética e outras dimensões... a política, a convivência, a cultura, são características próprias do ser humano... criatividade, admiração do belo... [...] Formar o ser humano, de modo geral, é prestar atenção, incentivar esses valores, incentivar essas capacidades, que ele tem [...] quando vejo um aluno, quando eu entro na sala de aula, primeiro lugar eu estou vendo aquele aluno como um ser humano. Depois, a partir da visão do ser humano que eu tenho, é que eu o vejo como aluno [...] (P2).

Para P2, as didáticas, técnicas e conteúdos que formam o aluno fundamentam-se na visão que o educador tem sobre o ser humano: “o aluno na sala de aula, ele se forma como sujeito ético, estético, de cultura, [...] que se politiza [...] E as minhas didáticas, as minhas técnicas, as minhas metodologias têm que estar a favor disso... propiciar esse tipo de formação”. Para o participante, formar o indivíduo é desenvolvê-lo enquanto ser humano, num processo que acontece na convivência.

No mesmo sentido, obteve-se a seguinte fala:

Pra mim, formar o aluno parte do pressuposto de olhar pra ele como um ser humano na sua integralidade [...] tanto quanto possível criar condições pra que ele se aprimore, se desenvolva no seu crescimento como pessoa, como ser humano. A gente não desenvolve profissionais, a gente desenvolve seres humanos. Seu desenvolvimento pessoal é a primeira etapa, o primeiro passo, o profissional vem por consequência (P6).

Mais adiante, P6 falou que, ao criar condições para desenvolver o aluno, o professor lança mão de informações, entendidas como um conjunto de conhecimentos adquiridos e acumulados por ele durante a sua vida. Ao falar em desenvolver o ser humano em sua integralidade, o participante declarou que a

FORMAÇÃO

Visão do ser humano

• • Conhecimentos científicos • Mercado de trabalho • Valores • Autonomia Consciência crítica • • Convivência harmônica Relacionamentos •

formação dos alunos inclui aspectos informativos, políticos, cidadãos, afetivos, sociais e ideológicos, permitindo-lhes “fazer opções pela vida”.

Também para P7, formar relaciona-se com a integralidade humana, mais do que a preparação técnico-profissional:

[...] Eu formo o aluno como técnico, [...] um aspecto bem objetivo da disciplina a que se pretende [...] Tem outro aspecto formativo, que é olhando o meu aluno como homem. Da formação dele como cidadão. Como uma pessoa que vai agir com ética. Uma pessoa que vai agir pensando no outro ser humano. Que vai agir respeitando a liberdade do outro. O espaço do outro. Porque isso é mais do que... é assim, num é um aspecto técnico, é um aspecto mesmo da formação dele como homem (P7).

Segundo P7, formar não se restringe ao aspecto técnico porque, nesse caso, isto seria um treinamento, não uma educação. Para ele, formar o aluno é “olhar esses aspectos, humano, sob o ponto de vista assim filosófico, e mais técnico também”.

Na fala desses participantes ficou evidenciada a concepção do ser humano como uma unidade que pensa-sente-quer-age (ARANHA; MARTINS, 1986), um ser integral, que existe não exclusivamente em sua racionalidade; mas, também, em sua dimensão emocional, o que permite a convivência entre os semelhantes; e um ser de vontade, o que o instrumentaliza naturalmente para enfrentar desafios.

Formar o indivíduo, segundo ficou evidenciado, seria criar condições para desenvolver capacidades próprias do ser humano, o que significa ter práticas educacionais que conduzam ao melhor de cada educando como pessoa plena, integral.

3.1.2.2.2. A formação como a preparação para o mercado de trabalho

Eu diria assim preparar muito mais pra esse mercado de trabalho que o aluno vai encontrar aí [...] Hoje você tem crianças que não têm referência familiar... Tem crianças que vêm de contextos totalmente desestruturados [...] É preparar de certa forma pra enfrentar essa realidade que atualmente é uma realidade bem diferente, bem atípica, no contexto de família (P3).

O participante P3 vincula a formação do aluno à preparação para o trabalho, incluindo a lida com contextos familiares adversos. Neste processo, o aluno deve ser incentivado a buscar algo novo, a ler, a participar de seminários e congressos, cabendo ao professor trazer assuntos “lá de fora da escola para a sala de aula”. Vale ressaltar que, mesmo quando P3 vincula a formação do futuro pedagogo ao

desenvolvimento de valores, essa vinculação focaliza o aspecto profissional: “essa questão dos valores tem que ser trabalhada. Por que como é que eu preparo [...] o aluno que vai atuar lá na escola se ele num tem isso...? Aí, voltando pra escola... O que eu vejo lá? Professor sem ética...”.

Outro participante, também vincula a formação diretamente com a preparação para o mercado de trabalho, entendendo que é importante levar o egresso a colocar em prática o aprendizado adquirido:

Formar é um despertar de potencialidades [...] pra profissão que o aluno escolheu [...] Eu, na minha aula, eu procuro, primeiro: fazer com que aquele conhecimento faça sentido pra ele; que ele perceba que ele tem como por aquilo na prática [...] O que é fazer sentido? É transformar esses conhecimentos em outros resultados [...] Tô formando. Eu tô despertando algo de dentro dele, tô juntando, fazendo conexões [...] Que vai fazer ele se desenvolver. Se formar. É isso que eu tenho fazer. Ou seja, com esses conhecimentos [...] que é você pegar aquela teoria e perceber que ela pode te ajudar a ter melhores resultados na sua prática (P5).

3.1.2.2.3. Formar relaciona-se com a preparação para a convivência harmônica

Mas quando a gente fala de formação é mais numa perspectiva integral [...] o objetivo de você formar o individuo pra viver harmonicamente em sociedade. Um indivíduo que tenha valores, um indivíduo que tenha uma perspectiva de trabalho de enfoque coletivo na sua vida, profissional e pessoal [...] Formar um indivíduo não apenas como um profissional, mas pra vida dele... Seja como profissional, seja como uma pessoa humana (P1).

Esta fala de P1 revela o entendimento de que a formação tem o fito de conduzir o aluno para ser alguém digno, ético, com valores; uma pessoa “que possa verdadeiramente contribuir com a sociedade”. Demonstra a compreensão de que formar significa antes de tudo ver o aluno como ser humano. Por isto, deve contribuir para desenvolver valores, preparar para o aspecto profissional e, sobretudo, preparar para a vida social em harmonia.

Segundo P3, formar significa preparar para a convivência agradável entre colegas de trabalho, em ambiente onde haja respeito e as situações de conflito sejam dirimidas da melhor forma possível. O participante questionou: “eu preciso me relacionar, eu preciso conviver num grupo [...] o que é que a gente pode fazer pra essa convivência ser mais agradável?”. Suas reflexões vêm a favor de teorias que explicam o ser humano como um ser sociocultural. Como foi dito antes, cada indivíduo existe na relação significativa mantida com o mundo e com seus

habitantes, não existindo na solidão do encontro que mantém com ele mesmo ou com o ambiente.

Pela fala dos participantes, a formação se destina a preparar o indivíduo para viver em paz, em harmonia com os outros. Como afirma Maria Puig (2007), preparar para aprender a viver.

Neste sentido, formar considera o que havia entre os gregos antigos sobre o fenômeno educativo. Formar o indivíduo significava, para eles, viver os mais diversos aspectos das relações mantidas com os semelhantes. Em última instância, o ato educativo justificava a existência da sociedade. Seu desenvolvimento tinha, no ápice, o conhecimento e a inteligência (JAEGER, 2001) que eram construídos na polis.

3.1.2.2.4. Formar está relacionado com a aquisição de conhecimentos científicos

Num é instruir, não! Formar é adquirir conhecimento! Entendeu? Na formação ele tá adquirindo conhecimento. Ele já pode até trazer esse conhecimento. Mas aqui dentro é o científico. Então, é o contato com o científico, a formação (P4).

Ao ser perguntado o que entende sobre a dimensão formativa do processo educacional, P4 respondeu que dentro da universidade o aluno “só vai ter o contato com o científico, com esse conteúdo científico que a gente chama academia, segundo Platão [...] Aí você fecha a formação”.

Para P4, conhecimento é o que leva à formação. Segundo ele, formar é adquirir conhecimentos científicos num processo de busca que precisa ser contínuo, dialético, porque se vive numa sociedade globalizada. Conhecimentos científicos que precisam incluir, na visão do participante, disciplinas vinculadas às ciências humanas, tais como a filosofia da educação, a sociologia da educação e a história da educação.

Por sua vez, P5 afirma que adquirir conhecimento é instruir-se. Para ele, “a instrução está mais voltada para o conhecimento puro”, sendo que formar é mais do que adquirir conhecimento, devendo abranger, também, a colocação em prática do conhecimento adquirido.

Nós estamos aqui não só para a transmissão do conhecimento científico, o conhecimento técnico-científico, mas, também, para a transmissão de valores. Eu acho que o nosso papel aqui não é um papel só de professor, mas de educador. Então, eu acho que nós temos que contribuir para a formação do cidadão. Uma formação integral [...] Prepará-lo para a vida! (P8).

Esta fala evidencia o entendimento sobre formação integral, envolvendo conhecimentos, valores e o papel do educador. Para o participante, a formação integral pode se traduzir em “... valores, valores, basicamente valores!”. Formar significa fazer com que os conhecimentos adquiridos mudem atitudes em relação a alguma coisa: “não só conhecimento, mas a mudança de atitude; o formativo”. Para o participante, é necessário trabalhar valores no processo educacional.

P1 enumerou três elementos do processo educacional que contribuem para desenvolver valores: o preparo do professor, como pessoa, e não apenas como profissional; abertura do aluno aos processos de mudança; adequação das estratégias pedagógicas, em especial a contextualização do currículo às questões da atualidade:

O professor tem que estar devidamente preparado, enquanto pessoa, principalmente, e não apenas como profissional, para desenvolver isso.. Então, preparado como pessoa, no sentido daquele indivíduo ético, daquele indivíduo responsável, certo? Que tenha condições de chamar atenção do aluno quando for realmente necessário. Daí vem a importância de o professor ser um educador de fato e não um mero transmissor de informações [...] O indivíduo, ele tem que tá aberto pra isso. Se o aluno não tiver aberto pra isso, fica difícil. Por melhor que seja o professor, se o aluno não tiver aberto a ouvir e se o aluno não tiver aberto a mudar – aí vem aquela ideia de que ninguém forma ninguém, de que ninguém educa ninguém [...] E a outra questão são as estratégias pedagógicas. Que aí vem a contextualização do currículo. O fato, por exemplo, de você tá trabalhando temas atuais e que interferem diretamente na questão da ética, na questão da dignidade humana (P1).

Para P6, o educador precisa estar consciente sobre o que fazer com os conteúdos curriculares. Ele entende que “qualquer dinâmica curricular tem valores por trás; tem uma ideologia, uma concepção”, cabendo ao educador saber o que está fazendo. São afirmações que confirmam o entendimento de Silva (2000), para quem a educação tem uma base axiológica, buscando transmitir, reproduzir ou criar valores.

Segundo P4, embora existam disciplinas com conteúdos que facilitem o trabalho de desenvolvimento de valores, o que vale mesmo é a ação do professor, de sua consciência: “puxar um pouquinho para essa questão dos valores”. Neste sentido, P8 afirmou que dar o exemplo é fundamental: “eu tenho certeza que o

professor serve de referencial para o aluno. Não tenho dúvida. Pra uns mais, para outros menos". Também o participante P5 encaminhou sua fala neste sentido ao afirmar que o desenvolvimento de valores, na sala de aula, depende da atitude manifestada pelo professor na resolução de conflitos e da utilização dos próprios conteúdos para desenvolver valores.

O desenvolvimento de valores em sala de aula depende, conforme P4, da presença de conteúdos de disciplinas como filosofia e ética. Já o participante P7 queixou-se da falta de sequenciamento entre as disciplinas do curso, fato que prejudica uma ação mais efetiva de qualquer professor para desenvolver valores. Ele entende que o assunto valores deve perpassar o curso por inteiro: “porque eu não acho legal trabalhar valores só numa parte do curso não; tem que ser o curso todo”.

Neste sentido, para P2, o processo educacional desenvolve valores se a dinâmica curricular for trabalhada na perspectiva da interdisciplinaridade e transdisciplinaridade. Somente assim, concluiu o participante, serão desenvolvidos valores tais como: compreensão, socialização, interação e aproximação. Uma opinião que reforça as ideias de Silva (2007) sobre o desenvolvimento de valores na

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