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A caracterização da amostra permite observar que 53,6% (n=15) dos animais incluídos no estudo eram de raças condrodistróficas, como o Teckel e o Bulldog francês, devendo-se ao facto destas raças serem muito procuradas como animais de companhia. Por sua vez, a etiologia de lesão toracolombar mais encontrada no estudo clínico foi a Hérnia de Hansen tipo I, em 58,6% (n=17) dos animais, estando descrito que há uma predisposição de raças condrodistróficas para a ocorrência de hérnias de Hansen tipo I entre os 3 e os 7 anos de idade (Macias, McKee, May, & Innes, 2002; Olby, et al., 2004; Brisson, 2010; Martins Â. P., 2016), o que mais uma vez é apoiado pelo presente estudo em que 58,6% (n=17) dos animais eram adultos (entre os 3 e os 7 anos de idade).

Através da caracterização da amostra, observou-se que 31% (n=9) dos animais eram seniores e que 34,5% (n=10) dos animais tinham excesso de peso, o que fez com que surgisse a necessidade de adaptação dos protocolos de NRF para estes doentes, uma vez que muitos destes animais têm outras doenças concomitantes como doenças ortopédicas, obesidade, endocrinopatias e doenças cardíacas (Sims, Waldron, & Marcellin-Little, 2015).

Quanto à duração do programa de NRF, o estudo demonstra que a maioria dos animais, 62,1% (n=18), necessita de permanecer 2 meses num centro de reabilitação animal, inserido num programa intensivo de NRF, estando de acordo com um estudo anteriormente realizado no mesmo centro de reabilitação animal (Martins Â. P., 2016).

A maioria dos animais presentes no estudo, 79,3% (n=23), entrou no HVA/CRAA até 1 semana após a lesão medular ou abordagem cirúrgica, dependendo do animal, facto que se deve à crescente sensibilização dos médicos veterinários e dos tutores para a importância de uma abordagem precoce de NRF, e também pelo facto do estudo clínico ter sido realizado num centro de referência de reabilitação animal.

Quanto à pontuação dos animais à entrada no HVA/CRAA, segundo a EBNRF, 72,2% (n=21) dos animais incluíram-se na classificação de “mau prognóstico” (0 a 9 pontos), o que é compatível com o facto de os animais terem entrado, segundo a escala de Frankel Modificada, com pontuação de 0,1 e 2, que segundo Davis, et al. (1993), a pontuação 0 indica um mau prognostico e as pontuações 1 e 2 indicam um prognostico reservado, o que vai de acordo com outros estudos (Crozier, Graziani, Ditunno, & Herbison, 1991; Marino, Ditunno, Donovan, & Maynard, 1999).

60 Em relação à pontuação dos animais à saída do HVA/CRAA, segundo a EBNRF, 72,2% (n=21) dos animais incluíram-se na classificação de “bom prognóstico”, e a mesma percentagem de animais foi considerada funcional no fim do protocolo de NRF, 72,4% (n=21), existindo uma relação significativa entre a pontuação da EBNRF com a funcionalidade (p < 0,01), o que demonstra a sensibilidade da EBNRF e valida a mesma. Este facto também sugere que os protocolos de NRF aplicados estimulam as propriedades da medula espinhal, o que vai de encontro a estudos realizados anteriormente (Duysens & Crommert, 1998; Grasso, et al., 2004; Edgerton & Roy, 2009; Olby, et al., 2009; Dietz V. , 2012; Hubli & Dietz, 2013; Lewis, Howard, & Olby, 2017; Gerasimenko, et al., 2014; Krueger, et al., 2017).

Através da comparação da pontuação à entrada e à saída do HVA/CRAA, dos 72,2% (n=21) dos animais que entraram com classificação de “mau prognóstico”, 10,2% (n=3) saíram com a mesma pontuação. Analisando a tabela de pontuação semanal da amostra (Anexo III), todos os animais que saíram com classificação de “mau prognóstico” entraram com a mesma classificação, e que apesar de 10,2% (n=3) dos animais não terem atingido uma melhor classificação, nenhum dos animais regrediu, o que faz da NRF animal uma área da medicina veterinária benéfica para todos os cães neurológicos, de qualquer etiologia, mesmo nos animais diagnosticados com fratura vertebral, desde que se tenham os devidos cuidados aquando a realização dos exercícios e modalidades terapêuticas de NRF.

Através da análise estatística, foi encontrada uma relação significativa entre a média da pontuação da população às 4 semanas após o inicio do protocolo de NRF e a média da população às 8 semanas após o inicio do protocolo de NRF (F (8,208) = 6,823, p < 0,01), ou seja, o protocolo de NRF permitiu todos os animais chegarem a uma média de pontuação semelhante às 4 e às 8 semanas de NRF, sugerindo a eficácia do plano NRF independentemente das outras variáveis, como raça, idade, CC e etiologia (Martins Â. P., 2016). Para além disso, houve uma relação significativa entre a pontuação, segundo a EBNRF, e o período temporal de NRF (p < 0,01), que não se deve apenas ao protocolo inicial de NRF, mas também à adaptação semanal individual de cada protocolo de NRF.

O estudo indica que os animais que têm alta médica após 4 semanas de NRF têm uma recuperação abrupta durante a primeira quinzena, sugerindo linhas orientativas de pensamento que permitem determinar um ponto temporal crucial de avaliação e determinação do prognóstico do doente neurológico na 2ª semana de NRF.

61 Uma vez que a proprioceção é o último parâmetro sensorial a ser recuperado (Fong, et al., 2009; Glass, 2009; Schenkman, Bowman, Gisbert, & Butter, 2016), a curva de análise do parâmetro “Avaliação dos Defeitos de Movimento” é uma curva de aceleração positiva, o que reforça a necessidade de aplicação de protocolos de NRF intensivos e numa fase precoce após a lesão medular (Sims, Waldron, & Marcellin-Little, 2015; Takao, et al., 2015).

Dos animais considerados funcionais, 14,3% (n=3) apresentaram uma locomoção fictícia funcional, o que sugere a importância da NRF em doentes neurológicos sem sensibilidade à dor profunda (Courtine, et al., 2009; Gerasimenko, et al., 2010; Musienko, et al., 2011; Angeli, Edgerton, Gerasimenko, & Harkema, 2014; Lavrov, et al., 2014), os quais são muitas vezes eutanasiados devido ao prognostico inerente. Assim, os resultados propõem a NRF como uma área essencial na recuperação da funcionalidade dos doentes neurológicos, mas também como uma alternativa à eutanásia.

Quanto à consulta de seguimento, 37,9% (n=11) dos animais que compareceram à consulta de seguimento melhoraram, e os restantes animais mantiveram o quadro neurológico, o que permite demonstrar a possibilidade de estimulação das propriedades da medula espinhal, nomeadamente da memorização medular (Edgerton, Kim, Ichiyama, Gerasimenko, & Roy, 2006; Raineteau, 2008; Courtine, et al., 2009; Lavrov, et al., 2014).

Dentro da amostra populacional do estudo, houve uma relação significativa entre a pontuação à entrada no HVA/CRAA e a etiologia (F (3,25) = 3,162, p = 0,042), ou seja, os animais que entraram com pontuações mais altas, segundo a EBNRF, foram os animais diagnosticados com hérnia de Hansen tipo II, o que está de acordo com a revisão bibliográfica (Macias, McKee, May, & Innes, 2002) que sugere a paraparésia ambulatória a apresentação clínica mais comum de cães diagnosticados com hérnia de Hansen tipo II.

No estudo, foi encontrada uma relação significativa entre a pontuação à entrada com a duração do programa (p < 0,01) e entre a duração do programa e a pontuação à saída (p = 0,03), para além de ter sido observado uma correlação direta entre a pontuação de entrada e a pontuação de saída (R = 0,614, n = 39, p = 0,037), assim como entre a melhoria e a pontuação á saída (R = 0,489, n = 29, p = 0,07), o que faz sentido do ponto de vista médico e permite a validação da escala.

Em relação à melhoria dos animais, os animais diagnosticados com ENCNP tiveram uma recuperaram maior relativamente aos outros animais, podendo este facto estar relacionado com

62 a fisiopatologia da doença, em que não ocorre compressão medular, e pelo facto dos mesmos animais não recorrerem a uma abordagem cirúrgica, a qual pode desencadear um quadro de choque espinhal, com diminuição dos reflexos espinhais periféricos, nomeadamente do reflexo flexor (McKinley, Meade, Kirshblum, & Barnard, 2004) .

No estudo, os animais jovens também tiveram uma recuperação maior, o que vai de acordo com a revisão bibliográfica (Macias, McKee, May, & Innes, 2002; Davis & Brown, 2002; Penning, Platt, Dennis, Cappello, & Adams, 2006) em que um bom prognóstico, após lesão medular, foi associado a idades jovens, pensando-se na possibilidade de aumento da condução nervosa e de massa muscular neste grupo de animais (Birren & Wall, 1956; Brooks & Faulkner, 1988). Por seu lado, houve uma relação significativa entre a melhoria e a CC (F (2,26) = 4,744, p = 0,018), uma vez que animais com CC de 4 tiveram uma recuperação mais lenta, o que foi observado anteriormente (Forterre, et al., 2010), e que talvez se deva ao facto destes animais serem mais pesados, o que faz com que seja mais difícil a realização dos protocolos de NRF (Bergknut, et

al., 2012).

Em relação ao parâmetro de “Avaliação sensorial”, a melhoria dos animais ao longo do protocolo de NRF não foi tão constante em comparação com os outros parâmetros, o que suporta o facto da avaliação sensorial ser complexa (Olby, et al., 2001), devendo-se também à questão de que em animais sem sensibilidade à dor profunda, esta pode-se encontrar oscilante quanto aos dias e quanto às horas do dia.

O estudo apresenta algumas limitações inerentes ao facto de ser um estudo clínico elaborado num período temporal de 6 meses, como a não validação da EBNRF inter-observadores e intra- observadores que atribui objetividade à escala.

Quanto à EBNRF, esta não permite a avaliação individual de cada MP, e a “Avaliação do Movimento” não foi feita através da observação do movimento das proeminências ósseas, de modo a estudar a biomecânica das cadeias de movimento.

Ao longo da aplicação da EBNRF, foi observado que os cães do estudo com sensibilidade à dor profunda, ou seja, com classificação de 4 no parâmetro de “Avaliação Sensorial”, atingiam, na sua maioria, pontuações altas mais rápido, o que faz da EBNRF menos discriminatória nestes cães. Por esta razão, a escala será fragmentada e modificada após trabalho de equipa entre a Mestre Ângela Martins, instrutora do CCRP que participou neste estudo, com a Professora

63 Doutora Natacha Olby, para aplicação da EBNRF modificada em cães com lesão toracolombar sem sensibilidade à dor profunda.

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