• Nenhum resultado encontrado

1. Introdução à NRF

1.5. Monitorização dos Doentes em NRF

De modo a determinar se o plano de NRF é o mais adequado e se o animal está a progredir, são necessários métodos e ferramentas de avaliação, que idealmente devem ser objetivos, fáceis de aplicar, baratos, não-invasivos e capazes de discriminar as diferentes fases de evolução de um doente neurológico. Um método de avaliação fácil é a observação da capacidade de o doente realizar os diferentes exercícios propostos ao longo dos dias, no entanto não é objetivo, uma vez que depende fortemente do observador. Outros métodos e ferramentas de avaliação incluem o analisador de estação, a goniometria e a medição da massa muscular, que por apenas avaliarem um parâmetro de evolução, não refletem a progressão e recuperação do doente. Por outro lado, várias escalas funcionais têm sido desenvolvidas nos últimos anos de modo avaliar com mais sensibilidade a progressão neurológica e funcional do doente (Millis & Ciuperca, 2015).

33 1.5.1. Escalas Funcionais

O desenvolvimento de escalas funcionais de avaliação do estado neurológico do animal, como medida de prognóstico e monitorização, é essencial na prática de NRF. Apesar de serem simples de usar, as mesmas escalas funcionais, por norma, têm sensibilidade e confiança limitadas, uma vez que as observações são subjetivas, dependendo muito do observador (Alessandra, Molina, Cristante, & Filho, 2004). De modo a aumentar a objetividade, foram criados métodos semiquantitativos de avaliação da marcha, como a Escala de Frankel Modificada (tabela 2), inicialmente desenvolvida para humanos com mielopatia traumática (Levine G. J., et al., 2009; Lee, Bentley, Weng, & Breur, 2015).

TABELA 2–ESCALA DE FRANKEL MODIFICADA (ADAPTADA DE FRANKEL, ET AL.,1969)

0 Tetraplegia ou paraplegia sem sensibilidade à dor profunda 1 Tetraplegia ou paraplegia sem sensibilidade à dor superficial

2 Tetraplegia ou paraplegia com sensibilidade à dor profunda e superficial 3 Tetraparesia ou paraparesia não ambulatória

4 Tetraparesia ou paraparesia ambulatória 5 Locomoção normal com hiperestesia espinhal

1.5.1.1.Escala de Tarlov, Klinger, & Vitale (1953)

Tarlov, Klinger, & Vitale (1953) desenvolveram uma escala de classificação do movimento após a produção de compressão medular na zona toracolombar e lombar em cães. Esta escala (tabela 3) foi aplicada semanalmente, tendo chegado aos resultados de que o retorno à funcionalidade depende da magnitude da força e do tempo de compressão medular. No entanto, apesar de ser simples e fácil de usar, a escala não analisa todos os parâmetros necessários para a avaliação da recuperação de um doente neurológico (Alessandra, Molina, Cristante, & Filho, 2004).

34

TABELA 3–ESCALA DE CLASSIFICAÇÃO DO MOVIMENTO (ADAPTADA DE TARLOV,KLINGER,&VITALE,1953)

0 Ausência de movimento voluntário 1 Presença de movimento articular residual

2 Presença de movimento articular normal, mas o animal é incapaz de se levantar 3 O animal é capaz de se levantar e andar

4 Recuperação completa

1.5.1.2.Escala BBB de Basso, Beattie, & Bresnahan (1995)

Basso, Beattie, & Bresnahan (1995) desenvolveram uma escala de classificação da locomoção em ratos que sofreram lesão medular toracolombar em laboratório. A escala baseia-se nos movimentos das articulações da anca, joelho e tarso, e no movimento do tronco e cauda, contemplando 21 pontos (anexo I). Por sua vez, os resultados indicam que a escala é fácil de aplicar e sensível nas diferentes fases de recuperação da função locomotora dos doentes, oferecendo uma medida de avaliação mais discriminativa que as escalas modificadas de Tarlov (Sra, Aldrich, Bernbeck, & Dclamarter, 1999; Basso, Beattie, & Bresnahan, 1995; Alessandra, Molina, Cristante, & Filho, 2004). Para além disso, é uma escala semiquantitativa, uma vez que não é ambígua (exemplificando, o movimento articular normal é definido como um movimento articular com mais de 50% da AMA normal) (Basso, Beattie, & Bresnahan, 1995).

Uma questão observada aquando a aplicação da escala BBB foi que alguns pontos raramente eram anotados devido à proximidade de descrição do movimento entre certos pontos. Então, modificações desta escala foram feitas, reduzindo o número de pontos (Ferguson, et al., 2004).

1.5.1.3.Sistema de Classificação Funcional de Olby, et al. (2001)

Olby, et al. (2001) desenvolveram e compararam dois métodos de avaliação da marcha de cães com lesão toracolombar em NRF, com o objetivo de criar um sistema de classificação para determinar o nível de evolução funcional dos mesmos cães, tendo sido usado uma escala numérica e uma escala visual.

No total, foram avaliados 29 cães, 12 cães classificados como paraplégicos sem sensibilidade à dor profunda e 17 cães classificados como paraparésicos não ambulatórios com sensibilidade à dor profunda. Por sua vez, os mesmos cães foram avaliados na 1ª semana, 4ª semana e 12ª semana após lesão medular (Olby, et al., 2001).

35 Os resultados demonstraram que a escala numérica é significativamente mais fiável que a escala visual, tendo sido observado que os cães com lesão medular toracolombar passavam por 5 fases de recuperação, que posteriormente foram divididas segundo padrões de recuperação observados nas filmagens, formando uma escala com 14 pontos (anexo I) (Olby, et al., 2001). Para além disso, foi observado que cães paraplégicos ou paraparésicos não ambulatórios com sensibilidade à dor profunda recuperaram a função motora, a sua maioria, ao fim de um mês, contrastando com os cães sem sensibilidade à dor profunda que, os que recuperaram fizeram- no num período superior a três meses (Olby, et al., 2001).

Neste estudo, concluiu-se que a escala numérica desenvolvida melhorou o desempenho dos métodos clínicos (Olby, et al., 2001). No entanto, este método de avaliação possui certas limitações como a necessidade de filmar, a impossibilidade de aceder aos MT e a impossibilidade de distinguir assimetrias entre membros, para além de que as reações posturais não são avaliadas (Levine G. J., et al., 2009)

1.5.1.4.Escala OGA (Observational Gait Analysis) de Lee, Bentley, Weng, & Breur (2015)

Lee, Bentley, Weng, & Breur (2015) desenvolveram uma escala de análise da marcha de animais com lesão toracolombar classificados como paraparésicos ambulatórios. A escala é baseada na escala desenvolvida por Olby, et al. (2001), mas modificada de forma a avaliar cada MP individualmente (anexo I) (Levine G. J., et al., 2009). Como conclusão, o sistema de classificação teve pouca concordância entre observadores quanto à classificação, mas uma boa concordância quanto ao membro mais afetado (Lee, Bentley, Weng, & Breur, 2015). Noutro estudo, a escala OGA provou ser fácil de aplicar e mais sensível que as formuladas anteriormente, uma vez que avalia individualmente cada MP (Levine G. J., et al., 2009; Wie,

37

Documentos relacionados