CAPÍTULO 6 – RESULTADOS E DISCUSSÃO
6.4 Discussão dos resultados
A partir dos resultados deste trabalho pode-se identificar que esses modos de
conversão do conhecimento (socialização, externalização, combinação e internalização), ao
serem aplicados nas atividades dos coordenadores executivos, podem auxiliar nos processos
de construção e de compartilhamento do conhecimento entre os membros da INCOOP. Estas
conversões propiciam a mudança do aprendizado, de individual para coletivo, permitindo que
o conhecimento não fique restrito a alguns membros e que as experiências individuais e/ou
coletivas possam ser compartilhadas e devidamente registradas, de modo a evitar que
dificuldades acometam as atividades da incubadora quando da saída de membros.
A partir das atividades dos coordenadores executivos foram elaboradas conversões do
conhecimento, que serão discutidas de forma abrangente. No final são abordados alguns
pontos por se entender como necessários para a criação e a utilização do conhecimento
produzido pela INCOOP.
Nota-se que o evento participação em equipes e comissões é determinante para a
criação e o compartilhamento do conhecimento entre os membros da INCOOP, já que
participam deste evento diversos tipos de membros que ingressaram em diferentes períodos na
incubadora. Observou-se que com a participação nestes tipos de eventos ocorrem as quatro
conversões do conhecimento. Na fala de um dos coordenadores nota-se a preocupação em
compartilhar o conhecimento dado seu domínio pelo assunto:
[...] que tipos de eventos são importantes com a incubadora esteja,
então a gente fica monitorando isso com relação à captação de
recursos, que eu tenho um pouco de domínio, acúmulo, então, aí quais
vão ser vitais, são mais adequadas ao que a incubadora faz, ai a gente
monta uma comissão e faz parte dessa comissão (Entrevistado 1).
Com o evento reuniões observou-se que nestes momentos, nos quais participam todos
os membros da incubadora, as experiências são compartilhadas envolvendo todos os presentes
nestes eventos. Este evento propicia as quatro conversões do conhecimento, embora a
externalização seja mais pontual para alguns coordenadores, que estão na posição de relatores,
já que são eles que redigirão a ata. Neste caso, a externalização acontece concentrando-se em
alguns membros, como se observa na fala do Entrevistado 4.
[...] a gente usa computador nas reuniões de equipe pra fazer relatoria
e fazer o registro da dos pontos de pauta (Entrevistado 4).
O mesmo ocorre com os produtos das reuniões, onde, normalmente, o membro com
maior conhecimento no assunto pautado é quem irá ficar responsável por ele.
Com a observação direta e participante neste tipo de evento, notou-se que os
coordenadores com mais tempo de trabalho na incubadora participam mais ativamente nestas
reuniões compartilhando suas experiências, propiciando as conversões do conhecimento.
No evento relatórios ocorrem as quatro conversões do conhecimento, embora aconteça
a internalização com a leitura do relatório, pode-se dizer que este processo não se dá com a
leitura do relatório completo, mas somente partes dele.
A observação que cabe à conversão do conhecimento do evento assessorar
empreendimento de economia solidária, é que nem todos os membros assessoram
empreendimento conforme se nota na fala do Entrevistado 1.
[...] antes como eu tava direto dentro do empreendimento era uma
relação diferente com a incubadora, tinha uma relação mais autônoma,
relacionado à minha atividade com o grupo que eu assessorava
(Entrevistado 1).
Mesmo os coordenadores que não assessoram emprendimentos têm a oportunidade de
participar de assembléias, oficinas e cursos relacionados a este tipo de evento, onde ocorrem
as conversões do conhecimento.
Com o evento projetos notou-se que com as estratégias utilizadas ocorrem as
conversões: socialização e a externalização no âmbito geral da incubadora, atingindo todos os
coordenadores executivos, porém as outras duas conversões, internalização e combinação
alcançam um número menor de coordenadores pois dependem de sua participação no estudo e
assimilação da documentação pesquisada para sua elaboração. Percebe-se a socialização na
fala do Entrevistado 4:
uso o data show também quando vai fazer uma apresentação do
projeto pra algum parceiro (Entrevistado 4).
Nota-se as quatro conversões do conhecimento com o evento oficinas e encontros.
Neste tipo de evento todos os coordenadores executivos são envolvidos, tendo a oportunidade
de participarem, contribuindo assim com a criação e compartilhamento do conhecimento.
Observa-se, na fala do Entrevistado 4, a utilização de uma ferramenta voltada para a
externalização, o que demonstra a preocupação dos membros da incubadora em construir o
conhecimento em conjunto.
[...] a gente imagina que o data show afasta um pouco as pessoas, é
como se fosse um instrumento que já desse respostas prontas, então aí
cartela é um pouco esse contra ponto que as respostas são construídas
ali (Entrevistado 4).
Deve-se destacar que no evento sistematização, embora tenham sido aplicadas as
quatro conversões do conhecimento, notou-se que nem todos os coordenadores externalizam
suas atividades, deixando de sistematizar e de registrar suas atividades nos arquivos das
INCOOP. Percebe-se a falta de registro no servidor da INCOOP na fala do Entrevistado 3, o
registro é feito em seu computador particular:
E aí o que que eu faço é, deixo tudo no meu computador, porque tem
um HD grande e eu vou guardando lá... só que como diz minha mãe,
até pro mestrado, “vc tá fazendo back up, vc tá fazendo back up”?
Eu... hummm... não (Entrevistado 3).
Por estar inserida no ambiente acadêmico, a INCOOP oferece condições necessárias
para que estas conversões ocorram, no entanto, alguns pontos poderiam ser melhorados, a fim
de facilitar as conversões do conhecimento:
1. A maioria dos entrevistados apontou a dificuldade de se encontrar documentos no
servidor da incubadora. Neste servidor estão ou deveriam estar armazenados todos os
documentos gerais da INCOOP e de suas equipes, organizados de tal modo que sejam
rapidamente encontrados, porém, nota-se que há uma carência de armazenamento e
organização das informações, o que prejudica a internalização do conhecimento. É
necessário priorizar algumas ações, como indicar responsável(s) pela inserção e
organização destes documentos no servidor da INCOOP, bem como trabalhar com a
sensibilização da equipe para que disponibilize os documentos no servidor da
incubadora, por se tratarem de conhecimentos relevantes para a incubadora. Este
servidor é de grande relevância, pois é utilizado como um repositório do conhecimento
da equipe.
2.
Encontrar outras formas que facilitem o acesso ao conhecimento produzido, por
exemplo, utilizar o Google Docs ou Dropbox, o que facilitaria a recuperação da
informação necessária na hora certa. Esta seria uma forma de contribuir com a
externalização, a combinação e a internalização, aumentando a potência e a capacidade
de aprendizagem organizacional.
3. Vários entrevistados demonstraram a necessidade de divulgar seus afazeres para todos
os membros da incubadora. As entrevistas indicaram que eles sentem a necessidade de
saber o que os outros realizam, e este momento é propício para a socialização e
externalização do conhecimento. Sugere-se momentos específicos, em reuniões, ou em
outras atividades que melhor propiciasse esse compartilhamento.
4. Observou-se, por meio das entrevistas, que os relatórios dos projetos são uma via
importante de disseminação do conhecimento, porém nem todos os coordenadores
internalizam o relatório final que foi elaborado coletivamente; na maioria das vezes
eles lêem somente a parte do relatório elaborada pela sua própria equipe.
5. Cabe destacar que nem todos os coordenadores deixam a disposição de todos os
membros da incubadora seus trabalhos publicados em eventos acadêmicos, de fato
estes mecanismos de armazenamento existam, as pessoas não realizam. Isto pode estar
relacionado com a flexibilidade da forma de organização da incubadora, do valor e da
importância que a pessoa dá para este tipo de divulgação. Porém, dada a importância
da externalização, combinação e internalização que este evento propicia a todos os
membros da INCOOP, sugere-se a indicação de uma pessoa responsável pela cobrança
e captação dos trabalhos, a fim de que os mesmos possam ficar disponíveis na
incubadora.
Em relação às atividades dos membros da incubadora, foi constatado, por meio das
entrevistas, que neste momento nem todos trabalham com incubação de empreendimentos,
porém todos os membros estão envolvidos com cada uma das atividades da incubadora
relacionadas na Figura 9 (p. 115), sendo alguns dedicando maior ênfase em determinada
atividade do que em outras. Estas atividades correspondem a atuação do membro no âmbito
da incubadora de uma forma geral, entretanto, cada membro possui atividades específicas
relacionadas ao contrato por meio do qual ingressou, atividades estas que não necessariamente
estão contempladas na Figura 9 (p. 115), como é o caso da incubação de empreendimentos,
por exemplo.
Conforme abordado nesta pesquisa, os coordenadores executivos são contratados
mediante a participação em editais específicos, sendo cada qual destinado a uma frente de
atuação, como, por exemplo: atuação na cadeia da limpeza, na cadeia de confecções, de
alimentos, para trabalhar com coordenação geral de projetos, na área de finanças solidárias, e
assim por diante. Assim sendo, nem todos os coordenadores participam de frentes que
envolvem a incubação de empreendimentos solidários, ou seja, não necessariamente
trabalham com este tipo de atividade.
Constatou-se também, por meio das entrevistas, que alguns membros não possuem
conhecimento amplo acerca da totalidade de atividades desenvolvidas no âmbito da
incubadora. Aqueles que apresentaram maior clareza das atividades desenvolvidas são os
membros que estão na incubadora há mais tempo. Isto pode ser explicado pelo fato de que
cada membro trabalha, principalmente, com base nas especificações de seu contrato, muitas
vezes não tendo tempo o suficiente de conhecer os demais contratos de forma aprofundada.
Quanto mais tempo a pessoa participa da incubadora, tanto mais conhecimento adquire em
relação às outras atividades desenvolvidas que não necessariamente se relacionam ao seu
contrato, que abarca àquelas atividades específicas para as quais foi contratada.
Uma esclarecida e eficiente execução destas atividades impulsionariam o processo de
conversão do conhecimento, como, por exemplo, ao disponibilizar todas as informações
pertinentes a INCOOP em seus repositórios. Este fato leva a crer que, dependendo do tempo
de atuação na incubadora, as visões dos membros sobre suas atividades tornam-se mais claras,
alinhadas ao ensino, à pesquisa e à extensão, propiciando a geração e troca para novos
conhecimentos.
Em relação com a aplicação da conversão do conhecimento observou-se que em todos
os eventos analisados foi possível aplicar as quatro conversões do conhecimento. Deste modo,
pode-se concluir que na incubadora ocorrem as quatro conversões do conhecimento
(socialização, externalização, combinação e internalização) apresentadas por Nonaka e
Takeuchi (1997), conforme demonstrado na aplicação destas conversões nos eventos
relacionados às atividades dos coordenadores executivos. Entretanto, é importante salientar
que este tipo de organização – presente nas incubadoras universitárias -, possui características
distintas dos demais tipos de organizações, sendo necessária a utilização de formas adequadas
para garantir que todo o conhecimento ali produzido seja armazenado, a fim de garantir seu
compartilhamento. Isso também se faz necessário tendo em vista a rotatividade de seus
membros.
A partir dos resultados das entrevistas e de toda a análise da conversão do
conhecimento notou-se, também, que quanto maior o tempo de trabalho do coordenador na
INCOOP, maior é sua compreensão sobre suas atividades em relação com os objetivos da
incubadora que são: incentivar a constituição de EES e sua integração em rede; produzir,
disseminar e transferir conhecimento sobre cooperativismo, autogestão e ES; capacitar
formadores para atuar na incubação de empreendimentos solidários e promover educação,
inclusão social e o desenvolvimento humano de populações historicamente excluídas por meio
da transferência do conhecimento produzido na universidade, da produção do conhecimento
voltado para esse público alvo e da atuação direta no que se refere à formação integral
necessária para garantir a autogestão de empreendimentos econômicos coletivos e solidários
por essas populações; portanto este tempo de trabalho influencia de forma positiva a
ocorrência das conversões do conhecimento.
Vale a pena destacar a ênfase que Nonaka e Takeuchi (1997) fazem em relação a
criação do conhecimento, de que a organização não cria conhecimento sem os indivíduos,
portanto, sem compartilhamento, não ocorre a espiral do conhecimento na organização.
No documento
Marcia Cristina dos Santos Barbosa de Oliveira
(páginas 136-142)