CAPÍTULO 3 – A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA E AS INCUBADORAS
3.5 Formação da Rede de Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares
Segundo a Rede de ITCPs, sua formação aconteceu em 1998 após a realização de um
seminário realizado pela ITCP da UFRJ a pedido da Financiadora de Estudos e Projetos
(FINEP), um de seus parceiros, objetivando difundir sua experiência. Este fato propiciou “o
inter-reconhecimento dos atores”, culminando em sua formação. Outras universidades já
conheciam tais experiências e formaram suas incubadoras, dentre elas a Universidade de São
Paulo e a Universidade Federal do Ceará.
Para Singer (2002), com o lançamento do Programa Nacional de Incubadoras de
Cooperativas Populares
15(PRONINC) em 1997, novas incubadoras universitárias seriam
formadas tomando como base a experiência da incubadora da COPPE/UFRJ. Assim, estas
incubadoras passaram a estabelecer relações ao trocarem experiências, informações e projetos
conjuntos integrando o ensino, a pesquisa e a extensão.
A rede, então, aceitou o convite da Rede Unitrabalho logo após sua constituição para
integrar-se ao “programa nacional”, tornando-se a Rede de ITCPs – Programa Nacional da
Rede Unitrabalho. Depois de quatro anos, ou seja, em 2002, a rede desvinculou-se da Rede
15
Finalidade e objetivos do PRONINC (Financiadora de Estudos e Projetos) “A finalidade do Programa Nacional de Incubadoras de Cooperativas Populares (PRONINC), conforme o Decreto nº 7.357 de 17/11/2010, é o fortalecimento dos processos de incubação de empreendimentos econômicos solidários, buscando atingir os seguintes objetivos:
I - geração de trabalho e renda, a partir da organização do trabalho, com foco na autogestão e dentro dos princípios de autonomia dos empreendimentos econômicos solidários;
II - construção de referencial conceitual e metodológico acerca de processos de incubação e de acompanhamento de empreendimentos econômicos solidários pós-incubação;
III - articulação e integração de políticas públicas e outras iniciativas para a promoção do desenvolvimento local e regional;
IV - desenvolvimento de novas metodologias de incubação de empreendimentos econômicos solidários articuladas a processos de desenvolvimento local ou territorial;
V - formação de discentes universitários em economia solidária; e
VI - criação de disciplinas, cursos, estágios e outras ações, para a disseminação da economia solidária nas instituições de ensino superior”.
Unitrabalho “voltando a constituir uma articulação independente” (REDE UNIVERSITÁRIA
DE INCUBADORAS TECNOLÓGICAS DE COOPERATIVAS POPULARES).
Durante estes anos o número de incubadoras participantes cresceu muito e ajudou a
inspirar a formação de incubadoras fora do Brasil; “ampliou o debate e a participação interna;
consolidou-se como parte importante dos fóruns de economia solidária e do debate sobre
políticas públicas na sociedade e no âmbito governamental” (REDE UNIVERSITÁRIA DE
INCUBADORAS TECNOLÓGICAS DE COOPERATIVAS POPULARES).
A Figura 4 ilustra a distribuição de incubadoras universitárias participantes da Rede de
ITCPs de acordo com a região geográfica brasileira.
Figura 4 - Distribuição de incubadoras universitárias participantes da Rede de
ITCPs de acordo com a região geográfica brasileira
Fonte: Adaptado de WIKIPEDIA.
Esta rede existe para auxiliar o intercâmbio, a troca, “o livre debate entre as
incubadoras sobre as ideias, as práticas e as ações que as caracterizam”, e também “para
representá-las em todos os espaços sociais e institucionais em que isto se faz necessário”
(REDE UNIVERSITÁRIA DE INCUBADORAS TECNOLÓGICAS DE COOPERATIVAS
POPULARES).
A economia solidária é um tema recente, que ganhou amplitude como um movimento,
acarretando o aumento de estudos acadêmicos e o surgimento de novas linhas de pesquisa e
objetos de pesquisas. O Gráfico 1 ilustra o perfil da evolução das publicações de teses e
dissertações com a temática “economia solidária”.
Gráfico 1: Evolução das publicações sobre o tema economia solidária no período de
1998 a 2010
Fonte: OLIVEIRA; ZANIN, 2011a, p.4.
Estas publicações são diferentes em quantidade conforme as regiões geográficas como
ilustra a Tabela 4, que contem uma sistematização das dissertações e teses publicadas com a
temática “economia solidária” por região geográfica brasileira.
TABELA 4: Número de instituição/universidade por região geográfica brasileira,
conforme publicações de mestrado/doutorado na temática de economia solidária no
período de 1998 a 2010
Região Geográfica Sul Sudeste Centro-
Oeste Nordeste Norte TOTAL
Número de Instituições/Univer-
sidades
19 37 09 12 03 80
Observa-se que as regiões sul e sudeste apresentam maior número de instituições que
publicaram com a temática economia solidária, o que vem de encontro com a história de
implantação da maior parte das universidades brasileiras (ALBUQUERQUE, et al., 2003).
Estes resultados demonstram o crescimento das publicações e consequentemente da
comunidade científica representada aqui pelos professores e estudantes dos programas de pós-
graduação brasileiros (OLIVEIRA; ZANIN, 2011a).
Os atores envolvidos com a economia solidária têm práticas e um acúmulo muito
grande de conhecimento, que devem ser geridos para que ocorra uma adequada conversão do
conhecimento, assim este será socializado, externalizado, combinado e internalizado entre
estes indivíduos.
Pode-se dizer então, que as organizações de economia solidária contribuem com o
gereciamento da informação e do conhecimento, haja vista a cultura de solidariedade e de
compartilhamento embutido em suas atividades.
Este capítulo foi focado nas incubadoras universitárias de empreendimentos de
economia solidária. A partir daí foram abordados assuntos relacionados ao ensino, a pesquisa,
a extensão e a economia solidária. Dado o acúmulo de conhecimento de seus integrantes e o
desafio e a necessidade de gerir o conhecimento em um ambiente autogestionário, que é o
caso destas incubadoras, o próximo capítulo tratará da conversão do conhecimento.
CAPÍTULO 4 – CONHECIMENTO, APRENDIZADO E SUAS
POSSIBILIDADES PARA AS INCUBADORAS
A história da evolução da sociedade é dividida em diferentes períodos: agrário,
industrial, pós-industrial e do conhecimento. Neste último período é “que entramos na
Sociedade do Conhecimento, onde a expansão cada vez mais rápida das diversas áreas do
conhecimento leva à necessidade de criação de novas oportunidades de desenvolvimento e
ativação profissional” (FIALHO et al., 2006, p.14). Neste período, as pessoas são os maiores
ativos das empresas.
Teixeira Filho (2000, p.19) menciona que no período pós-industrial, mais
precisamente o ano de 1956, o trabalho com informação e conhecimento se firmava como
núcleo da atividade econômica nos Estados Unidos, apontando que “o número de
trabalhadores no setor de serviços superou a quantidade de empregados do setor de
manufatura”.
A informação e o conhecimento sempre foram elementos decisivos no crescimento da
economia, parecendo ser a origem do crescimento e da produtividade nas sociedades
avançadas; desde a pré-história até os momentos atuais, quem detêm maior conhecimento
obtêm supremacia nos conflitos (CASTELLS, 1999; TEIXEIRA FILHO, 2000).
Para Zeleza (2005, p. 22)
[...] embora a expressão ‘sociedade de conhecimento’ tenha entrado em voga recentemente nos círculos acadêmicos, públicos e políticos, é óbvio que tal locução não pode ser tida como uma novidade, uma vez que o conhecimento sempre constituiu um ponto central na existência humana, e sempre desempenhou papel vital em todas as fases do desenvolvimento histórico de qualquer sociedade.
Fialho et al. (2006, p.48) destaca que “na economia do conhecimento, a tecnologia da
informação será o locus do conhecimento codificado e o trabalho exigirá cada vez mais o
conhecimento tácito, que é um fator exclusivamente humano”, sendo esta tecnologia
“determinante para o crescimento da Sociedade do Conhecimento” ao evidenciar a
importância de se disponibilizar conhecimento relevante para a sobrevivência das
organizações (FIALHO et al., 2006, p.60). Para estes mesmos autores a tecnologia da
informação traz como principal benefício para as organizações e as pessoas sua “capacidade
de melhorar a qualidade de informações disponibilizadas e conhecimentos importantes”,
identificar os conhecimentos disponíveis, desenvolver e compartilhar conhecimento, logo,
envolvendo ações que determinem os conhecimentos que são necessários.
Segundo Castells (1999, p.90)
Historiadores econômicos demonstraram o papel fundamental desempenhado pela tecnologia no crescimento da economia, via aumento da produtividade, durante toda a história e especialmente na era industrial. A hipótese do papel decisivo da tecnologia como fonte de produtividade nas economias avançadas também parece conseguir abranger a maior parte da experiência passada de crescimento econômico, permeando diferentes tradições intelectuais em teoria econômica.