CAPÍTULO 3 – A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA E AS INCUBADORAS
3.1 Ensino, pesquisa e extensão nas universidades: um breve relato
O papel da universidade é a produção de conhecimento, transformando este
conhecimento, por meio da formação, em instrumentos que visem melhorar as condições de
vida da população na sociedade mediante a pesquisa, o ensino e a extensão de forma
integrada. O modo mais usual de disseminar o conhecimento nas universidades acontece por
meio dos cursos de graduação; com a pós-graduação a produção de conhecimento ocorre por
meio da pesquisa, e pela extensão, é que o conhecimento é aplicado.
Com o ensino de graduação as pessoas são formadas com a finalidade de utilizar
profissionalmente, o conhecimento disponível nas suas diversas áreas em prol da sociedade.
Na pós-graduação, com os cursos strictu sensu (mestrado e doutorado), acontece,
prioritariamente, a formação de cientistas e professores universitários. Estes profissionais são
preparados para desenvolver o conhecimento e formar novos profissionais para a sociedade. A
pesquisa na universidade é vista como essencial voltada para a busca de novas técnicas e
conhecimentos, e tendo como finalidade produzir, sistematizar, criticar e integrar o
conhecimento, tornando-o disponível. É por meio da extensão que a universidade amplia o
acesso ao conhecimento, capacitando pessoas a utilizar os conhecimentos disponíveis,
proporcionando aos alunos complementação à sua formação universitária e aplicando na
prática, no âmbito da sociedade, as atividades de ensino. Estas três atividades se
complementam, sendo que a extensão oferece campo para o ensino e material para a pesquisa.
Pode-se dizer que o ensino é “oxigenado” pela pesquisa, que necessita da extensão
para levar seus conhecimentos à comunidade, e a extensão, por sua vez, precisa dos conteúdos
do ensino e da pesquisa para diagnosticar e oferecer soluções. A pesquisa depende do ensino e
da extensão para difundir e aplicar sua produção (MORAES, 1998).
A Figura 2 permite uma melhor visualização da indissociabilidade entre ensino-
pesquisa-extensão, relacionados com o papel de uma universidade. Esta interligação evidencia
o processo de integração entre o ensino, a pesquisa e a extensão.
FIGURA 2: Interligação entre o ensino, a pesquisa e a extensão
Fonte: MESQUITA FILHO, 1996.
A interligação entre o ensino e a pesquisa representa o ensino como fonte de criação
de novos conhecimentos que evolui para a pesquisa (1). A interligação entre ensino e extensão
representa a assimilação do tema curricular, e a síntese de conhecimento adquirindo potencial
para exercê-lo para o bem da comunidade (02), levando, portanto, à ação. Considerando o
ensino e a pesquisa como partes integrantes deste processo, a extensão proporciona um campo
de experimentação ao entrar em contato com a comunidade na busca de conhecimentos para a
resolução dos problemas (03) (MESQUITA FILHO, 1996).
Assim nota-se que a extensão universitária é uma área muito ampla e que requer
interação da universidade com o espaço exterior a esta, difundindo o conhecimento de
diferentes formas: desde a pesquisa aplicada, passando pelo ensino extracurricular, o
assessoramento a instituições, empresas e também a movimentos sociais, ocasionando uma
forte interação entre atores externos à instituição com docentes, discentes, pesquisadores e
funcionários da universidade, permitindo que o conhecimento se torne acessível para além dos
muros da universidade. A atividade de extensão exercida pelas incubadoras universitárias é
produzir conhecimento em conjunto com seus parceiros.
Para Thiollent (2000, p.20):
A extensão não deve ficar separada das outras atividades. Ao contrário, o campo de experimentação que lhes é associado está intimamente vinculado às linhas principais dos programas de pesquisa e de ensino da universidade. A contribuição da extensão para a pesquisa e o ensino não é automática. Ela depende essencialmente de uma vontade política dos grupos imediatos da produção e da difusão de conhecimentos, formuladores de projetos orientados por critérios de relevância social e científica bem definidos.
Na extensão universitária “as pessoas atendidas não são vistas como simples público-
alvo”, mas são vistas “como atores em suas situações de vida e em suas interações com os
grupos universitários”. Alunos e professores podem, por intermédio da extensão, “se
interessar em conceber ou acompanhar cursos ou projetos de pesquisa úteis à sociedade”
(THIOLLENT, 2000, p.20).
E, assim, a universidade brasileira, por meio de suas incubadoras tecnológicas
universitárias, corrobora com a sociedade na missão inovadora de ação sociopolítica
ampliando e preservando a cidadania e a dignidade do trabalhador. Muitas universidades
brasileiras possuem incubadoras tecnológicas focalizadas para empresas relacionadas no
sistema econômico hegemônico, ou seja, para a economia capitalista (heterogestão), sendo
que a questão da concorrência, lucro e competitividade se fazem presentes. No entanto a partir
de meados da década de 90, surge outro tipo de incubadoras que direcionam suas atividades
para empreendimentos de autogestão, como as cooperativas populares.
Dessa maneira “para auxiliar a incubação de cooperativas populares” novas iniciativas
sociais surgiram nos últimos anos, segundo Thiollent (2000, p.21), a partir do aprofundamento
da exclusão social, da crise e do desemprego. São demandas que surgem como formas de
viabilizar a extensão universitária; demandas estas “centradas na requalificação, na autogestão
de empresas em dificuldade ou outras iniciativas de geração de trabalho e renda”.
A Universidade Federal de São Carlos, sede da Incubadora Regional de Cooperativas
Populares, regulamenta suas atividades de extensão por meio da portaria GR 220/93. Cabe
destacar, no Capítulo 1 desta portaria, que trata - Da Concepção e dos Objetivos -, as
atividades de extensão não podem ser dissociadas das atividades de pesquisa e ensino, e por
meio destas atividades amplia-se o acesso ao conhecimento capacitando pessoas para utilizá-
lo (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS, 1993).
A Portaria GR 220/93 da UFSCar menciona que atividade de extensão universitária é
“aquela que é voltada para o objetivo de tornar acessível à sociedade o conhecimento de
domínio da Universidade, seja por sua própria produção, seja pela sistematização do
conhecimento universal disponível” (UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS,
1993).
Desse modo, excetuam-se os ensinos de graduação e de pós-graduação, que por suas
próprias características já torna o conhecimento existente acessível à sociedade.
No Quadro 2 são relacionados os objetivos específicos, conforme o artigo 6º desta
portaria:
QUADRO 2: Objetivos específicos das atividades de extensão
universitária/Portaria GR 220/93
ÍTEM
OBJETIVO
I
Otimizar as relações de intercâmbio entre a universidade e a sociedade em
relação aos objetivos da instituição;
II
Aumentar a probabilidade de que as pessoas e as instituições utilizem, da melhor
maneira possível, o conhecimento existente, na realização de suas atividades;
III
Produzir conhecimento sobre os processos de apropriação do conhecimento
existente por parte da população e das instituições;
IV
Avaliar as contribuições da universidade para o desenvolvimento da sociedade;
V
Facilitar e melhorar a articulação do ensino e da pesquisa com as necessidades da
população do país;
VI
Preservar e proteger o conhecimento produzido pela sociedade.
Fonte: Portaria GR 220/93, UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS, 1993.Formatação elaborada pela autora.
Nota-se, com estes objetivos específicos, a preocupação da UFSCar com a produção
do conhecimento, a fim de torná-lo acessível de todas as formas possíveis e para todos que
dele necessitam.
No documento
Marcia Cristina dos Santos Barbosa de Oliveira
(páginas 41-45)