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CAPÍTULO 5 – RESULTADOS

5.10. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Como foi possível observar, os indicadores da educação nacional apresentam resultados que demonstram a ineficiência do processo ensino-aprendizagem. Este aspecto, associado ao modelo de gestão escolar e ao que os professores apontaram como sendo os principais fatores estressores – problemas relacionados com alunos, dificuldade no relacionamento com a direção da escola, dificuldade no relacionamento com pais de alunos, condições ambientais inadequada da escola (ruído excessivo, calor, iluminação ruim, etc.), atividades em fins de semana, salário, falta de reconhecimento profissional ou imagem profissional negativa por parte da sociedade –, pode estar repercutindo na saúde dos professores em termos de estresse.

Os resultados da presente pesquisa demonstraram que um elevado número de professores afasta-se do trabalho por motivos de saúde, o que gera um custo para o município, que precisa contratar professores temporários para ocuparem o lugar dos professores ausentes. A principal causa de afastamento médico de professores de Ensino Fundamental tanto no ano de 2010 quanto nos anos de 2011, 2012 e 2013 foram os Transtornos Mentais e Comportamentais.

A pesquisa constatou, ainda, que 71,88% dos professores pesquisados na Zona Leste apresentavam estresse. Na Zona Oeste este percentual corresponde a 70,73%. Na Zona Norte, 66,33% e na Zona Sul, 65%. Dos professores com estresse, 95,65% dos pesquisados na Zona Leste encontravam-se em níveis muito elevados de estresse – nas fases de resistência e exaustão. Na Zona Oeste este número sobe para 93,10%. Na Zona Norte 96,92% e na Zona Sul todos os professores pesquisados encontravam-se em níveis elevados

Além de exercerem uma carga horária de trabalho excessiva, os professores também dedicam parte de seu tempo à formação profissional. Os cursos de formação continuada realizados em Natal/RN/BR, e financiados pelo governo, são fornecidos nos fins de semana, reduzindo ainda mais o tempo de descanso, de sociabilização e de lazer dos professores.

Um fator importante a se considerar é que a absoluta maioria dos pesquisados são do sexo feminino, o que pode ser um agravante para a saúde ocupacional e, portanto, para o acometimento de estresse, uma vez que no Brasil recai sobre a maioria das mulheres as responsabilidades com as atividades domésticas e o cuidado dos filhos.

Pelo fato de receberem baixos salários, os professores sentem a necessidade de terem outros empregos para complementar à renda salarial, sobrecarregando-se de trabalho e comprometendo o tempo livre.

Com relação ao apoio à saúde ocupacional dos professores, o município de Natal conta com o Centro Municipal de Referência em Educação Aluízio Alves – CEMURE. Esse centro oferece várias atividades voltadas à preservação da saúde e formação continuada dos professores, possibilitando, inclusive, sua inserção no “mundo tecnológico”. Entretanto, a excessiva carga horária a que os docentes estão submetidos, conforme citado anteriormente, não permite que os mesmos usufruam das atividades disponibilizadas pela CEMURE. Os docentes entrevistados afirmaram conhecer as atividades desenvolvidas pelo centro e ter interesse em participar das mesmas, porém, eles afirmaram não ter disponibilidade de tempo para isso.

O cenário educacional apresentado evidencia a necessidade de melhoria das condições de trabalho dos professores da educação pública brasileira. Essas melhorias são necessárias até mesmo para garantir a existência de tais profissionais, posto que a taxa de rotatividade nesse setor é alta, conforme citado anteriormente.

Apesar do CEMURE oferecer atividades que auxiliam na gestão do estresse, é preciso ir além das medidas que têm como foco as pessoas, pois elas não são tão eficazes quanto as que têm por base a organização do trabalho, conforme apontado por Caulfield et al (2004) e McVicar, Munn-Giddings e Seebohm (2013). As intervenções que apresentam bons resultados em nível organizacional têm maiores chances de suscitar mudanças positivas em nível individual (CAULFIELD et al, 2004; MCVICAR; MUNN-GIDDINGS; SEEBOHM, 2013).

Além dos fatores estressores apontados pelos pesquisados, pode-se afirmar que a carga horária de trabalho excessiva exercida pelos mesmos pode configurar-se como um fator estressante. Por meio da aplicação do “Protocolo de Tempo das Atividades Diárias” realizada durante o estudo de caso, constatou-se que a maior parte do tempo semanal da professora pesquisada é destinado à realização de seu trabalho (32,73%). A segunda atividade a qual a professora destina parte de seu tempo é sono (31,56%). Em terceiro lugar está o deslocamento para Trabalho (9,53%). Uma pequena parcela do tempo semanal da professora é utilizada para a refeição (4,60%). De segunda-feira a quinta-feira a professora almoça durante o deslocamento para o trabalho. Outro fato que chamou a atenção é que de segunda-feira a quinta-feira a pesquisada não realiza nenhuma atividade exclusiva de lazer. No mês de

dezembro, o tempo destinado ao trabalho aumenta em decorrência dos relatórios de desempenho individual e do fechamento das cadernetas que a mesma elabora. O aumento do trabalho se dá nas atividades desenvolvidas em casa.

Por meio das observações sistemáticas das verbalizações, das interrupções de tarefas e sequências de ações da professora, constatou-se como fatores estressores de sua atividade de trabalho o fato dos alunos ficarem desatentos durante as aulas e, em decorrência disso, ficarem brincando, envolverem-se em conversar paralelas ou em brigas com os colegas. A desatenção dos alunos faz com que eles não realizem as atividades solicitadas pela professora. Outro fator estressor constatado é a insuficiência de tempo para realizar as tarefas solicitadas. Como foi apresentado anteriormente, a maior parte do tempo da professora é destinado ao trabalho. Apesar disso, a professora não dispõe de tempo suficiente para preparar materiais para a aula. Além disso, também há insuficiência de tempo para realizar tarefas em sala de aula.

Um fator que aumenta a carga de trabalho da professora pesquisada e que não foi citado na análise global é a presença de uma professora estagiária. Receber uma professora estagiária aumenta a carga de trabalho visto que a professora exerce uma atividade de tutoria para com a professora estagiária. Os seguintes extratos de fala ilustram esse aspecto

Dia 02/09/2014 – 10:27:19 – Professora A, não dê muito cabimento não. Se der cabimento demais eles ficam sem querer lhe respeitar. Fica sem querer respeitar a professora. Fica sem querer respeitar a professora (Fala da professora, Fonte: pesquisa de campo).

Dia 02/09/2014 –10:46:39 – Outra coisa professora, não passe em cima das letras, passe num canto que não cubra as letras (Fala da professora, Fonte: pesquisa de campo).

Dia 02/09/2014 – 10:43:19 Mas você dizendo tá bom, tá bom e ela não deixa. Quando você disser tá bom eles têm que obedecer (Fala da professora, Fonte: pesquisa de campo).

Dia 02/09/2014 – 10:44:56 – Professora: Não, não bota interrogação em quem faltou, bota em quem tava e não veio, em casa não, sim, agora bote com a letra caprichada, Professora Estagiária, Professora Estagiária... Olhe! Faltou! É isso que Paulo Freire diz a gente ‘capriche em tudo’. Aí ele vai fazer e trazer amanhã, aí você aproveita e já olha o que ele fez, esse aqui ele num fez, aí você aproveita e bota só um S, esse aqui foi hoje a gente já marcou, esse aqui já marcou. Essa daqui não, essa daqui também não que é daqui. Aí agora casa aqui, casa aqui, casa aqui. Ok, ok. Essa daqui já fizemos, essa também, essa ela num fez, vai botar outra de casa (Fala da professora, Fonte: pesquisa de campo).

Em entrevista, a professora pesquisada afirmou que, na organização de seu trabalho, não existe um momento de planejamento junto aos professores estagiários. A falta de planejamento com o aluno estagiário e de experiência profissional do mesmo faz com que o professor acompanhe-o durante toda a aula, explicando o que deve ser feito e corrigindo seus erros. O aluno estagiário deve aprender com a prática de ensino e com um professor mais experiente, porém, um planejamento prévio evitaria que o estagiário cometesse muitos erros e atrapalhasse a aula. A atividade de trabalho dos professores que recebem professores estagiários deve ser revisto, considerando o aumento da carga de trabalho que pode acontecer em decorrência da má organização do trabalho.