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CAPÍTULO 3 – REFERENCIAL TEÓRICO CONCEITUAL

3.1 ERGONOMIA

3.4.2.1.7 Síndrome da Adaptação Geral – SAG – Hans Selye

De acordo com a teoria de estresse de Hans Selye (1956), denominada Síndrome de Adaptação Geral – SAG, o estresse é uma reação do organismo a uma situação que representa ameaça. Ao ficar exposto a uma situação ameaçadora o organismo humano emite uma resposta. Os fatores externos que ameaçam os indivíduos são chamados estressores e a resposta do corpo humano aos estressores é o estresse.

Segundo a teoria de Selye (1956), o estresse apresenta três estágios: alerta, resistência e exaustão (ver Figura 7). Em complemento à Síndrome da Adaptação Geral, a pesquisadora brasileira, Marilda Emanuel Novaes Lipp, após desenvolver vários estudos na Pontifícia Universidade Católica – PUC – Campinas/ São Paulo/ Brasil, identificou uma quarta fase do estresse denominada por ela de fase da “quase-exaustão” (LIPP, 2002, p. 110). A autora propôs, então, um modelo complementar ao modelo apresentado por Selye, incluindo a fase de quase-exaustão antes da fase de exaustão. Nesse trabalho é adotado o modelo de estresse proposto por Seyle e Lipp.

FIGURA 7: Estágios da Síndrome de Adaptação Geral segundo Selye (adaptado de SELYE,1956)

O estágio de alerta é uma fase positiva. Consiste em uma resposta do organismo frente a um estímulo, ao contato com um “estressor”. O organismo se prepara para lutar contra uma situação que se instala (FARIA; GALLO-PENNA, 2009; GOULART; LIPP 2008). Nessa fase acontecem várias transformações no organismo humano. Há liberação de adrenalina, o que permite maior atenção e focalização das atitudes para atingir determinado objetivo (MARTINS, 2007). É comum haver dificuldade para dormir, aumento da tensão muscular e da frequência respiratória, irritabilidade, entre outros sintomas (FARIA; GALLO-PENNA, 2009; MARTINS, 2007). Ocorre perda do equilíbrio interno do organismo, ou seja, da homeostase. Quando o estressor permanece por um curto período de tempo, ocorre a eliminação da adrenalina e a homeostase é reestabelecida. O bem estar do individuo é então mantido (MARTINS, 2007). Nessa fase, o estresse traz consequências positivas em decorrência do aumento da atenção e da focalização. Falzon e Sauvagnac (2007) apontam a importância do estresse diante da necessidade de resposta às situações exigentes. Porém, se o estímulo estressor for intenso ele causará sérios prejuízos à saúde (MELEIRO, 2002).

O segundo estágio, o da resistência, ocorre quando o estressor permanece por um período de tempo prolongado ou possui grande intensidade. Nesses casos, há uma tentativa de adaptação, de reestabelecimento da homeostase. Isso pode causar exaustão, visto que, na tentativa de reequilibrar-se, o organismo depreende uma grande quantidade de energia (MELEIRO, 2002; MARTINS, 2007; FARIA; GALLO-PENNA, 2009; GOULART; LIPP, 2008). Segundo Martins (2007), nessa fase podem surgir várias doenças, tais como “picos de hipertensão, herpes simples e psoríase e até o diabetes nas pessoas geneticamente predispostas

a ele” (MARTINS, 2007, p. 112). Além disso, pode haver comprometimento da memória, dores de cabeça, gripes e viroses com maior frequência (FARIA; GALLO-PENNA, 2009).

Segundo Lipp (2002), entre as fases da resistência e da exaustão, identifica-se a fase da quase-exaustão. Nessa fase, inicia-se o processo do adoecimento e “os órgãos que possuírem uma maior vulnerabilidade genética ou adquirida passam a mostrar sinais de deterioração” (LIPP, 2002, p. 110). Os aspectos físicos e emocionais começam a sofrer alterações mais significativas, comprometendo o funcionamento normal do organismo (MARTINS, 2007), podendo, os indivíduos, serem acometidos por insônia, sentimentos de cansaço e desgaste, redução da criatividade, e, em consequência desses fatores, redução da produtividade (FARIA; GALLO-PENNA, 2009).De acordo com Martins (2007), a ansiedade é característica dessa fase e as doenças que surgirem na fase de resistência, normalmente, tendem a aumentar.

A fase seguinte é a da exaustão. É a fase mais negativa do estresse, visto que acontece um desequilíbrio interior muito intenso (FARIA; GALLO-PENNA, 2009; MARTINS, 2007). Há possibilidade de ocorrer exaustão física e psicológica, o que aumenta as chances de desenvolvimento de doenças. O adoecimento acontece de acordo com as propensões de cada pessoa (GOULART; LIPP, 2008; MELEIRO, 2002), sendo bastante comum depressão, úlceras, psoríase, enfarte, hipertensão, diabetes, síndrome do pânico, (LIPP, 2002; FARIA; GALLO-PENNA, 2009) problemas de pele e estômago, cardiovasculares, retração de gengivas e, em alguns casos, poderá até levar a morte (MARTINS, 2007). A tabela 9 apresenta uma síntese das teorias sobre estresse citadas anteriormente.

TABELA 9: Teorias do Estresse

Teorias Definições de Estresse

1 Teoria da Reação de Emergência Estresse é uma reação fisiológica do organismo às situações que representam ameaça (CANNON, 1932).

2 Síndrome da Adaptação Geral – SAG O estresse é uma reação do organismo a uma situação que representa ameaça (SELYE, 1956).

3 Modelo de Estresse de Henry Para cada tipo de reação ao estresse acontecem alterações hormonais correspondente no organismo (AIS, 2013).

4 O modelo de Estresse de Karasek O estresse resulta não apenas de fatores do ambiente de trabalho, mas dos efeitos provocados pelas exigências da situação de trabalho e do poder de decisão que o indivíduo possui diante dessas exigências (KARASEK, 1979).

5 O Modelo Transacional do Estresse O estresse surge quando o indíviduo não tem certeza se dispõe de recursos suficientes para enfrentar as situações conflituosas (LAZARUS; FOOKMAN, 1984).

6 Teoria da Conservação dos Recursos O estresse surge quando os indivíduos estão em um ambiente que ameaça seus recursos pessoais, quando há perda desses recursos ou quando o indivíduo realiza uma ação com o intuito de aumentar seus meios pessoais e isso não acontece (HOBFOLL,1989, p. 516).

7 Modelo de Estresse de Siegrist O estresse é consequência de um desequilíbrio entre o esforço e a recompensa. Quando o esforço é superior à recompensa o trabalho é considerado estressante (SIEGRIST, 1996).

As teorias de estresse, apresentadas anteriormente, não são contraditórias, mas complementares. Elas têm em comum o fato de atribuírem o surgimento do estresse a um fator externo. Essas teorias diferem na medida em que incorporam certas particularidades em suas explicações. A teoria de Cannon (1932), assim como a de Lazarus e Fookman (1984), identifica as possíveis reações das pessoas diante do estresse. Porém, a de Cannon identifica as reações de luta e fuga, enquanto a de Lazarus e Fookman identifica as reações de enfrentamento e adaptação. A teoria de estresse de Herry apresenta um elemento novo (AIS, 2013): propõe que cada alteração hormonal que acontece no organismo está associado a um determinado tipo de reação ao estresse. O modelo de estresse proposto por Siegrist (1996) propõe que o estresse é consequência de um desequilíbrio entre o esforço e a recompensa. Para Karasek (1979), o estresse é consequência do limitado poder de decisão que as pessoas possuem em alguns momentos. Segundo Hobfoll (1989), o estresse é consequência de uma tentativa frustrada de manutenção dos recursos pessoais, diante de uma situação ameaçadora. Selye (1956), por sua vez, em sua teoria, identificou diferentes fases de estresse.

Essa pesquisa filiou-se ao conceito de estresse apresentado por Selye devido a se tratar do estresse biológico, visto que essa pesquisa deteve-se apenas a essa linha de estudo. Outro motivo que levou a escolha desse modelo de estresse foi o fato dele ter sido recentemente aperfeiçoado pela pesquisadora brasileira Marilda Emanuel Novaes Lipp, que após anos de

estudo propôs um modelo de estresse complementar ao modelo apresentado por Selye, conforme citado anteriormente, o que o torna bastante atual.