• Nenhum resultado encontrado

DISCUSSÃO SOBRE EDUCAÇÃO (Paulo Freire, Carlos Brandão e Bernard Charlot)

O PIBID enquanto ferramenta da educação nos faz refletir sobre a importância da mesma para sociedade, na formação dos cidadãos, na interação social de maneira geral. Decidimos então abrir um diálogo sobre o tema e suas conexões com o objeto de estudo, para tal, trouxemos alguns estudiosos do assunto como Carlos Brandão, Paulo Freire e Bernard Charlot, trazendo seus olhares, perspectivas e ideias que interagem com os ideais do programa PIBID.

O livro de Brandão “o que é educação” (2006) apresenta uma linguagem simples e tenta facilitar o entendimento acerca de várias problemáticas da educação e nos leva a uma reflexão de um outro olhar da educação existente atualmente em nosso sistema educacional e traz também grandes contribuições para novas formas de pensamento a respeito do tema.

Segundo Brandão (2006) a educação está presente no cotidiano de todos e que a todo o momento vivenciamos esta educação a partir de tradições, costumes de uma sociedade ou até mesmo crenças de determinados grupos. Esta educação se dá de formas variadas para atender os mais diversos públicos que visa diretamente a manutenção e continuidade dessas crenças e tradições passadas de um para o outro.

Brandão (2006) cita que: “Não há modos de educação, não há uma maneira única para a educação, ela é difusa e ao mesmo tempo é estendida de povo para povo”. Assim se funda uma instituição de ensino, mas não quer dizer que a educação tem ou tinha que ser na escola. A carta que o índio escreveu, sobre a forma como o grupo vê a educação é genial, uma vez que, o mesmo afirma ver suas formações e necessidades diferentes e que, caso tivessem o mesmo aprendizado, não serviriam mais ao seu grupo específico, ou seja, seus costumes e tradições como, por exemplo, atividades específicas de caça e pesca seriam perdidos.

Portanto, não há uma única forma de educação, um modelo, ou mesmo que a escola seja o melhor lugar para prática da educação. Outro ponto de destaque apontado pelo autor é o surgimento do ensino, ou melhor, a mudança da educação em ensino.

O autor enfatiza que esse processo é dado no surgimento de discordâncias de interesses a partir de separações e divisão de poderes de certos grupos e que criam fragmentos em determinadas áreas passando assim a utilizar códigos específicos para transmissão deste

saber.

Por outro lado, enfatiza que grupos que centralizam o poder de conhecimentos específicos perdem a essência de igualdade.

Carlos Brandão também analisa a educação em outros locais como a Grécia antiga onde a educação era tratada de forma interpessoal e só depois passou a ser obrigação do estado. E que a educação era dividida em duas: o saber técnico e o saber teórico. Afirma ainda que a criança é educada para viver a partir do que eles querem e não como elas realmente são. Chegamos então a comparar este tipo de educação com a tradicional abordada por muito tempo em nosso País onde a criança era vista apenas como uma miniatura do adulto.

O mesmo também direcionou o seu olhar para o Brasil e deixa claro que nossa educação não segue o que está na lei, que não há igualdade em nossa rede de ensino e que esse sistema favorece apenas uma minoria que beneficia um sistema político.

O autor enfatiza que a educação deve partir de vivências reais do cotidiano, uma vez, que se deve justamente enfatizar os valores e ideias de sua sociedade, para preservar a ordem e as tradições nelas contidas. Faz críticas a sociedade meramente capitalista que apenas reproduz e confirma uma grande desigualdade social e consequentemente, econômica.

Sua colocação também é que a educação mesmo reproduzindo a desigualdade pode se reinventada, recriada e quem sabe por grupos sociais como movimentos populares, sindicatos entre outros que se unem com propósito de resguardarem seus tipos de saberes e de preservar suas concepções.

A leitura de Carlos Brandão me remete diretamente ao pensamento de Paulo Freire (2003), em seu livro Política e Educação, onde o mesmo destaca as conservações ou até mesmo as mudanças da educação formando uma imaginável organização ou um falso equilíbrio politicamente falando.

Sabemos que alguns pilares da nossa sociedade como acesso a saúde pública e a educação de qualidade, que deveriam estar no topo como prioridade, se permeiam apenas de forma superficial; contudo, o mesmo, no caso Brandão, enfatiza que não devemos ficar de braços cruzados esperando apenas uma mudança substancial, mas acreditarmos e participarmos, assim como Freire fez e acreditou em uma educação de mundo como uma

educação emancipatória, uma verdadeira forma de abrir os olhos e sair da escuridão. Isso pode ser percebido no relato da bolsitas Ana Paula (2016) quando diz que:

Quando busquei a licenciatura era para estar em uma sala de aula, o que foi frustrante, pois não ocorreu. As minhas expectativas só foram alcançadas, mesmo que num curto período, quando pude participar do PIBID pois só assim pude sentir e saber o que uma sala de aula, estar de frente para grupo de aluno, repassar o conhecimento.

A prática de Freire foi estabelecida e fundida justamente das interações com grupos populares, vivencias do cotidiano do povo dando ao ato de aprender reais significações. Ele não separava o ato político do ato de aprender.

Levando em consideração o pensamento freiriano também destaca essa inseparabilidade, uma vez que, enquanto educadores chegam as salas de aulas carregados de valores e crenças próprias e mesmo que tenhamos a obrigatoriedade de transmitir conteúdos prontos já estipulados pela sociedade vigente, transmitimos também junto com eles nossas próprias opiniões, nossas experiências e esse ato em si já revela completamente o ato político.

Paulo Freire deixa claro que, um determinado grupo social mesmo minoritário sem destaque em sociedade chamado por ele de “oprimidos” não chegará a ser ouvido se não houver uma organização, uma reinvenção do ato inseparável, pedagógico e político, ou seja, uma fusão para convergir e assim vencer.

Paulo Freire destaca ainda a preocupação com a formação do educador e que não deve mesmo se calar ou não emitir opiniões próprias, ao contrário, o educador está lá para iniciar o debate e acaba trazendo consciente ou não suas próprias visões políticas. Freire não defende o educador como detentor absoluto do saber, deixando claro a seu ver a necessidade constante da reeducação dos educadores. Percebemos isso também na fala da professora Isairas em entrevista realizada no departamento em que trabalha quando explicita:

A gente mostra para o aluno toda essa interação, que a vida oferece a todo o momento. Se você for pensar o mundo existe desde quando? E desde muito tempo a natureza tá aí, sempre vai haver disponível pro homem um assunto novo uma interação nova, que o homem muitas vezes não sabe. Você veja a biologia é como se fosse uma janela para o infinito, onde a cada momento você descobre coisas e em cima daquelas descobertas vêm outros questionamentos. Então nunca o homem vai dizer: eu sei de tudo! Ele sempre vai perceber que nunca se chega ao fundo do poço, que nunca você abrange tudo! Por que encima de cada nova descoberta vem mil e um questionamentos.

Percebemos, portanto, que na visão de Paulo Freire a educação estaria completamente voltada na transformação e interesses coletivos, ou seja, voltados a todos que

compõem a escola, não atribuindo valores superiores a nenhum membro; ele defende com unhas e dentes, ou melhor, com discursos e palavras que a construção de uma nova sociedade passa diretamente por uma reconstrução educacional visando atender a todos, coletivamente.

Gostaria de destacar outro livro de Freire (1996) intitulado Pedagogia da Autonomia, o autor nos leva diretamente a reflexões de ver e rever nossas práticas de ir e vim no mesmo caminho, a fim de corrigir ou melhorar o nosso conhecimento de mundo para o mundo. Ciente que o ser humano é um ser inacabado em constante mudança mediada por suas vivências coletivas e suas características próprias capaz de analisar criticamente e a todo o momento sua presença e importância no mundo, formando assim suas opiniões para prosseguir em suas tomadas de decisões.

O mesmo destaca a importância da avaliação de nossas atuações enquanto pessoas e o diálogo que deve ser estabelecido nas relações humanas, além de destacar que “ela é uma prática educativa ética”.

O trabalho no programa PIBID, interage com o que Bernard Charlot (2013) chama de relação entre os saberes. Sendo assim o autor traz, em sua obra Da relação do saber, as práticas educativas. Para definir o saber, ele apresenta os conceitos de saber e aprender. O primeiro, no sentido formal da palavra, que significa um conteúdo intelectual; o segundo se percebe os termos de maneira mais diversificada, uma vez que há várias formas de aprendizado: pode se adquirir um saber como, por exemplo, o aprendizado de uma disciplina, dominar um objeto ou uma atividade, como por exemplo, atividades básicas de nossas vidas como andar, brincar e etc.

No aprendizado das relações com outras, o aprender não fica restrito à obtenção do conteúdo intelectual, mas atingem as demais relações que o sujeito estabelece para percebe-lo. Nesse interin, o autor acaba explorando as relações de saber, ampliando a relação com o aprender. Observando esta vertente, nos remete ao que ocorre nas ações do PIBID em seus vários ambientes de atuação. A professora Isairas Padovan (2010) traz o seguinte relato neste aspecto:

Os licenciandos tomam, de fato, o contato com a prática de ensino, a realidade das escolas públicas, adquirem muito mais experiência que os não participantes do programa PIBID. As atividades vivenciadas em sala de aula, como professores, conferem aos mesmos, uma maior capacidade para contornar os problemas, segurança e respeito pela profissão.

De acordo com Charlot (2000, p. 63), o saber que se apresenta acima, seria uma representação de relações dos sujeitos (bolsistas e demais integrantes do PIBID) com o mundo (a escola). O autor reafirma em sua obra que, “não há saber que não esteja inscrito em relações de saber”. O que nos leva a perceber o posicionamento do autor quanto ao seu posicionamento em relação a educação, principalmente esta educação que se mostra cada vez mais moderna, interdisciplinar.

O autor também apresenta algumas vertentes da relação com o saber: a epistêmica, a social e a de identidade, possibilitando a compreensão com o saber tratadas pelo autor. A relação epistêmica ou real da palavra remete ao ato de “aprender” não significa a mesma coisa para os alunos. Entender a relação epistêmica que um aluno possui com o saber é compreender a natureza da atividade que se denomina “aprender” para esse sujeito.

Poderíamos exemplificar essa relação acima com as diferentes velocidades de aprendizado dos alunos, ou seja, você possui alunos que aprendem mais rápido que outros, e às vezes você precisa trabalhar os conceitos de forma a que o aluno consiga absorver a informação, reafirmando tal posicionamento a ex-bolsista Ana Paula S’Anna, hoje doutoranda afirmou em entrevista que: “A maior dificuldade foi conseguir a atenção dos alunos, fazer o melhor para que eles se interessassem, pois, a estrutura que escola oferecia era perfeita, surpreendeu-me”.

Charlot considera o saber um bem social, por também expressarem as condições sociais do indivíduo e as relações sociais que estruturam a sociedade na qual esse indivíduo está inserido. Percebemos esse momento como percebemos a sociedade como uma pirâmide onde no topo desta estariam às pessoas de maior poder intelectual servindo como espelho ou mesmo modelo a ser seguido.

Se colocássemos isso no ponto de vital do programa perceberíamos o olhar que os estudantes das escolas atendidas do PIBID com relação aos bolsistas que os atende, não se pode negar que os alunos não se sintam tentados de alguma forma a seguirem sua carreira profissional tendo como espelho ou mesmo inspiração aquele bolsista que na visão dele se destacou de alguma forma. Charlot (2000, p. 62) enfatiza que:

as relações sociais estruturam a relação com o saber e com a escola, mas não a determinando sujeito com o saber. Charlot (1996) aponta que os jovens com as mesmas condições de existência e atuantes nas mesmas relações sociais não

estabelecem a mesma relação com o saber.

Ele nos mostra a ultima vertente que á de identidade. Onde ele nos diz que todo processo de “aprender” representa também uma construção própria, uma identidade pessoal, única, remetendo desta maneira a construção do ser profissional de cada licenciando ou mesmo o alunos ou docente. No caso dos licenciados está diretamente ligado a como ele constrói sua carreira acadêmica suas escolhas de disciplinas, sua conduta nos ambientes da construção do saber.

O autor ainda nos faz lembrar que é importantíssimo para o crescimento humano não só do ponto de vista intelectual, mas também do ponto de vista social a compreensão das vertentes dessas relações com o saber no processo de aprendizagem.