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MEMÓRIA DOS PERSONAGENS (vivências e “aprendências”)/diálogo com Norbert Elias

4 DISCUSSÃO SOBRE POLÍTICA EDUCACIONAL: QUAL É A DO BRASIL?

5 O PIBID UFPE (Primeiros passos)

5.2 MEMÓRIA DOS PERSONAGENS (vivências e “aprendências”)/diálogo com Norbert Elias

A teoria Elisiana está presente em diversos estudos do campo da história da educação. Nos textos deste autor o equipamento escolar não aparece como fonte objetiva de seu estudo, mas sim as organizações sociais como um todo. Neste sentido o equipamento escolar não pode ficar de fora do método operacional regimental das organizações. Por este ponto de vista, tudo que faz as instituições escolares agirem na sua funcionalidade social, simbólica e física da construção intelectual dos cidadãos daquele local, tece a rede social a qual Norbert Elias ressalta em seus textos.

Nos volumes do Processo Civilizador, estão relatadas as evoluções sociais da corte europeia, e suas consequências naquele povo que vivia próximo aos reis e rainhas. O método utilizado por Norbert Elias desperta para a metodologia do estudo por nós desenvolvido.

Nesta dissertação, o fato de nos preocuparmos em contar a história deste programa nos faz enxergar que não só os alunos e as escolas que recebem o programa são beneficiados, mas também, a população circunvizinha daquelas localidades, os professores que podem contar com um suporte didático e os bolsistas, que podem desde seus primeiros anos de Universidade estar diretamente ligados com seu campo de atuação profissional.

Os textos de Norbert Elias nos atenta sugestivamente para uma analise das entrevistas e dos questionários com os personagens participantes deste universo, fornecendo- nos elementosque responderiam que tipos de reações estes poderes implicam, tanto entre os professores versus bolsistas, quanto de alunos versus bolsistas e demais posições hierárquicas que existem nas instituições escolares.

A leitura destes volumes de Norbert Elias nos fez despertar para a população das localidades que recebem o programa e como a didática de ensino do PIBID foi recebida pelos alunos de forma positiva, como é demonstrado no gráfico proveniente do questionário feito aos alunos atendidos pelo programa (em anexo):

Quadro 3 – Questionário para os alunos e ex-alunos atendidos (10 alunos). ( S B R I)* Qual sua opinião em relação ao PIBID/UFPE, do ponto de vista

da iniciativa da melhoria do ensino público

10 3 0 0

*S= Sim, B=Bom, R=Ruim e I= Indiferente.

( S ND N)* No Seu ponto de vista o PIBID-Biologia/UFPE, assim como os

outros PIPBIDs, devem permanecer atuando nas escolas?

10 0 0

*S= Sin, ND= Não faz diferença e N=Não.

(SJ NP NH)* Ao longo de sua vida estudantil no ensino médio você identificou

alguma iniciativa que resultasse na melhoria de sua educação

0 2 8

*SJ=Sim, já observei / NP= Nunca parei pra observar isso/ NH= Não houve nenhuma ação do tipo.

( SF UP ND)* O PIBID-Biologia-UFPE, fez alguma diferença na maneira de você

enxergar á vida escolar e pessoal?

7 3 0 *SF=Sim, fez muita /UP= Um pouco/ND= Não fez diferença.

O quadro acima representa bem a percepção da sociedade, aqui representada pelos estudantes, que são em sua maioria oriundos das localidades circunvizinhas, percebe-se que o grau de satisfação do programa ultrapassa em muitos momentos o percentual dos 80%, marca esta que representa um acerto muito importante do ponto de vista de política pública voltada para educação da população. Ao final do questionário solicitamos dos alunos que definissem o que significava para eles o programa se possível com uma palavra, e nos surpreendemos com as resposta, tamanha sensibilidade destas crianças palavras como necessário, extraordinário, conhecimento, aprendizado 2 vezes, modificador, incentivo, prática, excelente e por fim a palavra divertido.

Observando as respostas, vimos o quão exitoso se fez o programa na visão pra quem se constrói e se desenvolve tamanhas ferramentas educacionais que são nossas crianças, tendo em vista que tais procedimentos fogem aos costumes das mesmas, matérias curriculares ministradas em seu âmbito comum obviamente com as particularidades de cada professor.

Do ponto de vista cultural, essas modificações que o PIBID leva para as escolas, e sabendo que os alunos estão abertos as mais diversas intervenções comunicativas fora do âmbito escolar ficaram claro que no decorrer dos anos, o PIBID resgatou jovens de outras situações sociais, onde a família, os amigos e a própria escola por si só não conseguiram

atingir.

E o PIBID foi influenciador da escolha profissional destes alunos, por exemplo, dando a abertura social que talvez não pudesse ser atingida se não pela influência do programa na sala de aula. Outro exemplo disso é evidenciado em nossa própria universidade, não são raros os casos que ao iniciarmos um semestre letivo encontramos jovens de escolas que participaram do programa PIBID Biologia, inclusive relataram a escolha do curso que fora estimulados pelo trabalho dos bolsistas da biologia, como relatado pela Estudante Karoline: “Eu tinha um pouco de dúvida quanto ao que eu queria, mas até nisso o PIBID, principalmente o de Biologia me ajudou, tanto é que hoje to aqui né na rural...futura bióloga com muito orgulho”. (Karoline, 2016, entrevista).

Tendo em vista as questões reveladas no Processo Civilizador vol. I Elias (1993), sobre as mudanças que ocorrem numa sociedade, apontamos que a mecânica e os mecanismos que provocam estas mudanças estão diretamente ligados ao PIBID e suas interferências no cotidiano escolar. Não que os alunos se civilizassem mais a partir do programa, mas começaram a agir de maneira diferente na sala de aula ou em outro campo de atuação do PIBID que está diretamente ligado ao terreno onde a instituição se encontra. Esta afirmação ganha força nas palavras da hoje estudante de graduação Karoline ex-aluna da Escola Joaquim Távora quando diz:“A atuação dos meninos do PIBID, fizeram com que eu visse as matéria de outra forma, facilitou mais minha compreensão sobre os assuntos. Acho que isso me fez ser uma pessoa melhor! Até com meus amigos mesmo” (Karoline, 2016).

Do ponto de vista cultural, essas modificações que o PIBID leva para as escolas, e sabendo que os alunos estão abertos as mais diversas intervenções comunicativas fora do âmbito escolar ficaram claro que no decorrer dos anos, o PIBID resgatou jovens de outras situações sociais, onde a família, os amigos e a própria escola por si só não conseguiram atingir.

As mudanças são, portanto, o divisor de águas de muitos jovens que estudam em escolas públicas. A longo ou a curto prazo o programa em questão agiu e age politicamente na instituição que o recebe, fazendo parte de um sistema de ensino, provocando uma ruptura entre os saberes e suas formas de colocá-los.

No Processo Civilizador, vol. II, Elias (1994) trata da questão político-social organizativo, vemos claramente o âmbito escolar suas hierarquias e seus costumes, sendo

quebrados por um programa que leva a construção intelectual dos saberes apresentados com suas didáticas diferenciadas. Observando a maneira como a educação era imposta em décadas passadas e fazendo um contra ponto com o que Elias (1994) chama de “processo civilizador de longo prazo”, observamos ainda, no que diz respeito ao comportamento relacional entre professores e alunos houve uma modificação nesta práxis, corroborando com Padovan (2016), quando afirma:

Os licenciandos tomam, de fato, o contato com a prática de ensino, a realidade das escolas públicas, adquirem muito mais experiência que os não participantes do programa PIBID. As atividades vivenciadas em sala de aula, como professores, conferem aos mesmos, uma maior capacidade para contornar os problemas, segurança e respeito pela profissão. Para as escolas públicas também houve um ganho inestimável. Na minha opinião todos saem ganhando.

A partir disto, acreditamos que outra relevância teórica Elisiana esbarra na construção do estudo que tratam as ações individuais dos sujeitos, como ponto de partida para uma mudança da teia onde o mesmo está inserido.

A partir do segundo volume do Processo Civilizador, fica claro que as relações existentes nas organizações, passam a permear as vontades do poder e da evolução psicossocial. Como esta relação se deu em sala de aula entre professores e bolsistas do PIBID, por exemplo, como as relações sociais de poder foram absorvidas pelos envolvidos, foram questões que no decorrer da leitura me vieram em mente.

Neste tocante, e como observado sobre a formação do estado e civilização no segundo volume do Processo Civilizador de Elias, que o poder estava ligado diretamente naquela circunstancia medieval à posse de terras obviamente, uma hierarquia era imposta a partir desta posse.

Já nas salas de aula e nas escolas esse poder se dá de forma diferente, mas é assunto decorrente em pesquisas comportamentais sobre violência em sala de aula por exemplo, Pois, quando diversos sujeitos não se comportam organizadamente em um devido espaço, e tudo sai do controle comportamental presenciamos uma desordem, e este tipo de ação supostamente não deveria existir nas escolas, já que de lá nasce a civilização.

O que dizer então sobre ordem e civilização em escolas que recebem o PIBID como ferramenta essencialmente prática das aulas teóricas ministradas por professores concursados da rede pública Estadual. Estas instituições estão na região metropolitana de Recife e não coincidentemente recebem o programa, mas sim, pelo fato de o PIBID atuar em locais onde as

aulas práticas das matérias da rede não estão atualizadas, dando desta forma um brilho que chama a atenção dos alunos para aquela disciplina.

Estas práticas são ministradas por bolsistas que inevitavelmente esbarram na hierarquia diplomática da instituição, gerando um conflito ou uma aliança com o professor “oficial” daquelas aulas.

Dois casos podem exemplificar bem a situação acima descrita, tendo as mesmas se passado na escola Joaquim Távora; um caso envolvendo um bolsista e outro envolvendo um professor supervisor. No caso do bolsista, ele não desempenhava suas funções em sala de aula de modo satisfatório, previstas pela nossa professora supervisora uma vez que nossa conduta e ações eram rigorosamente acompanhadas por nossa coordenadora de subprojeto a Profa Dra. Isairas Padovan, sendo assim, após várias reuniões de orientações não só com o bolsista mas com o grupo que o acompanhava na escola, chegou-se ao entendimento de todos que o melhor era a substituição do bolsista, e assim procedeu a coordenação.

No outro caso temos um Professor supervisor, em que se verificou uma série de problemas ocasionados pela sua falta de assiduidade e compromisso para com suas obrigações perante o programa, fazendo com que infelizmente a coordenação do subprojeto intervisse junto às autoridades competentes, na forma de ofício, para resolução do caso citado, o que prontamente ocorreu retomando a normalidade das ações naquela instituição de ensino.

O que queremos ressaltar, é essa relação profissional que o PIBID provoca entre alunos de graduação e professores concursados da rede estadual, gera uma inevitável tensão entre as partes, podemos dizer uma “relação de poder” ou um “jogo de poder” que sugere uma investigação nesta relação interpessoal.

Colocar o método como o programa chega às instituições e a cadeia de reações a partir deste ponto, merece uma avaliação e exposição dos fatos como revelação sócio- organizativa, a fim de fazer saber como são resolvidos os conflitos hierárquicos se existentes, e como as alianças geradas beneficiam sujeitos terceiros, que passam a ser imprescindíveis para a pesquisa, os alunos. Podemos neste entendimento citar um exemplo de caso que ocorrido na escola Senador Novais filho relatadas pela pró-reitora Ana Cabral (2016):

Se não me engana a memória e Isairas sabe bem disso, ela queria que agente entrasse, ficasse lá no primeiro ano pro segundo diziam que... acho que foi no primeiro projeto, diziam que a escola ia ser demolida a escola ia ser reformada e que não tinha condições Isairas no caso e Paulo fincaram o pé e agente disse,

“agente não sai daqui!” e então o que se descobriu e que na realidade eles não estavam querendo investir na escola e terminou o PIBID sendo um indutor da melhoria da estrutura física e das condições da escola.

Os alunos mesmo que atingidos brandamente por esta hierarquia, são os sujeitos que recebem e devolvem as sensações sentidas pelo poder em sala de aula. Ora eles são o troféu da calma e da organização, ora é retrato do caos e da confusão. O professor é a corda do controle dos alunos, seja ele concursado ou bolsista, ele é o responsável por manter o assunto palatável e a aula conforme a necessidade da mesma.

O que remete sobre a relação entre alunos e o sujeito no papel de professor da turma. O que muda nas aulas quando os alunos não encaram o sujeito mediador do controle como capaz de controlar as situações adversas. Como o PIBID resolve este tipo de conflito? Esta é outra questão que na leitura Elisiana foi observada como importante para esclarecimento do quadro das situações existentes entre as relações interpessoais regidas por uma hierarquia institucional. Acreditamos que gerar estes questionamentos sobre as relações interpessoais pode solucionar diversos problemas existentes no PIBID provocando a melhoria da mesma. Afinal, o próprio Elias engajou-se em suas pesquisas e participou etnograficamente dos seus estudos, sugerindo uma vivencia participativa de seus textos.

A paixão que justifica a ligação com o PIBID transformada em dissertação de mestrado não pode esquecer os verdadeiros autores do programa, e suas conquistas ao longo das experiências vividas. Talvez por este fato Elias seja a opção mais sensata para diálogo destas questões como o poder, as ações e reações adversas diante dos problemas, alianças e conflitos. Os papéis e as representações dos papéis em sala de aula ou nas localidades escolares apresentadas neste estudo, abordados pela teoria Elisiana vão capacitar abordagens diferentes tanto sobre a inserção do programa nas escolas, quanto sobre a influencia do PIBID na vida dos alunos, sendo capaz de melhorar o programa estudado no curso que ele acontece cotidianamente.