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Dando continuidade ao encontro de 15/06/2011, passamos a discutir o trabalho de Mie. A partir da apresentação de Eduardo, ela se entusiasmou em realizar também uma situação pedagógica com crianças.

Bastante empolgada, Mie começou informando aos participantes que realizou essa proposta com crianças do 1.

º

ano do Ensino Fundamental na escola particular em que realizava suas atividades de estágio. Elaboramos um plano de aula que foi discutido previamente por Mie e por mim. Em maio de 2011 foi realizada a situação pedagógica, também registrada em imagens e vídeo, com autorização da direção da escola, para que pudéssemos discuti-la no grupo. Infelizmente, por problemas técnicos apenas a primeira parte da aula foi filmada, pois as configurações adotadas reduziram o tempo de gravação. A aula teve como tema os “animais de estimação”53e como objetivos:

1) Conhecimento e domínio, pelo estudante, de um gráfico de colunas, de forma a saber interpretá-lo, contar e comparar números, utilizando o gráfico.

2) Integração com Língua Portuguesa, bastante enfatizada nos anos iniciais do Ensino Fundamental.

3) Aprendizado de Inglês.

4) Aprendizado de elementos de outra cultura, a japonesa.

53

Mais detalhes sobre a proposta podem ser encontrados no Capítulo 6, na seção 6.1 – As análises narrativas de Mie.

Logo nas primeiras cenas selecionadas para discussão, vimos Mie, começando a aula, apresentando o trabalho com gráficos, dizendo: “Hoje

vamos aprender a fazer um gráfico”. Para dar continuidade à situação, foram

feitas as seguintes perguntas, relacionadas ao tema “animais de estimação”, escolhido por Mie, por julgar de interesse das crianças:

- Vocês têm animais em casa? - Que animal vocês têm?

Em relação à proposta de Mie de “fazer um gráfico”, as crianças pareceram não estar entendendo muito bem do que se tratava, talvez porque não houvessem tido experiências com esse conteúdo ou, se o tivessem conhecido, o termo não havia sido apresentado ou tornado significativo. Um dos episódios que o grupo considerou mais revelador da ausência de contato das crianças com os gráficos foi quando percebemos, na transcrição do vídeo, o instante em que Mie abriu uma folha de papel na qual montariam o gráfico e, com olhares atentos e curiosos, as crianças manifestaram decepção por não encontrarem o “tal gráfico” no papel.

Indícios disso podem ser percebidos nos trechos das transcrições de vídeo:

Silvana: Olha, as crianças perguntaram "o que é gráfico". Mie: Eu já vou responder a eles.

Silvana: Acho que eles nunca tinham visto...

...

Keli: Agora mostra a Mie abrindo o papel [em que havia feito os eixos previamente].

Crianças do vídeo: "Nossa", "Oh", "Cadê", "Não tem nada". Participantes: Não tem nada!!! risos.

Rosana: Papel sem nada Mie... rs

Roseli: Eles já queriam ver o tal gráfico que ela falou tanto!

Keli: Eles devem ter se perguntado: "é isso um gráfico?".(Arquivo de vídeo da pesquisadora. Intervalo de tempo 0:24:28 a 0:26:04).

Depois do ocorrido, com a folha de papel, Mie explicou às crianças que iriam construir o gráfico juntos. Pudemos refletir, a partir do que Mie relatou, sobre a realidade da sala de aula, o que ocorreu fora do planejado – quando as

crianças resolveram que gostariam de escrever os nomes de seus animais de estimação. Refletimos, também, sobre ser aquela uma oportunidade adequada ao trabalho com a escrita, ao mesmo tempo em que era uma proposta complexa, pois os nomes dos animais, algumas vezes, apresentavam “estrangeirismos” como “Shake”, “Minney” e “Michey”.

Como não pudemos acompanhar todo o desenvolvimento da aula em vídeo, Mie trouxe o gráfico montado junto com as crianças, para que pudéssemos ver (Figuras 39 e 40).

Figura 39: Alguns participantes do grupo e o gráfico apresentado por Mie

Figura 40: Gráfico construído pelas crianças com Mie

Fonte: Arquivo da pesquisadora.

Ela também quis dar destaque para o momento da discussão a respeito do gráfico, como podemos constatar:

Mie: Não precisei explicar, porque eles já disseram "Cachorro" [como animal com maior frequência]. Perguntei porque e um menino disse:

"Por que sim!", apontando para a coluna e para o 10 aqui [no gráfico]. Talvez ele quisesse falar: Não precisa explicar, já está visível, é óbvio! (Arquivo de vídeo da pesquisadora. Intervalo de tempo 0:31:05

a 0:31:29).

Assim como no trabalho apresentado por Eduardo, Mie nos relatou da motivação das crianças durante a realização da situação pedagógica, ou seja, o que Watson (2006) aponta como orgulho da propriedade do gráfico que as

crianças criaram. Mie também organizou um quadro com as quantidades de cada animal e constatou que as crianças também não tiveram dificuldade nessa fase (Figura 41). Segundo Mie, uma das alunas até antecipou os dados do quadro, colocando oralmente as colunas em ordem, conforme a quantidade de animais. Concluímos que a construção do quadro ajudou as crianças a entenderem melhor as frequências de cada animal, pois, no outro trabalho que discutimos, o de Eduardo, os estudantes tiveram dificuldade justamente nisso, em relacionar o eixo das quantidades de estudantes com as colunas.

Figura 41: Quadro construído por Mie e as crianças, sistematizando os dados

Fonte: Arquivo da pesquisadora.

Percebemos também que devido à idade das crianças, o fator tempo influenciou, pois elas acabaram levando mais tempo que o previsto nos desenhos, por exemplo, e em anotar os dados do quadro, o que tornou a situação longa para crianças de 6 anos. Nossa sugestão foi, mais uma vez, realizar a proposta em dois dias, mas, infelizmente, isso só seria possível, caso

a professora que Mie acompanhava no estágio, cedesse os dois momentos ou duas aulas.

Rosana: Eles são pequenos! Cada dia um pouquinho numa das

aulas. Por que eles não aguentam.

Roseli: Pode, inclusive, despertar mais curiosidade.

Mie: É, no final eles ficaram um pouco impacientes. (Arquivo de vídeo da pesquisadora. Intervalo de tempo 0:36:10 a 0:36:34).

Finalizamos o encontro, com Rosana me procurando para sinalizar que gostaria também de realizar uma situação pedagógica com suas crianças:

Rosana: Vamos ver se no próximo semestre eu faço um também! ? Keli: Se você quiser, inclusive, a gente pode tentar o apoio de alguma

das pessoas do grupo para te ajudar.

(Arquivo de vídeo da pesquisadora. Intervalo de tempo 0:37:26 a 0:37:54).

Principalmente nesse trecho, fica claro que a questão do desenvolvimento profissional como desenvolvimento de conhecimento vai favorecendo o desenvolvimento profissional como desenvolvimento de si mesmo, e isso vai dando segurança à participante, num contexto colaborativo, para levar a prática para sua turma e revelá-la aos seus colegas, compartilhando os conhecimentos produzidos.