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3. Enquadramento Jurídico

3.2. Da Lei n.º 93/2009, de 01 de Setembro

3.2.2. Disposições Gerais

A Lei n.º 93/2009, de 01 de Setembro, como se referiu supra, entrou em vigor no dia 31 de Outubro de 2009 e rege-se pelo princípio da confiança mútua e do reconhecimento de decisões tomadas por uma entidade judiciária (e administrativa), de outro Estado-Membro, tendo em vista a desburocratização da execução dessas decisões.

Cumpre, então, analisar a Lei n.º 93/2009, de 01 de Setembro.

Tal diploma é composto por quatro capítulos, sendo que o primeiro se refere às “Disposições gerais”, o segundo prende-se com a “Emissão, conteúdo e transmissão, por parte das autoridades portuguesas, de decisão de aplicação de sanção pecuniária”, o terceiro à matéria 5 A este propósito veja-se o Relatório da Comissão COM (2008) 888 final, de 22-12-2008, elaborado com base no artigo 20.º da Decisão-Quadro 2005/214/JAI, do Conselho, de 24 de Fevereiro de 2005, relativa à aplicação do princípio do reconhecimento mútuo às sanções pecuniárias.

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A EXECUÇÃO DE MULTAS/COIMAS/CUSTAS NO ESTRANGEIRO 3. Enquadramento jurídico, prática e gestão processual

relativa ao “Reconhecimento e execução, em Portugal, de decisão de aplicação de sanção pecuniária emitida por outro Estado-Membro” e, finalmente, o quarto capítulo respeita às “Disposições finais e transitórias”.

No que concerne à sua aplicabilidade, o seu artigo 26.º refere que a Lei n.º 93/2009 se aplica às decisões tomadas depois da sua entrada em vigor, portanto, decisões tomadas após o dia 31 de Outubro de 2009, ainda que digam respeito a factos praticados anteriormente. O artigo 1.º da Lei n.º 93/2009, refere-se ao “objecto” da aludida Lei que, em síntese, se reconduz ao reconhecimento de decisões de aplicação de sanções pecuniárias, noutro Estado- Membro da União Europeia, bem como do reconhecimento e da execução, em Portugal, das decisões de aplicação de sanções pecuniárias tomadas pelas autoridades competentes dos outros Estados-Membros da União Europeia.

O artigo 2.º da aludida lei6 faz menção aos conceitos chave que importa atentar para a

aplicação deste diploma.

Com efeito, o artigo 1.º, n.º 1, alínea a), estabelece o que se entende por “Decisão”, para efeitos da Lei n.º 93/2009, consignando que se trata de uma “decisão transitada em julgado pela qual é imposta uma sanção pecuniária a uma pessoa singular ou colectiva (…)”.

Portanto, o primeiro requisito relaciona-se com o trânsito em julgado, ou seja, que a decisão seja uma decisão definitiva, no sentido de não mais seja susceptível de impugnação.

Relativamente à competência da entidade decisora, o artigo 1.º, alínea a), esclarece que só são competentes para efeitos da presente Lei, as decisões que tenham sido tomadas por:

“i) Um tribunal do Estado de Emissão, pela prática de uma infracção penal (nos termos da lei do Estado de Emissão);

ii) Uma autoridade do Estado de Emissão que não seja um tribunal, pela prática de

uma infracção qualificada como penal (pela lei do Estado de Emissão), desde que a pessoa em

causa tenha tido a possibilidade de ser julgada por um tribunal competente, nomeadamente em matéria penal;

iii) Uma autoridade do Estado de Emissão que não seja um tribunal, no que respeita a actos que sejam puníveis segundo a lei do Estado de Emissão por constituírem infracções às normas jurídicas, desde que a pessoa em causa tenha tido a possibilidade de ser julgada por

um tribunal competente, nomeadamente em matéria penal7;

iv) O tribunal competente, nomeadamente em matéria penal, em que a decisão foi

proferida nos termos da subalínea anterior”.

6 Que corresponde ao artigo 1.º da Decisão-Quadro 2005/214/JAI, do Conselho de 24 de Fevereiro de 2005. 7 Consideramos que se enquadram, designadamente, as Contra-ordenações e os ilícitos de mera ordenação social, dado que tais decisões são susceptíveis de impugnação judicial e às quais são subsidiariamente aplicáveis as normas do Código Penal - artigo 32.º do Decreto-Lei n.º 433/82, de 27 de Outubro, que estabelece o regime jurídico do Ilícito de Mera Ordenação Social, tendo-se por preenchido o requisito constante do artigo 1º, alínea a), subalínea iii), da Decisão-Quadro 2005/214/JAI, do Conselho, de 24 de Fevereiro de 2005.

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Por conseguinte, ao abrigo deste normativo, é possível efectuar um pedido de reconhecimento e execução de uma decisão que aplique uma sanção pecuniária tomada, não só por um Tribunal, mas também por uma entidade administrativa8, desde que a decisão em causa

preencha os requisitos supra aludidos, com especial relevo para a possibilidade dessa decisão ter sido julgada por um tribunal competente, nomeadamente em matéria penal.

Relativamente às sanções pecuniárias, a lei estabelece que se trata da obrigação de pagar, uma quantia em dinheiro após condenação por infracção, imposta por uma decisão; uma indemnização estabelecida no âmbito da mesma decisão em benefício das vítimas (quando estas não possam ser parte civil no processo e o tribunal actue no exercício da sua competência penal); uma quantia em dinheiro relativa às custas das acções judiciais ou administrativas conducentes às decisões e uma quantia a pagar a um fundo público ou a uma organização de apoio às vítimas, determinada no âmbito da referida decisão – cfr. artigo 2.º, n.º 1, alínea b).

Como decorre do texto da norma, não são consideradas “sanções pecuniárias”, para efeitos do aludido diploma, as decisões de perda de instrumentos ou produtos do crime9, nem as

decisões de natureza civil ou comercial10 – cfr. artigo 2.º, n.º 2, da Lei n.º 93/2009, de 01 de

Setembro.