• Nenhum resultado encontrado

3. Enquadramento Jurídico

3.2. Da Lei n.º 93/2009, de 01 de Setembro

3.2.4. Transmissão do pedido

O artigo 8.º da Lei n.º 93/2009 estabelece quais as autoridades portuguesas competentes para a emissão de decisões de aplicação de sanção pecuniária e para transmiti-las à autoridade competente do Estado de Execução. Optou, assim, o legislador por distinguir a competência para o pedido, conforme se trate de decisão judiciária ou administrativa. No primeiro caso, é competente para a emissão do pedido o tribunal que tiver tomado a decisão. No caso de a decisão ter sido tomada por autoridade administrativa, a autoridade competente para a transmissão do pedido é o tribunal competente para a respectiva execução.

O “pedido de cooperação”, para efeitos de execução de decisão de aplicação de sanção pecuniária, efectua-se através da transmissão da decisão condenatória, ou da sua cópia autenticada, acompanhada da “certidão”, cujo modelo/formulário consta do Anexo da Decisão-Quadro ou da Lei n.º 93/2009, de 01 de Setembro.

Com efeito, basta o preenchimento do aludido formulário, ao qual se anexa a decisão que se pretende executar e remetem-se tais elementos ao Estado-Membro cujo território a pessoa singular ou colectiva contra a qual tenha sido proferida a decisão possua bens ou rendimentos, tenha a sua residência habitual ou, tratando-se de pessoa colectiva, tenha a sua sede estatutária – cfr. n.º 1 do artigo 9.º da Lei n.º 93/2009.

A EXECUÇÃO DE MULTAS/COIMAS/CUSTAS NO ESTRANGEIRO 3. Enquadramento jurídico, prática e gestão processual

A certidão deve ser assinada pela autoridade emitente, que certificará a exactidão do seu conteúdo, sendo que o original da “certidão”, só será enviado se o Estado de Execução o solicitar – cfr. n.ºs 3 e 6 do artigo 9.º da Lei n.º 93/2009, de 01 de Setembro.

A “certidão”, isto é, o formulário, deve ser apresentado na língua oficial do Estado de Execução. Porém, alguns Estados-Membros aceitam que o pedido seja remetido numa das línguas oficiais das instituições da União Europeia – cfr. n.º 2 do referido diploma legal11.

Já relativamente à decisão condenatória, a mesma pode ser enviada sem a respectiva tradução, podendo a execução ser suspensa até à obtenção da tradução, a expensas do Estado de Execução.

No que respeita à transmissão do pedido, o mesmo opera directamente entre as autoridades de emissão e de execução dos Estados-Membros, que podem não ser sempre autoridades judiciárias – cfr. n.º 4 do artigo 9.º, desde que, como se disse, se efectue através de qualquer meio de registo escrito que garanta a verificação da sua autenticidade (cfr. artigo 4.º, n.º 1, da Lei n.º 93/2009, de 01 de Setembro.).

Não é admissível a emissão de vários pedidos sobre a mesma decisão condenatória dirigida a mais do que um Estado-Membro, o Estado de Emissão transmite apenas um único pedido a um Estado de Execução – cfr. n.º 7 do mencionado preceito legal.

Através dos pontos de contacto da Rede Judiciária Europeia ou da consulta ao documento n.º 9015/2/12, do Secretariado do Conselho, elaborado em língua inglesa, disponível no site do Conselho da União Europeia, no qual consta o estado de implementação relativo a vinte e quatro Estado-Membros, actualizado no dia 24 de Outubro de 20121213, poder-se-á apurar qual

a autoridade competente para tramitar a execução num dado Estado-Membro.

Após a transmissão de uma decisão condenatória a outra autoridade para a respectiva execução nos termos do preceito supra citado, a autoridade emitente está impedida de prosseguir com a execução14 – cfr. artigo 11.º da Lei n.º 93/2009, de 01 de Setembro,

ressalvados os casos de recuperação de competência para a execução, aos quais adiante nos referiremos.

Porém, no decurso desta tramitação podem ocorrer vicissitudes que impeçam ou alteram os elementos constantes do pedido de execução.

Com efeito, nos termos do artigo 10.º, n.º 1, da Lei n.º 93/2009, a autoridade emitente tem a obrigação de informar de imediato a autoridade competente do Estado de Execução, de 11 O formulário está disponível para download (PDF e Word) em língua inglesa ou francesa, no site da Rede Judiciária Europeia em matéria Penal - https://e-justice.europa.eu/content_ejn_in_criminal_matters-22-pt.do. 12 Disponível para consulta in https://data.consilium.europa.eu/doc/document/ST-9015-2012-REV-2/en/pdf. 13 Neste documento constam ainda outras informações pertinentes a este respeito, mormente, a língua para a qual deve ser traduzido o pedido a transmitir a determinada autoridade de execução.

14 A este propósito veja-se o Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, de 17-01-2017, proferido no processo n.º 161/14.1YUSTR.L1-5, no qual foi Relator o Desembargador João Carrola.

76

A EXECUÇÃO DE MULTAS/COIMAS/CUSTAS NO ESTRANGEIRO 3. Enquadramento jurídico, prática e gestão processual

qualquer “decisão ou medida que tenha por efeito anular o carácter executório da decisão” ou “retirar ao Estado de Execução, por qualquer outro motivo, a responsabilidade por essa execução”.

Do mesmo modo, a autoridade portuguesa tem o dever de informar, de imediato, a autoridade competente do Estado de Execução, sempre que receber uma quantia em dinheiro que tenha sido paga voluntariamente pela pessoa condenada para efeitos de cumprimento da obrigação decorrente da decisão condenatória com base na qual se emitiu um pedido de execução a outro Estado-Membro, sendo que, nestes casos, a quantia paga será integralmente deduzida do montante a executar – cfr. artigo 10.º, n.ºs 2 e 3, da Lei n.º 93/2009, de 01 de Setembro.

A estes casos, acrescem os casos de recuperação de competência da autoridade emitente, consagrados no artigo 12.º da Lei n.º 93/2009, de 01 de Setembro.

Por conseguinte, nos termos do n.º 1 do aludido preceito legal, a autoridade emitente recupera a competência para a execução, após ser informada pelas autoridades competentes do Estado de Execução da não execução, total ou parcial, da decisão, ou após ser informada pelas autoridades competentes do Estado de Execução da sua recusa em reconhecerem ou em executarem a decisão, e sempre que as autoridades competentes do Estado de Execução sejam informadas de que a responsabilidade pela execução lhes foi retirada.

Contudo, sempre as autoridades competentes do Estado de Execução se recusem a reconhecer ou a executar a decisão com fundamento na existência de uma decisão contra a pessoa condenada, pelos mesmos factos, no Estado de Execução ou na existência de execução de uma decisão contra a pessoa condenada, pelos mesmos factos, em Estado que não o da emissão e o da execução, ou caso tenha existido concessão de amnistia ou de perdão pelo Estado de Execução, ou ainda na existência de oposição fundada em suspeita de violação dos direitos fundamentais ou dos princípios jurídicos fundamentais consagrados no artigo 6.º do Tratado da União Europeia, a autoridade emitente não recupera a competência – cfr. artigo 12.º, n.º 2, da Lei n.º 93/2009, de 01 de Setembro.

Finalmente, só o Estado Português pode decidir do pedido de revisão da decisão de aplicação de sanção pecuniária, na pendência do pedido de execução noutro Estado-Membro, pese embora este último, em caso de impossibilidade de execução, total ou parcial, poder aplicar sanções alternativas, quando tal esteja previsto no seu direito interno e a autoridade emitente o tenha previsto na “certidão” – cfr. artigo 13.º da Lei n.º 93/2009, de 01 de Setembro.