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Lei da Cooperação Judiciária Internacional em Matéria Penal – Lei n.º 144/99, de 31 de agosto

E se o Estado Português, enquanto Estado de emissão, localizar bens num Estado que não seja membro da União Europeia?

Atualmente os conceitos de jurisdição e competência têm que ser encarados numa ótica de globalização. Esta, tornou o crime internacional e de muito maior e difícil conexão territorial, levantando dificuldades acrescidas para qualquer processo.

No Código do Processo Penal Português é aplicada como norma-regra de acordo com o artigo 6.º, o princípio da territorialidade, segundo o qual os limites da jurisdição criminal coincidem com os limites do território nacional e, por tal, a todos os processos submetidos a essa jurisdição é aplicada a lei processual penal nacional.

Nomeadamente, aos agentes do facto criminoso, qualquer que seja a sua nacionalidade, a menos que exista uma convenção ou tratado internacional que imponham outra solução. Temos, então, como base o princípio da territorialidade, mas ele cede sempre que surja um tratado ou convenção internacional que determine o contrário.

É neste ponto de contacto, que se coloca a questão das relações com as autoridades estrangeiras naquilo que importa à administração da justiça penal. Este tema é regulado pelos artigos 229.º e 230.º do Código de Processo Penal, e pela Lei n.º 144/99, de 31 de agosto que diz respeito à cooperação judiciária internacional em matéria penal, nas áreas das rogatórias, extradição, delegação do procedimento penal, efeitos das sentenças penais, à cooperação em matéria de infrações de natureza penal, na fase em que tramitem perante autoridades administrativas, bem como de infrações que constituam ilícito de mera ordenação social, cujos processos admitam recurso judicial, entre outros, dando prevalência aos tratados e convenções internacionais.

A EXECUÇÃO DE MULTAS/COIMAS/CUSTAS NO ESTRANGEIRO 1. Enquadramento jurídico, prática e gestão processual

Os artigos 229.º e 230.º48 do Código de Processo Penal, referem que as rogatórias, a

extradição, a delegação do procedimento penal, os efeitos das sentenças penais estrangeiras e as restantes relações com as autoridades estrangeiras relativas à administração da justiça penal são reguladas pelos tratados e convenções internacionais e, na sua falta ou insuficiência, pelo disposto em lei especial e ainda pelas disposições do Código, acrescentando também que as rogatórias às autoridades estrangeiras são entregues ao Ministério Público para expedição. E, determinando que as rogatórias às autoridades estrangeiras só são passadas quando a autoridade judiciária competente entender que são necessárias à prova de algum facto essencial para a acusação ou para a defesa.

Com especial relevo para as relações no âmbito da União Europeia, o artigo 233.º do Código de Processo Penal determina que o disposto no artigo 229.º se aplica, com as devidas adaptações, à cooperação com entidades judiciárias internacionais estabelecidas no âmbito de tratados ou convenções que vinculem o Estado Português.

Cumpre, pois, fazer referência ao instrumento de direito interno que propicia a globalização da justiça portuguesa: A lei da cooperação judiciária internacional em matéria penal – Lei n.º 144/99, de 31 de agosto.

No que importa ao presente trabalho, a Lei aplica-se à cooperação judiciária internacional em matéria penal sob as seguintes formas:

– Execução de sentenças penais (artigo 1.º, n.º 1, alínea c)), e

– Subsidiariamente à cooperação em matéria de infrações de natureza penal, na fase em que tramitem perante autoridades administrativas, bem como de infrações que constituam ilícito de mera ordenação social, cujos processos admitam recurso judicial (artigo 1.º, n.º 3).

Submete a norma legal a sua aplicação à proteção dos interesses da soberania, da segurança, da ordem pública e de outros interesses da República Portuguesa, constitucionalmente definidos (artigo 2.º), salientando que não confere o direito de exigir qualquer forma de cooperação internacional em matéria penal.

Esta lei só se aplica, naturalmente, na ausência de tratados, convenções e acordos internacionais, que vinculem o Estado português, sendo subsidiariamente aplicáveis as disposições do Código de Processo Penal (artigo 3.º). Além do princípio da soberania, a lei revela também o princípio da reciprocidade, que, no entanto, não é absoluto pois a falta de reciprocidade não impede a satisfação de um pedido de cooperação desde que essa cooperação nalgumas situações, como aquelas em que se mostre aconselhável em razão da 48 Dispõe o artigo 229.º do Código de Processo Penal: “As rogatórias, a extradição, a delegação do procedimento penal, os efeitos das sentenças penais estrangeiras e as restantes relações com as autoridades estrangeiras relativas à administração da justiça penal são reguladas pelos tratados e convenções internacionais e, na sua falta ou insuficiência, pelo disposto em lei especial e ainda pelas disposições deste livro”. E o artigo 230.º: “1 - Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, as rogatórias às autoridades estrangeiras são entregues ao Ministério Público para expedição. 2 - As rogatórias às autoridades estrangeiras só são passadas quando a autoridade judiciária competente entender que são necessárias à prova de algum facto essencial para a acusação ou para a defesa”.

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natureza do facto ou da necessidade de lutar contra certas formas graves de criminalidade, possa contribuir para melhorar a situação do arguido ou para a sua reinserção social, sirva para esclarecer factos imputados a um cidadão português (artigo 4.º).

De acordo com a regra, que podemos considerar geral, enunciada nos n.ºs 1 e 2 do artigo 104.º, a delegação num Estado estrangeiro de uma sentença penal proferida por um Tribunal português é orientada por razões que se prendem com a integração social do condenado e depende sempre do consentimento deste.

Atendendo ao tema em análise no presente trabalho, apenas nos importa as sentenças em que as penas pecuniárias não são inferiores a 30 unidades de conta processual, podendo, no entanto, mediante acordo com o Estado estrangeiro, dispensar-se esta condição em casos especiais, designadamente em função do estado de saúde do condenado ou de outras razões de ordem familiar ou profissional (cf. alínea f) do n.º 1 do artigo 104.º).

Ponderando que o valor da unidade de conta é de €102,00 (cento e dois euros)49, cabem aqui

sentenças que apliquem penas de multa, infrações de natureza penal, na fase em que tramitem perante autoridades administrativas, bem como de infrações que constituam ilícito de mera ordenação social, cujos processos admitam recurso judicial (cf. artigo 1.º, n.º 3), cujos montantes não sejam inferiores a €3060,00 (três mil e sessenta euros).

A delegação da execução da sentença penal portuguesa ficará, em qualquer caso, subordinada, não apenas a que a pena imposta pelo tribunal português não seja agravada pelo Estado delegado, como também a obrigação de o Estado português comunicar àquele qualquer decisão que implique a cessação ou a alteração da execução dessa mesma pena, como decorre do estatuído nos artigos 104.º, n.º 5, 105.º, n.º 1, e 101.º, n.ºs 1 a 7, todos da Lei nº 144/99, de 31 de agosto.

O pedido de cooperação e os documentos que o devem acompanhar são acompanhados de tradução na língua oficial do Estado a quem são dirigidos, salvo convenção ou acordo em contrário ou se aquele o dispensar (cf. artigo 20.º da Lei n.º 144/99, de 31 de agosto).

O pedido é tramitado através da Procuradoria-Geral da República, que é a Autoridade Central do Estado português (artigo 21.º da Lei n.º 144/99, de 31 de agosto).

Sobre os requisitos do pedido de cooperação, regue o artigo 23.º da Lei n.º 144/99, de 31 de agosto.

Conforme dispõe o n.º 1 do artigo 105.º da Lei n.º 144/99, de 31 de agosto, à execução aplicam-se os limites previstos no artigo 98.º, n.ºs 1, 2 e 4, do mesmo diploma legal, ou seja, a execução da sentença no estrangeiro é admissível se forem conhecidos bens do condenado suficientes para garantir, no todo ou em parte, essa execução. A execução das custas do processo limita-se às que forem devidas ao Estado.

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Refere ainda o n.º 1 do citado artigo 105.º, que quanto aos efeitos é aplicável o disposto no artigo 101.º, n.ºs 2 a 7. Assim, sendo a sentença penal portuguesa executada num Estado estrangeiro, produz ali os efeitos que a lei do Estado de execução confere às sentenças proferidas nos seus Tribunais.

A legitimidade para decidir sobre o recurso de revisão compete exclusivamente ao Estado de emissão, no caso, Portugal.

A amnistia, o perdão ou indulto, podem ser concedidos tanto por Portugal como pelo Estado de execução.

A execução é extinta, se:

a) O Estado de execução tiver conhecimento de que o condenado foi beneficiado com amnistia, perdão ou indulto que tenham extinguido a pena;

b) O Estado de execução tiver conhecimento de que foi interposto recurso de revisão da sentença exequenda ou de outra decisão que tenha por efeito retirar-lhe força executiva;

c) A execução respeitar a pena pecuniária e o condenado a tiver pago no Estado requerente.

A aceitação da execução pelo Estado estrangeiro, implica a renúncia de Portugal à execução da sentença, devendo o processo em Portugal suspender-se desde o início da instauração da execução no estrangeiro até ao integral cumprimento, ou até que o Estado estrangeiro comunique a impossibilidade de a fazer cumprir, situação em que Portugal recupera o seu direito de execução da sentença (cf. artigo 106.º da Lei n.º 144/99, de 31 de agosto).

O pedido é apresentado à autoridade Central do Estado estrangeiro, via Ministério da Justiça, e deve ser instruída com Certidão ou cópia autenticada da sentença portuguesa, com menção do trânsito em julgado. Se a autoridade estrangeira competente para a execução comunicar que o pedido é aceite, a Autoridade Central solicita ser informada daquela execução até total cumprimento, tudo nos termos do disposto no artigo 109.º da Lei n.º 144/99, de 31 de agosto. Nos termos do disposto no n.º 3 do artigo 110.º da Lei n.º 144/99, de 31 de agosto, o destino das penas pecuniárias executadas em Estado diferente do Estado português revertem para o Estado de execução.

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