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II. Objectivos I Resumo

2. A Lei n.º 93/2009, de 1 de Setembro

2.1. Aspectos gerais

2.2.1. O procedimento geral

Competente para emitir a decisão de aplicação de uma sanção pecuniária e transmiti-la à autoridade competente do Estado de Execução é:

– A autoridade judiciária do tribunal que tiver tomado a decisão; ou

– No caso de a decisão ter sido tomada por autoridade administrativa, a autoridade judiciária junto do tribunal competente para a respectiva execução.

O Estado de Execução é o Estado-Membro da União Europeia em cujo território a pessoa, singular ou colectiva, contra a qual tenha sido proferida a decisão possua bens ou rendimentos ou tenha a sua residência habitual ou, tratando-se de pessoa colectiva, tenha a sua sede estatutária.

O pedido de cooperação corresponde à certidão, cujo formulário constitui o Anexo da Lei n.º 93/2009, de 1 de Setembro, à qual será apensada a respectiva decisão condenatória, as quais, nos termos já supra expostos quanto às comunicações, devem ser directamente transmitidas pela autoridade judiciária portuguesa à autoridade competente do Estado de Execução, em condições que permitam verificar a sua autenticidade. Tal pedido apenas pode ser dirigido a um único Estado de Execução.

A certidão deve ser apresentada na língua oficial do Estado de Execução ou, caso este assim o aceite, numa das línguas oficiais das instituições da União (para sabermos se o Estado de Execução aceita a certidão numa das línguas oficiais das instituições da União devemos consultar o supra mencionado site do Conselho da UE).

O formulário da certidão, apenas em língua Inglesa ou Francesa, encontra-se disponível no site da Rede Judiciária Europeia em matéria penal10, onde pode ser descarregado (PDF e Word).

Tal certidão deve ser assinada pela autoridade emitente, a qual certificará a exactidão do seu conteúdo.

Já a decisão pode ser enviada sem a respectiva tradução, sendo que, neste caso, o Estado de Execução pode suspender a mesma pelo tempo necessário à sua tradução, sendo as 9 Transposição do artigo 4.º da Decisão-Quadro 2005/214/JAI, do Conselho, de 24 de Fevereiro.

10https://e-justice.europa.eu/content_ejn_in_criminal_matters-22-pt.do.

A EXECUÇÃO DE MULTAS/COIMAS/CUSTAS NO ESTRANGEIRO 2. Enquadramento jurídico, prática e gestão processual

respectivas despesas suportadas por este (cfr. artigo 16.º, n.º 2, da Decisão-Quadro 2005/214/JAI, do Conselho, de 24 de Fevereiro).

O original da decisão ou a sua cópia autenticada, bem como o original da certidão, só serão de envio obrigatório ao Estado de Execução caso este o solicite.

A execução da decisão regular-se-á pela legislação do Estado de Execução (cfr. artigo 9.º, n.º 1, da Decisão-Quadro), sendo que, na impossibilidade de conhecer e analisar a lei concretamente vigente em cada um dos Estados-Membros aos quais poderemos vir a dirigir o nosso pedido de cooperação, uma vez que a mesma resultou da transposição da referida Decisão-Quadro, atentemos ao que nela se dispõe em relação aos trâmites posteriores à recepção do pedido. Assim,

Recebido o pedido de cooperação, em princípio, as autoridades competentes do Estado de Execução devem reconhecer a decisão transmitida sem necessidade de qualquer outra formalidade, tomando de imediato todas as medidas necessárias com vista à execução (cfr. artigo 6.º da Decisão-Quadro).

No entanto, nos termos do artigo 7.º da referida Decisão-Quadro, o Estado de Execução pode recusar o reconhecimento e a execução da decisão em causa, invocando uma série de fundamentos ali previstos, desde logo, o facto de a certidão a que se aludiu supra não ter sido apresentada, estiver incompleta ou manifestamente não corresponder à decisão que a acompanha (cfr. n.º 1).

O n.º 2 do referido preceito, para onde se remete, prevê ainda outras causas de recusa facultativas mas, uma vez que em sede de transposição da Decisão-Quadro, os diversos Estados-Membros da UE fizeram diferentes opções legislativas, transpondo parcialmente algumas normas ou não transpondo “tout court” outras, ou ainda transformando as referidas causas de recusa facultativas em causas de recusa obrigatórias ou mesmo incluindo outras adicionais, só perante cada caso concreto e a respectiva legislação interna de cada Estado de Execução é que é possível conhecer em concreto de tais causas de recusa.

Em qualquer caso, a decisão de recusa de reconhecimento e de execução por parte do Estado de Execução, deverá sempre ser comunicada por este às autoridades portuguesas (artigo 14.º, alínea b), da Decisão-Quadro).

Encontrando-se já em curso o pedido de cooperação, as autoridades judiciárias portuguesas têm o dever de informar (cfr. artigo 10.º da Lei n.º 93/2009, de 1 de Setembro) as autoridades competentes do Estado de Execução:

– Da prolação de qualquer decisão ou medida que tenha como consequência a anulação do carácter executório da decisão ou a retirada de competência ao Estado de Execução;

A EXECUÇÃO DE MULTAS/COIMAS/CUSTAS NO ESTRANGEIRO 2. Enquadramento jurídico, prática e gestão processual

– Do recebimento de qualquer quantia em dinheiro que tenha sido voluntariamente paga pela pessoa condenada na decisão transmitida, sendo tal valor integralmente deduzido no montante a executar.

Uma vez transmitido o pedido nos termos supra expostos, a autoridade judiciária portuguesa não pode prosseguir com a execução da decisão transmitida (artigo 11.º da Lei n.º 93/2009, de 1 de Setembro).

Tal competência só é recuperada caso receba informação por parte das autoridades competentes do Estado de Execução no sentido de que:

– Já não é sua a responsabilidade pela execução;

– Não foi possível proceder à execução, total ou parcialmente; ou que,

– Se recusam a reconhecer ou a executar a decisão, nos termos já supra expostos. Note-se que, neste último caso, se tal recusa resultar da existência de uma outra decisão contra a mesma pessoa e pelos mesmos factos, no Estado de Execução ou num Estado terceiro, da concessão de amnistia ou perdão pelo Estado de Execução ou de oposição fundada em violação dos direitos ou princípios fundamentais, consagrados no artigo 6.º do Tratado da União Europeia, não há lugar à recuperação da competência (cfr. artigo 12.º da Lei n.º 93/2009, de 1 de Setembro).

No caso de impossibilidade de execução, total ou parcial, o Estado de Execução pode aplicar sanções alternativas, como a prisão subsidiária, desde que tal esteja previsto no seu direito interno e a autoridade judiciária portuguesa tenha expressamente inscrito essa sanção alternativa na própria certidão. Tal sanção é determinada segundo a lei do Estado de Execução, não podendo nunca exceder o limite máximo indicado na certidão (cfr. artigo 10.º da Decisão-quadro 2005/214/JAI).

De acordo com o artigo 13.º da Decisão-quadro 2005/214/JAI, as quantias obtidas com a execução revertem para o Estado de Execução, salvo acordo em contrário entre este e o Estado de Emissão (sendo certo que nenhum é conhecido nesta matéria).

Quanto aos encargos resultantes da execução, dispõe o artigo 17.º da referida Decisão- Quadro que os Estados deverão renunciar mutuamente ao seu reembolso, o que equivale a dizer que, em princípio, os mesmos serão suportados pelo Estado de Execução.