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3. Enquadramento Jurídico

3.3. Da Lei n.º 144/99, de 31 de Agosto

3.4.4. Do pedido de execução de Coimas

Como referido anteriormente, em virtude da redacção do artigo 1.º, alínea a), subalínea ii), da Lei n.º 93/2009, de 1 de Setembro, os ilícitos de mera ordenação social, vulgo contra- ordenações, são consideradas decisões condenatórias susceptíveis de execução num outro Estado-Membro.

31As multas processuais têm de ser liquidadas pelo visado, independentemente de este gozar de isenção de custas, ter apoio judiciário ou vencimento de causa – cfr. artigo 28.º, n.º 4, do Regulamento das Custas Processuais, sendo que o despacho que aplique multa é recorrível – cfr. artigo 27.º, n.º 6, do mesmo diploma legal.

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Com efeito, “constitui contra-ordenação todo o facto ilícito e censurável que preencha um tipo legal no qual se comine uma coima.” – cfr. artigo 1.º do Decreto-Lei n.º 433/82, de 27 de Outubro, com as últimas alterações introduzidas pela Lei n.º 109/2001, de 24 de Dezembro, que aprova o Regime Jurídico do Ilícito de Mera Ordenação Social (doravante RGCO).

A tramitação processual das contra-ordenações e a consequente aplicação das respectivas coimas – cfr. artigo 17.º do RGCO – e das sanções acessórias, compete às autoridades administrativas determinadas por lei em função da respectiva natureza material – cfr. artigo 33.º e 34.º do RGCO.

Às contra-ordenações é subsidiariamente aplicável o regime consagrado do Código Penal e Código de Processo Penal, nos termos do artigo 32.º e 41.º do RGCO.

Para além do regime geral e da aplicação subsidiária do Código Penal e do Código de Processo Penal, em virtude da natureza da contra-ordenação são ainda aplicáveis os diplomas específicos que regulam as contra-ordenações nas diversas áreas de jurisdição, designadamente, contra-ordenações tributárias, laborais, ambientais, rodoviárias, etc.

A autoridade administrativa competente procede à fase instrutória, emite a decisão e aplica a coima, sendo que, tais decisões administrativas de aplicação de coima são susceptíveis de recurso, cuja competência para a respectiva apreciação recai nos tribunais comuns – cfr. artigos 59.º e 61.º do RGCO.

Pese embora estejam previstas especificidades no que respeita ao regime de recursos das decisões administrativas que aplicam coimas, nos vários regimes aplicáveis em função da matéria, no presente estudo iremos apenas versar sobre o regime geral aplicável e consagrado no Decreto-Lei n.º 433/82, de 27 de Outubro.

Com efeito, proferida decisão administrativa de aplicação de uma coima, o arguido é notificado da mesma para liquidação do seu valor ou para proceder à sua impugnação judicial, no prazo de 20 dias – cfr. artigo 60.º do RGCO.

A impugnação judicial é apresentada junto da autoridade administrativa emitente da decisão impugnada, que remete aos serviços do Ministério Público junto do Tribunal competente para a apreciação da mesma, aferindo o Ministério Público pelo preenchimento dos requisitos formais e promovendo pela apresentação dos autos ao juiz, que valerá como acusação – cfr. artigo 62.º do RGCO.

A coima é paga no prazo de 10 dias a partir da data em que a decisão se tornar definitiva ou transitar em julgado – cfr. artigo 88.º do RGCO.

Aqui chegados, caso o arguido não proceda ao pagamento voluntário da coima, o Ministério Público promove a execução daquela quantia, perante o tribunal competente, segundo o

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artigo 61.º do RGCO, seguindo os termos da execução por multa previsto no Código de Processo Penal – cfr. artigo 89.º, n.º 2, do RGCO32.

Ao contrário das penas de multa, as coimas não são susceptíveis de conversão em prisão subsidiária, a fim de constranger o condenado a liquidar a respectiva quantia.

Portanto, esgotados os recursos voluntários e coercivos de obtenção de cobrança do valor devido por coima aplicada, não há outro mecanismo para compelir o condenado ao pagamento.

Como é consabido, as entidades administrativas não dispõem de poderes para promover o procedimento de cobrança coerciva no estrangeiro, tal competência está reservada ao Ministério Público junto do Tribunal competente, que promove pela extracção de certidão a que se refere os artigos 8.º e 9.º da Lei n.º 93/2009, de 1 de Setembro, para o caso de execução num Estado-Membro – cfr. artigo 89.º, n.º 2, do RGCO.

Relativamente ao limite pecuniário, a Decisão-Quadro n.º 2005/2014/JAI limita o pedido de execução de sanções de valor inferior a 70,00 € (setenta Euros) – vide artigo 7.º, n.º 2, alínea h), do referido diploma legal.

Também a nível de cooperação judiciária internacional se fixa o limite mínimo de 30 Unidades de Conta (3.060,00 € – três mil e sessenta Euros), que pode ser afastado por acordo com o Estado de Execução – cfr. artigo 104.º, n.º 1, alínea f), da Lei n.º 144/99, de 31 de Agosto. Com a remessa do expediente, o Ministério Público promove a execução e dá cumprimento ao procedimento tendente à execução no estrangeiro, designadamente promovendo se extraia “certidão” da decisão de aplicação da sanção pecuniária (coima) junto do Tribunal competente para a execução da coima, com a respectiva tradução para a língua oficial do Estado de Execução (ou por outra aceite por este), com certificação da exactidão do seu conteúdo e a menção do respectivo prazo de prescrição – cfr. artigo 8.º, al. b), e artigo 9.º, da Lei n.º 93/2009, de 1 de Setembro, e artigo 27.º e seguintes do RGCO, sem prejuízo das normas relativas a prazos de prescrição consagradas em diplomas específicos.

Sendo efectuado e transmitido o pedido de cooperação para execução da sanção pecuniária, o Ministério Público promove a sustação da execução, nos termos do artigo 11.º da Lei n.º 93/2009, de 1 de Setembro e, tratando-se de pedido remetido a um Estado terceiro, nos termos do artigo 106.º da Lei n.º 144/99, de 31 de Agosto.

32 Não tendo a coima sido alvo de impugnação judicial a entidade administrativa remete ao Ministério Público junto do Tribunal competente para a apreciação judicial, a fim de aquele promover a execução.

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