• Nenhum resultado encontrado

O letramento emerge nas narrativas como o principal elemento de distinção social das famílias. Mais do que o aspecto econômico, os autores parecem fundar na excepcionalidade do conhecimento das “letras” a diferença social de suas famílias. O letramento é uma distinção que acompanha diferentes gerações das famílias. Primeiro, os antepassados:

Meu pai, Joaquim Simões Fernandes Pimenta, (...) era o único homem da região que sabia ler e escrever. (PIMENTA, 1986, p.19)

Pelo inventário de Joaquim José da Costa lavrado em 1870, descobre-se uma grande preocupação do Pai Joaquim da Volta em alfabetizar os seus filhos. Segundo Mané de Giromi, neto do vaqueiro de Joaquim, de nome Giromi de Yayá, existiam duas professoras primárias na Fazenda Volta para ensinarem os meninos a ler. Razão porque existem centenas de doutores, descendentes deste ramo familiar, de Picuí, os Henriques. (ARAÚJO, 2008, p. 03)

Este pensamento bendito, passou de Pai para Filho. Os primeiros homens públicos de Picuí, analisados neste trabalho, sabiam ler, e em função deste particular, exerciam funções dos serviços públicos, em nossa cidade. (p. 03) Apresentamos a assinatura no inventário de Joaquim José da Costa, do herdeiro Manuel Henriques da Costa. O curioso é que, muitos dos descendentes deste Patriarca, possuem letras parecidíssimas como a do Tronco familiar citado, como as letras do poeta Antônio Henrique Neto e do meu Pai Henrique de Araújo Costa. Segundo informações fidedignas de Luis Henriques filho de Tio MAJÓ, uma das pessoas que mais entende de história dos antigos, Manuel Henriques da Costa foi o primeiro escrivão da história de Picuí. (ARAÚJO, 2008, p. 03)

O Pai de Manuel Henriques da Costa, Joaquim da Volta, foi, como já falei antes, uma pessoa preocupada com a leitura dos seus filhos. O filho caçula, Manuel do Nascimento Muribeca foi um dos mais afamados professores primários de Picuí. Muribeca aprendeu com o conhecido professor de caboré, José Vicente, e depois com os livros trazidos de Recife por seu Pai, tendo aprendido quase tudo sozinho. O professor Muribeca, às vezes, repreendia em português, as pessoas tituladas. (ARAÚJO, 2008, p. 59) 02 – CLEMENTINA BERTHOLDINA DA CONCEIÇÃO, moça de personalidade destacada, oriunda da família Fonseca72, com raízes na praia

de Lucena na Paraíba, que tinha boa moradia, boas amizades e o conforto da casa de seus pais, na cidade de Cuité PB. Abdicou de todas essas vantagens e veio morar na Fazenda Volta com o seu jovem esposo MANUEL HENRIQUES DA COSTA, este, filho de Joaquim da Volta e de Maria Francisca Clementina teve, 8 filhos, os quais alfabetizados, se tornaram os primeiros homens públicos de Picuí PB. (ARAÚJO, 2008, p. 11)

Os primeiros anos na escola e as trajetórias de formação acadêmica dos próprios autores têm lugar de destaque nas narrativas:

Aos nove anos de idade ingressei numa escola particular e foi ali que aprendi a ler com D. Josefa Alves Frazão, a minha primeira Professora, que era casada com meu avô Francisco Pimenta e madrasta de minha mãe. (PIMENTA, 1986, p.21)

Aos dezoito anos de idade, fui residir em casa de uma comadre de meu pai, D. Maria Macedo, em Calabouço, município de Araruna, para estudar. (PIMENTA, 1986, p.21)

Aos sete anos foi que frequentei a escola. A minha primeira professora foi Ondima Lima, fui alfabetizada por ela. Depois estudei com (...) Elça de Carvalho que me premiou por ser a mais aplicada. Também recebi do Dr. Hercílio Rodrigues, prefeito da época, quando conclui o 2º ano primário, em dezembro de 1940, um livro oferecido por ele com a dedicatória de mais aplicada, fiquei feliz e orgulhosa. (FURTADO, 2004, p. 13)

Guardo comigo a mensagem que li no aniversário da Diretora do Grupo Vidal de Negreiros onde eu estudava, Sra.Elça de Carvalho, 09/08/1945. Era uma excelente educadora, fiz o exame final do primário com ela. A referida mensagem foi escrita por Maria de Lourdes Viana, que também foi professora aqui em Cuité por muitos anos e era como uma irmã para nós. Sua família residia em João Pessoa e meus pais a acolheram em nossa casa. (...). Quando as professoras do 1º e 2º anos faltavam, D. Elça mandava que eu substituísse. Eu ficava muito feliz porque, além de gostar, era uma honra pela confiança que em mim depositava. (FURTADO, 2004, p. 16)

A distinção do letramento é repassada também para os filhos, cujas realizações neste campo superam as dos pais:

10.12.57 – A formatura de Rivaldo realizou-se hoje na Faculdade de Engenharia do Recife. Fui assisti-la. (PIMENTA, 1986, p.63) (foto)

18.12.57 – Promovemos um baile no Cuité Clube, oferecido a Rivaldo Simões, pela sua formatura como Engenheiro Civil. Entre outras personalidades, estiveram presentes o Governador Pedro Gondim, o Vice- Governador, o Tenente Hermano Araújo, Dr. Manuel Guimarães, Juiz de Direito, José Pereira, Amarílio Sales e Vicente Madruga. (PIMENTA, 1986, p.64)

Na formatura de Cláudia e Ângela, em 15/12/79, quando concluíram o curso de Medicina, Cláudio subiu ao palco com as duas ao mesmo tempo para colarem grau e o povo aplaudiu de pé, foi lindo! Recebemos muitas mensagens, também uma homenagem da Câmara Municipal de Campina Grande, foi uma festa muito bonita. (...) Em 19/12/81, foi a formatura de Suzana, que fez parte da primeira turma de Fisioterapia de Campina Grande, foi mais uma concretização e alegria para nós, vê-las realizadas nos cursos que escolheram, por isso só temos a agradecer a Deus. (FURTADO, 2004, p. 24)

Aqui o agradecimento mais emocionado do Autor a sua esposa Teresinha, companheira de 4 décadas e aos seus filhos, Eng. Civil Henri Netto, economista Alan Henriques e advogado Pablo Aluísio. (ARAÚJO, 2008, p. 07)

Heleno Henriques de Araújo oferece, em seu relato, uma visão mais abrangente do letramento, criando a imagem de uma família dedicada aos livros, à história, à educação. Mas ele é parte de uma família tocada pela mística do letramento, que é passada de geração para geração. Ele mesmo se coloca como exemplo neste aspecto, com seus 10 livros publicados73:

Dos meu 60 anos de idade, 48 anos deles, tenho dedicado a estudar, a analisar a história de Picuí. (ARAÚJO, 2008, p. 03)

No item GRANDES VULTOS HENRIQUINOS, ao se referir a um parente de nome Benedito, afirma que é “uma espécie de museu vivo da tradição Henriquina(...)” (ARAÚJO, 2008, p. 22). Ressalta sua inteligência, seus escritos e cita uma frase dele, para quem “a presença dos Henriques na Serra Quebrada, na Volta e no Gravatá foi uma dádiva dos Céus para a cidade de Picuí” (ARAÚJO, 2008, p. 22-23). E completa:

73Além do livro analisado neste artigo, publicou ainda: Antologia da Acauã – crônicas da Picuí de outrora;

Capítulos da História da Paraíba – Versando sobre a comida primitivista; O garção em nível internacional; Em tempo de restaurante brasileiro; Vinho, Néctar dos Deuses; Henrique Araújo Costa, 94 anos de glórias; A boa comida brasileira; A carne de sol de Picuí e Picuí de ontem e de hoje, dedicados seja à gastronomia, seja à história local, e mesmo combinando os dois temas.

O esplendor de sua inteligência vibrante e contagiante se traduz na sua letra cinematográfica que é transcrita nas centenas e centenas de poema dele e de outros autores, guardados a sete chaves, somente mostrados aos amantes da boa leitura. Estas criações poéticas são recitadas por Benedito Henriques com tal eloquência que mais a fluência dos seguidores do poeta baiano Castro Alves e dos parnasianos Cassimiro de Abreu e Olavo Bilac, autores de AURORA DA MINHA VIDA E O TRABALHO. (ARAÚJO, 2008, p. 22)