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Distribuição das formas identificadas na sigillata foceense tardia (TSfoc)

TSFOC N.OFrag. NMI

Formas Lisas Hayes 3 7 7

Hayes 8 1 1

Formas Decor. Decor. indet. 2 2

3.8.3.1. A forma Hayes 3

Esta forma corresponde a um prato ou tigela de bordo vertical com moldura. A parede pode ser mais ou menos encurvada ou rectilínea, produzindo vasos de maior ou menor pro- fundidade. Hayes segue Waagé na definição da evolução da forma (...) “which consists

mainly in a progressive shorthening and thickening of the rim, with the corresponding increase in the overhang at the bottom (...)” (Hayes, 1972, p. 329). O fundo apresenta nor- malmente um pé baixo. Quando se dispõe apenas de reduzidos fragmentos de bordo, nem sempre é possível identificar e distinguir as variantes apresentadas por Hayes.

Em Santarém, existem sete peças desta forma, que julgo pertencerem às variantes C e E, datadas por Hayes entre os meados do século V e os inícios do século VI (Hayes, 1972). A maior parte das peças apresenta guilhoché na superfície exterior do bordo, e em alguns dos casos esta superfície encontra tonalidades acastanhadas devido à cozedura. No exemplar melhor conservado desta série, são visíveis os traços do alisamento da parede externa. De uma maneira geral, os diâmetros rondam os 260-280 mm.

Em Conímbriga, encontraram-se quarenta exemplares desta forma, com claro domí- nio da variante B e C, sendo igualmente abundante a variante E (Delgado, Mayet e Alarcão, 1975, p. 287). Do ponto de vista cronológico, verifica-se que os níveis em que foram encon- tradas as peças das variantes B e C, datados de 460-475, (data da destruição provocada pela invasão sueva) o que levou a propor-se uma cronologia para o início da produção, se não antes, pelo menos em meados do século V (Delgado, Mayet e Alarcão, 1975, p. 287).

Em Belo, estão presentes as variantes C, D e F da forma Hayes 3, sendo datadas do período compreendido entre meados do século V e meados do século VI (Bourgeois e Mayet, 1991, p. 375).

Quadro descritivo

PROVENIÊNCIA TIPO FRAGMENTO DIMENSÕES/MM PASTA ENGOBE

N.0Inv. Ano Sect. Quad. UE Forma N.0Frag. Frag. D.B. Alt. E.P. Cor Cor Espess. Brilho Observações Cronol.

8760 97 Q 7 2 Hayes 3 1 bordo/ 280 28,8 6,4 2.5YR 6/8 2.5YR 6/8 fino mate ligeiro guilhoché no ext. do bordo, m.séc.V-

parede e 10R 5/8 também mais escuro m.séc.VI

10418 97 Q 18 3 Hayes 3 1 bordo 260 21,5 7 2.5YR 6/8 2.5YR 6/8 fino baço — m.séc.V-

m.séc.VI

20327 99 1 B 1 Hayes 3 1 bordo/ 290 27 5 2.5YR 5/6 2.5YR 4/3 fino mate guilhoché no ext. do bordo que é acastanh. m.séc.V-

parede m.séc.VI

22150 99 1 B 17 Hayes 3 1 bordo d.d. 14 — 2.5YR 6/6 2.5YR 5/4-6 fino mate frag. diminuto m.séc.V-

m.séc.VI

23418 99 1 B 265 Hayes 3 1 bordo/ d.d. 24 4,8 2.5YR 6/8 10R 4/4 fino mate guilhoché no ext. do bordo que é acastanh. m.séc.V-

parede m.séc.VI

23809 99 1 B 306 Hayes 3 1 bordo/ 280 38,3 4 2.5YR 6/8 2.5YR 6/8 fino mate guilhoché no ext. do bordo que é acastanh. m.séc.V-

parede e 2.5YR 4/1 no seu limite inf. Sinais de alisamento . m.séc.VI

na parede ext

23344 99 1 C 161 Hayes 3 1 bordo/ 260 ? 23,5 4,3 2.5YR 6/8 2.5YR 6/8 fino mate engobe quase total/ destruído. Ligeiro m.séc.V-

parede guilhoché no ext. do bordo m.séc.VI

23809

8760

20327

Esta forma corresponde a uma tigela, cujo traço morfológico mais relevante é a pre- sença de um bordo em aba, côncavo e moldurado, estando datado por Hayes da segunda metade do século V ou posteriormente (Hayes, 1972, p. 342).

Em Santarém, existe apenas uma peça com esta forma que possui as características genericamente apontadas para este fabrico e mede de diâmetro de abertura cerca de 200 mm. Em Conímbriga, esta forma não foi identificada, mas está representada em Belo por dois exemplares de reduzida dimensão (Bourgeois e Mayet, 1991, p. 375).

Quadro descritivo

PROVENIÊNCIA TIPO FRAGMENTO DIMENSÕES/MM PASTA ENGOBE

N.0Inv. Ano Sect. Quad. UE Forma N.0Frag. Frag. D.B. Alt. E.P. Cor Cor Espess. Brilho Observações Cronol.

10880 97 Q 11 2 A Hayes 8 1 bordo/ 200 16 5,5 2.5YR 6/8 2.5YR 5/8 fino baço — m.séc.V-

parede m.séc.VI

3.8.3.3. Fragmentos decorados

Como já se referiu supra, Hayes individualizou, nesta produção, uma série de conjuntos decorativos, agrupados não só de acordo com os motivos, mas também pela disposição em que são aplicados no fundo de grandes pratos e tigelas.

Encontraram-se em Santarém apenas dois fragmentos de fundo com duas estampilhas atribuíveis às oficinas foceenses. Um dos exemplares, (3097)(Est. 4, n.o

10) apresenta decoração estampada, decoração essa que corresponde a um motivo de palmeta estilizada com volutas do tipo 8 de Hayes, integrável no “palm-branch style” cuja cronologia pode remontar a 360 (Hayes 1972, p. 351, n.o

8, fig. 73 e e f e p. 347). Neste caso, o motivo devia repetir-se em torno da parte central do fundo, estando enquadrado por uma série de sulcos concêntricos.

A outra peça decorada é o exemplar 3080 que ostenta decoração com o motivo do can- tharus bastante estilizado (Est. 4, n.o

9). Na sua versão mais tardia, datada do início do século VI, este motivo encontra o topo e a parte inferior separadas o que não sucede com o exem- plar escalabitano (Hayes, 1972, p. 363, n.o

60, fig. 79 d). Apesar disso, no conjunto de can- thari repertoriado por Hayes, este é o motivo que mais se assemelha ao de Santarém, já que os exemplos em que a parte superior e inferior estão ligadas têm formas bastante diferentes da peça da Alcáçova. Este motivo está enquadrado por duas faixas de guilhoché.

0 10 cm

0 10 cm

10880

Quadro descritivo

PROVENIÊNCIA TIPO FRAGMENTO DIMENSÕES/MM PASTA ENGOBE

N.0Inv. Ano Sect. Quad. UE Forma N.0Frag. Frag. D.B. Alt. E.P. Cor Cor Espess. Brilho Observações Cronol.

3097 94/ Q 14/ 15 Prato 1 fundo 2.5YR 6/8 2.5YR 5/8 fino mate Palmeta tipo 8 de Hayes, p. 351, fig. 73 e, f. 360-490

95 17E

3080 97 Q 1 2 Prato 1 fundo 2.5YR 6/6 2.5YR 6/6 fino mate Cantharus tipo 60 de Hayes, p. 363, fig 78 d início.

séc.VI

3.8.4. A sigillata Foceense Tardia de Santarém no quadro das importações

para o território actualmente Português e para a Lusitânia

A sigillata foceense tardia é escassa em Santarém e corresponde apenas a 1,25% do con- junto da sigillata, mas apesar disso a sua presença não é menos significativa. Esta proporção é idêntica em sítios como Conímbriga, Belo e Miróbriga, repectivamente 1,7%, 1,31% e 1,2%, sendo superior à de outras estações arqueológicas do período romano como S. Cucufate, Represas e Tróia (com 0,058%, 0,06% e 0,28%). Efectivamente, sabemos que o quadro das importações de sigillata para a Alcáçova aponta para um decréscimo significativo a partir dos finais do século I ou inícios do século II, mas a cidade não permaneceu fechada sobre si mesma, continuando a beneficiar das relações comerciais que se mantinham tendo por base a bacia do Mediterrâneo. Ora é neste contexto que devemos analisar a presença da sigillata tardia com origem no Mediterrâneo Oriental, pois constitui uma prova cabal da permanên- cia de relações baseadas no comércio marítimo até, pelo menos, aos meados do século VI. Apesar de Hayes organizar a sua tipologia com base em dez formas diferentes, em Santarém, e tal como sucedeu nos restantes sítios do território hoje português, a forma Hayes 3 é a mais representada, estando também presente a forma Hayes 8, que regista apenas uma aparição no nosso território, em Mértola (Delgado, 1988, p. 45).

No conjunto, o período de maior afluência destes materiais a Santarém parece coinci- dir com a época de maior produção, que se situa entre meados do século V e meados do século VI.

Em Conimbriga, regista-se a presença massiva da forma Hayes 3 encontrando-se igual- mente representada a forma Hayes 5. Estão ainda presentes diversos fundos com decora- ção estampada que podem, ou não, corresponder a outras formas (Delgado, Mayet e Alar- cão, 1975, p. 286 e 287). Em Belo, além da habitual preponderância da forma Hayes 3, estão presentes exemplares da forma Hayes 8 e 10, além de uma peça que as autoras identifica- ram como de uma variante inédita da forma Hayes 6 (Bourgeois e Mayet, 1991, p. 374 e 375).

0 10 cm

ausencia de Late Roman C, céramica de origen oriental que en las primeras décadas de ocu- pación vándala del Norte de África, había sustituido a la cerámica africana en los mercados occidentales, hasta que los productos africanos vuelven a difundir-se a raíz de la conquista bizantina “ (Vázquez de la Cueva, 1985, p. 96). Deste modo, a importação de sigillata ces- sou com a chegada dos últimos produtos norte africanos em meados do século V.

Em Espanha, o estudo da presença da cerâmica foceense tardia permitiu estabelecer o quadro das importações, em que sobressai a difusão, sobretudo, da forma Hayes 3, em quan- tidades reduzidas (Nieto Prieto, 1984, p. 540-548). Cronologicamente, este comércio com o sector oriental do Mediterrâneo centra-se entre meados do século V e meados do século VI e, segundo Nieto Prieto, a fase final destas relações comerciais ficou a dever-se à insta- bilidade crescente provocada pela presença Bizantina (Nieto Prieto, 1984, p. 547).

A existência de colónias de comerciantes orientais nos séculos V-VII na Península Ibé- rica, já há muito havia sido apontada por Garcia Moreno com base nas fontes disponíveis, tendo observado a sua distribuição sobretudo na faixa costeira e junto a importantes vias flu- viais (Garcia Moreno, 1973, p. 127-154). Na área da antiga Lusitânia, são os núcleos do vale do Guadiana e da área de Olisipo os assinalados por este autor.

No território português tem sido M. Delgado quem tem sistematizado a informação dis- ponível sobre a cerâmica foceense tardia (Delgado, 1984, 35-49), integrando dados ante- riormente recolhidos por Maria Maia sobre o espólio de Tróia (Maia, 1974). Apesar de exis- tirem dez formas, apenas se encontram em território nacional os tipos Hayes 2, 3, 5 e 8, e entre estes, nota-se uma clara preponderância da forma Hayes 3 já que terá sido a forma mais produzida entre meados do século V e meados do século VI (Delgado, 1984, p. 40). Da leitura dos quadros e mapas distributivos, sobressai a grande quantidade de sítios ape- nas com um exemplar. Santarém poderá integrar-se na série de sítios cujo número de exemplares ronda a dezena ou dezena e meia, como é o caso de Braga, de Tróia e Mértola, o que é bastante significativo. Refira-se que o número de peças de Santarém se eleva a dez se incluirmos o exemplar de sigillata foceense tardia da Alcáçova de Santarém anteriormente publicado por Dias Diogo (Diogo, 1984, p. 123, n.o

22, est. III). Se é arriscado falar-se de um ressurgimento da cidade apenas com base na relativa abundância destas cerâmicas, o que é facto é que existem outros dados que se podem associar relativamente ao percurso da cidade nos momentos iniciais da expansão do Cristianismo. É tentador relacionar os dados arqueológicos com o bispo nascido em Santarém, João Biclarense, que teve ligações docu- mentadas com o Oriente, nomeadamente com Constantinopla. Em Mértola, além dos inú- meros testemunhos arqueológicos deste período, as cerâmicas foceenses tardias atingem esta cidade juntamente com um exemplar de sigillata cipriota da forma mais comum desta produção, datados de meados do século V (Delgado, 1992, p. 125-133).

De uma maneira geral, verifica-se que o quadro das importações deste tipo de sigillata para o território português, apresentado por M. Delgado se mantém actual, acrescentando- se recentemente os dados divulgados por Dias Diogo e L. Trindade em que se inclui o exem- plar anteriormente identificado em Santarém, os materiais de Lisboa e da Comenda (Setú- bal) (Diogo, Trindade, 1999, p. 83-95).

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