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TETTIVS SAMIA, que terá produzido de 20 a.C até à viragem da era, com marca em cai-

Quadro descritivo dos fragmentos decorados de forma indeterminada de sigillata de tipo itálico [cont.]

L. TETTIVS SAMIA, que terá produzido de 20 a.C até à viragem da era, com marca em cai-

xilho rectangular de ângulos arredondados (OCK, tipo 2109). A sigla presente em Santarém está completa, podendo ler-se LETI/SAMIA (23918), constituindo apenas motivo de dúvida saber se pode ver-se um A em nexo com o M, ou não. Este oleiro exportou para inúmeros locais em Espanha: Ampurias, Tarragona, Ibiza, Herrera de Pisuerga, Iuliobriga, El Poyo del Cid, Segobriga, Celsa, Cerro de los Castilejos, Pollentia e Nucli (Beltrán, 1990, p. 70). Em Por- tugal, este oleiro conheceu alguma difusão, sendo conhecido em sítios como Alcácer do Sal, através de três marcas, uma referenciada por Leite Vasconcelos (Vasconcelos, p. 108, n.o

3; Oleiro, 1951, p. 24, n.o

46; A. Alarcão, 1971, p. 425, Diogo, 1980b, n.o

152) e as outras duas por Dias Diogo (Diogo, 1980b, p. 20, n.o

14, Diogo, 1980b, n.os

153 e 154). No sítio de Manuel Galo (Maia, 1974, p. 159, n.o

3, est. II) este oleiro foi também identificado numa das raras marcas radiais encontradas em Portugal.

que consumiram sigillata de tipo itálico. Contudo, Santarém importou terra sigillata de outros centros produtores itálicos como Pozzuoli (na Campania), região do Vale do Pó e Centro de Itália, além de Pisa e Vasanello sendo desconhecida a origem de sete marcas.

Os oleiros de Pozzuoli estão representados por três assinaturas de ENNIVS, C. TAP(VRIVS) e PRIMVS NAEVI. Efectivamente, a marca completa em caixilho rectangular com ângulos arre- dondados com a sigla .ENN.I (23886) pertence ao oleiro de ENNIVS, da oficina de QVINTVS ENNIVS SVAVIS de Pozzuoli (OCK, tipo 761.4). A julgar pelos registos presentes no CVA, este oleiro teve uma produção média, com uma reduzida difusão, apenas se conhecendo, na Penín- sula Ibérica, uma marca em Elche. Não havia, até hoje, registo de marcas idênticas em Portugal. Com origem em Vasanello, a assinatura de EROS foi facilmente identificada em San- tarém. Apesar de só se dispor da parte final da sigla OS (3242), o caixilho em que se insere é bastante característico e está ilustrado no Corpus Vasorum Arretinorum, como sendo o do oleiro, que produziu de 1o a 1 a.C. (OCK, tipo 778.8). São conhecidas marcas deste oleiro em território espanhol, em Ampúrias e Tarragona e Elche (Beltrán, 1990, p. 71). Este oleiro estava já representado no nosso território por um exemplar proveniente de Represas tendo aqui uma configuração totalmente diferente da marca escalabitana, pois encontra-se em cai- xilho circular e tem a particularidade do primeiro E da sigla estar deitado (Ribeiro, 1959, p. 87, est. VII, n.o

75; Alarcão, 1971, Lopes, 1994, n.o

1617).

Existe em Santarém uma marca de MARIVS (20699), oleiro que está documentado em Pozzuoli com a mesma fórmula presente na Alcáçova: com as letras A e R em nexo (OCK, tipo 1125.2). Além de Itália, esta marca surge em Espanha em Ampúrias e Tarragona, não estando documentada no território português (Beltrán, 1990, p. 71)

O oleiro C. TAP(VRIVS?) de Puzzuoli está presente em Santarém (OCK, tipo 2036). Pos- sui cartela elíptica e na sigla pode ler-se C.TAP (22686). As letras T, A e P estão em nexo. Esta é a única marca de Scallabis a surgir numa forma identificável: a taça Consp. 22.1.2. Esta mesma marca foi já anteriormente identificada em Conímbriga, num exemplar bastante idêntico ao da Alcáçova (Delgado, Mayet e Alarcão, 1975, p. 43, n.o

233, est. XIII, Diogo, 1980b, n.o

150), e em Miróbriga (Dias, 1978, p. 367, est. I, n.o

18, Diogo, 1980b, n.o

151).

A única marca exterior da colecção da Alcáçova de Santarém pertence a PRIMVS escravo de N. NAEVIVS de Pozzuoli (OCK, tipo 1530). Trata-se de uma marca intradecora- tiva com caixilho in tabela ansata (1335) na qual se lê PRIM(...). É única no país.

Provenientes de centros oleiros da região do Centro de Itália(?) e do Vale do Pó (região padana), conhecem-se em Santarém respectivamente, as marcas de HILARVS e de PRIMVS. No caso de HILARVS, trata-se de uma marca circular com a sigla a desenvolver-se em duas linhas HILA/RVS (22973) com os caracteres perfeitamente visíveis (OCK, tipo 953.3). Este oleiro, que tem como período de laboração de 20 a.C. a 10 d.C. e existe em Espanha em Tar- ragona, Ampúrias, Cádiz, Churriana e Nuestra Sra del Pueyo (Belchite) (Beltrán, 1990), está também documentado em Portugal concretamente, em Represas, num círculo, parecendo assemelhar-se à marca escalabitana (Alarcão, 1971, est. V, n.o

27, p. 425, Diogo, 1980b, n.o

106; Lopes, 1994, n.o

1594). Dias Diogo atribui esta marca a um oleiro de ATEIVS de Lyon (Diogo, 1980b, n.o

106) e C. Bémont chama a atenção para o seu exemplar de Glanum, que parece apresentar também uma argila diferente da de Arezzo. Embora a autora não tenha podido confirmar uma origem gálica para este último exemplar não restam dúvidas sobre a rápida influência de La Graufesenque em Glanum, a partir de 15/20 d.C. (Bémont, 1976, p. 142, n.o

89). Efectivamente, HILARVS está entre os oleiros que estão atestados em Lyon (La Muette), mas as marcas daí provenientes não têm a grafia semelhante à da marca de Santa-

rém, pelo que permanece a dúvida se se trata, ou não, de um produto da Gália (Lasfargues e Vertet, 1976, n.o

XIX 1 e 2, p. 58 e 59).

Pertencente ao oleiro PRIMVS, único em Santarém, originário do Vale do Pó, e com uma difusão reduzida, regista-se a marca in planta pedis, que apenas apresenta a fórmula PRIMV[...] (23843)(OCK tipo 1535.5). Não se conhecem assinaturas deste oleiro em Espanha, mas em Portugal, o único exemplar que se conhece é idêntico ao de Santarém, quer na forma do caixilho, quer na grafia. Trata-se de uma marca que se encontra entre o espólio das esca- vações antigas de Conímbriga (Alarcão, 1971, est. V, n.o

42, Diogo, 1980b, n.o

126).

Julgo poder atribuir, sem problemas, à oficina de C.CHRESTIVS de origem desco- nhecida (OCK, tipo 550) a marca de que apenas se conservam as letras C.CH (1122). Esta marca é relativamente rara fora de Itália, mas encontra-se entre os materiais de Tarragona e Ampúrias, sendo a primeira vez que se regista em Portugal. Não deve confundir-se com as marcas do oleiro aretino trabalhador de ATEIVS, CHRESTVS ou CRESTVS, presente em inúmeros sítios portugueses.

Considero bastante segura a interpretação que se faz da sigla que apresenta a parte final de três linhas, nas quais apenas é possível ler-se [...]SE/[...]ME/[...]NVS (2878) originária do Centro de Itália, pois está documentado no Corpus Vasorum Arretinorum uma marca em tudo idêntica à de Santarém que corresponde ao oleiro P. MESSENVS MENOP(H)ILVS (OCK, tipo 1171.4). Percorrendo esta mesma obra, não se encontram marcas de outros oleiros que apre- sentem a mesma configuração. São conhecidas as exportações deste oleiro para a Península Ibérica, nomeadamente para Ampúrias e Tarragona, mas não em Portugal.

Igualmente do Centro de Itália é o oleiro FAVSTVS, presente na Alcáçova com uma marca em caixilho rectangular, com a sigla em duas linhas FAVS/TVS (2883). Bem legível encon- tram-se apenas ligeiramente danificadas as letras A e T (OCK, tipo 815.4). Trata-se de uma marca pouco comum que, no entanto, já estava documentada no território actualmente por- tuguês, em Alcácer do Sal (Alarcão, 1971, p. 425, Diogo, 1980b, n.o

103), com um caixilho cir- cular imperfeito, datado de 1 a 20 d.C. Além deste exemplar, regista-se igualmente uma outra marca deste oleiro em Herrera de Pisuerga, merecendo a assinatura de Córdova uma particular atenção pois, quer o caixilho quer a grafia, são em tudo idênticos à de Santarém (Marcos Pous, 1976, p. 89, n.o

36 bis). O oleiro FAVSTVS está entre os identificados em Lyon (La Muette), mas a marca de Santarém é bastante diferente da que foi aí registada, o que nos leva a tratar este dado com alguma prudência (Lasfargues e Vertet, 1976, n.o

XII 1, p. 52 e 53).

Reservo para último lugar algumas observações sobre marcas cuja leitura levanta alguns problemas na interpretação, como é o caso da assinatura n.o

22158, para a qual se propõem duas

hipóteses de leitura, embora nenhuma nos satisfaça completamente. Efectivamente, apenas é possível ver-se FICVI, mas como a parte superior da primeira letra está fracturada, pode colo- car-se igualmente a hipótese de leitura HCVI. Infelizmente não encontramos no CVA nenhum oleiro designado por esta sigla, sendo os mais aproximados FIC... (OCK, tipo 830) ou C.VI.

Da marca n.o

24249 apenas resta o que julgo ser a parte final da inscrição X e I, em duas

linhas ou na mesma linha, sendo por isso impossível propor qualquer leitura. O caixilho é circular e a parte superior da inscrição possui o que parece ser uma linha de “chevrons”.

A série de Santarém completa-se ainda com um conjunto de quatro outras marcas in planta pedis, que não conseguem ler-se dadas as dimensões dos fragmentos (2776, 2879, 3233 e 23690). Relativamente aos grafitos, apenas se pode constatar a sua reduzida presença. Ocorrem no fundo exterior de cinco exemplares, sem que seja possível propor qualquer leitura para dois deles. No caso da peça 3377, julgo que o que pode ler-se são as letras VS do meio da sigla, sendo impossível indicar qual o nome a que se refere. O mesmo sucede com a peça

lico entre 20/15 a.C. até 10 d.C. As exportações da península itálica fizeram-se, sobretudo, a partir de Arezzo, existindo igualmente oleiros com origem em Pozzuoli, o “segundo” cen- tro produtor de sigillata itálica, a região padana, do Centro de Itália e de Vasanello. Não pode confirmar-se ou excluir a hipótese de existirem em Santarém produtos das oficinas de Lyon (La Muette), eventualmente documentada pelo oleiro FAVSTVS e HILARVS, pois só o recurso a análises laboratoriais o poderia confirmar. De qualquer modo, está provado que estas oficinas exportaram, preferencialmente, para abastecer os campos militares do limes germânico, o que afasta a sua área de difusão privilegiada da região que analiso. Existem igualmente em Santarém marcas de oleiros de Pisa. A produção pisana está comprovada, pelo menos, por um fragmento de sigillata tardo-itálica e, certamente, por outros exemplos de formas lisas. Neste caso não é de estranhar a presença destes oleiros em Santarém, pois já foram atestados em outros locais do território nacional, como Conímbriga, Tróia, Alcá- cer do Sal e Represas (Sepúlveda, 1996, p. 14). A relativa uniformidade que se observa nas características físicas dos diversos fragmentos que ostentam marca não possibilitou qual- quer diferenciação ao nível dos fabricos da sigillata de tipo itálico. Assim, mesmo sabendo, por exemplo, que a marca de C.TAPVRIVS tem origem em Pozzuoli nada distingue esta peça de outras, tendo sido, de um modo geral, todas as marcas associadas ao fabrico 1, que é o mais habitual. Este dado não é novo, pois já se conhecia a impossibilidade de, a olho nú, distinguir fabricos com diferentes origens no solo italiano.

Arezzo constitui o centro de produção que maior volume de peças terá fornecido, não só aos mercados da Península Ibérica, mas também ao norte de África: ao território hoje argelino (Guéry, 1972, p. 175-218) e ao marroquino (Boube, 1981-82, p. 135-167).

Quadro dos oleiros representados em Santarém em comparação com Conímbriga,

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