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Quadro descritivo do fabrico das marcas de sigillata de tipo itálico PROVENIÊNCIA TIPO FRAGMENTO DIMENSÕES/MM PASTA ENGOBE

3.4. A Sigillata sudgálica

3.4.1. Caracterização do fabrico, origem e difusão

Ainda durante o período áureo de laboração dos fornos de sigillata de tipo itálico, as ofi- cinas de Lyon (La Muette) produziam cerâmicas em tudo idênticas às itálicas, no que se julga ter sido uma “sucursal” das oficinas aretinas. Verificou-se também que os produtos origi- nários deste local foram exportados sobretudo para os mercados do limes germânico.

A produção de sigillata do Sul da Gália adquiriu importância a partir do final do reinado de Tibério e início de Cláudio, num processo onde intervêm diversos factores e que parece estar relacionado com a queda das produções itálicas. Existiram, na Gália, diversos centros produtores, mas é o fabrico de La Graufesenque que maior difusão irá conhecer, atingindo vastas áreas do império e a Península Ibérica. Conhecido na bibliografia como La Graufe- senque, Millau, ou Condatomagus, o conjunto de oficinas da região dos Rutenos, no limite Sul da Aquitânia, foi identificado no século XIX, e a investigação sobre este centro produtor, permitiu reunir uma caracterização bastante completa desta produção nas suas diferentes ver- tentes. São diversos os factores que favoreceram a instalação de inúmeras oficinas de sigil- lata em La Graufesenque, tais como a sua localização junto a um rio e a importantes vias de comunicação, ou a abundância de matéria-prima e de combustível (Vernhet, 1986, p. 96).

Foi ainda no final do século XIX que Dragendorff estabeleceu a tipologia geral das for- mas lisas da sigillata itálica e sudgálica, no que constitui, ainda hoje, a base para a classificação desta cerâmica (Dragendorff, 1895). É neste contexto que Tyers afirma que a evolução do estudo da terra sigillata se confunde com os alicerces da própria investigação, de carácter cien- tífico, da cerâmica romana (Tyers, 1996, p. 9). Actualmente, para a sigillata de La Graufe- senque são abundantes os dados cronológicos, quer de locais de consumo (Pompeia, cam-

Curle entre outros (Tyers, 1996).

As formas produzidas em La Graufesenque são uma evolução directa dos perfis de tipo itálico, a que se vêm juntar, sobretudo a partir de 60 ou 70, um conjunto de tipos verdadei- ramente sudgálicos, conhecidos como os serviços Flavianos (Vernhet, 1986, p. 100). Quanto às formas decoradas, pode afirmar-se que as mais comuns são a taça carenada Drag. 29 e a taça cilíndrica Drag. 30, à qual se junta, a partir de 60, a taça hemisférica, Drag. 37.

Em 1934, na obra La Graufesenque (Condatomago) I. Vases sigillés- II. Grafites, Her- met estuda exaustivamente os motivos e composições decorativas das produções de terra sigillata sudgálica, debruçando-se igualmente sobre as marcas e grafitos então conhecidos (Hermet, 1934). O faseamento da produção é sintetizado por Vernhet que indica um pri- meiro momento experimental datável de 10-20, a que se segue uma fase primitiva entre 20 e 40. Do ponto de vista dos locais de consumo para os quais estas cerâmicas foram exportadas, interessa sobretudo a fase dita de “esplendor”, com cronologia entre 40 e 60; a fase de “transição” de 60 a 80; e o momento de “decadência” deste fabrico que se situa entre 80 e 120 (Vernhet, 1979, p. 18). Vernhet assinala ainda a existência de um fabrico dito tardio, com uma cronologia entre os inícios e os meados do século II, e mesmo de uma produção de sigillata clara, de meados do século II a meados do século III (Vernhet, 1979, p. 19)

Apesar de se saber que os mesmos punções foram utilizados por diferentes oleiros, na descrição das formas decoradas continua a ser de grande utilidade a obra de Knorr que se baseia na recolha das diferentes composições e estilos decorativos que ostentem marca de oleiro (Knorr, 1952).

No estudo da organização do que muitos autores consideram como uma verdadeira indústria que constituiu a produção de sigillata da Gália, tem-se analisado a presença ou não de trabalho escravo e o grau de especialização de cada oficina, sendo as marcas de oleiro um dos principais dados a considerar nesta problemática. Quando se conhece o período de labo- ração de uma determinada oficina, as assinaturas dos oleiros são também excelentes indi- cadores cronológicos.

Além das produções de La Graufesenque, com clara supremacia no território hoje portu- guês, foi identificada também sigillata característica das produções de Montans na villa do Monte da Cegonha e em Represas (Lopes, 1989, p. 223-228; Lopes, 1994, p. 37), em Monte Mozinho (Carvalho, 1998, p. 66) e na Tourega (Pinto, Dias e Viegas, no prelo), além de sigillata de Banas- sac em Balsa (Nolen, 1994, p. 71). Estão ausentes os restantes centros produtores que, ao que tudo indica, terão tido uma difusão dos seus produtos sobretudo na Gália, à escala regional.

A breve descrição de Vernhet para este fabrico indica que “la pâte de La Graufesenque est fine, dure, de couleur beige-rosé, avec des fines particules de calcaire blanc. La couverte est rouge corail, semi vitrifiée, trés adhérent” (Vernhet, 1986, p. 100). Tyers introduz mais alguns elementos úteis como os códigos Munsell para a pasta de tonalidade rosa acasta- nhada Munsell 10R 5-6/8 ou 10R 5/10, e do engobe, que é normalmente muito brilhante e tem uma cor avermelhada 10R 5/8 ou um pouco mais escura 2.5YR 4/6. A indicação da frac- tura concoidal, ligeiramente laminar, é um outro dado importante quando se pretende dis- tinguir a sigillata de La Graufesenque dos restantes fabricos (Tyers, 1996, p. 112). Esta pro- dução tem ainda exemplares marmoreados de cor amarelada (Munsell 2.5Y 7/4) com veios avermelhados, que é datada de 40 a 70 d.C.

A investigação recente utiliza as ferramentas estatísticas para estudar a relação entre vários oleiros no interior de uma oficina como refere Paul Tyers (1996, p. 112) quando

indica um trabalho de Rivett, e como fez Polak, (Polak, 1998, p.115-121). Totalmente ausen- tes dos registos escritos da época, os vestígios das produções de La Grafesenque continuam a constituir a única fonte para o seu estudo. A transferência de moldes, operada entre os olei- ros dos diversos centros produtores, tem também sido investigada, tendo em grande medida, por base as análises químicas para detectar a sua proveniência exacta (Vernhet, 1986, p. 100). Outros dados, como o estatuto jurídico dos oleiros, continuam a ser avaliados na investiga- ção mais recente sobre este centro produtor (Vernhet, 1986, p.102).

3.4.2. A sigillata sudgálica da Alcáçova de Santarém

3.4.2.1. Introdução

Na Alcáçova de Santarém existem 246 peças de terra sigillata sudgálica (NMI), o que constitui 30,64% do total de sigillata com forma identificada existente na Alcáçova de San- tarém. O único fabrico presente em Santarém é proveniente do centro produtor de La Graufesenque, embora seja de admitir a presença de sigillata de Montans, já identifi- cada noutros sítios portugueses e cujo fabrico se distingue dificilmente do de La Grau- fesenque.

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