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Quadro descritivo dos fragmentos decorados de forma indeterminada de sigillata de tipo itálico [cont.]

3.3.3. Marcas e grafitos

Na Alcáçova de Santarém existe um conjunto de quarenta marcas de oleiro, das quais se apresenta a leitura para vinte e nove (Vide respectivas Tabelas e Est. 5). Incluem-se aqui duas marcas anteriormente publicadas por Dias Diogo (Diogo, 1984b, p. 111-141), por pare- cerem úteis para uma mais correcta apreciação desta série. Perante a documentação dis- ponível, procurou analisar-se, essencialmente, a cronologia das marcas, os oleiros presen- tes em Scallabis e saber se são os mesmos que habitualmente exportavam para a Península, em particular para o território português. Confirmar se Arezzo (Arretium) constitui ou não o principal centro produtor e abastecedor de Scallabis é também um dos objectivos, assim como conhecer o peso da presença dos restantes centros produtores. As referências ao Corpus Vasorum Arretinorum de Oxé, Comfort e Kenrick (OCK) são constantes, apesar de estar consciente do facto que só a realização de análises químicas possibilitaria certezas absolutas quanto à proveniência dos materiais aqui mencionados.

As marcas de terra sigillata de tipo itálico da Alcáçova de Santarém formam um con- junto bastante diversificado, que contém uma marca radial, diversas marcas com caixilhos de formas rectangular, elíptica, circular, com ou sem folha de palma colocada na horizon- tal, bem como as características marcas em forma de pé (in planta pedis), e duas marcas ane- pígrafes: uma em forma de quadrifolio e outra, muito truncada, que parece ter a forma de um X. Dado a dimensão dos fragmentos, não é possível, na esmagadora maioria dos casos, enquadrar tipologicamente as peças em que se encontrariam as diferentes marcas, o que dificultou a atribuição cronológica. Existe apenas uma marca no fundo interno de uma taça

forma. Apenas uma das marcas se encontra na parede exterior de um cálice, constituindo a única marca intradecorativa da Alcáçova (1335), sendo proveniente da oficina de PRIMVS escravo de N. NAEVIUS HILARUS (OCK, tipo 1530).

De uma maneira geral, a datação destas marcas aponta para um auge de importações localizado durante o período tardo-augustano e tiberiano, o que está de acordo com a cro- nologia das restantes formas identificadas, existindo escassos exemplares anteriores. Nesta situação, encontra-se a marca mais antiga da série, que está presente num prato (1316), cujo fundo se poderá integrar na forma Consp. B.1.4 (Conspectus), e que pertence à oficina de EROS A. AVIL(LI) (OCK, tipo 397.1) procedente do centro produtor de Arezzo. A presença desta marca radial indica que Santarém terá começado a receber sigillata do território itá- lico muito cedo, ainda antes de 15 a.C., tal como parece ter sucedido com Alcácer do Sal, e portanto antes de Conímbriga ou Mérida.

O centro oleiro que maior número de marcas forneceu a Scallabis foi o de Arezzo (doze exemplares), o que é comum nos outros sítios quer de Portugal quer da restante Península Ibé- rica (Alarcão, 1971, p. 430 e ss.). Pozzuoli (Puteoli) está representado apenas por três marcas, tendo-se identificado igualmente a presença de uma marca de uma oficina do Vale do Pó, e outras quatro do centro de Itália. Identificaram-se ainda marcas de Pisa (2) e Vasanello (1).

No conjunto que agora se estuda incluiu-se a marca “in planta pedis” anteriormente apresentada por Dias Diogo (Diogo, 1984b, p. 118, est. II, n.o

8). É de XANTHVS e provém de Arezzo, e está associada ao oleiro CN. ATEIVS, que se encontra bastante bem repre- sentado no nosso território actual e que constitui um dos oleiros que mais parece ter expor- tado, igualmente, para o território espanhol.

De mais complexa interpretação parece ser a marca constituída apenas por um A (Diogo, 1984b, p. 117-118, est. II, n.o

7), presente no fundo de uma taça Goudineau 32, e que surge normalmente associada a vasos ainda de engobe negro (Oxé e Comfort, 1968, p. 1). A mesma marca pode ainda surgir associada a oleiros possivelmente do Vale do Pó, embora neste caso a letra seja enquadrada por uma coroa de louros. Dias Diogo considera que esta marca poderá associar-se aos n.os

2 ou 3 de Oxé e Comfort, certamente pertencente a um oleiro exterior a Arezzo, e propõe uma cronologia de Augusto-Tibério.

De um conjunto de 40 marcas propõe-se a leitura para 29. Destas, apenas uma parte apresenta a sigla completa da assinatura do oleiro. É muito frequente as marcas estarem incompletas, não permitindo qualquer leitura, ou estarem mal impressas, o que obriga a jus- tificar a opção por determinada interpretação. No estudo das assinaturas de oleiros da Alcá- çova de Santarém, e tal como fez Bémont para Glanum (Bémont, 1976) procurou “medir- -se” a importância de cada oficina pelo número de assinaturas presente no Corpus Vasorum Arretinorum (OCK), portanto, através da difusão que os oleiros conheceram. Os dados reco- lhidos baseiam-se nesta obra de referência e são completados com a actualização dessas informações para a Espanha na obra de síntese de Beltrán (1990, p. 74) e nos principais dados disponíveis para o território actualmente português. Apesar de antigos, foram de extrema utilidade os trabalhos de Adília Alarcão sobre a terra sigillata itálica em Portugal (A. Alarcão, 1971, p. 421-432) e os de Dias Diogo especificamente sobre as marcas itálicas (Diogo, 1980b) pois apresentam listagens dos oleiros conhecidos no território português que, salvo raras excepções, continuam ainda actuais.

Muitas marcas não colocam qualquer problema quanto à sua identificação. É o caso da primeira da série, 1317, do aretino SEXTVS ANNIVS, datado de 10 a.C.-10 d.C.(OCK, tipo 183.8). A sigla SEX/ ANN é típica nesta oficina, embora não seja habitual ocorrer num cai-

xilho elíptico. A julgar pelos exemplares presentes no Corpus Vasorum Arretinorum, teve uma ampla difusão, estando já bem representada em Espanha, concretamente em Tarragona, Ampurias, Elche, Adra, Celsa, Elda, Corduba e Segóbriga (Béltran, 1990, p. 68). Em Por- tugal, está presente em Alcácer do Sal, com duas marcas de SEX(TVS) ANNIVS AFER (Faria, Ferreira e Diogo, 1987, n.o

1, p. 66 e A. Alarcão, 1971, est. V, n.o

1, Diogo, 1980b, n.o

3) e na Villa Romana da Tourega (Pinto, Dias e Viegas, no prelo).

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